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quinta-feira, 30 de maio de 2013

2a. 'Revelação dos Papas'




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‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)

- Comunicações d’Além Túmulo -


Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier


Explicação

          Dominados pelo ardente desejo de entrar no conhecimento exato da verdade e, ao mesmo tempo, desenvolver e aperfeiçoar as nossas faculdades como médium psicográfico, intuitivo-mecânico, que somos, prosseguíamos, no decorrer do ano 1915, nos nossos estudos espiríticos, quando fomos agradavelmente surpreendidos com o surto da vidência da nossa irmã M.G., que se revelou possuidora de poderosa e brilhante faculdade mediúnica, logrando, desde então, ver simultaneamente os mundos material e espiritual.

          A nossa irmã, criatura simples, desprovida de todo e qualquer preparo intelectual, tendo apenas o conhecimento das coisas triviais e comuns, concernentes à vida material e doméstica, começou, dentro em pouco tempo, a ver não só os espíritos inferiores e medianos, mas também os que habitavam os planos elevados, os chamados espíritos de luz, com os quais confabulava diretamente, recebendo desses luminosos personagens conselhos, avisos  e instruções, que  a orientavam sobre a maneira pela qual devia ela se conduzir no desempenho da tarefa decorrente da sua nova condição de intermediária dos vivos e dos mortos.

          Católica fervorosa e praticante, a nossa vidente, conquanto não mostrasse nenhuma repugnância pelo Espiritismo, ignorava, todavia, os princípios básicos e fundamentais desta doutrina, razão por que não raras vezes se sentia seriamente embaraçada para compreender e decifrar os símbolos de que se revestiam certos espíritos, que a ela se mostravam, e os quadros, as cenas e as alegorias constantemente desenroladas diante dos seus olhos, ainda pouco afeitos à contemplação das coisas espirituais, da sua visão não aparelhada para devassar as belezas e os esplendores da epopeia de luz que é o viver dos eleitos bem- aventurados.

          Recorria ela frequentemente às nossas fracas luzes, ao minguado ou quase nulo cabedal dos nossos conhecimentos, pedindo-nos explicação acerca do que via, solicitando esclarecimentos sobre os comoventes espetáculos, as risonhas e fagueiras perspectivas e os emocionantes panoramas que vinham, dia a dia, se antolhando às suas vistas, deixando-a extasiada e perplexa ante a grandeza infinita da obra do Criador.

          De acordo com as limitadas noções que possuímos sobre a mediunidade e os fenômenos espiríticos, fomos instruindo a nossa vidente de modo que, decorridos alguns meses, achou-se ela em condições de poder interpretar melhor o que observava e, com maior precisão e nitidez, descrever-nos as suas encantadoras visões, as sublimes aparições dos espíritos radiantes, os gloriosos mensageiros do Senhor.

          Fomos, um dia, informados pela nossa dedicada companheira de trabalho de que alguns espíritos manifestavam desejo de se comunicarem com a Terra por nosso intermédio, para dar conhecimento aos homens de um fato importante, assunto que devia interessar-nos, a nós e a toda a humanidade. Prontificamo-nos a ouvir o que queriam dizer esses espíritos, que tão interessados se mostravam em nos dar as suas comunicações.

          Sempre auxiliados pela vidente, que ao nosso lado observava o que em torno de nós se passava, descrevendo minuciosamente os sinais característicos dos seres invisíveis que vinham ditar as suas mensagens, tivemos a rara felicidade de entrar em comunicação com um espírito que declarou ter sido nosso amigo e colega em várias encarnações que tivemos neste planeta, vivendo em outro país, onde juntos exercemos a mesma profissão, abraçando, com grande entusiasmo, a mesma arte. O estranho visitante entre outras coisas de que nos fez sabedores, preveniu-nos que seríamos incumbidos de receber e divulgar um certo número de comunicações do Além, que muito haviam de concorrer para a vitória do Espiritismo, recomendando-nos ao mesmo temo, o simpático habitante do espaço infinito, que não nos orgulhássemos por esse motivo e sim rendêssemos graça a Deus, que por tal modo nos proporcionava ensejo para resgatarmos os nosso erros e faltas cometidas em existências anteriores.

          Embora crentes e convencidos da realidade do Espiritismo, é de justiça declaramos aqui, com toda a lealdade e a franqueza que nos caracteriza, que, não obstante termos podido comprovar a identidade do espírito portador do interessante aviso, não demos credito às suas palavras, por não nos considerarmos à altura de tão elevada quão honrosa tarefa, guardando, por esta razão, durante quase dois anos, a maior sigilo sobre o que conosco se passara.

          Decorridos que foram uns sessenta dias, mais ou menos, onde aquele aviso, começamos a receber, sempre com o concurso da vidente, comunicações firmadas pelos espíritos dos diversos papas que constam desta obra.

