Pesquisar este blog

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Casamento espírita?



Casamento espírita?
Editorial
Reformador (FEB) Dezembro 1919

            O matrimônio não tem, nem pode ter para os crentes do Espiritismo, o caráter de sacramento, que lhe atribui a teologia católica.

            Ele representa, contudo, o cumprimento de uma lei natural, e pela magnitude das responsabilidades que acarreta, constitui um dos atos mais sérios, senão o mais sério, da vida terrena.

            Assim sendo, não pode nem deve ser realizado, conscienciosamente, à revelia da sanção divina.

            E sendo de espíritos que não de corpos a união, na mais lata acepção do termo, é claro que essa união dispensa formalidades quaisquer além das que a legislação civil criou e a que todos nos devemos submeter, pois que O Cristo mandou dar a César o que era de César.

            Para dar a Deus o que a Deus pertence, fica ao espírita a liberdade de o fazer como bem lhe aprouver e a ninguém é licito tolher os reclamos do seu foro íntimo.

            Nada mais natural, portanto, de que para esse ato, em perfeita comunhão de ideias e sentimentos, os crentes se reúnam, e, em testemunho de sua própria Fé, exorem a benção de Deus e a proteção de seus Guias para que fortaleçam a união de duas almas que se propõem progredir juntas, dando frutos de amor e exemplos de virtude, através de todos os percalços da vida de relação.

            Esse procedimento, só se justifica, entretanto, pela intenção e aos que o tenham como brado espontâneo d'alma, não há de que os increpar. Preciso é, contudo, dizer que ele não se torna indispensável e pode ser nocivo e perigoso fazendo-nos resvalar para os domínios de um ritualismo inócuo, sem outro alcance que o de satisfazer vaidades e preconceitos sociais oriundos de ancestral atavismo pagão.

            De fato, melhor que os frutos ocasionais de cerimônias de convenção, ainda mesmo as mais singelas, o que santifica o matrimônio são os sentimentos e os atos os que o contraem, procurando cumprir o dever comum dentro da moral evangélica, à face de Deus e dos homens.

            Ora, para superar todas as vicissitudes da vida conjugal - e importa dizer que elas são, muitas vezes intrínsecas, representando sagrados compromissos de anteriores encarnações - sabemos que de nada valem as consagrações formais de um ato inicial, mas preciso se faz o esforço constante de todos os dias na escola real da abnegação, da renúncia, do sacrifício recíprocos - padrão legítimos, que são do verdadeiro amor na constituição da lídima família espiritual.

            Subentendido que o casamento é de espíritos, que o seu ascendente é de ordem espiritual e moral, claro fica que não há nem pode haver cerimônias e ritos que o legitimem.

            Esta, a noção que corresponde a índole da Doutrina, pela pureza da qual nos cumpre velar, afim de não incidirmos na imitação grosseira de seitas que tudo materializam, num esdrúxulo hibridismo de fórmulas pagãs e preceitos religiosos.

            Em suma: é necessário que o amor às formulas não desvirtue o amor aos princípios.


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Do Mestre ao discípulo - A providência do Invisível - Partes 1 e 2





Do Mestre ao discípulo
- A Providência do Invisível - Parte 1
por Angelo Aguarod
Reformador (FEB) Novembro 1919 

            Meu querido, 

            Sempre acharam eco em mim os teus anelos de elevação moral que constituem a principal preocupação da tua alma, e as objecções que esta te sugere em tuas meditações, terão da minha parte pronta e adequada resposta. Agora vou responder pressuroso as duas últimas que te dignaste formular.

            Eis a primeira:

            “Como, tendo dito o Divino Mestre que tudo o que pedimos orando, nos será concedido, não se dá assim numa multidão de casos?

            Estais equivocado, meu querido discípulo. O Mestre, que é o caminho, a Verdade e a Vida, esteve certo - como em tudo - ao afirmar que nos seria dado tudo quanto pedíssemos na oração. Mas, a falsa posição em que o homem se coloca, para observar os efeitos da súplica faz que não veja todos os casos em que o pedido é correspondido.

            Vós outros sentis uma necessidade, acariciais um desejo, e estando uma e outra fora de vosso alcance, vos dirigis a Aquele que é a fonte de todo o poder, solicitando sua  satisfação e Deus os ouve e os atende sempre; porém não em todos os casos, na forma e no tempo desejados.

            As vezes, a dor amargura vossa vida e pedireis a Deus saúde. Vós vos conformaríeis com a saúde do corpo; mas nosso Pai que dá cento por um, como o bom grão atirado em terra fecunda o dá ao semeador, não vos devolve a saúde do corpo; deixa que vossos sofrimentos tenham curso, porque eles são necessários para o vosso progresso espiritual. Então vos manda o auxílio do Alto para o tornar mais leve infundindo a resignação e a paciência e vos saturando do espírito de conformação à vontade divina, deixa que a enfermidade dê o fruto correspondente, que é ao fim a saúde de vossa alma, benefício mui superior à saúde de vosso corpo que era somente o que havíeis pedido em vossas preces. Obtiveste, em consciência muito mais do que tínheis pedido em oração, porém não na forma nem no tempo que queríeis, mas na forma e no tempo impostos pela Lei.

