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quinta-feira, 15 de outubro de 2020

O homem constrói seu destino

 



O homem constrói seu destino

Boanerges da Rocha (Indalício Mendes)     

 Reformador (FEB) Abril 1964 (?)

 

            Ninguém pode viver segregado de seus semelhantes sem animalizar-se. O homem é animal gregário por excelência e tem de solidarizar-se com os outros homens, se pretender sobreviver.

            O Espiritismo ensina-nos a procurar a convívio social, ensina-nos a participar dos problemas cotidianos da vida humana, relacionados também com a existência dos outros seres. O homem tem de ser solidário com tudo quanto o cerca, seja o seu semelhante, sejam os animais, sejam os componentes do reino vegetal. Seu destino é viver num ambiente de absoluta solidariedade, de maneira a poder encarar e resolver, sempre que possa, os problemas que defrontar.

            Quando o Espiritismo aconselha a humildade, não está pretendendo seja o homem servil instrumento de outros homens. A humildade é digna, discreta, mas vigilante. É a atitude de quem não se enfeita com os ouropéis do orgulho tolo. O servilismo, pelo contrário, é uma falsa humildade e representa a renúncia do homem à sua própria dignidade. Ele desmerece a pessoa humana, por identificá-la com a ausência do mínimo de respeito a nós mesmos, respeito que devemos preservar.

            Ao pregar a resignação, o Espiritismo tem em mira fortalecer o espírito humano, não o deixando escravizar-se ao desespero e ao desalento. Mas, assim mesmo, só recomenda a resignação em face do irremediável, porque o homem deve sempre usar da sua vontade para sobrepujar o desânimo. O Espiritismo é uma religião dinâmica, nunca, porém, uma religião de vencidos, de mortos em vida. Recebe em seu seio os vencidos para que eles, seguindo sua Doutrina, possam, um dia, tornar-se vencedores. Mas, para isto, todos têm de vencer primeiramente a si mesmos. Ninguém pode vencer espiriticamente, na vida terrena, sem primeiro vencer-se a si mesmo.

            Para muitos, triunfar na vida é enriquecer, alcançar destacada e folgada posição social e econômica, ser, enfim, criatura abastada. Para o Espiritismo o vencer na vida terrena é, fundamentalmente, adquirir pureza de sentimentos, fortaleza de coração, profundo e prático espírito de solidariedade, exercendo a filantropia sem arrogância nem vaidade, fazendo da legítima modéstia a pauta do comportamento diário.

            O Espiritismo jamais ensinou ou ensinará, a quem quer que seja o tomar-se inútil, servil e apático, diante do insucesso e do infortúnio. O espírita tem de ser uma criatura de coragem, de ânimo forte, sempre pronta a lutar com denodo contra as surpresas desagradáveis que, às vezes, a vida apresenta. Ceder diante de qualquer acontecimento decepcionante, quando ainda há possibilidade de superá-lo, não é ser espírita, mas covarde.

            Qualquer um de nós deve reagir e lutar corajosamente, com elevação, contra o que quer que seja suscetível de afetar a nossa segurança, à nossa sobrevivência e bem-estar, desde que não lesemos os interesses de ninguém nem causemos mal a quem nos obstaculize o caminho.

            Ninguém deve ferir direitos alheios, mas todos têm obrigação normal de defender os seus, com lisura, sem perder de vista, portanto, os deveres de lealdade, indulgência, caridade e amor ao próximo. Há ocasiões em que seremos mais felizes renunciando a direitos líquidos do que, para defende-los, termos de tripudiar sobre alguém. Antes de todos os deveres, porém, estão os de salvaguardar o lar e a família, a subsistência dos filhos e a garantia de que eles precisam, para poderem usufruir uma vida decente, escrupulosa e calma, subordinada a regras convenientes.

            Não é tão fácil ser espírita, como muitos supõem. As responsabilidades são maiores, bem maiores. O espírita tem de ser bem-humorado, sem se tornar ridiculamente apalhaçado; jovial, confiante, corajoso, dotado de iniciativa, prestativo, pertinaz e, sobretudo, discreto. A esperança e a confiança devem ser seus escudos para que suporte galhardamente os entrechoques da existência terrena. Desde que conheça a razão de ser da sua presença no mundo terráqueo; se sabe porque nele se encontra e o que o aguarda na vida de Além-Túmulo, tem já o suficiente para confiar em si mesmo, para encorajar-se e encorajar os seus semelhantes. Não se apavora com a morte, que é uma destinação biológica de que não se livrará nenhum ser vivente.

            Diante de tudo isso, não desconhece que o seu futuro espiritual depende principalmente do que pensar e fizer. O homem é quase sempre o obreiro do seu próprio destino. Constrói, hoje, a vida de amanhã.

            Se não somos felizes nesta encarnação, podemos atribuir o fato à herança do passado e também, muitas vezes, ao procedimento que adotamos na vida presente. Ninguém sofre por erros alheios, mas todos respondem pelas próprias faltas na encarnação atual ou em futuras encarnações, conforme a espessura e o volume do seu carma.

            Em vez de, após a morte, termos como prêmio certo o suposto Paraíso, só por nos confessarmos a sacerdotes ou fazermos parte de irmandades, ou, ainda, por haver adquirido a bom preço certas “indulgências”, espécie de salvo-conduto para a bem-aventurança eterna, de entrada numerada para o Paraíso, - em vez disso, teremos de lutar pelo nosso próprio destino. Em nós está ter um futuro espiritual elevado ou inferior, de luzes ou de trevas, pois a misericórdia e a onisciência da Inteligência Suprema nos oferece a possibilidade de realizarmos itinerário compatível com o nosso mérito ou demérito.

            Estamos, como tudo no Universo, sujeitos a um determinismo evolucionista. Nada de prêmios e castigos eternos.

            O Espírito, encarnado ou não, é senhor da sua própria sorte. Ninguém pode, normalmente, alterar o seu rumo, porque este depende da sua própria conduta. Como ninguém pode fugir à lei do progresso, que é imperativa e fatal, conclui-se que tudo quanto somos devemos exclusivamente a nós mesmos. As encarnações se encarregam de quebrar teimosias e resistências maléficas, para que se colime o ideal de perfeição que coroa todas as obras da Suprema Inteligência.


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