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quarta-feira, 16 de julho de 2014

Vinte Anos

Vinte Anos
Irmão X
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Janeiro 1955

            Realmente, meu amigo, em Dezembro de 1934 abandonei o corpo apressadamente, à maneira do inquilino despejado de casa, por força de sentença inapelável, que, em meu caso, era o decreto da morte.

            E você pergunta. por minhas impressões da vida espiritual durante “todo esse tempo" que, à frente da Eternidade, não tem qualquer significação.

            Sinceramente, não tenho muito a dizer.

            O homem que desencarna sem as asas do gênio sublimado na fé e na virtude assemelha-se, de algum modo, ao navegador do século XVI que, descobrindo novas terras, plantava o domicílio no litoral, incapaz de romper os laços com a retaguarda, e seguir, gradativamente, na direção do imenso desconhecido.

            Novidades por novidades tenho visto inúmeras.

            Assim como um selvagem dos trópicos pode ser transportado até às vizinhanças do polo, a fim de extasiar-se com o glorioso espetáculo da aurora boreal, sem compreender lhe o jogo de luz, assim também tenho contemplado paisagens maravilhosas de outros mundos, sem, contudo, entender-lhes a magnificência.

            Terminado o estímulo da excursão educativa, eis-me de volta ao solo áspero de minhas experiências, no qual devo cultivar os valores do porvir.

            Você será naturalmente induzido a indagar quanto ao pretérito. Atravessando a criatura múltiplas existências, de outras vezes terei igualmente regressado ao campo espiritual e, por isso, não posso estar pisando um terreno desconhecido...

            Ainda assim, não suponha que algumas peregrinações na carne possam valer grande coisa, quando nosso esforço na própria elevação não seja indiscutivelmente muito grande.

            Viajamos no oceano das forças físicas, tornando a velhos continentes da recapitulação por alguns lustros apenas e regressamos ao litoral, a fim de prosseguir na construção das bases de progresso e segurança que nos habilitarão, um dia, aos altos cimos.

            Por enquanto, é preciso vencer obstáculos e sombras, dificuldades e inibições no pais de mim mesmo, para caminhar da animalidade, que ainda me caracteriza, à humanidade real de que ainda me vejo distante. E, nesse trabalho, não há muito gosto de alinhar notificações e surpresas, porque, tanto aí quanto aqui, não é fácil modificar a química do pensamento, com vistas à própria renovação.

            Desnecessário é comentar nossas organizações e deveres.

            Toda uma literatura copiosa e brilhante, nos mais diversos centros do mundo, revelam hoje os processos evolutivos da Terra Melhorada, onde presentemente me encontro, sem o pesado escafandro das células enfermiças, e, por essa razão, você deve saber que vivem errantes aqui somente os que aí pervagavam, entre a ociosidade e a indisciplina; que apenas se precipitam nas trevas infernais os que, no mundo, já haviam organizado um inferno em suas cabeças, e que os seres angélicos passam por nós, só de relance, com destino às Alturas a que fizeram jus. .

            Quanto a nós, pecadores penitentes e almas de boa vontade, estamos marchando, posso a passo; na elevação de nós mesmos, entre o céu que sonhamos e o inferno que nos cabe evitar.

            O comboio da morte diariamente derrama viajores de todos os quilates, em nossa estação. Não raro, observo antigos companheiros do mundo, apeando aqui sob as farpas do sofrimento, mastigando resíduos de extremas desilusões. São amigos que choram o ouro que não puderam trazer, que suspiram o poder ou a evidência social de que o sepulcro os despojara, que deploram o tempo perdido em atividades inúteis ou que enlouquecem, tentando debalde reaver o corpo bem cuidado que o túmulo apodreceu...

            Não julgue que a recuperação seja obra de segundos.

            Resignação, coragem, compreensão, paciência e valor moral não constituem artigos adquiríveis no estoque alheio. Representam qualidades que todos somos constrangidos a edificar no mundo que nos é próprio, ao preço de nossa renunciação e de nossas lágrimas.

            A única nota diferente que possuo em meu círculo individual é a que se refere à minha adesão intelectual ao Evangelho, sob a luz do Espiritismo. Digo “intelectual", porque ainda estou trabalhando o coração, como o lapidário burila a pedra, a fim de ofertá-lo efetivamente ao Senhor.