            Vossa atuação no plano físico, quando não vossa miopia espiritual vos impede de ver vosso passado, as consequências que pesavam sobre vós como resultado da vossa conduta anterior, já na atual ou em outras passadas existências, e, por conseguinte, não podeis sujeitar a uma norma traçada por nossa imaginação, as decisões do Eterno de que aqui cabem aquelas palavras do bom Jesus: “Busca o reino de Deus e sua justiça e tudo o mais virá depois.”

            Assim só te deves preocupar em ajustar toda tua conduta à moral mais pura
que conheces, e em tua relação com a Divindade quando quiseres pedir alguma coisa ao nosso celeste Pai, toma cuidado que o pedido esteja sempre de acordo com a lei moral, e descansa, que em seu tempo e na forma que corresponda, receberás do Pai a resposta devida, que satisfará sempre tuas necessidades espirituais, enriquecendo teu tesouro espiritual, que é o único tesouro legítimo, que ladrões não podem roubar nem ferrugem e traça consumir.

            Tem por certo que Deus nunca desatende a quem com sincero coração se dirige a Ele, ainda que se peça o impossível; Ele satisfaz sempre todo legítimo bom desejo, dando maior quantidade do bem verdadeiro do que pode querer e compreender o peticionário.

Do Mestre ao discípulo
- A Providência do Invisível - Parte 2
por Angelo Aguarod
Reformador (FEB) Dezembro 1919 


            Tua segunda objeção se limita a supor por que os Mestres ou Guias Espirituais
invisíveis não estendem sua ação protetora a muitos casos em que ela é necessária.

            É uma suposição destituída de fundamento, efeito daquela falta de compreensão e miopia espiritual a que antes me referi.

            Não esqueças que tudo quanto acontece no mundo são efeitos fatais, de uma fatalidade opressora e indesviável. E contra o que é fatal, que queres que façam teus Guias e Mestres? Forçosamente, tem que deixar produzir-se as consequências indeclináveis das coisas que os homens geraram.

            Nem contra o aborto das causas, que efeitos tão desastrosos como os que amargam tua existência hão de produzir, podem eles exercer uma ação mui eficaz; porque não está em suas faculdades cortar o precioso dom do livre arbítrio com que dotou o Criador o ser humano; e esse livre arbítrio, ainda que seja certamente limitadíssimo em seres de minguado adiantamento, como o são a generalidade dos terrícolas, exercitado por estes nos limites do que podem, que queres que produza? A geração de causas há de certo trazer como consequência dissabores, dores e amarguras, flagelos que não podem evitar os guias espirituais, porque os impede não somente a Lei senão também o próprio interesse de seus protegidos. Estes se acobertam tais amarguras, obras deles mesmos, e a experiência que o sofrimento lhes proporciona, os induz à retificação de conduta. Quando dá-se este aso, é aproveitado pelos protetores invisíveis, que, ao calor das novas e boas disposições de seus guiados, inspiram uma melhor conduta a observar, coisa que só conseguem pela maior eficácia que tem sua intervenção, verificada em semelhantes condições.

            Como os Guias e Mestres invisíveis sabem que, quanto acontece aos encarnados na terra, por doloroso que seja, há de redundar em beneficio para estes, não têm pressa em precipitar reações, que forçosamente hão de vir, e deixam os seus guiados navegar no mar dos efeitos produzidos pelas causas que eles geraram; porém, permanecendo sempre alerta nos naufrágios para lhes estender a tábua salvadora no momento oportuno.

            Os Mestres e Guias espirituais velam sobre todos os passos dos seus protegidos e estão sempre prontos a intervir, em casos de necessidade, nas ações destes, porém sem coagir-lhes a liberdade. Eles não abandonam nunca os espíritos encarnados; são estes que se separam dos seus Guias, e não ouvem sua voz paternal, protetora, quando os chama ao bom caminho.

            E quando o homem aberta e repetidamente se rebela contra as boas inspirações de seus Guias, estes o deixam entregue às suas forças exclusivas, para que o peso da dor o chame a juízo, já que repelem a proteção paternal disposta pela Divina Providência.

            Por isso há tantos espíritos encarnados na Terra que, não obstante a amorosa solicitude de seus Guias e Mestres invisíveis, vivem entregues ao delito, à dissipação, à uma existência horrorosamente culpada.

            Os passos desses espíritos delinquentes são veludos, da mesma maneira que os dos seres que se acham colocados numa altura moral invejável. Dia virá, para aqueles, em que a mesma Lei, com seus açoites, conseguirá pô-los em disposição de ouvir a voz protetora de suas Guias, e então começará para aqueles o período de regeneração,

            Por isso, não acredites que, quando os seres sofrem e experimentam contrariedades sem conta, são desatendidos por seus Mestres e Guias. São sempre atendidos, instruídos, sustentados e convenientemente, e com amor, em suas rudes provas; porém é preciso que que se esgotem em sua totalidade as consequências dos atos delituosos de outros tempos e que os desagradáveis efeitos dos erros cometidos sigam seu curso, pois essas amarguras também são mestres e guias.

