Pesquisar este blog

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Espiritismo

 



Espiritismo

por Carlos Imabassahy   Reformador (FEB) Junho 1924

 

            O Espiritismo não se resume, a meu ver, unicamente, num corpo de doutrina.

            Esta é, sem dúvida, a parte principal, a mais importante do edifício em construção. Mas, não é a única; há outras, no grande todo, que não podem ser postas à margem.

            Todas elas, as partes, as vigas do grande monumento espiritualista se acolchetam, formando um conjunto harmônico.

            Tende tudo para um fim único: - a convicção, nos homens, que devem praticar a lei do amor.

            É esse, necessariamente, o alvo a que miram os espíritos superiores, encarregados pelo Mestre da missão grandiosa de regenerar o planeta.

            Mas, esse edifício, que se principia a erigir com um pouco de boa vontade aqui na Terra e com maravilhosa energia no Espaço, precisa de alicerces; são neles que assenta o organismo que agora começa a desenvolver-se.

            Os alicerces do Espiritismo são a parte experimental, são os fatos mediúnicos, que surgem por toda a parte, trazendo à pobre humanidade sofredora a prova da sobrevivência, com todas as consequências que dela dimanam: -as tristezas, as angústias, as dores para os maus; a paz, as alegrias, a felicidade para os bons.

            Sem os casos da mediunidade, não teria surgido o Espiritismo. Existisse somente a doutrina, bela, não obstante, como é, e não passaria de uma abstração filosófica, pouco mais valiosa que a de Sócrates ou Platão, cuja recordação histórica nos impressiona ainda, mas de pequenos frutos para o progresso do gênero humano.

            Na sua onisciência, o Criador achou que já era tempo de revolver, de sanear esse marnel (lodaçal) em que vivemos. E mandou-nos, então, a Nova Revelação pelo Espírito da Verdade; transmitiu-nos e transmite-nos os ensinamentos do Além, pela comunicação dos Espíritos.

            E que são as comunicações dos Espíritos? -São as mensagens, são o intercâmbio entre vivos e mortos, são o fenômeno espirita.

            É esse fenômeno que, a meu ver, se não pode abandonar; pelo contrário, todos os espíritas deveriam estudá-lo, ampara-lo, encaminha-lo, promove-lo, com os recursos de que dispomos, auxiliando por um lado a ciência, em vez de hostiliza-la, e, por outro, procurando trazer a todos os experimentadores, os ensinamentos de Allan Kardec, que se encontram no Livro dos Médiuns, para que seja de bons resultados, celeiro de provas fecundas, a parte prática, base onde assenta toda essa obra divina.

            Na ‘Vie d'Outre Tombe’, órgão da Federação Espírita Belga, o brilhante colaborador da Revue Spirite, Sr. Luiz Gastín, publicou interessante artigo, há pouco traduzido e remetido à ‘Aurora’ pelo confrade C. de Brito.

            Nele se lê o seguinte tópico, de acordo com as ideias que vimos de expor:

             “É fácil compreender que, se deixarmos perpetuar-se esse desmembramento da Ciência da Alma- ou Espiritismo científico, os psicólogos, psiquistas e metapsiquistas criarão - cada um no seu terreno - um corpo de doutrina separado, isolado, tendendo por consequência para rejeitar como inútil e vã a contribuição superior e sintética do Espiritismo propriamente dito.

            Não é exagero supor que os desmembramentos acima citados têm sido de setenta anos para cá - suscitados, inspirados ou favorecidos pelos adversários do Espiritismo, querendo enfraquece-lo destruindo sua unidade, procurando diminuir seu poder de ação, a importância de seu movimento social e seu alcance, encurralando-o, limitando-o à comunicação entre os vivos e os mortos.

            Era incontestavelmente estreitar o campo dos estudos espíritas, ao mesmo tempo que sua influência na evolução do pensamento contemporâneo. O domínio do Espiritismo sendo restringido de diversos lados e desmembrado, ele ficaria logo reduzido a não ser mais que uma teoria filosófica ou uma tese religiosa explicando o que se passa depois da morte.

            Semelhante situação, à medida que os ramos destacados do Espiritismo fossem crescendo com um caráter quase exclusivamente científico, concorreria para que o Espiritismo fosse absorvido pela metapsíquica - como o magnetismo foi absorvido pelo hipnotismo - suprimindo, bem entendido, todas as conclusões filosóficas e morais da nossa doutrina.”