            E não diga que a minha conversão surge tarde demais, porque assim como o esforço de vocês no bem é valioso investimento de recursos para a existência daqui, a nossa tarefa nessa direção capitaliza em nosso favor preciosas oportunidades para o estágio que aí faremos de futuro, de vez que, em tempo oportuno, estarei de novo entre os homens, tanto quanto você estará igualmente entre os Espíritos desencarnados.

            Como reparamos, vinte anos de vida espiritual são poucos dias para a restauração e para o reajuste, porque a dor e a experimentação, a prova e a luta ainda permanecem conosco, à feição de instrutores, que não podemos menosprezar.

            Não se aflija nem se desconsole, porém, diante de minha confidência fraternal.

            Trabalhe e estude, ame e instrua-se, fazendo o melhor que puder no mundo, e, se você retém qualquer dúvida em torno de minhas afirmativas, em breve você mesmo estará aqui, depois de passar as fronteiras do túmulo, a fim de melhor sentir a vida com o coração e apreciar a realidade com os próprios olhos.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Auxílio a nós mesmos


Auxílio a nós mesmos
Casimiro Cunha
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Fevereiro 1962

Pedes conforto aos achaques
Do sentimento enfermiço;
Contudo, o nosso remédio
É o coração no serviço.

Mostras largo desalento
Parado no olhar mortiço...
Isso, porém, muitas vezes,
É negação de serviço.

Carregas irritações
E espinhos de grande ouriço;
No entanto, a tranquilidade
Mora, calma, no serviço.

Afirmas que a fé morreu,
Que todo amor é postiço;
Entretanto, a fé e o amor
Vibram, puros, no serviço.

Declaras-te ignorante,
De espírito agastadiço,
Mas o estudo aberto a todos
É perfeição no serviço.

Dizes que nada consegues,
Que teu chão é movediço...
Experimenta avançar,
De braço dado ao serviço.

Conservas desilusões,
Nascidas daquilo ou disso;
No entanto, a tristeza inútil
É deserção do serviço.

Lamentas-te em solidão,
Amigos deram sumiço.
Mas ninguém caminha a sós,
Na devoção do serviço.

Recorda as lições do mundo...
Quando a flor é luz e viço,
É que a planta não se esquece
De sustentar-se em serviço.

Se o carro estaca de pronto,
Motor inerte no enguiço,
O conserto surge logo
Se alguém procura o serviço.

Oficina em desgoverno,
Residência em reboliço,
Ajustam-se de repente,
Se há direção de serviço.

O Espiritismo que abraças,
Por divino compromisso,
É Jesus pedindo à Terra
Mais serviço e mais serviço.


segunda-feira, 7 de julho de 2014

Campanha Diferente


Campanha Diferente
Irmão X
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Novembro 1962

            Esperava por você justamente aqui, para tratarmos de assunto sério - falou-me Capistrano, velho amigo agora no Plano Espiritual, que conheci maduro e próspero, em pequena loja de Botafogo, ao tempo em que ainda me acomodava à carcaça enferma.

            Em torno de nós, na esquina da rua Real Grandeza, grupos fraternos de amigos desencarnados chasqueavam (zombavam) , alegres, dos carros que despejavam criaturas e flores para as comemorações dos finados, junto ao aristocrático cemitério de São João Batista.

            Corbelhas e buquês, recordando joias da primavera, derramavam-se de mãos ricas e pobres, engelhadas e juvenis, em homenagem aos afetos queridos, que quase todos os visitantes supunham para sempre estatelados ali no chão.

            - Soube, meu caro - prosseguiu Capistrano singularmente abatido -, que você ainda escreve para os vivos do mundo...

            E, apontando para respeitável matrona, acompanhada de dois carregadores que portavam ricos vasos, continuou:

            - Grafe uma crônica, recomendando a extinção de semelhantes excessos. Mostre a inconveniência do orgulho e da vaidade na casa dos mortos imaginários da Terra, que hoje reconhecemos deve ser um recinto de silêncio e oração. Em toda a parte, o progresso marca no mundo admiráveis alterações. Guerras modificam a geografia, apóstolos renovam leis, a Civilização aprimora-se, engenhos varrem o espaço, indicando a astronáutica do futuro; no entanto, com raras exceções de alguns países que estão convertendo necrópoles em jardins, os nossos cemitérios repousam estanques, lembrando parques improdutivos, onde se alinham primorosas obras de arte. Órgãos de fiscalização e sistemas de vigilância controlam mercados e alfândegas, na salvaguarda dos interesses públicos, e ninguém coíbe os investimentos vãos em tanta riqueza morta.