            Pelo que resulta que, quando o homem se crê mais abandonado de seus guias, os tem por partida dobrada, já que a providência do que, invisível, segue seus passos para aproveitar qualquer circunstância que o permita favorece-lo, se une o flagelo, mestre que, de urna maneira convincente, ensina aos recalcitrantes, obrigando-os, pela dor e desenganos, a entrar na vereda.

            Os Mestres e Guias espirituais invisíveis dos terrícolas, são sempre a providência, destes, que vela até o menor de seus pensamentos. Não os desamparam nunca, como repetidamente tenho dito; somente obram na forma do tempo que o homem não compreende, e por isso se crê mais desamparado, quando maior é a ação de seus Guias invisíveis sobre ele, pondo a Luz ante sua inteligência e oferecendo-lhe um apoio seguro para vencer as dificuldades e evitar os abismos.

            Convence-te, de uma vez por todas, filho meu: A providência do Pai não deixa nunca em abandono a nenhum dos seus filhos, por culpado que seja, e ainda o delinquente é seguido com a solicitude e essa providência se manifesta em forma de Mestre e Guia espiritual de Anjo bom, cuja solicitude pana seu protegido é inesgotável.

            Assim, filho meu, não te consideres nunca desamparado de teus Guias e Mestres espirituais sempre estes estão à espreita para te prestarem os auxílios de que necessitas, porém, não esqueças que deves ser tu, e não eles, o artífice de tua perfeição e, portanto, que muitas vezes terás que ficar entregue às tuas próprias forças para que, deste modo, conseguido o objetivo de tua vida terrestre, possas gozar, como teu, e bem teu, o fruto de teu labor.

            Esta espécie de abandono também é providencial, porque, mediante ele, o espírito aperfeiçoe sua individualidade, a qual, aperfeiçoada, há de converte-lo, um dia, em um semideus, fazendo-o por sua vez, Mestre e Guia de seus irmãos menos evoluídos.

Instruções Espíritas



Instruções Espíritas
por Lux
Reformador (FEB) Dezembro 1920

Resposta a uma Carta:

            Sofres? Tens a alma sangrando? Pois bem: volve o teu pensamento para o Alto, pede a Deus que te conceda a graça da assistência de seus Mensageiros, suplicam-Lhe, em nome de Jesus, a orientação de que necessites para que te possas colocar ao abrigo do desespero e do desânimo. Considera que na terra também o Mestre sofreu martírios e mede bem a distância em que te achas do Instrutor Divino. Porque O perseguiram? Porque O condenaram nos suplícios da cruz? Porque era justo e bom. Porque, norteando o homem para a vida espiritual, escandalizavam os que se presumiam doutos e tinham os olhos voltados unicamente para as coisas da terra. E em que condição vivias nessa época?...

            A vida, meu amigo, não desaparece com a matéria, com o corpo terreno que
lhe serve de instrumento para o trabalho e para as grandes lutas que trava em proveito de seu desenvolvimento. A sepultura por onde lhe desaparece o invólucro material que se vai transformar e constituir o corpo de novos elementos, é uma porta que se fecha para lhe dizer:

            “Teu reino não é deste mundo.”  

            Quando se chega a este resultado, também se chega ao conhecimento de existências passadas e, a vida do que hoje sofre, sentindo-se presa às que agitara anteriormente no plano material, apercebe-se do grande atraso em que estivera quando, nos tempos idos, associando-se aos perseguidores do Cristo, contra Ele orgulhosamente se fazia nas campanhas do ódio e da difamação!

            Pensa, pois, que não o que hoje procuras ser, quando, animado por sentimentos bons desejas contribuir para o esclarecimento dos ignorantes, para o conforto dos que soluçam e para o bem estar da humanidade.

            Foste a ignorância e o atraso, o orgulho e a ferocidade, de que te desvencilhas
nos momentos de repulsa, de exortações cristãs e de elevados surtos de espiritualidade em procura de Deus.

            Vê, agora, a distância que te separa do amado Mestre. Ele tudo sofreu por amor à  humanidade e os sofrimentos que te pungem provém, apenas, da necessidade que tens de progredir, reparando faltas, educando o sentimento para a conquista da paz e da sabedoria.

            Volve, pois, teu pensamento para o Alto, entrega-te a Jesus e aguarda, serenamente, o DIA DA PASSAGEM.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

A Razão e a Fé


 A Razão e a Fé
Dr. Alfredo Haauwinckel
Reformador (FEB) Fevereiro 1920

            Nunca na igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? Não há um homem que em um sermão entre em si e se resolva, não há um moço que se arrependa, não há um velho que se desengane, que é isto? Assim como Deus não é hoje menos Onipotente, assim a sua palavra não é hoje menos poderosa, do que dantes era.   Padre Antônio Vieira (Sermão da Sexagésima - Ano de 1655).

            Uma crença é um ato de fé de origem inconsciente que nos força a admitir em bloco, ou no todo, uma ideia, uma opinião, uma explicação, uma doutrina. A razão é estranha, nós o veremos, à sua formação. Dr. Gustave Le Bom (Les opinions et les croyances).

