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quinta-feira, 23 de maio de 2013

Prática do Espiritismo


Prática do Espiritismo

Aurélio A. Valente

Processo das manifestações

            Admitindo-se para o Espiritismo o tríplice conceito de Filosofia, Ciência e Religião, devemos esclarecer cada um de per si. Ocupemo-nos agora do Espiritismo como ciência. Espiritismo-Ciência ou Ciência-Espírita é o estudo coordenado e metódico de tudo quanto concerne ao Psiquismo: acurada análise e classificação dos fenômenos, princípios, formação moral, espiritual e intelectual dos médiuns, diversidade e graus de suas faculdades, vida de relação social, organização de grupos de trabalho e pesquisas, escolha dos componentes dos mesmos, locais de instalação, por final, investigação meticulosa das condições propícias ou desfavoráveis para se processarem os fenômenos relacionados ao intercâmbio entre a Humanidade visível e invisível, ou seja, como dizemos vulgarmente, de encarnados e desencarnados.

            Em virtude dessas circunstâncias, os chamados trabalhos práticos ou sessões mediúnicas, que são investigações científicas; qualquer que seja a sua finalidade, não podem e não devem ser presididas por confrades inexperientes e sem preparo.

            O presidente deverá ser um homem ou uma mulher de elevada moral, bom preparo geral, conhecedor do Novo Testamento, que tenha boa cultura espírita, isto é um abalizado estudo das obras de Allan Kardec, Léon Denis, André Luiz e de outros autores, consideradas subsidiárias, pelos esclarecimentos particularizados de determinados assuntos, como por exemplo o livro No País das Sombras, de E. D'Esperance, que muito elucida os que se dedicam às sessões de materializações. Todos esses dotes e predicados deverão ser completados por valiosa experiência da vida.

            Essas credenciais são imprescindíveis ao Presidente, por constituírem elementos de garantia para orientar-se com método e ordem e obter resultados proveitosos.

            Em uma sessão espírita verificam-se fenômenos de animismo, auto sugestão, hipnotismo e outros, além dos denominados propriamente de espíritas; manifestam-se Espíritos de todas as categorias, graves e zombeteiros, sábios e ignorantes, sérios e mistificadores, felizes e sofredores. Por tudo quanto escrevemos, conclui-se que o presidente deverá ter capacidade para distinguir e classificar os fenômenos e discernir a verdade do erro, a sinceridade da impostura, a mistificação do médium ou do Espírito e dialogar com proveito com todos os comunicantes do Além.

            Léon Denis, no seu livro, No Invisível (obra indispensável aos que dirigem sessões, mas, pouco estudado e até desconhecido por muitos confrades), escreveu o seguinte no capítulo - Formação e direção de grupos:

            "Nenhum Grupo sem ser submetido a uma certa disciplina pode funcionar. Esta se impõe não somente aos experimentadores como também aos Espíritos. O diretor do Grupo deve ser um homem de dupla enfibratura, assistido por um Espírito-guia que estabelecerá a ordem no meio oculto, como ele próprio a manterá no meio terrestre e humano.

            Essas duas direções devem mutuamente completar-se, inspirar-se num pensamento igualmente elevado, unir-se na prossecução de um objetivo comum.”

            Os médiuns, por sua vez, devem estudar, e muito, a fim de que os Espíritos sintam facilidade para sintonizar as recíprocas vibrações e encontrar nos seus instrumentos os subsídios indispensáveis para suas comunicações. Camilo Castelo Branco (Do País da Luz livro II, pág. 93, 4ª edição da FEB), ao transmitir pelo médium Fernando de Lacerda uma mensagem a propósito da crítica feita por alguns literatos plenos de dúvidas sobre as suas mensagens, confortou-o, esclarecendo-o com as seguintes palavras: "Se o teu cérebro estivesse riquíssimo de termos e de conhecimentos, larga, proficiente e pacientemente armazenados, eu teria melhor propósito de tudo dizer com o modo próprio com que o fazia com o material integralmente meu, como o tipógrafo terá mais facilidade de variar de tipo, consoante a riqueza e variedade dos caixotins de que dispuser.”

            O Espírito de Verdade em uma de suas mensagens insertas n’O Evangelho segundo o Espiritismo também recomendou o estudo quando sentenciou "Espíritas: amai-vos, este o primeiro ensinamento, instruí-vos, este o segundo."