            Capistrano fitou-nos, como a verificar o efeito das palavras que pronunciara, veemente, e seguiu adiante:

            - Imagine você que também errei nisso por faltar-me orientação. Tive uma filha única que foi todo o encanto de minha viuvez dolorida. Marília, aos dezoito janeiros, era a luz de minh'alma. Criei-a com todo o enternecimento do jardineiro que observa, enlevado, o crescimento de uma flor predileta. Entretanto, mimada por meus caprichos paternos, minha inexperiente menina negou-me todas as previsões. Enamorou-se, na praia, de um rapaz doidivanas, que se entregava aos exercícios da bola, e, certa feita, menosprezada por ele, tomou violenta dose de corrosivo, relegando-me à solidão. Ao vê-la, nas raias da agonia, sem que meu amor pudesse arrebatá-la ao domínio da morte, rendi-me, dementado, a total desespero. Nunca averiguei as razões que lhe ditaram atitude assim tão drástica e jamais procurei o moço anônimo que, decerto, ao abandoná-la, não teria a intenção de fazê-la infeliz. Passei, no entanto, a cultuar-lhe loucamente a memória. Despendi mais da metade de minhas singelas economias para erigir lhe um túmulo de alto preço... E, por vinte anos consecutivos, adorei o monumento inútil, lavando frisos, fazendo lumes, mudando enfeites, plantando flores. Envelheci chorando sobre a lápide, e, quando os meus olhos cansados mal divisavam o custoso jazigo, eu tateava o relevo das chorosas legendas... Um dia, chegou minha vez. O coração parou, deslocando-me do corpo hirto. No entanto, embora desencarnado, apeguei-me ao sepulcro que venerara, estirando-me nele. Se amigos logravam afastar-me para esse ou aquele mister, acabava tornando ao formoso monstro de mármore para lamentar-me e clamar pela filha que não conseguira ver. Quatro anos rolaram sobre minha aflitiva situação, quando, em determinada manhã, experimentei contentamento indizível, sentindo-me à feição da terra gelada que se reaviva ao calor do Sol. Inexplicavelmente contemplava Marília na tela da saudade, qual se lhe fosse receber, de novo, o beijo de amor e luz, quando antigo orientador me buscou, presto, e, conduzindo-me, bondoso, à rua General Polidoro, apontou-me um homem suarento e cansado, a carregar ternamente, nos braços, triste menina muda, paralítica e pobre... Ao fixar-lhe os olhos embaciados de criança-problema, a realidade espiritual clareou-me a razão. Surpreendera Marília reencarnada, em rudes padecimentos expiatórios, e, mais tarde, vim a saber que renascera por filha do mesmo homem que lhe fora motivo ao gesto tremendo de deserção... Desde essa hora, fugi das ilusões que me prendiam a pesadelo tão longo!..

            Acordei renovado, para novamente respirar e viver, trabalhar e servir...

            Capistrano enxugou o pranto que lhe corria copioso e ajuntou com amargura:
- Escreva, meu amigo, escreva às criaturas humanas e informe, claramente, que os vivos da Espiritualidade agradecem o respeito e o carinho com que lhes dignificam os restos, mas rogue para que se abstenham destes quadros fantásticos de vaidade ostentosa com que se pretende honrar o nome dos que partiram... Peça para que socorram as crianças desajustadas e enfermas, enjeitadas e infelizes, com o dinheiro mumificado nestes cofres de cinzas... Diga-lhes para que se compadeçam dos meninos desamparados e que, provavelmente, muitos daqueles entes inolvidáveis, que procuram nos carneiros de luxo, estão hoje em provações cruéis, nos institutos de correção ou no leito dos hospitais, na ociosidade das ruas ou em pardieiros esburacados que o progresso esqueceu... Fale da reencarnação e explique-lhes que muitos dos imaginados mortos que ainda amam, jazem sepultas em corpos vivos, quase sempre desnutridos e atormentados, suplicando alimento e remédio, refúgio e consolação...

            A palavra do amigo silenciou, embargada de lágrimas, e aqui me encontro, atendendo à promessa de redizer-lhe a história numa página simples. Entretanto, não guardo a pretensão de ser prontamente compreendido, de vez que se eu estivesse na Avenida Rio Branco ou na Praça Mauá, envergando impecável costume de linho inglês, entre homens ainda encarnados, eu diria também que este caso é um conto de mortos para os mortos, e que os mortos devem continuar mortos...


