Aprendizes
e Adversários
Irmão X
por Chico Xavier
Reformador
(FEB) Julho 1955
Jonathan,
Jessé e Eliakim, funcionários do Templo de Jerusalém, passando por Cafarnaum,
procuraram Jesus no singelo domicílio de Simão Pedro.
Recebidos pelo
Senhor, entregaram-se, de imediato, à conversação.
- Mestre -
disse o primeiro -, soubemos que a tua palavra traz ao mundo as Boas Novas do Reino de Deus e, entusiasmados com as tuas
concepções, hipotecamos ao teu ministério o nosso aplauso irrestrito.
Aspiramos, Senhor, à posição de discípulos teus... Não obstante as obrigações
que nos prendem ao Sagrado Tabernáculo de Israel, anelamos servir-te,
aceitando-te as ideias e lições, com as quais seremos colunas de tua causa na
cidade eleita do Povo Escolhido... Contudo, antes de solenizar nossos votos,
desejamos ouvir-te quanto à conduta que nos compete à frente dos inimigos...
- Messias,
somos hostilizados por terríveis desafetos, no Santuário - exclamou o segundo
-, e, extasiados com os teus ensinamentos, estimaríamos acolher-te a
orientação.
- Filho de
Deus - pediu o terceiro -, ensina-nos como agir ...
Jesus meditou
alguns instantes, e respondeu:
- Primeiramente, é justo considerar - nossos
adversários como instrutores. O inimigo vê junto de nós a sombra que o amigo não deseja ver e pode ajudar-nos a
fazer mais luz no caminho que nos é próprio. Cabe-nos, desse modo, tolerar lhes
as admoestações, com nobreza e serenidade, tal qual o ferro, que após sofrer,
paciente, o calor da forja, ainda suporta os golpes do malho com dignidade
humilde, a fim de se adaptar à utilidade e à beleza.
Os visitantes entreolharam-se, perplexos, e
Jonathan retomou a palavra, perguntando:
- Senhor, e se
somos injuriados?
- Adotemos o perdão e o silêncio - disse
Jesus. - Muita gente que insulta é vítima
de perturbação e enfermidade.
- E se formos
perseguidos? - indagou Jessé.
Utilizemos a oração em favor daqueles que nos
afligem, para que não venhamos a cair no escuro nível da ignorância a que se acolhem.
- Mestre, e se
nos baterem, esmurrarem? - interrogou Eliakim. - Que fazer se a violência nos
avilta e confunde?
- Ainda assim - esclareceu o brando
interpelado -, a paz íntima deve ser
nosso asilo e o amor fraterno a nossa atitude, porquanto, quem procura seviciar o
próximo e dilacerá-lo está louco e merece compaixão.
- Senhor -
insistiu Jonathan -, que resposta oferecer, então, à maledicência, à calúnia e à perversidade?
O Cristo
sorriu e precisou:
- O maledicente guarda consigo o infortúnio de
descer à condição do verme que se alimenta com o lixo do mundo, o caluniador
traz no coração largas doses de fel e veneno que lhe flagelam a vida, e o
perverso tem a infelicidade de cair nas armadilhas que tece para os outros. O
perdão é a única resposta que merecem, por que são bastante desditosos por si
mesmos.
- E que reação
assumir perante os que perseguem? - inquiriu Jessé, preocupado.
- Quem persegue os semelhantes tem o espírito
em densas trevas e mais se assemelha ao cego desesperado que investe contra os
fantasmas da própria imaginação, arrojando-se ao fosso do sofrimento. Por esse
motivo, o socorro espiritual é o melhor remédio para os que nos atormentam...
- E que
punição reservar aos que nos ferem o corpo, assaltando-nos o brio? - perguntou Eliakim, espantado. - Refiro-me àqueles que nos
vergastam a face e fazem sangrar o peito...
- Quem golpeia pela espada, pela espada será
golpeado também, até que reine o Amor Puro na Terra - explicou o Mestre, sem
pestanejar. - Quem se rende às sugestões
do crime é um doente perigoso que devemos corrigir com a reclusão e com o
tratamento indispensável. O sangue não apaga o sangue e o mal não retifica o mal...
E, espraiando
o olhar doce e lúcido pelos circunstantes, continuou:
- É imperioso saibamos amar e educar os semelhantes
com a força de nossas convicções e conhecimentos, a fim de que o Reino de Deus Se estenda no mundo...
As Boas Novas de Salvação esperam que o santo ampare o pecador, que o são ajude
ao enfermo, que a vítima auxilie o verdugo... Para isso, é imprescindível que o
perdão incondicional, com o olvido de todas as ofensas, assegure a paz e a
renovação de tudo...
Nesse ínterim,
uma criança doente chorou em alta voz num aposento contíguo. O Mestre pediu alguns instantes de espera e saiu
para socorrê-la, mas, ao regressar, debalde buscou a presença dos aprendizes
fervorosos e entusiastas.
Na sala
modesta de Pedro não havia ninguém.
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