            Parece, a primeira vista, considerando-se o abismo em que se precipita a belíssima e humaníssima religião do Crucificado impelida, empurrada, tão violentamente empurrada, pelos seus egoísticos executores, que estes executores perderam a razão por estarem repletos de fé. Mas, apreciando-se convenientemente os fatos, há de chegar-se a consequência de que eles perderam a razão por terem perdido a fé; fé que, mesmo raciocinada, também se ampara, também se firma na palavra sagrada para muitos, desde muito, palavra perdida, no meio de tantas palavras sempre, e cada vez mais, acrescidas. Sim, razão não é, não pode ser incompatível com a fé, nem a ciência com e o progresso inimigos da religião.

***

            “Custa-se compreender, disse Chateaubriand, o desenfreamento desta geração contra o cristianismo.”

            Ainda hoje, um século depois, prega-se, de modo mais ostensivo, o mesmo
pensamento por mais incisivas palavras.
             
            Frequentei igrejas protestantes, lojas teosóficas e centros ou grupos espíritas; todos condenados, todos anatematizados e ainda desapiedadamente zurzidos (espancados) como deturpadores, conspurcadores dos ensinamentos do Cristo.

            Entretanto, o que todo o mundo pode verificar, o que todo mundo há de verificar, querendo, é exatamente o contrário, o diametralmente oposto.

            A Teosofia, ciência divina, sabedoria de Deus tendo por escopo a verdade e por fundamento a fraternidade universal; o Protestantismo seguindo à risca os ensinamentos da Bíblia, onde se encontra o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo isento de inovações; e o Espiritismo que, pregando e praticando o mesmo Evangelho em espírito e verdade, toma incremento assombroso, maravilhoso por todo o Universo; longe, muito longe de rebaixarem elevam, e de mais em mais, o Cristianismo, esse belo e incomparável Cristianismo!

            Sim: Cristianismo, porque Cristianismo não é Catolicismo.

            Há requintada má fé no impingir um enxerto mal pegado pela árvore que lhe
empresta vida.

            Há erro e erro crasso, e por vezes conscientes, no empregar, como sinônimo, palavras de significação diferentes e até opostas, como o de Chateaubriand em um dos seus memoráveis livros, precisamente naquele do qual extraí o trecho há pouco citado, quando, referindo-se ao Catolicismo, raramente usa este vocábulo, empregando centenas de vezes o outro - Cristianismo - que se encontra desde o título da dita obra.

            Ora, religião católica não é religião cristã.

            O teosofista, praticando a fraternidade universal, é cristão. O protestante, tendo a Bíblia por evangelho, é cristão. O espirita, sendo a personificação da caridade, é cristão.

            O suposto católico que não venera relíquias de santos, que não aceita em absoluto os dogmas da igreja, e que divisa no Evangelho o espírito que vivifica além da letra que mata, é cristão; é mesmo espírita sem o supor, porém, não é católico como o supõe ser.

            Sim: todos estes são cristãos porque são ovelhas do mesmo rebanho que só
reconhecem um Pastor: - Jesus, o Cristo.

            Aqueles, porém, que aceitam as inovações que, há mais de dezesseis séculos
vêm desfigurando, desvirtuando e subvertendo a doutrina do Divino Mestre
ensinada e praticada, na sua máxima simplicidade, nos três séculos anteriores; aqueles que julgando-se os melhores, os mais nobres e os únicos possuidores daquela chave de ouro que temperada no sangue de Jesus Cristo fechou o inferno e abriu o céu e patenteou à alma humana o seio benéfico de Deus..., chave de que nos fala Alves Mendes e da qual mais tarde tratarei; aqueles enfim que, por estes e outros privilégios, evitam o contacto com os que deviam considerar irmãos, esquecendo deliberadamente o – Amai ao próximo como a vós mesmo - de todas as religiões esses não são cristãos, são puramente, simplesmente, unicamente católicos ou católicos romanos.

            Católico romano!

            Híbrido paradoxo! Enigma misterioso que quase ninguém compreende e decifra.

            Se é católico, que significa universal, como é, como pode ser nominalmente,
nomeadamente, particularmente, individualmente de Roma? Se é católico e, portanto universal, como é que conta, com é que possui tão insignificante número de fiéis em relação as muitas centenas de milhões de adeptos de todos os outros credos?

            O Cristianismo, sim, poderá ser universal, tomando-se na devida conta as
palavras de S. Pedro de quem, na verdadeira, inabalável, resistente e pétrea fé, Cristo edificou a sua igreja.

            S. Pedro considerando na visão e no que lhe disse o Espírito (Atos dos Apóstolos X, 19) seguiu aos que vieram chama-lo em nome do centurião Cornélio, e ao encontra-lo em Cesareia cercado de seus parentes e mais íntimos amigos (Atos X: 24 e 27) disse-lhes – “Tenho na verdade alcançado que Deus não faz acepção de pessoas. Mas que em todas a nação aquele que o teme, e obra o que é justo, esse lhe é aceite.” (Atos X: 34 e 3ó). Isso é positivamente universal, mas, não é absolutamente católico de Roma!