          E, como estranhássemos o fato da presença de tantos espíritos de pontífices romanos em nossa casa, obtivemos do Diretor Espiritual das nossas sessões, que por ordem superior, se realizavam nos dias 1 e 15 de cada mês, a explicação do curioso conhecimento. Disse-nos o nosso bondoso Guia que estávamos recebendo comunicações destinadas a formar uma obra que se denominava “Revelação dos Papas” e cujo plano fora delineado pelos próprios espíritos interessados, em reunião efetuada no Espaço, tendo ficando resolvido entre eles dirigirem um pedido coletivo a Deus e a Jesus para que lhes fosse concedida a graça de virem os referidos espíritos ao mundo para apagar os vestígios dos erros e crimes que praticaram durante a existência na terrena na qual, do alto da cadeira chamada de S. Pedro, governaram a cristandade. Escrevendo essas mensagens, acrescentou o nosso amado Diretor, os papas desencarnados teriam em vista dar, publicamente, provas de humildade e submissão à vontade de Deus e também de agradecimento pelos grandes benefícios e extraordinárias graças por eles recebidos do Criador Supremo de Todas as Coisas, que, solicita e carinhosamente, atendeu ao apelo a Ele dirigido, permitindo a essas almas culpadas baixarem à Terra para destruir os males que semearam entre os homens, falseando os sagrados princípios da doutrina de Jesus, em cujo nome estavam agora autorizados a falar. E ainda mais: que a confecção dessa obra — que teria por fim não só defender e afirmar a verdade deturpada aqui na Terra, mas também restabelecer em toda a sua pureza, os ensinamentos de Jesus, que os homens por ambição, orgulho, vaidade e fraqueza adulteraram – seria levada a efeito por ordem superior e compor-se-ia de dois a três volumes.

          Tendo nós, com o devido acatamento, ponderado ao preclaro Guia que, sem querermos fazer censura a quem não pode ser censurado, pedíamos, entretanto, licença para considerar infeliz a escolha da nossa humilde e obscura pessoa para tão nobre cometimento, que por nos faltarem os predicados e as virtudes imprescindíveis a quem toma sobre os ombros tão digna e santa tarefa, quer pelo fato de sermos muito pobres, lutando com grandes dificuldades para mantermo-nos, a nós e a nossa família, não dispondo, por conseguinte, dos recursos pecuniários suficientes para custear a impressão de uma obra que no atual momento exigia avultada soma - ouvimos daquele eminente Espírito a afirmação categórica de que na ocasião oportuna os recursos chegariam as nossas mãos, não devendo, pois, preocupar-nos a questão material, por já estar tudo previsto e dadas, nesse sentido, as providências necessárias.

          No correr das sessões, que, como ficou dito, tinham lugar de quinze em quinze dias, sendo nós, em companhia da nossa irmã, a vidente, os únicos que nela tomavam parte, recebemos outro esclarecimento fornecido pelo Diretor dos nossos trabalhos, o qual nos fez saber que seriamos depositários das mensagens dos espíritos papas que no momento pudessem se comunicar com a Terra, deixando, porém, de comparecer os que estivessem encarnados ou no cumprimento de missões importantes das quais não lhes fosse permitido afastar-se; e que, além das comunicações dos bispos de Roma, receberíamos também as de muitos espíritos de luz, formando estas últimas epístolas um novo e brilhante conjunto a que seria dado o título de “Série Luminosa”, apenso à “Revelação dos Papas”.

          Instruções muito rigorosas nos foram dadas sobre o modo pelo qual devíamos nos conduzir durante as sessões, lembrando os espíritos a recomendação, anteriormente feita, de que fossemos os únicos a tomar parte nos trabalhos. Achando, porém, demasiado severa a restrição imposta, fizemos sentir ao Guia que assim procedendo, isto é, instalando-nos completamente, poderíamos ser, mais tarde, acoimados de falsários ou mistificadores, vindo indicar sobre nós a acusação de termos inventado o que se contém nestes livros. Respondeu-nos o venerando Diretor Espiritual que os trabalhos eram de natureza muito delicada, sendo, portanto, de mister para o bom êxito da nossa tarefa, trabalharmos num ambiente harmonioso, o mais homogêneo possível, o que se não poderia obter reunindo muitas pessoas. E, para evitar acusações futuras, aconselhou-nos a adoção da seguinte praxe: sempre que pessoas dignas respeitáveis e merecedoras do nosso apreço e da nossa consideração e cuja índole e intuitos fossem por nós conhecidos, manifestassem desejo de tomar parte nos nossos trabalhos as admitíssemos e, quando se tornasse necessário, apelássemos para elas, invocando o seu testemunho em favor da verdade. Foi assim que por diversas vezes estiveram presentes às nossas reuniões algumas distintas senhoras e ilustres cavalheiros, que nos viram receber muitas das comunicações de que se compõe a “Revelação dos Papas” e aí estão prontas para testemunhar o que presenciaram.

