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quinta-feira, 22 de março de 2012

O que o Evangelho diz - e não diz...


O que o Evangelho
diz - e não diz
           
            Ensinam os mestres humanos doutrinas profundas  - vive Cristo uma vida perfeita e morre uma morte heroica.        

            Por isso são aqueles de ontem e anteontem - Cristo de ontem, de hoje e de amanhã.

            Por isso são admirados os mestres humanos - e amado o profeta de Nazaré.

            Analisam os homens verdades inteligíveis - rasga o Filho de Deus perspectivas de vida eterna.

            Fácil é não ser derrotado quando se foge do campo da luta - heroico é viver em plena guerra e não sucumbir.

            Cristo é hoje mais atual do que no século primeiro -  giram em torno dele os pensamentos de todos os homens ...

            Mais de 50.000 obras foram, em centenas de línguas, escritas sobre ele - e continua a ser o "Deus desconhecido" .

            Há tempo que o Cristo transpôs o recinto dos templos e as páginas da teologia especulativa.

            Dele se ocupam o acadêmico e o artista, o negociante e o industrial, o crente e o descrente - amigos e inimigos.

            Kant e Bergson, Chesterton e Renan, Murray e Barbusse, Keyserling e Papini, Rojas e Maurois - todos os modernos e ultramodernos escrevem o que dele sabem ou julgam saber.

            Toyohiko, o Dostoiewsky oriental, no bairro operário de Kobe, escreve estranha novela: "Antes da alva" - tragédia duma alma em busca da luz.

            Gandhi e Tagore falam do Nazareno - e não decifram a esfinge.

            Expira Livingstone às margens do Tanganica - proclamando no coração africano as glórias de Cristo.

            Pioneiros da fé aos milhares o apregoam do Alasca ao Cairo - desde os polos até o equador.

            Mas não valem 50.000 obras nem milhões de bocas dizer mais do que dele dizem os toscos fragmentos de Mateus e Marcos, de Lucas e João.

            E mais do que nas linhas se lê adivinha-se nas entrelinhas ...

            Ó Jesus! se tão admirável é o que de ti diz o Evangelho - tão estupendo deve ser o que de ti calou!

            Se tanto dizem os sacros fragmentos que possuímos - quanto não entredizem as lacunas que entre eles se abrem! ...

            Se tão belo é o que, por dizível, foi dito - quão sublime será o que, por indizível, não foi dito! ...

            Se tão vasto é o dia luminoso do que contemplamos - quão profunda deve ser a noite estrelada do que Ignoramos ....

            Leio nos dizeres evangélicos o poema da tua vida terrestre - e adivinho-lhe nas reticências a epopeia dos teus mistérios divinos ...

            Não, não quero saber o que mais disseste e fizeste - quero ter a liberdade de voar por espaços ignotos ...

            Quero inebriar minha alma com o que não foi escrito em parte alguma ...

            Quero voar para além de todos os litorais - para além de todas as atlântidas, vias-lácteas e nebulosas ...

            Para encontrar o que nunca foi dito nem escrito de ti - por indizível e indescritível. . .              
    
            Quero ler o Evangelho inédito!                         
            O Evangelho do eterno silêncio...
            A ti mesmo, Jesus...
            Evangelho divino...


Huberto Rohden
in “De  Alma para Alma” (Ed. União Cultural Editora 1956)





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