Doutrina e Mediunidade

Doutrina
e Mediunidade
por Indalício Mendes

Reformador Novembro 1962

            Temos insistido no tema da necessidade, não apenas do estudo, mas também da constante exemplificação da Doutrina Espírita, não porque nos atribuamos qualquer parcela de autoridade para dar lições aos nossos confrades, mas porque sentimos em nós mesmos que é isso o de que precisamos, mais do que tudo.

            O Espiritismo se assenta, em sua maior parte, em seu corpo doutrinário, porque, graças a este, a criatura humana pode analisar sua própria situação em face da vida e melhorá-la, se tal for o caso, com a observância das princípios codificados por AIlan Kardec. A Doutrina dos Espíritos enseja a cada um de nós a oportunidade do aprimoramento moral, que conduzirá, sem sombra de dúvida, à elevação espiritual. Todavia, é mister não descurar a exemplificação do que aprendemos, ainda que algumas vezes sejamos tão avessos ao progresso que, inconsciente ou conscientemente, reincidamos em faltas que não desejaríamos repetir. Se assim é, porque reincidimos? A resposta é fácil: porque ainda não estamos progredindo suficientemente no estudo e na exemplificação da que aprendemos.

            Só a vitória sobre nós mesmos nos dará a indicação do nosso legítimo estado moral. Se conseguirmos dominar cada um dos erros ou vícios a que estamos presos, iremos avançando na senda da perfeição espiritual. Se tal não acontece, temas de lançar a deficiência no nosso débito moral. Neste caso, de nada valerão os conhecimentos que tivermos do Espiritismo, se tais conhecimentos não têm força para nos fazer abandonar definitivamente os caminhos tortuosos e nos colocar na estrada reta da redenção.

           
O médium, somente pela circunstância de o ser, não está isento da obrigação moral de estudar e seguir a Doutrina. Ser médium qualquer um pode ser, porque a mediunidade não é privilégio dos espíritas. Médium espírita, entretanto, só o será aquele que além do dom que possui, exercê-lo segunda as normas da Doutrina, esforçando até ao sacrifício para exemplificar as lições doutrinárias.

            Por isso é que louvamos o ponto de vista de Pedro Richard, a respeito da imprescindibilidade da educação evangélica. Um médium pode fazer maravilhas com a sua mediunidade, mas estará mais perto do precipício do que outro que se arrima no Evangelho e na Doutrina Espírita. A mediunidade é uma faculdade que pode nascer com o indivíduo, como a veia poética, o pendor para a literatura, a habilidade manual, assim por diante. Mas a educação evangélica e a preparação doutrinária constituem para o médium o que a cultura representa para o poeta e o escritor talentosos, cultura essa que, por sua vez, não terá solidez se lhe faltar a ética, isto é, a moral. Pois bem, o Evangelho segundo o Espiritismo e a Doutrina Espírita constituem o fundamento ético par excelência do verdadeiro espírita, inclusive dos dotados de capacidade mediúnica.

            Esse é o fundamento educativo do espírita, porque, em última análise, Espiritismo (na conformidade do raciocínio que estamos desenvolvendo) é Educação. Disse Kardec que "é pela educação, mais da que pela instrução, que se transformará a Humanidade. O homem que se esforça seriamente por se melhorar assegura para si a felicidade, já nesta vida. Além da satisfação que proporciona à sua consciência, ele se isenta das misérias materiais e morais, que são a consequência inevitável das suas imperfeições. Terá calma, porque as vicissitudes só de leve o roçarão. Gozará de saúde, porque não estragará o seu corpo com os excessos. Será rico, porque rico é sempre todo aquele que sabe contentar-se com o necessário. Terá a paz de espírito, parque não experimentará necessidades fictícias, nem será atormentado pela sede das honrarias e do supérfluo, pela febre da ambição, da inveja e do ciúme" ("Obras Póstumas", 10ª ed., pág. 348).

