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quarta-feira, 13 de março de 2013

Mediunidade e Saúde



Mediunidade e Saúde
por Indalício Mendes
Reformador (FEB) Julho 1957


            O bom exercício da mediunidade constitui, em muitos casos, uma defesa para o médium. Enquanto ele se devota com plena noção de responsabilidade a esse mister, abre diante de si maiores possibilidades de assistência espiritual, em virtude do ambiente favorável que se forma ao seu derredor. Evidentemente, a mediunidade não concede a médium algum prerrogativas de imunidade, porque ele também, às vezes até mais do que aqueles que não são médiuns, está sujeito às leis de causa e efeito, e, portanto, obrigado a amortizar seus débitos. Acontece, entretanto, que a mediunidade enseja a possibilidade de mais ampla amortização, segundo o comportamento do médium e a sua maneira de encarar as responsabilidades da importante tarefa.

            Emmanuel, o esclarecido mentor do Espiritismo evangélico, tem chamado a atenção dos médiuns para o perigo do personalismo. E afirma que “o primeiro inimigo do médium reside dentro dele mesmo. Frequentemente é o personalismo, é a ambição, a ignorância ou a rebeldia, no voluntário desconhecimento dos seus deveres à luz do Evangelho, fatores de inferioridade moral que, não raro, o conduzem à invigilância, à leviandade e à confusão dos campos improdutivos. Contra esse inimigo, é preciso movimentar as energias íntimas pelo estudo, pelo cultivo da humildade, pela boa-vontade, com o melhor esforço de autoeducação, à claridade do Evangelho". ("O Consolador") Recomendamos com muito empenho, a todos os médiuns, a meditação sobre essas palavras, que encerram profunda lição. Médium sem Evangelho é como lâmpada que se alimenta de mau azeite: ilumina mal e depressa se apaga. Longe de nós, entretanto, a pretensão de pretender ensinar o que quer que seja de espiritismo, pois o quase nada que possamos conhecer tem diante de si um universo que ainda desconhecemos. Nesta série de escritos dirigidos aos médiuns, apenas realizamos um trabalho de compilação ou externamos algo do que nos foi possível assimilar de leituras e observações pessoais. Sempre recorremos aos luminares da Terceira Revelação, entre os quais Allan Kardec, Emmanuel, André Luiz, Léon Denis e outros. Achamos que, de quando em quando, é útil ir respigando trechos que, relembrados em artigos, reavivam a memória de antigas leituras efetuadas ou servem de guia àqueles que mais facilmente leem as páginas de uma revista do que muitos livros.

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            Hoje, desejamos tratar da saúde do médium em face dos trabalhos mediúnicos. A boa saúde constitui uma das bases do serviço mediúnico eficiente, pois o exercício da mediunidade sempre determina um certo dispêndio de força nervosa, em maior ou em menor proporção, consoante a natureza da tarefa consumada. Evidentemente, os médiuns de efeitos físicos despendem maior proporção de força nêurica do que os médiuns de efeitos intelectuais. Mas nem por isso se deve pensar que somente os médiuns de efeitos físicos podem fatigar-se. Precisamos recordar que todos nós, além das obrigações inelutáveis que nos impõe a vida material, sempre cansativa, temos os deveres que nos estão fixados no Espiritismo. Nessas condições, o acúmulo de preocupações e de trabalhos nos dois setores pode contribuir para que, em uma ocasião dada, o nosso organismo se apresente necessitado de repouso. Geralmente, os médiuns precisam de estar com boa saúde para oferecerem aos trabalhadores invisíveis melhores e maiores facilidades de "comunicação". Vamos ler em Léon Denis ("No Invisível") esta frase expressiva: “É preciso também velar pelo corpo: mens sana in corpore sano." O velho axioma de Juvenal, citado por Denis, numa adaptação ocasional, significa que a mente fica mais clara e ativa, se o corpo está em boas condições de saúde. Nesse caso é a mente que domina o corpo. Em caso contrário, o corpo pode perturbar a clareza das ideias, porque a mente não encontra o apoio que busca nas energias físicas e perde muito da sua desenvoltura. O mesmo se poderá dizer, mutatis mutandis, do espírito. Embora o comando seja sempre dele, sua autoridade pode ser influenciada se o corpo está enfraquecido ou enfermo. Procuramos dar esse exemplo para fixar bem a importância que o corpo tem e os cuidados que deve merecer. É a nossa máquina, a máquina de que se vale o Espírito para poder cumprir na Terra os seus compromissos humanos e, concomitantemente, espirituais. Em suma, o médium com saúde desempenha melhor o seu papel mediúnico do que o médium enfraquecido ou enfermo. Se ele é apenas o instrumento físico de que se vale
o Espírito desencarnado para poder atuar no mundo material, esse instrumento, esse "aparelho", deve estar em boas condições para não dificultar a ação do comunicante espiritual. E é ainda Léon Denis que o afirma: "A saúde do médium parece-nos ser uma das condições de sua faculdade. Conhecemos grande número de médiuns que gozam perfeita saúde; temos notado mesmo um fato significativo, e é que, quando a saúde se lhes altera, os fenômenos se enfraquecem e cessam até de se produzir." (o grifo é nosso.)

