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quarta-feira, 14 de março de 2012

03 / 05 Antônio Wantuil de Freitas


03 / 05  Antônio
Wantuil de Freitas

inReformador’ (FEB) Abril 1974


Na presidência da FEB

            Muitos fenômenos de indiscutível força comprobatória, alguns, inclusive, observados no seu próprio lar, confirmaram lhe a teoria haurida nos livros, fortalecendo lhe as novas convicções.

            Em 2 de abril de 1932, ingressava ele no quadro de sócios remidos da Federação Espírita Brasileira, pondo-se em contato Com líderes espíritas do Brasil. Em 1933, já tomava parte nas reuniões do Conselho Federativo ("Reformador" de 1933, pág. 537). A 24 de maio de 1933, foi eleito para membro efetivo da então Assembleia Deliberativa.

            Em pouco tempo formou vasto cabedal de conhecimentos doutrinários, o que levou o engenheiro Guillon Ribeiro, então Presidente da Federação Espírita Brasileira, a convidá-lo para diretor da Casa. Nas eleições de 9 de agosto de 1936, Antônio Wantuil de Freitas era eleito e empossado no cargo de gerente do "Reformador", cargo que ocupou até 7 de novembro de 1943, quando, por desencarnação do seu "pai espiritual", Guillon Ribeiro, ascendeu à presidência da Federação (seria apenas por um ano, diziam), nesse posto permanecendo, sempre reeleito anualmente, até 22 de agosto de 1970, data a em que, por motivo de saúde, não mais aceitou a sua reeleição.

Outras Atividades

            Foi Antônio Wantuil de Freitas 1º secretário do Centro dos Droguistas e Industriais do Rio de Janeiro, 1º vice-presidente do Sindicato dos Laboratórios, Drogarias e Farmácias do Rio de Janeiro, aí presidindo à seção referente à Indústria. Era membro da Associação Brasileira de Farmacêuticos e, desde 1931, da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. Um dos sócios mais antigos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), ao museu da qual ofertou, em 1936, a mesa de trabalho de Quintino Bocaiúva, mesa em que esse grande brasileiro havia escrito o seu famoso testamento político. Sócio efetivo da Sociedade de Homens do Letras do Brasil, fundada por Olavo Bilac, em 1914, Sócio da Liga Brasileira de Esperanto, tendo sido eleito membro do Conselho Deliberativo do "Brazila Klubo Esperanto". Aliás, ele sempre deu irrestrito apoio à divulgação da Língua Internacional, tendo até custeado, em parte, a publicação de obras espíritas em Esperanto.

            Antes de ser espírita, esteve ligado à Maçonaria, onde alcançou os mais altos graus, tendo pertencido, em 1924, à Soberana Assembleia do Grande Oriente do Brasil. Sócio de muitas associações recreativas e de assistência social, muitas vezes deu para estas últimas vultosos donativos, exigindo, porém, total sigilo.

            Como jornalista, fundou, em janeiro de 1928, e o dirigiu por cerca de doze anos, um jornal de formato grande e largamente difundido por todo o Brasil. Intitulava-se "A Verdade", com os mais variados assuntos, não faltando pequenas seções de caráter espírita, depois de 1932, uma das quais, muito apreciada dos leitores e escrita por ele, era assinada com o pseudônimo "Vovó Virgínia".


Debate com a Classe Médica

                        As realizações de Antônio Wantuil de Freitas dentro do Espiritismo, nos últimos trinta anos de sua direção na FEB, são qualquer coisa de extraordinário. Sua enorme capacidade de trabalho, aliada a invejável descortino intelectual, fê-lo uma das figuras mais proeminentes no movimento espírita nacional da época presente. Quer na tribuna, onde durante muitos anos dissertou sobre temas evangélicos e pronunciou conferências eruditas, algumas publicadas no "Roformador", quer nos escorreitos e bem argumentados escritos que estampou com seu nome e sob pseudônimos, como G. Mirim, Mínimus, I. Pequeno, R. G., Jorge Castelini,  O Repórter, etc., quer ainda nas resoluções de alta responsabilidade e de significativa importância para o Espiritismo no Brasil, em todas essas oportunidades ele sempre se revelou uma personalidade forte, intransigente na defesa da verdade, conscientemente tolerante, dotado de grande discernimento e de um raciocínio rápido e decisivo.