            O médium que procura desenvolver-se criteriosamente, entregando-se ao estudo da Doutrina e lavando a alma nos ensinamentos de "O Evangelho segundo o Espiritismo", terá de ser, em qualquer circunstância, uma criatura feliz, porquanto, é ainda Kardec quem o afirma, "o progresso consiste, sobretudo, no melhoramento moral, na depuração do Espírito, na extirpação dos maus germens que em nós existe. Esse o verdadeiro progresso, o único que pode garantir a felicidade ao gênero humano, por ser o oposto mesmo do mal" (ob. cit.).


quarta-feira, 2 de julho de 2014

O pensamento de Hermínio de Miranda


          Se estudasse o Espiritismo Kardequiano, o Rev. ... verificaria, surpreso, que não somente há lugar para o Cristo no Espiritismo, mas que também nós, os que seguimos aquela orientação doutrinária, não podemos compreender Espiritismo integral fora dos postulados pregados pelo Cristo. Para nós, Espiritismo sem o Cristo pode ser psiquismo, mediunismo, parapsicologia, metapsíquica ou o que queiram, mas não Espiritismo com E maiúsculo. Respeitamos a manifestação mediúnica, os fenômenos de materialização, transporte, levitação e toda a série de fatos psíquicos, mas não nos esquecemos jamais de que o fenômeno é o simples instrumento de uma verdade superior; a aparência externa, visível, sensorial, de uma realidade profunda, eterna e dinâmica, porém transcendental, invisível. Essa verdade traz consigo sérias implicações morais, religiosas e filosóficas. Kardec foi o primeiro a dar com esse roteiro magnífico e a grande missão daqueles que hoje trabalham pelo desenvolvimento do Espiritismo no Brasil é exatamente essa - a de manter, bem no íntimo do coração de cada um, os ensinos de Kardec e os do Cristo, pois que ambos se completam e se explicam e contribuem para o enobrecimento da condição espiritual da criatura humana.

Hermínio de Miranda
Trecho de artigo sob título  ‘Lendo e Comentando’

publicado em Reformador (FEB) Maio 1962

O pensamento de Hermínio Miranda


            “ uma vez que a vida é eterna, qual seria seu objetivo? "Seguramente - responde...    - o desenvolvimento de nossas próprias potencialidades, o aperfeiçoamento responsável e mutuamente satisfatório de nossos semelhantes, reconhecendo todas as raças, classes ou espécies como partes integrantes de um todo e tratando todos com o mesmo especial cuidado com que o PAI toma conta de cada andorinha que cai." “

Hermínio de Miranda
Trecho de artigo sob título  ‘Lendo e Comentando’

publicado em Reformador (FEB) Maio 1962

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Auxílio a nós mesmos



Auxílio a nós mesmos
Casimiro Cunha
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Fevereiro 1962

            Pedes conforto aos achaques
            Do sentimento enfermiço;
            Contudo, o nosso remédio
            É o coração no serviço.

                        Mostras largo desalento
                        Parado no olhar mortiço...
                        Isso, porém, muitas vezes,
                        É negação de serviço.

            Carregas irritações
            E espinhos de grande ouriço;
            No entanto, a tranquilidade
            Mora, calma, no serviço.

                        Afirmas que a fé morreu,
                        Que todo amor é postiço;
                        Entretanto, a fé e o amor
                        Vibram, puros, no serviço.

            Declaras-te ignorante,
            De espírito agastadiço,
            Mas o estudo aberto a todos
            É perfeição no serviço.

                        Dizes que nada consegues,
                        Que teu chão é movediço...
                        Experimenta avançar,
                        De braço dado ao serviço.

            Conservas desilusões,
            Nascidas daquilo ou disso;
            No entanto, a tristeza inútil
            É deserção do serviço.

                        Lamentas-te em solidão,
                        Amigos deram sumiço.
                        Mas ninguém caminha a sós,
                        Na devoção do serviço.

            Recorda as lições do mundo...
            Quando a flor é luz e viço,
            É que a planta não se esquece
            De sustentar-se em serviço.

                        Se o carro estaca de pronto,
                        Motor inerte no enguiço,
                        O conserto surge logo
                        Se alguém procura o serviço.

            Oficina em desgoverno,
            Residência em reboliço,
            Ajustam-se de repente,
            Se há direção de serviço.

                        O Espiritismo que abraças,
                        Por divino compromisso,
                        É Jesus pedindo à Terra
                        Mais serviço e mais serviço.




sábado, 28 de junho de 2014

'Almas em Desfile'


Almas em Desfile
Vinélius di Marco / Indalício Mendes
Reformador (FEB) Maio 1962

            Entre os livros mais belos e edificantes da literatura espírita, surgidos nestes últimos tempos, apontamos “Almas em Desfile”, do Espírito Hilário Silva, trazido à divulgação através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.