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            Somente em casos excepcionais se deve permitir o exercício da mediunidade por pessoas enfermas, como, por exemplo, nos casos de real emergência. Os próprios Espíritos, quando compreendem a imprescindibilidade da ação mediúnica rápida ou enérgica, podem utilizar-se de um médium cujas condições de saúde sejam precárias, pois adotam providências acauteladoras e excepcionais, que protegem o médium, conforme nos descreveu André Luiz. Mas são hipóteses que não devem preocupar o médium, visto como os Espíritos elevados jamais o sacrificam e sempre decidem pelo melhor. Há enorme diferença entre a mediunidade "espontânea", isto é, entre a mediunidade exercida por iniciativa do Espírito que deseja comunicar-se ou agir através do médium, e a mediunidade provocada pelo médium, sem necessidade essencial. No primeiro caso, os Espíritos apressam a recuperação fluídica e restabelecem mais rapidamente o equilíbrio nervoso para compensar a perda de energia que, porventura, o médium haja sofrido. Não se pode saber, no entanto, se o médium contará com essa valiosa assistência em todas as ocasiões em que ele, fatigado ou enfermo, contraria o bom-senso e toma a iniciativa do trabalho mediúnico, sem se encontrar no estado ideal para exercê-la. Em "O Livro dos Médiuns", Kardec esclarece:

            "O exercício muito prolongado da faculdade mediúnica pode causar fadiga?" Resposta: "O exercício muito prolongado de qualquer atividade acarreta fadiga; a mediunidade está no mesmo caso, principalmente a que se aplica aos efeitos físicos, ela necessariamente ocasiona um dispêndio de fluido, que traz a fadiga, mas que se repara pelo repouso." (o grifo é nosso.) Este outro trecho completa o esclarecimento: "Pode o exercício da mediunidade ter, de si mesmo, inconveniente, do ponto de vista higiênico, abstração feita do abuso?" Resposta: “Há casos em que é prudente, necessária mesmo, a abstenção, ou, pelo menos, o exercício moderado, tudo dependendo do estado físico ou moral do médium. Aliás, em geral, o médium sente e, desde que experimente fadiga, deve abster-se." (são nossos os grifos.)

            Deduz-se, do estudo da Doutrina, que o médium deve ser metódico em sua atividade mediúnica, embora às vezes tenha necessidade de aumentá-la para atender a casos imprevistos. O repouso, depois do exercício mediúnico, é aconselhável, assim como o repouso periódico, após vários meses de trabalho. Isso só pode ser vantajoso, quer para o médium, quer para os Espíritos que dele se valem e até mesmo para aqueles que costumam beneficiar-se com os efeitos da mediunidade. Conhecemos médiuns que, apesar da idade, insistem em trabalhar medíunicamente horas a fio, embora cansados, porque consideram que o repouso representa uma desatenção aos Espíritos. Semelhante atitude não tem defesa. Todo excesso, nesses casos, é prejudicial. Será melhor trabalhar menos, mas bem, do que muito,
deficientemente. Em certas ocasiões, a fadiga ou a enfermidade provocam o desaparecimento da mediunidade, que pode ser ou não demorada. Convirá, pois, que o médium não cometa excessos, sempre nocivos ao seu equilíbrio orgânico.

            A falta de suficiente estudo da Doutrina é a causa de muita incompreensão. Para se achar bem amparado, o médium não pode prescindir destes dois reforços importantes: "O Evangelho segundo o Espiritismo" e "O Livro dos Médiuns". Estudar a Doutrina, orientar-se por ela, ao mesmo tempo que iluminando a alma no estudo e na exemplificação do Evangelho, é o caminho que seguem os médiuns bem orientados e o que devem palmilhar aqueles que desejam ter a consciência tranquila por haverem cumprido corretamente suas tarefas.


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