            Em 13 de junho de 1939, ele, sozinho, defendeu o Espiritismo na Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, que na ocasião se achava empenhada numa acirrada campanha antíespírita, com moções dirigidas até ao Presidente da República e ao Ministro da Justiça, inspiradas pelo Dr. CarIos Fernandes. Ficou memorável nos anais do Espiritismo a longa e brilhante defesa que Wantuil de Freitas fez do Espiritismo, rebatendo, com argumentos decisivos, a saraivada de apartes com que o assediavam ilustres membros daquela Sociedade, como os Drs. Rolando Monteiro, Pitanga Santos, Pinto da Rocha, Carlos Fernandes, Rafael Pardelas e outros. Esses debates atraíram a imprensa. O "Diário da Noite", a "Vanguarda" e outros jornais da época estamparam fotografias e elogiaram a atitude desassombrada daquele desconhecido que ousara levantar a voz contra eminentes médicos patrícios, no seio de uma sociedade científica. O "Reformador" de 1939, páginas 172, 179 e 204, fez minucioso relato dos acontecimentos, salientando os argumentos tortuosos de que se valera o autor das moções contra o Espiritismo, completamente arrasados por Wantuil, principalmente quando invocou Charles Richet para insinuar ser a Doutrina Espírita "qualificada pelo grande pesquisador como inimiga da ciência". O fato  provocou, na época, violento impacto, dado que os componentes do grupo encabeçado pelo Dr. Carlos Fernandes se constituíam de figuras de prol no ambiente médico de então.

            O debate foi tumultuado, mas a voz serena e a argumentação segura de Wantuil abalaram e desbarataram os detratores do Espiritismo, conforme se pode ler no número de junho do "Reformador" daquele ano, do qual destacamos o seguinte interessante parágrafo:

            "Dando fiel notícia do acontecimento verificado na Sociedade de Medicina e Cirurgia no dia em que se comemorava a desencarnação do grande e excepcional médium que foi Antônio de Pádua, o Reformador quis apenas registrar o primeiro caso, realmente inédito, de defesa do Espiritismo, no seio mesmo de uma Sociedade médica empenhada em guerreá-lo com todas as armas de que possa lançar mão" (pág. 181).

Com o Presidente da República

            Outro fato digno de menção passou-se no governo de Getúlio Vargas, em 1945. Pressões daqui e dali originaram um clima de perseguição às Sociedades espíritas, criando-se até um cadastro policial para o fichamento dos adeptos. Graças, porém, aos esforços do Presidente da Federação Espírita Brasileira, que manteve conversações diretas com o próprio Presidente da República e com o então Chefe de Polícia, Ministro João Alberto, foram sanadas as incompreensões surgidas, reconhecendo-se às instituições espíritas o direito de se organizarem e funcionarem livremente.

            Vários outros episódios relevantes, em que ele tomou parte saliente, e que assinalaram datas ou passagens importantes na história do Espiritismo no Brasil, alguns já tornados públicos e outros só conhecidos de reduzido número de companheiros mais íntimos, poderiam ser aqui relatados, se não fora alongar demasiado esta biografia, na qual queremos deixar fixado, ainda que discretamente, o perfil desse grande espírita.

O Departamento Editorial,
Os Selos e o Pacto Áureo

            Antônio Wantuil de Freitas foi diretor, por muitos anos, do centenário Grupo Ismael, posto de atalaia da Federação Espírita Brasileira, e dirigiu o "Reformador" durante os 27 anos de sua presidência.

            Em virtude dos seus amplos conhecimentos da língua portuguesa, empenhou-se em rever todas as edições e reedições das obras publicadas pela FEB, podendo-se afirmar que mais de duzentos livros sofreram a sua competente revisão. Trabalhava ativamente, de doze a quatorze horas diárias, inclusive sábados e domingos, e por várias vezes adoeceu em consequência de estafa total.

            Efetivando a criação, em 1946, do Departamento Editorial da FEB, no bairro de São Cristóvão, ele o desenvolveu com o correr dos anos, dando gigantesco  impulso à divulgação da Doutrina Espírita pelo livro e pela imprensa. Só esse empreendimento seria suficiente para consagrar a sua memória ao respeito geral dos espíritas.

            Presidiu, com dedicação e sabedoria, com firmeza. e lealdade, ao Conselho Federativo Nacional desde que este foi instalado, em 5 de outubro de 1949, tendo sido o autor dos dezoito itens com foi lavrada a "Ata do Pacto Áureo". A última reunião mensal a que compareceu, como presidente dos trabalhos, realizou-se no dia 1.° de agosto de 1970.

            Visitou oficialmente, cm diferentes anos, várias organizações espíritas estaduais, entre elas as de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná, numa obra de fortalecimento dos laços federativos.

            São de sua autoria folhetos, opúsculos e livros acerca de vários assuntos. Sua primeira publicação saiu quando ele era ainda bem jovem, e se intitulava "Vocabulário Seleto", no qual estavam registradas, com seus significados, centenas de palavras pouco conhecidas do público. Nessa brochura, usou o pseudônimo Kênio Filho. Afora outras mais, podemos citar as seguintes obras de caráter espírita, apresentadas também sob pseudônimo: "Ciência, Religião e Fanatismo". "Os Milagres de Jesus" e "Síntese de O Novo Testamento", todas com várias edições.

            Aos seus denodados esforços, conjugados a uma atuação inteligente junto às autoridades públicas, se devem os quatro selos postais espíritas, que contribuíram para dar ao Espiritismo no Brasil uma projeção ainda maior, inclusive no exterior, criando em torno de seus ideais respeito e admiração crescentes. 


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