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segunda-feira, 7 de julho de 2014

Doutrina e Mediunidade

Doutrina
e Mediunidade
por Indalício Mendes

Reformador Novembro 1962

            Temos insistido no tema da necessidade, não apenas do estudo, mas também da constante exemplificação da Doutrina Espírita, não porque nos atribuamos qualquer parcela de autoridade para dar lições aos nossos confrades, mas porque sentimos em nós mesmos que é isso o de que precisamos, mais do que tudo.

            O Espiritismo se assenta, em sua maior parte, em seu corpo doutrinário, porque, graças a este, a criatura humana pode analisar sua própria situação em face da vida e melhorá-la, se tal for o caso, com a observância das princípios codificados por AIlan Kardec. A Doutrina dos Espíritos enseja a cada um de nós a oportunidade do aprimoramento moral, que conduzirá, sem sombra de dúvida, à elevação espiritual. Todavia, é mister não descurar a exemplificação do que aprendemos, ainda que algumas vezes sejamos tão avessos ao progresso que, inconsciente ou conscientemente, reincidamos em faltas que não desejaríamos repetir. Se assim é, porque reincidimos? A resposta é fácil: porque ainda não estamos progredindo suficientemente no estudo e na exemplificação da que aprendemos.

            Só a vitória sobre nós mesmos nos dará a indicação do nosso legítimo estado moral. Se conseguirmos dominar cada um dos erros ou vícios a que estamos presos, iremos avançando na senda da perfeição espiritual. Se tal não acontece, temas de lançar a deficiência no nosso débito moral. Neste caso, de nada valerão os conhecimentos que tivermos do Espiritismo, se tais conhecimentos não têm força para nos fazer abandonar definitivamente os caminhos tortuosos e nos colocar na estrada reta da redenção.

           
O médium, somente pela circunstância de o ser, não está isento da obrigação moral de estudar e seguir a Doutrina. Ser médium qualquer um pode ser, porque a mediunidade não é privilégio dos espíritas. Médium espírita, entretanto, só o será aquele que além do dom que possui, exercê-lo segunda as normas da Doutrina, esforçando até ao sacrifício para exemplificar as lições doutrinárias.

            Por isso é que louvamos o ponto de vista de Pedro Richard, a respeito da imprescindibilidade da educação evangélica. Um médium pode fazer maravilhas com a sua mediunidade, mas estará mais perto do precipício do que outro que se arrima no Evangelho e na Doutrina Espírita. A mediunidade é uma faculdade que pode nascer com o indivíduo, como a veia poética, o pendor para a literatura, a habilidade manual, assim por diante. Mas a educação evangélica e a preparação doutrinária constituem para o médium o que a cultura representa para o poeta e o escritor talentosos, cultura essa que, por sua vez, não terá solidez se lhe faltar a ética, isto é, a moral. Pois bem, o Evangelho segundo o Espiritismo e a Doutrina Espírita constituem o fundamento ético par excelência do verdadeiro espírita, inclusive dos dotados de capacidade mediúnica.

            Esse é o fundamento educativo do espírita, porque, em última análise, Espiritismo (na conformidade do raciocínio que estamos desenvolvendo) é Educação. Disse Kardec que "é pela educação, mais da que pela instrução, que se transformará a Humanidade. O homem que se esforça seriamente por se melhorar assegura para si a felicidade, já nesta vida. Além da satisfação que proporciona à sua consciência, ele se isenta das misérias materiais e morais, que são a consequência inevitável das suas imperfeições. Terá calma, porque as vicissitudes só de leve o roçarão. Gozará de saúde, porque não estragará o seu corpo com os excessos. Será rico, porque rico é sempre todo aquele que sabe contentar-se com o necessário. Terá a paz de espírito, parque não experimentará necessidades fictícias, nem será atormentado pela sede das honrarias e do supérfluo, pela febre da ambição, da inveja e do ciúme" ("Obras Póstumas", 10ª ed., pág. 348).

            O médium que procura desenvolver-se criteriosamente, entregando-se ao estudo da Doutrina e lavando a alma nos ensinamentos de "O Evangelho segundo o Espiritismo", terá de ser, em qualquer circunstância, uma criatura feliz, porquanto, é ainda Kardec quem o afirma, "o progresso consiste, sobretudo, no melhoramento moral, na depuração do Espírito, na extirpação dos maus germens que em nós existe. Esse o verdadeiro progresso, o único que pode garantir a felicidade ao gênero humano, por ser o oposto mesmo do mal" (ob. cit.).


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