            É universal porque tem sido invariavelmente ensinado, se bem que por outras palavras, por todos os grandes instrutores do mundo, desde Rama, Krishna, Moisés, Zoroastro, Cakyamouni, o Buda, até Jesus, o Cristo. E não é católico- aí vai o paradoxo- isto é: universal - precisamente por ser católico, isto é: universal e portanto grande demais para caber nos estreitos limites de círculo romano. 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Perdão e Vida



Perdão e Vida
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Julho 1975

            Perdão é requisito essencial no erguimento da libertação e da paz.

            Habituamo-nos a pensar que Jesus nos teria impulsionado a desculpar "setenta vezes sete vezes" unicamente nos casos de ofensa à dignidade pessoal ou nas ocorrências do delito culposo; entretanto, o apelo do Evangelho nos alcança em áreas muito mais extensas da vida.

            Se somarmos as inquietações e sofrimentos que Infligimos a nós mesmos por não perdoarmos aos entes amados pelo fato de não serem eles as pessoas que imaginávamos ou desejávamos, surpreenderemos conosco volumosa carga de ressentimentos que nada mais é senão peso morto, a impelir-nos para o fogo inútil do desespero.

            Isso ocorre em todas as posições da vida.

            Esquecemo-nos de que nenhum ser existe imobilizado, que todos experimentamos alterações no curso do tempo e não relevamos facilmente os amigos que se modificam, sem refletir que também nós estamos a modificar-nos diante deles.

                                                                                   ***

            Casamento, companheirismo, equipe, agrupamento e sociedade são instituições nas quais é forçoso que o verbo amar seja conjugado todos os dias.

            Na Terra, esposamos alguém e verificamos, muitas vezes, que esse alguém não é a criatura que aguardáramos; entregamo-nos a determinados amigos e observamos que não correspondem ao retrato espiritual que fazíamos deles; ou abraçamos parentes e colegas para a execução de certos empreendimentos e notamos, por fim, que não se harmonizam com os nossos planos de trabalho, e passamos a sofrer pela incapacidade de tolerar as condições e realidades que lhes são próprias.
           
***

            Reflitamos, no entanto, que os outros se alteram à nossa frente, na medida em que nos alteramos para com eles.

            Necessário compreender que se todos somos capazes de auxiliar a alguém, ninguém pode mudar ninguém através de atitudes compulsórias, porquanto cada criatura é uma criação original do Criador.

***

            Aceitemos quantos convivam conosco, tais quais são, reconhecendo que, para manter a bênção do amor, entre nós, não nos compete exigir a sublimação alheia, e sim trabalhar incessantemente e quanto nos seja possível pela sublimação em nós.


Paulo majora canamus




Paulo majora canamus (*)
Editorial
Reformador (FEB) Nov 1919

(*) Significa literalmente "Cantemos coisas mais altas".
Significa deixar as coisas pequenas e passar às mais elevadas.

            Já deve ter cessado, oficialmente ao menos, o período de hostilidades que o clero patrício pela voz autorizada e grave de S. E. o Cardeal Arcoverde abriu contra nó: e os nossos irmãos protestantes.

            Diante da insólita arremetida, serenos e confiantes na misericórdia divina, em vez de nos preocuparmos com os doestos, perfídias e baldões que, de certo seriam e foram bolsados contra nós outros do alto de vistosos púlpitos, com mais retórica que sinceridade,
traçamos a nossa conduta como cumpria, em face da consciência cristã à luz dos ensinamentos vivos que a Doutrina nos faculta.

            Procuramos, em vez da rebatida consonante, ouvir a voz autorizada dos nossos Guias, a palavra desapaixonada dos nossos amigos do espaço, emancipados de preconceito e sobranceiros sempre ao fermento das paixões mundanas.

            E quanto folgamos em registar que, da mansão beatifica da verdade, nem uma palavra de cólera, nem um gesto de enfado nos chegou de permeio às lições analíticas da lamentável ocorrência!

            Lamentável, importa dize-lo, em relação aos seus provocadores e jamais em relação a família espírita segura do seu mandato, e que -com prazer o proclamamos - teve uma feliz oportunidade de aferir a elevação dos próprios sentimentos de benevolência e tolerância, além de uma implícita coesão de ideias que muito a recomenda aos pósteros, quando estes acontecimentos houverem de ser apreciados como pródromos verdadeiros da renovação moral do planeta.

            Falando para o seu consuetudinário auditório, o clero poderia ter a presunção de aconchegar mais ao seu desfalcado aprisco quaisquer ovelhas tímidas e recalcitrantes.

            Ele é, porém, bastante arguto para não supor que nos fosse converter a nós outros com a sua atoarda de imprecações e blasfêmias, que outra coisa não é, perante o senso comum, esse delírio de monopolizar à força a consciência humana.

            E o resultado de tudo isso foi que, fora das rodas de sacristia e talvez dos serões duvidosos de um duvidoso beatério, essa campanha inócua, pueril e ridícula, não teve repercussão em nosso meio social.

            Destarte se verifica que a medida mais que anti política só nos trouxe benefícios e novos estímulos, considerando-nos a nós, pobres mentecaptos de ontem, desclassificados e réprobos, uma força coletiva capaz de alarmar e mover o exército clerical.

            Demos graças a Deus!

            Há vinte anos, se tanto, não mereceríamos mais que um solene desprezo.

