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quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Testemunho insuspeito



Testemunho insuspeito
Redação 
Reformador (FEB) Dezembro 1925

Fato curioso o que se observa entre os adversários do Espiritismo: no pressuposto de combate-lo, em vez de o aniquilarem, aumentam-lhe o vigor, graças aos livros que publicam. É o que vamos verificar por alguns trechos a famosa obra - O Espiritismo em face da Igreja e da História - publicada m 1866 pelo abade  Poussin, então professor do seminário de Nice.

“0 Espiritismo, diz ele, forçoso é reconhece-lo, envolve, como numa rede imensa a sociedade inteira; pelos seus profetas, oráculo, livros e jornalismo, esforça-se por minar surdamente a igreja católica. Se nos prestou o serviço destruir as teorias materialistas do século XVIII, dá-nos em troca uma revelarão nova, que solapa pela base todo o edifício da revelação cristã.

“O Espiritismo invade neste momento a humanidade inteira.

"Vários escritores católicos, forçados a admitir os fatos, não hesitaram em reconhecer em certos fenômenos do Espiritismo a intervenção direta do demônio.  Para eles, o Espiritismo não é senão a continuação da magia pagã que aparece em Toda, desde os magos do Faraó, a pitonisa de Endor, os oráculos de Delfos, as profecias das sibilas e dos adivinhos, até as possessões demoníacas do Evangelho e aos fenômenos extraordinários e constatados do magnetismo contemporâneo.

“A crença na existência dos Espíritos e sua intervenção no domínio da nossa vida ou melhor, o Espiritismo enfim, e a prática da evocação dos Espíritos, almas, anjos ou demônios, remonta à mais alta antiguidade, são tão velhos quanto o mundo.

“As sibilas romanas, evocando os mortos, interrogando os Espíritos, não são menos surpreendentes do que Tirésias e a pitonisa de Endor. Toda Roma se inclinava diante das decisões dessas profetisas e os maiores generais, antes de combater, consultavam as videntes, tão lúcidas como as pitonisas da Grécia. Vários santos padres reconheceram a existência e o valor de seus oráculos. O historiador Josefo fala dos versos da sibila da torre de Babel; S. Justino, S. Teófilo de Antioquia; Clemente de Alexandria e outros santos padres os citam e lhes fazem ilusão.

“Uma polêmica entre Celso e Orígenes, sobre a interpretação dos oráculos sibilinos parece provar que sua autenticidade não fora contestada pelos cristãos e vários dentre estes chamavam sibilistas, acreditavam, como temos dito, no seu valor profético.

“Persuadido de que um grande número de oráculos sibilinos eram favoráveis às ideias cristãs, Constantino, no concílio de Nicéia, seguindo o exemplo dos santos padres, não hesitou em citá-los, seja por seu valor intrínseco, seja pelo menos como argumento ad hominem.”

O abade Poussin, depois de haver remontado à antiguidade, para provar que o comércio com o invisível nada tinha de novo, toma conhecimento do que se há feito a respeito do Espiritismo contemporâneo e diz:

"Agora, para resumir e concluir, diremos aqueles que negam a existência e a possibilidade desses fatos: - Podeis admitir que tantas testemunhas sérias e graves, que estudaram friamente essas questões, tenham sido enganadas não diremos sobre a natureza ou essência do fato, mas sobre a realidade exterior do próprio fato? Quando teólogos, padres, sábios, católicos, como os Ventura, Matignon, Gury e os redatores da Civiltá Cattolica; racionalistas inteligentes e instruídos, como Figuier, Coquerel, Gasparin, bispos como os de Quebec, de Tours, de Mons; missionários como Huc, Bonduel e outros; quando todos estes Espíritos graves e sérios atestam os fatos mais insólitos, como podereis sustentar que eles acreditaram ver no que viam, ouvir o que não escutavam? Será preciso repelir o testemunho dos sentidos, admitir que vós somente, que negais, tendes razão e todos os outros, em massa, são os alucinados.

Mais uma vez ainda: uma mesa que bate, interroga, responde, levanta-se só no ar; uma invisível e fria mão que aperta a vossa; um lápis que escreve fatos que se passam à distância, tudo isso nada tem de comum com a arte, agora desvendada, dos nossos mais hábeis prestidigitadores, e não poderia escapar a velhos desconfiados e exercitados.
  
“Racionalista ou católicos, é mister, de bom ou mal grado, aceitar o grande número desses fatos estranhos que abalam a ciência e a teologia, as quais buscam penetrar o mistério.”

*

Ao Espírito inteligente do abade Poussin não passou despercebida a ação decisiva do Espiritismo em face do materialismo; a ele devemos, confessa, a destruição das ideias materialistas do século XVIII; no entretanto, em troca disso, solapa a igreja católica e mina pela base todo o edifício da revelação cristã.

A força de expressão, dá a entender que o monumento cristão, os Evangelhos, sofrem abalos e ameaçam ruir com o advento da revelação dos Espírito. Ora, esta objeção é sem fundamento, porque é nos Evangelhos que ela tem sua razão ser. O Espiritismo não veio destruir a lei, mas cumpri-la; a obra do homem, sim, sofre a ação purificadora que ele exerce. Se a doutrina dos Espíritos solapa a igreja católica, é porque esta apartou-se do Evangelho: seu objetivo é cristianizá-la.

Infelizmente predominou no entendimento do professor do seminário de Nice o demonismo, só compatível com as épocas obscuras, em contradição com a perspicácia do seu Espírito; não fora isto, a sua obra teria maior vulto; todavia, podemos afirmar que muito contribuiu, outrora e quiçá hoje ainda, para a propagação de uma crença que é tão velha quanto o mundo.

Dos ataques de toda natureza beneficia o Espiritismo; até mesmo do ridículo de que pretenderam cobri-lo, resultou ser conhecido. Os homens sérios, que habituaram por índole a examinar tudo, bem reconheceram logo a magnitude dos fatos que vieram marcar uma era para a humanidade.

E assim se comprova a sentença do velho e prudente fariseu Gamaliel: “se esta obra vem dos homens, ela se dissolverá; porém, se vem de Deus, não a podereis desfazer” (1).

(l) Atos dos Apóstolos, vers. 38.



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