A quem
se aproxima
Kelvin
Van Dyne
por W. Vieira
Reformador (FEB) Julho
1964
Muitos, em se aproximando das revelações espirituais, julgam
que, imprimindo seriedade à vida, matam a alegria de viver. Sem dúvida, os dias
humanos são desfrutáveis, em júbilo sadio. Mas aparecem excessos e distorções.
Há quem viva na festança irresponsável, no abuso
sistemático ou na excitação absorvente; em certo instante surge o desastre, a
crise e a alteração perigosa, por desafios do destino convidando ao balanço
moral. E o espírito mergulha em reflexões e confissões inaudíveis para os outros.
E sofre. Para que sofrer sem necessidade?
A alegria real, que nunca foi simplesmente agitação de
músculos faciais, há de partir da aceitação da vida continuada, à luz da
consciência em paz. Regozijos de convenção quase sempre não passam de exibições
fantasistas, fugazes, falsas. E, por trás deles, insatisfações inarredáveis
perduram.
A intuição vulgar determina sejamos capazes de servir ao
bem numa parada de máscaras. Já embriagar-se de ilusões dentro dela será mistificar
a nós próprios, adiar o Inadiável. Ninguém condena o conforto: ideal de todos
para todas. Apenas carecemos de orientação para evitar futuros infortúnios.
Esposar as realidades do espírito não implica refugiar-se
a criatura em padrão claustral de solidão e tristeza. Vivamos como os demais renovando
o que exige renovação. Em qualquer parte, a ausência do bem é maior e tão grave
quanto a presença do mal.
Não se descure da conta corrente da sua encarnação.
Ninguém encontra a tarefa pronta. Felicidade não mora na estação do menor esforço,
à nossa espera. Os urubus acham prato feito, mas nós, consciências
responsáveis, jamais somos chamados a banquetear-nos com vitórias fáceis e sim
conclamados a bater-nos pelo triunfo legítimo de nossas aspirações com o risco
onipresente de fracasso.
Se se ordena tudo que o homem faz porque deixar ao sabor
das circunstâncias a execução do melhor? Porque somente ajudar aos outros nos
instantes trágicos, nos repentes da emoção? Necessário escolher entre as duas
veredas: viver em si ou fora de si, para si só ou para os outros também.
Compense o máximo de palavras batidas com um mínimo de
ações novas, pelo menos. Que pessoas você fez mais felizes, na semana? Que
exemplos de maturidade espalhou? Que atitudes assumiu para educar-se e
beneficiar os que lhe partilham a convivência? A vida é jornada no Sempre. Todo
ato faz-se companheiro invisível. Vejamos os companheiros que elegemos hoje
para a viagem.
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