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sábado, 26 de julho de 2014

A Queda dos Grandes Impérios

A Queda dos
Grandes Impérios
Cristiano Agarido / (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Maio 1962

            Em todo o curso da História observamos a queda de poderosos Impérios que pareciam destinados à eternidade e, no entanto, corromperam-se e caíram.

            Vamos examinar aqui a constituição de tais organizações a fim de descobrirmos a causa de sua ruína.

            Ali está um vastíssimo Império. Já conquistou e submeteu à coroa todas as nações menores de sua vizinhança. Ocupa hoje um território que se estende por dois continentes. Dispõe de uma classe de fidalgos estreitamente ligados ao Imperador. Só dessa classe recruta ele oficiais para suas forças armadas, porque os fidalgos são fiéis à coroa pela sua própria conveniência vital.

            O Imperador concede os privilégios e títulos de fidalgo aos mais inteligentes, fiéis e abastados de seus súditos, incorporando-os assim à classe dos governantes. A esta classe pertencem todos os bens do Império, inclusive as escolas.

            O povo é abandonado à sua própria sorte, à ignorância, à enfermidade, à pobreza e não possui nenhum meio de defender-se contra os fidalgos, porque depende deles como escravo.

            Essa organização é fortíssima e vence séculos, mas o excesso de riqueza e de gozos materiais enfraquece moralmente os fidalgos que formam as classes armadas e a dos proprietários. Simultaneamente as dificuldades e privações dão rigidez moral à plebe.

            Vem uma longa guerra e o Império é invadido pelos exércitos inimigos, apesar de possuir poderosos aliados. Suas classes armadas revelam sua fraqueza e sua profunda divergência com o povo que lhes fornece os soldados. O povo sofredor se levanta e toma o poder, liquidando com seus inimigos de classe e com a própria família imperial.

            Correm rios de sangue. Os fidalgos verificam que suas forças armadas realmente não existem, porque não têm soldados, só têm oficiais e estes são corruptos, incapazes de manter a disciplina num exército de amotinados. Os soldados são os filhos do povo revoltado e não disparam suas armas contra seus próprios pais e irmãos, preferem atacar seus oficiais, sempre muito odiados e pertencentes à classe dos opressores. Todo o Império está reduzido a pó. As classes dominantes são mortas ou fogem para o exterior, onde vão recomeçar humildemente sua vida, como simples trabalhadores.

            Porque tudo isso ocorreu?

            Somente porque foi violada a Lei Divina de amor universal. O Império era baseado no bem-estar apenas de uma parte dos cidadãos, com abandono da grande maioria do povo.

            Hoje o mundo compreende que nenhuma ordem social é estável, se não cogitar do bem de todos, sem exceção, sem nenhuma espécie de privilégio de castas.

            Compreendido que as leis morais não podem ser violadas sem pavorosas consequências, tudo está mudando no mundo.

            Ouvimos e lemos com imensa esperança as declarações oficiais de nosso governo, no sentido de haver uma única meta a alcançar na administração dos bens públicos - a Meta Homem, à qual já nos referimos num artiguete publicado em "Reformador" de Outubro de 1961, páginas 231/2. A proteção ilimitada ao homem que até agora viveu no abandono, ao homem desajustado, ao homem inepto por falta de educação, de saúde, de meios de trabalho, tem que ser a cogitação constante dos governos.

            Essa mudança de mentalidade é mundial e transformará o Planeta de "mundo de expiações e provas" em "mundo regenerador".

            Chegaremos ao ideal de Guerra Junqueiro, de podermos dormir tranquilamente deixando a nossa casa aberta, porque ninguém necessitará de nossos bens. Dentro de cada homem haverá um policial sempre alerta - sua própria consciência.

            Mencionamos acima como exemplo a queda de um único Império, mas o Leitor inteligente se lembrará de muitos outros que já caíram ou estão caindo.

            A Doutrina Espírita reclama amparo social para todos, e acusa a sociedade de responsável por grande parte dos crimes que são consequência do abandono do homem, sem educação, sem proteção, sem meios de vida honesta.

            Em vez de lançar a primeira pedra no criminoso, examinemos nossa própria consciência como membros da sociedade que o deixou abandonado.

            Se é verdade que muitos Estados estão caindo como vítimas de seus próprios carmas coletivos, temos o consolo de verificar também o contrário, povos que já se aproximaram do ideal humanitário e atravessaram ilesos as grandes calamidades de nosso século de guerras e revoluções cruentas. Parece-nos que a Suíça e a Suécia só tomaram parte ativa nas guerras deste século como Cruz Vermelha, para socorrer vítimas, abrigar desamparados dos países beligerantes, amadas e respeitadas por todos eles.

            Se não estivermos enganado, a Suíça e a Suécia, que há mais de um século não entram em guerra e tomam parte ativa em todos os movimentos humanitários do mundo, são povos modelares para as organizações políticas do futuro. Pouco terão que melhorar em suas próprias instituições para serem perfeitos e se enquadrarem nos ideais do Terceiro Milênio.

            No Brasil e nos outros países da América tem-se ainda muito que fazer para alcançar esse ideal, mas já estamos dando os primeiros passos nessa direção.




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