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segunda-feira, 11 de março de 2013

'Religião, Ciência e Filosofia'




Religião,
Ciência e Filosofia

por  Percival Antunes  (Indalício Mendes) 
 Reformador (FEB) Julho 1957

            Foi a falsa concepção religiosa que separou o cientista do homem que crê na existência de uma Suprema Inteligência. De tal sorte os detentores da "verdade religiosa" entulharam o cérebro humano de dogmas estreitos e superstições estapafúrdias, que o homem de maior desenvolvimento intelectual, zelando pela própria dignidade da espécie, interpretou esses erros como expressão mítica de um grupo que desejava predominar à custa da ignorância maciça do povo. Os movimentos de rebeldia tomaram corpo, ao mesmo tempo que a reação feroz do ultramontanismo irritado procurou por todos os meios contê-los. Tudo se fez, a ferro e fogo, mas foi debalde. O "homem de ideias" crescia na convicção de que o "homem de dogmas", como ainda hoje sucede, explorava a crendice popular, contando histórias absurdas, criando milagres espantosos, tentando desesperadamente reconquistar o terreno que, desde então, começara a fugir-lhe.

            Os que aceitavam a ideia de Deus, mas não comungavam com decretos e decisões conciliares irracionais, esses eram perseguidos e eliminados como hereges. O sangue dos mártires não tardaria, porém, a se transformar num rio caudaloso, no qual se afogariam os algozes e seus dogmas retrógrados. Os gemidos, lançados do fundo de infetas e frígidas salas de suplício, ou dentre as labaredas das fogueiras inquisitoriais, ecoaram através dos anos, como que anunciando uma alvorada de luz e de compreensão! E essa alvorada começou com o lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seus reflexos já iluminam a Humanidade e alcançarão os anos porvindouros, numa obra que lentamente irá minando o carcomido arcabouço de um sistema religioso obsoleto e irrisório, porque fundamentado em dogmas estéreis e em promessas inócuas.

            No século XIX, verificou-se a maior explosão das ideias que lutavam com o obscurantismo religioso, Vieram os Enciclopedistas e, como é natural, em face dos antecedentes, a reação foi violenta. Indevidamente apresentado como Cristianismo, o poder religioso que se vestira com a túnica do Cristo, sem lhe agasalhar os ensinamentos, suscitou o revide do pensamento que se libertava. Atacado era o Cristianismo, embora não lhe coubesse culpa pelos desmandos dos que não souberam conservar o legado dos primeiros discípulos do Cristo. A Ciência, tantas vezes negada e atacada pela ignorância clerical, reagia também, negando um deus que lhe era apresentado como mágico, autor de proezas que feriam a lógica dos fatos, assim como era patrono de atos de terrorismo que, nos dias atuais, parecem absolutamente fantásticos. Daí o antagonismo entre Ciência e Religião. Os cientistas, em virtude também de preconceitos e dogmas nascidos do afã de repelir o obscurantismo clerical, não souberam ainda distinguir esse deus pequenino, medíocre, vingativo, do verdadeiro Deus, que é todo amor, todo luz, todo esperança e felicidade. Um Deus que não condena, mas que ampara a criatura humana. Um Deus que não destina, à criatura falida as dores de um inferno sem fim, mas que lhe acena com a possibilidade do reerguimento pela regeneração em vidas sucessivas. Um Deus que perdoa e encoraja, não aquele deus, em nome do qual se queimavam, vivos, infelizes seres humanos.

            Que é Religião, senão o caminho da glorificação humana pelo Bem? Que é Ciência senão outro caminho da glorificação humana pela Inteligência? Uma avança pelo culto das virtudes éticas, burilando o sentimento do homem, para que ele se espiritualize progressivamente. A outra, adianta-se pelo culto da inteligência, que é um dom divino, Ciência e Religião não são forças divergentes, mas forças irmãs. Dia a dia mais se aproximam, conforme se pode inferir de conclusões decorrentes das últimas conquistas da Ciência, através de Einstein e outros sábios da mesma alta envergadura. Chegará o momento em que a Ciência não poderá encontrar outra interpretação para seus problemas investigatórios senão na existência de um Princípio Inteligente Superior, que permanece acima, muito acima de cálculos matemáticos e especulações filosóficas. Já no interessante livro de Hernani Guimarães Andrade - "A Teoria Corpuscular do Espírito", algo de esclarecedor se pode encontrar a esse respeito. Depois de ler atentamente essa obra, mais nos capacitamos de que o Espiritismo não é exclusivamente Ciência, nem somente Filosofia, nem apenas Religião, porque é, simultaneamente, Religião, Ciência e Filosofia.

            Podem insistir na negativa os que se apegam à aparência, sem aprofundarem, imparcialmente, o verdadeiro caráter da nova Revelação. Se Allan Kardec não houvesse sentido o Espiritismo no seu tríplice aspecto, certamente não teria sancionado com o seu ilustre nome estas cinco principais obras da Codificação: "O Livro dos Espíritos", "O Livro dos Médiuns", "O Evangelho segundo o Espiritismo", "O Céu e o Inferno" e "A Gênese", nas quais o espírito científico-filosófico-religioso se patenteia a cada página.

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