          Nos dias destinados às nossas sessões, reuníamo-nos ignorando por completo quais os espíritos que se comunicariam conosco e os assuntos de que tratariam nas suas mensagens. O nosso Diretor, ao inaugurar os trabalhos, dizia-nos somente: “vocês vão receber três espíritos luminosos, que lhes darão comunicações interessantes, contendo grandes ensinamentos, cheias de luz e sabedoria, etc.”; e nada mais.

          Os espíritos dos papas e bem assim os que fazem parte da “Série Luminosa” apresentavam-se espontaneamente, sem ser invocados. Ao aproximar-se a hora da reunião, começavam esses seres impalpáveis a aparecer à nossa vidente, com quem trocavam ideias, ordenando-lhe que anunciasse a sua presença entre nós. Às vezes, os estranhos visitantes iam, dias antes, surpreender a nossa irmã na sua própria residência, nos momentos em que se achava ela entregue aos seus afazeres de dona de casa, para avisá-la de que na primeira sessão que efetuássemos, receberíamos as suas visitas.

          Quando iniciamos a nossa humilde tarefa, recebíamos três mensagens em cada sessão, sendo de dez minutos o intervalo entre uma e outra comunicação.

          Fomos levados a esse trabalho extenuante por ter o nosso Guia declarado haver urgência no recebimento dessas missivas dos papas e demais espíritos que colaboraram nesta “Revelação”. Com o andar dos tempos, porém, a fadiga nos obrigou a não mais receber três e sim duas epístolas em cada reunião.

          Pelo que acabamos de expor, o leitor verificará que não solicitamos a graça de ser intermediário dos espíritos autores das luminosas comunicações constantes dos três volumes da “Revelação dos Papas” e que jamais nos passou pela mente a ideia de combater religiões, mesmo porque, naquela época, a nossa vida material era rude e penosa e não tínhamos tempo para pensar noutra coisa que não fosse as responsabilidades e os compromissos que então pesavam sobre nós.

          Não procuramos a espinhosa tarefa de que começamos agora a desobrigar-nos, ao contrário, ela veio ao nosso encontro, fomos chamados ao cumprimento deste dever, apelaram para a nossa boa vontade, exigiram mesmo que aceitássemos a delicada incumbência que nos foi oferecida e, para que não nos esquivássemos sob qualquer pretexto, num dos nossos momentos de vacilação, colocaram na nossa frente o querido espírito daquela que foi a autora dos nossos dias na Terra, para pedir-nos que assumíssemos com prazer esse compromisso, que cessará de todo para nós no dia em que dermos publicidade ao último volume desta obra.

          Não temos, portanto, outro escopo a não ser dar cumprimento à ordem recebida, sentindo, ao mesmo tempo, a satisfação que experimenta todo aquele que conclui um trabalho, levando ao termo uma tarefa, uma empresa difícil em que estiveram empenhados a sua palavra, a sua honra e a sua dignidade.

          Bem sabemos que a incredulidade orgulhosa e presumida, o sectarismo interessado, o fanatismo inconsciente e impiedoso de par com a ignorância audaciosa e petulante, em suma, todos os elementos reacionários e retrógrados e empenhados na luta inglória contra o progresso, que, a despeito de todas as guerras e oposições, se vai realizando no seio da humanidade, procurarão negar a pureza das nossas intenções recebendo, colecionando e publicando estas mensagens. Acima, porém das opiniões e juízos que possam formar os que se sentirem feridos nos seus interesses com a publicação destes livros, está a nossa consciência, que serena e tranquila apresentamos aqui, diante de Deus e de Jesus – os dois grandes fiadores do que viemos afirmando no correr desta ligeira exposição que fazemos.

          Crentes sinceros, que somos, e conhecedores das leis morais que regem os nossos destinos e as nossas ações; possuindo noção exata e segura do rigor e da inflexibilidade com que a Justiça Divina pune os que a desrespeitam e violam, mentindo, mistificando, recorrendo a embustes e falsidades para ludibriar as consciências dos homens - apelamos para essa mesma Justiça, pedindo-lhe que seja impiedosa e inexorável, cruel mesmo, para conosco, se porventura, visando interesse de qualquer ordem, procuramos enganar os nossos irmãos.

          Aqui ficamos, pois, à espera da condenação, se fizermos jus a ela, ou da absolvição, se Deus, na sua infinita sabedoria, nos julgar isentos de culpa.


Rio de Janeiro, 20 de junho de 1919.

Abrahão Luz


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