             De fato, se ao Ciência e a Religião não só procurarem unir e abraçar, cooperando ambas, cada qual do seu lado, para o Progresso; se elas continuassem afastadas, como o têm sido até agora, e se nós, espíritas, contribuíssemos para esse afastamento, aqueles que se supõem sábios, cada vez mais engolfados no materialismo, esforçar-se-iam por separar das cogitações científicas todo o lado moral, todo esse facho de luz que Jesus veio fincar no coração do planeta e que o Espiritismo veio reativar no coração dos homens.

            Aos espíritas incumbe o dever de trazer a colaboração do seu esforço e de suas luzes, onde quer que haja um movimento, onde quer haja manifestações espíritas, surjam elas por meio da ignorância e tome o nome de feitiço, apareçam no seio do orgulho e do ceticismo e se rotule com o nome de Ciência.

            O que colimamos, nós, espiritas, é o Bem. Vamos procura-lo, alimenta-lo, robustece-lo, onde se encontre, esforçando-nos por que se não apaguem essas fagulhas que nos principiam agora a iluminem e donde surgirá mais tarde o grande clarão, o imenso incêndio que abrasará em amor puro e desinteressado todas as criaturas da terra.

            Deveríamos aproveitar tudo o que concorresse para a demonstração dessa grande verdade: - que só pelo Amor podem os homens ser felizes.

 *

             As dúvidas que se notam ainda nas reuniões em que se fazem trabalhos práticos de Espiritismo; o pouco conhecimento da doutrina - auxiliar necessário, imprescindível nesses trabalhos práticos; os percalços e os perigos que, força é convir, os acompanham, perigos inevitáveis em todos os ramos da atividade humana e sobretudo naqueles que estão em começo, levam-nos a recear entrar em contato com o mistério e ouvir as vozes do Além. E daí o se aconselhar não só prudência, senão o afastamento completo das sessões espíritas.

            A prudência é uma virtude, mas o recuar é medo.

            Deixamos de mão aquilo que não é possível enfrentar. Mas isso se não dá com as experiências psíquicas, que sabemos onde ir estuda-las, que temos onde aprende-las. E se Kardec nos ensinou como pratica-las, não me parece curial pô-las à margem pelos contratempos a que nos podemos expor.

             Tirados os elementos onde se encontram as provas do que afirmamos; esgotada a fonte de ensinamentos, que deve ser perene, porque nós marchamos e aprendemos sempre; retirado o sopé do edifício, que fica?

            Um corpo de doutrina, muito belo, mas insulado, parado, estagnado, no meio do caminhar constante da Natureza. Com os tempos, os seus raios irão perdendo o brilho, como ja se extingue o das religiões do passado. 

                E quando chegasse o Futuro, com os ensinamentos acumulados pelos séculos, encontrariam os pósteros apenas, de nossa passagem pela Terra, pálida e fugitiva lembrança, perdida, como lenda, nas páginas da história universal.

                Felizmente tal não se dá. Quando nos entibiem (entorpeçam) os perigos da mediunidade, quando nos tragam o desânimo a sua má aplicação; quando nos façam esmorecer e fraquejar o muito que há por fazer, por construir, aí estão os nossos amigos do Além para amparar-nos e alimentar a fé vacilante; aí estão os fatos psíquicos surgindo continuamente como a demonstrar que é por esse meio que o Criador pretende ferir a atenção dos homens; aí está toda a fenomenologia espírita, aparecendo, provocada ou espontaneamente, pela vontade ou sem a vontade das criaturas, embora oponham-lhe ainda as maiores barreiras os seres que povoam a Terra, deste lado ou do outro lado da vida.

            O movimento que se iniciou não pode parar.

            A cada um a sua tarefa: a este, as pesquisas científicas; àquele, a propaganda pela pena ou peja palavra. Tal dedicar-se-á à experimentação, tal outro à doutrinação. Todos, porém, como vários rios que se dirigem para o mesmo estuário, tendem para o mesmo fim - o Progresso.

            Aos construtores do grande edifício foram confiados misteres diferentes: cabe a cada um sua missão.

            Mas a obra, no seu conjunto, é uma única; todos concorrem para o Bem, todos contribuem com a sua quota parte, para que possa ser colocado no topo do monumento a formosa inscrição, que já liam os antepassados no coração de Jesus:

             - Amai-vos uns aos outros.


Nenhum comentário:

Postar um comentário