            Daqui há outros vinte anos, Deus sabe o que poderemos valer, como fator moral no cômputo da evolução que se acelera, máxime se, desprezando rivalidades e mesquinhas competições pessoais, nos colocamos dentro do Evangelho de N. S. Jesus Cristo.

            Esse é, não o esqueçamos nunca, o baluarte inexpugnável que o ultramontanismo impenitente em nome de privilégios e regalos seculares, e através de uma política de fogo e sangue, manteve em sequestro até a Reforma de Lutero, e, na impossibilidade de iludir ainda, tenta arrasar a golpes truculentos como se estivéssemos na idade média e num país  segregado de cultura filosófica e de evolução política normal.

            Porque a verdade é que o movimento espiritualista tendente a emancipação do dogmatismo romano é hoje universal, e não nos consta que algures os representantes da Tiara houvessem recorrido a tais extremos de um exotismo já agora digno de piedade.

            Se nós acreditássemos no demônio tal como o inculca pro domo sua a igreja católica diríamos que ele a empolgara em toda a sua potestade.

            Acreditamos, entretanto, no espírito rebelde, de todos os tempos, à lei do progresso e sabemos que é esse mesmo espírito farisaico que manobra a fraqueza, a ambição, o orgulho dos nossos irmãos católicos, a ponto de não verem que o terreno lhes foge de sob o pés, não por força de humanas vontades, mas de vontades divinas, que se concretizam em fatos, fatos que são da essência mesmo da sua primitiva igreja apostólica e que suscitam à consciência humana energias nova para a definitiva consagração do reino de Jesus.

            A força do nosso proselitismo está justamente nessa espontaneidade incoercível que a igreja católica lida por não ver e que é altamente significativa.

            Cada um de nós representa um voluntário da Fé, sem outro constrangimento ou ficção convencional, impulsado da própria consciência.

            Os que não buscaram a teoria para conhecer do fato, asfixiados pelas nebulosidades da Teologia católica, contramarcharam do facto para a teoria em homenagem a própria razão.

            É um fenômeno natural, esse, que depõe a favor da evolução progressiva do espírito e ao qual a igreja católica, ou qualquer outra, não tem poder nem força de invalidar.

            Dia virá, disse O Cristo à Samaritana, em que não adorareis o Pai nem em Jerusalém nem neste monte, mas em que os verdadeiros adoradores o adorarão em espirito e verdade. (1)   (1) João Cap. IV. Vv. 21 a 23.

            Esse dia se aproxima, conclamam e provam-no os mensageiros do mesmo O Cristo, eletrizando corações, vivificando inteligências.

            Pois bem: a igreja que se diz cristã, porque não interpreta os Evangelhos, porque não os prega ao povo em espírito e verdade, em sua tocante singeleza e sobretudo com aquela convicção que, mais que todas as pompas litúrgicas, toca os corações, sensibiliza as almas e faz das pedras filhos de Deus?

            Pois isso, ao menos em parte e honra lhes seja, procuram fazer com sinceridade os nossos irmãos protestantes, e com o mérito que de tal sacerdócio lhes advém, incorrem como nós, nas iras do romanismo.

            Mas é positivamente extraordinário!

            Os homens que raciocinam, os que não procuram iludir a consciência em acomodações efêmeras de uma vida falaz, esses diante de atitudes como essa do clero Romano, hão de forçosamente convir que não somos na liça os suspeitos, quando reivindicamos apenas a liberdade de crer em Deus e servir ao próximo como podemos.



Comunicações contraditórias

Comunicações contraditórias
por José Carlos da Silva Silveira
Reformador (FEB) Julho 1973

            Umas das características mais importantes da Doutrina Espírita é o respeito ao livre arbítrio individual.

            Com efeito, sendo uma revelação progressiva, não poderia exigir de nós um entendimento pleno dos seus postulados. Cada espírita a compreende do seu modo -  exceção feita aos seus pontos essenciais -, conforme o grau do seu estado evolutivo. Espíritos que somos, em ascensão continua, mas desigual, com idades distintas e experiências próprias, não poderíamos reagir da mesma forma ante a Verdade, que se
colore de variados matizes, de acordo com as nossas possibilidades perceptivas.

            Dessa forma, o ponto básico para aceitação dos ensinamentos da Espiritualidade superior é - como não poderia deixar de ser - a nossa razão. Ressalte-se, porém, que esta, nos círculos terrestres, é ainda bastante falha, fazendo-nos, muitas vezes, rechaçar verdades sublimes pelo simples fato de não lograrem acesso ao nosso raciocínio, limitado pelos preconceitos, pelas versões estreitas do mundo material. Contudo, isso é natural, faz parte da evolução do Espírito. O mal, em que muitas vezes caímos, é tomar o nosso modo de ver as coisas como alicerce do conhecimento eterno, apresentando-nos como donos da Verdade, não admitindo, sequer, que os outros que não pensam como nós possam estar certos.

            Todavia, se quisermos realmente evoluir no conhecimento doutrinário, temos de nos ir libertando das limitações intelectuais a que nos afeiçoamos pelos milênios a fora, porque só a esse preço descobriremos o sentido sublime da Verdade, que paira acima das convenções humanas.