            Emmanuel, com aquele poder de síntese que possui, definiu a obra magistralmente:

            “...Hilário Silva, neste livro, é um retratista de corações, conclamando-nos a sentir e refletir”, “...o que ressalta de cada página é o imperativo da compreensão fraterna para que não venhamos a tombar em nossas próprias deficiências. Hilário, pois, trazendo a lume os episódios que arranca ao livro da vida, não tem outro intuito senão o de afirmar que todos nós - os viajores da experiência - precisamos do alimento amor, no prato da compaixão.”

            Se é muito difícil, na estupenda literatura mediúnica, destacar este ou aquele livro, porque todos contêm em suas páginas maravilhosos exemplos que nos indicam o acerto do rumo doutrinário, é também profundamente confortante reconhecer a excelência dos ensinamentos contidos nessas obras feitas com elementos da vida terrena, observada e colhida “ao vivo”, sem retoques nem fantasias, objetivando, sempre e sempre, mostrar à criatura humana os meios a seu alcance para compreender melhor a vida e, consequentemente, vivê-la cada vez melhor, se possível, do que a tem vivido até agora.

            Logo no início do livro “Almas em Desfile” há um episódio de notável expressão evangélica, sob o título “A fama de rico”. Quanta gente há que goza dessa fama, às vezes até sem razão sólida, mas por causa das aparências. Quanta gente, porém, há que, sendo rica de haveres, é paupérrima de qualidades morais, desinteressando-se pela vida daqueles que sofrem, que enfrentam a miséria ou se perdem nos labirintos escuros do vício.

            Outra maravilha é o conto “A evocação do Comendador”. O que aconteceu a Jorge Sales tem acontecido a muitos, pode acontecer a qualquer um de nós, que, vivendo no meio espírita, pensamos ser bons espíritas e nos equivocamos diante de problemas que não podemos equacionar devidamente, por sermos parte da operação.

            Se você, leitor, ainda não leu “Almas em Desfile”, faça-o na primeira oportunidade, a fim de não perder os exemplos instrutivos que o inspirado Espírito Hilário Silva oferece em suas páginas.

            Querem saber de outro conto magnífico? “Falta de caridade” é o seu título. Que profundeza na tessitura desse trabalho! A lição é de grande alcance e deve servir a muita gente que se supõe caridoso... às vezes.

            Neste momento, sob a influência comovedora de “Pica-pau”, outro ponto que enriquece as páginas de “Almas em Desfile”, sentimos os olhos umedecidos. Tanta vida, tanta realidade há nesse conto humaníssimo, que, só ele, justificaria o livro. Entretanto, são cinquenta e dois contos soberbos. Os primeiros vinte e seis, recebidos por Waldo Vieira; os outros, por Chico Xavier.

            Vamos concluir este artiguete, que poderia estender-se muito, com algumas palavras de Hilário Silva: “...em toda parte e em todos os dias há desfile de almas. Almas que se arrastam. Almas que lutam. Almas que riem. Almas que choram. Partilhando igualmente a marcha, caminha corretamente. Não recues, nem te apresses. Observa os companheiros, sem espanto e sem crítica, a fim de que a lição de cada um te sirva de aprendizado.”

            E compreendamos também que nós, os ainda encarnados, também somos “almas em desfile”. “Sim, em toda parte e em todos os dias há desfile de almas.”  

            Bem diz Emmanuel: “Há Espíritos que caem, ao lado de Espíritos que se levantam. É a trilha humana com os seus sonhos e esperanças, flores e espinhos, alegrias e sofrimentos. Mas por farol bendito fulgura a Doutrina Espírita, amparando e educando os caminheiros, em nome de Jesus.”

            Amparemo-nos na Doutrina Espírita, iluminando-nos em “O Evangelho segundo o Espiritismo”. Mas sejamos práticos, exemplificando aquilo que lemos e ouvimos de bom e altruístico. A vida humana, sem frutos, de nada vale. “Almas em Desfile” prova-nos isto e nos convida a viver o Espiritismo, de corpo e alma.


quinta-feira, 26 de junho de 2014

'Coma, beba e seja feliz quanto possa, porque amanhã você morrerá.'


"Coma, beba
e seja tão feliz quanto possa,
porque amanhã você morrerá."
           
