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sábado, 30 de maio de 2015

Considerações sobre a Humildade



            Como a maioria dos conceitos abstratos, o de humildade empreste-se a muitas interpretações disparatadas, sendo que, na maioria das vezes, isso acontece na razão direta do orgulho ou da vaidade de cada um.

            Através do Sermão da Montanha, foi lançada sobre os séculos a voz da esperança e da consolação. A todos, de todas as partes do mundo, foram anunciadas as bem-aventuranças. E uma delas referia-se à humildade: "Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles será o Reino dos Céus."

            Mas, se estas palavras são de molde a sobrepairarem ao tempo, também o seu significado tem sido deturpado através do perpassar dele. Os materialistas, os negativistas, chegaram a explicá-las como uma bênção dada aos carentes de inteligência. Assim, justificavam o seu orgulho, a sua vaidade, de um modo tranquilo, porque amparados em um "erro" dos Evangelhos.

            Muito pelo contrário, Jesus, nesta passagem, abençoou os ricos de humildade, "pobres de espírito" para o vão conceito humano. Deu sua bênção aos inteligentes em espírito e verdade, e que são capazes de conceber Deus em toda a Sua grandeza e em todo o Seu poder.

            Possuem eles a simplicidade de coração e a humildade de espírito.

            Têm-nas em seu verdadeiro e lato conceito e para eles tais atitudes são fontes inesgotáveis de resignação, de amor, de tolerância, de perdão, de brandura. Não confundamos, todavia, resignação com um conformismo estéril, que não leva a nada positivo, senão à inércia e ao mau uso de energias. Ao contrário, quem é resignado verdadeiramente possui o entendimento claro e sadio das leis, máxime as do livre arbítrio e de causa e efeito. Dessa forma, aceita os padecimentos que lhe advêm, porque sabe que muito já fez em outras existências para merecê-las. Nesta certeza, ele se resigna por saber que tudo tem uma finalidade e que esta terá como consequência a evolução para mundos melhores.

            Igualmente, sabemos também que o amor abrange um entendimento mais espiritual e não se prende exclusivamente aos liames passageiros da paixão desenfreada. Assim, amar é tolerar e relevar o erro alheio, mas é preciso também empregarmos todo o nosso discernimento para que não nos façamos coniventes e acordes com o erro. O Evangelho nos pede tolerância, perdão e indulgência com as falhas do nosso próximo, mas não nos pede que nos transformemos em cúmplices. O verdadeiro amor perdoa, mas, justamente por ser aquele amor em toda a sua extensão espiritual, não se coaduna com o escândalo, porque sabe que os seus artífices pagarão até o último ceitil a fraqueza, o orgulho, o seu egoísmo, que os tornaram ponto de atração para os espíritos menos esclarecidos.

            Aquele que ama verdadeiramente, quer ver o objeto de seu amor na senda da verdadeira evolução espiritual. Por isso, não se acumplicia e nem chama a si as consequências dos erros de outrem.

            Perdoa e tolera, porque sabe que se cumprem até o derradeiro parágrafo as leis do Todo-Poderoso.

            Preciso se faz, também, que distingamos a verdadeira humildade, a de espírito, daquela que visa a alcançar benefícios próprios. Para sermos humildes, não é preciso que nos apresentemos maltrapilhos, que nos utilizemos de um linguajar chulo. O meio termo é sempre a medida ideal. Quantas vezes, debaixo de tais características, jaz um espírito estreitamente ligado às trevas do mais ferrenho orgulho, da mais crassa vaidade espiritual. Quantas vezes, no dia-a-dia, deparamo-nos com mendigos que são o exemplo objetivo de tais qualidades negativas. E que surpresa não nos assoma quando topamos com pessoas que, momentaneamente, ocupam cargos de relevo e que exemplificam a mais sincera humildade.

            O verdadeiro atributo não se manifesta por exterioridades; ele se traduz por  aquele sentimento de afabilidade e doçura no trato com o próximo. Manifesta-se no verdadeiro perdoar, no verdadeiro amar a humanidade, na pessoa do irmão em erro. O pobre de espirito, a que se refere Jesus, não se faz juiz senão de si mesmo.

            Pobres de espirito são, portanto, aqueles suficientemente humildes para confiarem no Criador. São pobres, sim, porque carecem de orgulho, de vaidade. Por isso, são livres, pois não dependem de situações externas. A verdadeira liberdade insere-se em um contexto espiritual evoluído. Escravos há que gozam de plena liberdade, porque libertos estão das coisas materiais; senhores existem que arcam com as mais pesadas cadeias espirituais.

            Na amplitude moral do espírito contém-se toda a condição de ser livre. Sejamos humildes e nossas dores serão menos doloridas; nossas amarguras, menos amargas, e nossa liberdade será mais verdadeira. Se queremos fazer jus ao amor inesgotável do Mestre, cumpramos em espírito e verdade a máxima da mais bela página de consolação e amor até hoje escrita: "Bem-aventurados os pobres de espirito, porque deles será o Reino dos Céus."

Considerações sobre Humildade
por Maria Ocampo

Brasil-Espírita Maio 1972

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