            Se assim procedermos, compreenderemos, em primeiro lugar, que a nossa lógica nem sempre corresponde à lógica do Mundo Espiritual e que, portanto, muitas vezes não interpretamos corretamente as afirmações dos Espíritos, tomando por contradições o resultado de nossas observações defeituosas.

            Os próprios Instrutores Espirituais não se cansam de nos alertar acerca das dificuldades que encontram para se comunicarem conosco (e esses obstáculos não se restringem apenas a influência material e moral do médium ou do ambiente, mas também são consequência do despreparo do homem, em geral, para o contato com a Revelação Divina), dificuldades que os obrigam a usarem de métodos e recursos nem sempre compreendidos por nós.

            “A verdade é a essência espiritual da vida. Cada homem ou cada grupo de criaturas possui o seu quinhão de verdades relativas com o qual se alimentam as almas nos vários planos evolutivos.

            “O coração, que retém uma parcela maior, está habilitado a alimentar seus irmãos a caminho de aquisições mais elevadas: todavia, é imprescindível o melhor critério amoroso na distribuição dos bens da verdade, porquanto esses bens devem ser fornecidos de acordo com a capacidade de compreensão do Espírito a que se destina o ensinamento de maneira que o esforço não se faça acompanhar de resultados contraproducentes," ("O Conso!ador" – 5ª ed. FEB, perg. 193.) Daí a progressividade das revelações. A cada época, a cada grupo, a parcela da Verdade correspondente.

            Em “O Livro dos Médiuns” encontramos uma resposta do Espírito da Verdade que elucida perfeitamente a questão das pretensas contradições verificadas em comunicações de Espíritos que, pela sua linguagem elevada, podemos classificar como Superiores. Permitimo-nos cita-la, na íntegra, para melhor compreensão do que estamos expondo:

            “Com que fim Espíritos sérios, junto de certas, pessoas, parecem aceitar ideias e preconceitos que combatem junto de outras?

            “Cumpre nos façamos compreensíveis. Se alguém tem uma convicção bem firmada. sobre uma doutrina, ainda que falsa, necessários lhes tiremos essa convicção, mas pouco a pouco. Por isso ê que muitas vezes nos servimos de seus termos e aparentamos abundar nas suas ideias: é para que não fique de súbito ofuscado e não deixe de se instruir conosco.
             
            “Aliás, não é de bom aviso atacar bruscamente os preconceitos. Esse o melhor meio de não se ser ouvido. Por essa razão é que os Espíritos muitas vezes falam no sentido da opinião dos que os ouvem: é para os trazer pouco a pouco à Verdade. Apropriam sua linguagem às pessoas, como tu mesmo farás, se fores um orador mais ou menos hábil. Daí o não falarem a um chinês ou a um maometano, como falarão a um francês, ou a um cristão. É que têm a certeza de que serão repelidos.

            “Não se deve tomar como contradição o que muitas vezes não é senão parte da elaboração da Verdade. Todos os Espíritos têm a sua tarefa designada por Deus. Desempenham-na dentro das condições que julgam convenientes ao bem dos que lhes recebem as comunicações.” (Ob. cít., 27" ed. FEB. pág. 336, item 301-3ª)

            Dessa forma, se uma comunicação espiritual, em linguagem elevada, identificando-se plenamente com a moral cristã, levantar teses que a nossa razão repele, não devemos concluir desse fato que o Espírito comunicante é mistificador ou galhofeiro e sim que a mensagem está acima das nossas possibilidades atuais de percepção.

            Se, por outro lado, duas comunicações, provindas de Espíritos sérios, aparentarem pequenas ou grandes contradições, não concluamos, precipitadamente, que uma delas é mentirosa e sim que as aparentes distonias provém de uma espécie de didática espiritual que apropria os ensinamentos à maturidade do aprendiz.

            A grande dificuldade que sentimos em acolher comunicações a nosso ver discordantes está no condicionamento total em que vivemos. Pensamos, falamos e agimos de acordo com as convenções humanas esquecidos de que o pensamento, em sendo património da individualidade eterna, precisa ser livre das constrições da matéria a fim de atingir a essência dos ensinamentos espirituais.

            Estamos ainda muito presos às ideias de verdade e mentira conforme a definição do mundo. Para nós, Verdade ê tudo que correspende à realidade atestada pelos nossos sentidos ou, ainda, pela nossa razão nem sempre equilibrada, e mentira é o que é contrário a tudo aquilo que nos parece verdade. Nessa linha de raciocínio, se a um Espírito, que já teve oportunidade de demonstrar a sua superioridade moral e intelectual, for perguntado se um homem de grande projeção social poderia ter sido, em outra reencarnação, simplesmente um mendigo, e se esse Espirito responder que não, logo o chamaríamos de mentiroso. Contudo, e é Emmanuel quem nos diz, mentira "não é ato de guardar a verdade para o momento oportuno, porquanto essa atitude mental se justifica na própria lição do Senhor, que recomendava aos discípulos não atirarem a esmo a semente bendita dos seus ensinos de amor". "A mentira é a ação capciosa que visa o proveito imediato de si mesmo, em detrimento dos interesses alheios em sua feição legítima e sagrada" {grifos nossos). ("O Consolador" perg. 192, 5ª Ed. FEB)

            Portanto, mentira não é simplesmente fazer uma afirmação Incorreta em determinado momento e sim falsear a Verdade em proveito próprio o que é bastante diferente.