Hermínio Miranda

No artigo sob título ‘Lendo e Comentando’
o autor transcreve parte de outro artigo de autoria do Rev. Woods,
publicado na revista ‘Methodist Recorder’
e transcrito para a ‘Two Worlds’ de Setembro de 1961.
(Reformador (FEB) Fevereiro 1962)

"O homem moderno é prisioneiro de um materialismo mais completo e aparentemente mais convincente que nunca. Até a Ciência parece confirmar essa concepção da vida. A ciência ortodoxa de hoje, sendo materialista em sua conceituação, não tem lugar para a sobrevivência. Ela conduz muitos a uma filosofia materialista da vida, que tem sido expressa simplesmente na seguinte exortação: "Coma, beba e seja tão feliz quanto possa, porque amanhã você morrerá."

            Os valores do homem comum, seus interesses, objetivos e ideais são ditados pelo seu materialismo. Parece não existir nenhuma saída dessa prisão em que ele se encontra. A Igreja parece impotente para libertá-lo, não porque ela "falhou", mas porque as ideias que ela defende e prega não têm sentido para o prisioneiro. Realidade espiritual e verdade nada significam para aquele cuja filosofia da vida é materialista.

            A separação entre a Igreja e as massas é fixada pelas estranhas e contrastantes filosofias abraçadas pelo materialista e pelo cristão. A Igreja, de um lado, está assustada diante da firmeza com que o materialismo agarrou o mundo, e as massas, do outro lado, colocam a Igreja à parte, como irrelevante e completamente divorciada da vida.

            Não há como possa o homem atravessar o espaço entre o materialismo e a espiritualidade. A única "autoridade" que ele parece inclinado a aceitar hoje em dia é a da Ciência e esta é justamente a que o tranca em sua prisão. Alguma coisa é necessário fazer para mostrar-lhe a falsidade da hipótese materialista. É preciso apresentar-lhe um nível de realidade objetiva que esteja acima e além da matéria e que esteja suficientemente perto da matéria que o habilite a alcançar a natureza dessa realidade superior. A realidade espiritual está muito além. Acredito que o psiquismo poderá muito bem ser a ponte sobre a qual ele encontrará novamente a sua libertação das grades que ora o retêm cativo.


quarta-feira, 25 de junho de 2014

O pensamento de Hermínio Miranda



                 "...Entendo que sobrevivência e comunicação são aspectos parciais da verdade espírita, são fatos observados e observáveis. Mas, o que nos deve interessar, acima de tudo, é o seguinte: Que existe atrás, acima e além desses fatos? Qual a doutrina moral, religiosa e filosófica que esses aspectos revelam? Sem essas conclusões, para que servem os fatos? Sem a doutrina, para que o fenômeno? Não nos cansaremos de repetir que o fenômeno é importante e necessário, mas que é estéril sem uma conceituação filosófica racional que o explique e evidencie as implicações morais e religiosas decorrentes. Caso contrário, ficaríamos durante milênios a observar fenômenos psíquicos, sem dar jamais um passo na direção de Deus. Afinal de contas, o objetivo da vida é caminhar para Deus."

Hermínio Miranda
in Reformador (FEB) Maio 1962
artigo 'Lendo e Comentando' (trecho)

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Construir e Destruir


Construir e Destruir

André Luiz
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Fevereiro 1962


            Para construir a floresta, a Natureza gasta séculos de serviço.
            Para destruí-la, basta uma chispa de fogo.

*

            Para construir a casa, grande turma de obreiros despende longos dias.
            Para destruí-la, basta um só homem, de picareta, no espaço de algumas horas.

*

            Para construir o jarro de legítima porcelana, o ceramista utiliza tempo enorme de vigília e preparação.
            Para destruí-lo, basta um martelo.

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            Para construir o avião, primorosa equipe de técnicos associa prodígios de inteligência, na ação de conjunto.
            Para destruí-lo, basta um erro de cálculo.

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            Para construir o depósito de combustíveis, o homem é constrangido a providências numerosas, alusivas à edificação e à preservação.
            Para destruí-lo, basta um fósforo aceso.

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            Para construir a cidade, o povo emprega anos e anos de sacrifício.
            Para destruí-la, basta hoje uma bomba.

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            Irmãos, sempre que chamados à crítica, respeitemos o esforço nobre dos semelhantes.
            Para construir, são necessários amor e trabalho, estudo e competência, compreensão e serenidade, disciplina e devotamento.
            Para destruir, porém, basta, às vezes, uma só palavra.