            Paulo de Tarso foi o apóstolo que mais contribuiu para a difusão do Cristianismo, foi o primeiro a compreender a universalidade da Doutrina de Jesus. A razão é bem simples, era o mais instruído, o mais erudito entre todos.

            Temos encontrado, em nossa longa peregrinação pelas inúmeras cidades do nosso País, um descaso absoluto pelo estudo, tanto por parte dos presidentes, como dos médiuns e componentes dos Grupos. A fé e a mediunidade, por mais poderosas que sejam, são insuficientes para trabalhos completos e proveitosos.

            A falta de competência dos presidentes constitui a causa principal da frustração de muitos médiuns, por originar estacionamento e até atrofia de suas faculdades. Os Grupos permanecem durante anos consecutivos sem progresso, improdutivos. As curas, conforto, consolações, orientação, quase não se registam.

            Sem as cautelas necessárias ficam os médiuns, isoladamente ou em conjunto, e todos os componentes dos Grupos sob a ameaça de malogro de resultados perigosos, como a subjugação, a obsessão, a fascinação. As mistificações são acolhidas como verdades, o animismo e a auto sugestão imperam.

            Se a prática do Espiritismo bem orientada é uma fonte inesgotável de consolações inefáveis e indeléveis, apresenta também terríveis perigos para os descuidados e inexperientes.

            Os médiuns devem ser esclarecidos suficientemente sobre o processo das manifestações a fim de bem cumprirem o seu mandato.

            Léon Denis, no livro No Invisível, trata deste assunto: "As leis da comunicação espírita”. "Sabemos que a mediunidade, no maior número de suas aplicações, é a propriedade que têm alguns dentre nós de se exteriorizar em graus diversos, de se desprender do envoltório carnal e imprimir mais amplitude a suas vibrações psíquicas. Por seu lado, o Espírito libertado pela morte se impregna de matéria sutil e atenua suas radiações próprias a fim de entrar em uníssono com o médium.
            "Aqui se fazem necessários uns algarismos explicativos. Admitamos, a exemplo de alguns sábios, que sejam de 1.000 por segundo as vibrações normais do cérebro humano. No estado de "transe" ou de desprendimento, o invólucro fluídico do médium vibra com maior intensidade, e suas radiações atingem a cifra de 1.500 por segundo. Se o Espírito, livre no espaço, vibra à razão de 2.OOO no mesmo lapso de tempo, ser-lhe-á possível, por uma materialização parcial, baixar esse número a 1.500. Os dois organismos vibram então simpaticamente; podem estabelecer relações, e o ditado do Espírito será percebido e transmitido em transe mediúnico."
            "É essa harmonização das ondas vibratórias que imprime às vezes ao fenômeno das incorporações tamanha precisão e nitidez."

            André Luiz, no livro Missionários da Luz, escreveu por intermédio de Francisco Cândido Xavíer, o devotado servidor da Causa, o seguinte: "E, dirigindo-se para um rapaz que se mantinha em profunda concentração, cercado de auxiliares de nosso plano, explicou, atencioso: - Temos seis comunicantes prováveis, mas, na, presente reunião, apenas compareceu um médium em condições de atender. Desde já, portanto, somos obrigados a considerar que o grupo de aprendizes e obreiros terrestres, somente receberá o que se relacione com o interesse coletivo. Não há possibilidade para qualquer serviço extraordinário."

            Considerando estas elucidações, não podemos compreender a singular ocorrência que temos constatado na maioria dos Grupos que visitamos. A um certo momento, sob a ordem do presidente, todos os médiuns recebem, no mesmo instante, os seus Guias ou Espíritos não identificados, passam as mãos pelas próprias cabeças, em gestos cadenciados, sacodem-se com mais ou menos intensidade, e dizem repetidas vezes: "Graças a Deus, boa noite, aqui estou para prestar a minha colaboração" ou "A paz do Senhor esteja nesta casa, boa noite, vim auxiliar o meu médium" e várias outras, algumas das quais são incompreensíveis.

            Como podem todos os médiuns receber ao mesmo tempo? Há médiuns que permanecem anos consecutivos sem qualquer progresso, sem qualquer desenvolvimento. São os médiuns que Allan Kardec classificou de improdutivos.

            É o caso de indagarmos: Nas manifestações simultâneas haverá animismo? auto sugestão? ou será falta de orientação dos presidentes? Julgamos ser tempo de os presidentes meditarem sobre o processo das manifestações para tirarem melhor proveito de seus esforços.

Reformador (FEB) Março 1964



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