            Respondendo, o Espírito, que um homem de projeção não poderia ter sido um mendigo, em outra existência, seu objetivo não teria sido o de enganar, mas sim o de não assustar determinado ambiente com revelações prematuras.

            Por fim, de “0 Livro dos Médiuns” destacamos o que segue:

            “Longe, porém, não está o dia em que o ensino dos Espíritos será por toda parte uniforme, assim nas minúcias como nos pontos principais. A missão deles é destruir o erro, mas isso não se pode efetuar senão gradativamente.” (Ob. ctt., pág. 336, Item 301-4º, in fine, 21- edição FEB.)

            Que até lá possamos nós, espíritas, evitar as dissensões por causa do modo de interpretar as comunicações dos Espíritos, recordando-nos sempre de que alcançaremos o conhecimento ela Verdade paulatinamente, sem pressa, mas que esse conhecimento virá por acréscimo, como consequência do nosso aperfeiçoamento moral. "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.”


A coincidência



A Coincidência  
Newton G. de Barros
Reformador (FEB) Julho 1975

            Parapsicologia: ilusão ou ciência?

            Lemos em “The roots of coincience" ( "As razões da coincidência" --- tradução cuidadosa de Editora Nova Fronteira - 1972).

            A apresentação do livro nos diz que o autor de “Do zero ao infinito” levanta
um novo tema audacioso:

            “Os fenômenos inconcebíveis da percepção extra-sensorial (telepatia, premonição, clarividência) parecem menos absurdos à luz das inconcebíveis proposições da Física Moderna.

            É interessante relembrarmos que Arthur Koestler, nascido húngaro, de Budapest, em 1905, estudou psicologia em Viena - a mesma Viena de Freud e sua psicanálise.

            Cidadão inglês, divulga seus conhecimentos através de conferências das Universidades americanas.

            Prêmio Sonning, da Universidade de Copenhague, está à altura de afirmações
curiosas para os dois mundos: da Física dos quanta e da Parapsicologia.

            Se procurarmos o lugar da ciência de Robert Amadou e Joseph Banks Rhine,
deveremos com a metodologia conhecer seu “objeto”. E qual sua posição entre as ciências dos quatro grupos da racional e lógica classificação, baseada em Auguste Comte: das matemáticas, da físico-química, da biologia ou das ciências sócio-morais?

            Logicamente, deveremos encontrá-la entre as sócio-morais, pelo seu método de pesquisa.
           
- Mas, qual o seu objeto?

            O próprio Robert Amadou levantava a questão, na primeira década das hipóteses.

            Afirma Koestler (Página treze): A pesquisa parapsicológica tornou-se mais rigorosa; levantou estatísticas; entrou nos computadores. Enquanto isso, a Física teórica tomou-se cada vez mais “oculta”.

            E prossegue: “De tal sorte que poderíamos, de certo modo, inverter a acusação - a Parapsicologia seria acusada de pedantismo científico e a física dos quanta de se inclinar para os conceitos sobrenaturais”.

            Quando William Crookes iniciou suas pesquisas sobre os fenômenos considerados sobrenaturais já era um nome respeitado na Academia Real de Londres. Estudioso da matéria radiante, das fotografias da Lua, descobridor do tálio e muitas outras iniciativas criteriosas; características de um Espírito que vinha destruir o conceito de sobrenatural.

            Com a médium Florence Cook - todos nós o sabemos da leitura de suas atas ("Fatos Espíritas", 6ª edição, FEB, 1971), obteve fotografias de Katie Kíng, materializada, através de magníficas provas de ectoplasmia.

            Esses fenômenos estão, hoje, sob controle científico e poderão admitir, em parte, a metodologia da físico-química. Ou das ciências biológicas.

            Resta-nos admitir o retorno do Espírito de um chamado morto e submetê-lo às técnicas de laboratório de William Crookes.

            Quando Madame Elisabeth d'Espérance, em seu livro "Shadow Land" (publicado pela FEB, 3ª edição, 1974 sob o título “No País das Sombras”), pedia que a estudassem, transformou-se, voluntária e cientificamente, em cobaia da Parapsicologia, da bio-comunicaçâo russa e da sagrada mediunidade.

            Ela mesma eliminaria o sobrenatural, submetendo-se, em condições precárias de saúde, à curiosidade não-científica até de aventureiros do final do Século XIX e início da era atômica.

            No livro “Desobsessão" (2ª edição, FEB, 1969, Espírito André Luís, médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira), os métodos de pesquisa para os fenômenos mediúnicos são apresentados à luz da didática mais moderna.

            Se há uma inversão de posições entre Física e Parapsicologia, Arthur Koestler possui razões forte com suas vivências politécnicas e polivalentes.

            Dizemos com Renée Haynes: “É fascinante de sincronicidade, o fato de físicos e parapsicólogos terem de usar o termo psi para indicar o que lhes é ainda desconhecido.