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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Testemunho da Hora



Testemunho
da Hora
           
            “Que cada um de vós saiba possuir seu vaso em santificação e honra.”  Paulo, 1ª Epístola aos Tessalonicenses, cáp. IV.4

            No tumulto das paixões que faccionam  a consciência do mundo, objetivando conquistá-lo em penhor de melhores padrões de vida coletiva, sentimo-nos tranquilos e à vontade para acompanhar os acontecimentos, sem neles nos envolvermos, de outro modo e com critério outro que não o imposto pela noção mais altanada da própria vida.

            De fato, atidos ao conceito não já conjectural mas experimental de uma sobrevivência progressiva ao indefinito e conjugada ao ritmo de um determinismo providencial e imanente; sabendo que nossa presença neste cenáculo é contingente e transitória; é óbvio que deslocado temos o centro de gravidade de todas as possíveis atividades e aspirações de ordem temporal, sejam quais forem os meios de ação e cooperação que o destino nos assine e faculte.

            Humanos, chamados ao testemunho da carne, não raro angustioso por consequente de tremendas faltas pregressas, sabemos, os espiritistas, que nada se alcança nem dispensa na lei senão por força da lei.

            Tentar a felicidade, própria ou alheia, individual ou coletiva, à revelia da lei ou, o que é pior - em detrimento da lei, que é Amor num sentido absoluto - será, quando muito, entrar no jogo das forças inconscientes, que ainda testificam daquele escândalo necessário a que alude o Divino Mestre, mas, não será legitimar a própria emancipação, na partilha do legado que se auspicia ao mundo, já em novação de ascese, no concerto universal.
           
            Em sentido mais estrito, poderia objetar-se que ninguém ilude a lei de esforço e trabalho terrenos, igualmente divina e que, de qualquer forma, bem ou mal, o terrícola participa e serve aos desígnios de Deus: mas a verdade é que há duas formas de cooperação nesses desígnios, ou sejam - ativa, consciente e ascendente, e passiva, cega e descendente.

            A primeira, ao nosso ver e para a hora espiritual do planeta em reajustamento de ritmo universal, será a que nos mantenha ao nível de uma renovada humanidade, nesta mesma esfera; a segunda, a que nos relegue a planos inferiores, onde não deixaremos de instrumentar o progresso, acorrentados, porém, às paixões que ainda aqui nos agitam e consomem, em áscuas[1] de morte.

            As “trevas exteriores” da cita evangélica.

*

            Estas perspectivas com este critério serão, possivelmente, extravagantes e quiçá ridículas aos olhos dos leigos e de quantos, não leigos, ainda se aferram a sistemas religiosos metafísicos e abstratos.            

            Joguetes confessos de uma fatalidade absurda, por igual indefinita, quais seixos rolantes ao sabor das correntes, sem lhes saber da causa e dos rumos, quando muito, nutridos de pábulos míticos que as realidades se incumbem de anular a todo instante, é natural que ao mundo sirvam, exclusivamente, e só a ele e dele requisitem, a qualquer preço, o exíguo quinhão de felicidade que mal entressonham e bem lhes foge em tenuidades de sombra.

            O crente espírita, entretanto, sabe que essa felicidade não existirá no mundo, antes  que possa cada qual realiza-la em si e por si mesmo, no imo da alma.

            Realizar um estado social de harmonia, ainda que relativa, é hipótese só concebível  mediante uma compreensão integral do fenômeno da vida, não apenas no complexo acidental das aparências, mas num sentido causal e mais profundo.

            Ora, queiram ou não queiram os nossos humaníssimos filósofos, pensadores, estadistas, duces e furers, ortodoxos e heterodoxos de todas as gamas e matizes, só a Doutrina dos Espíritos, velha quanto o mundo com os Profetas, mas renovada agora nos prismas da Terceira Revelação, pode propiciar ao homem o conhecimento integral de si mesmo, em função dos seus destinos.

            Radicada na tradição quanto apoiada em fatos; falando ao coração quanto à razão; permeável e acessível a todas as inteligências e consciências, só ela pode, de direito e de fato, concretizar, para viver, praticamente, esse regime de paz, que se já delineia em pruridos de aspiração universal.

            Mas, para isso, não se requer, como poderiam supor os menos advertidos, que abneguemos dos nossos deveres e compromissos propriamente mundanos, ou que vamos violentar a ordem social, politica ou material do mundo.

            Basta que abneguemos de nós mesmos cada qual no círculo de influência e atividades que se lhe depare, nada omitindo como homem, mas tudo fazendo, primacialmente, como criatura de Deus.

            Destarte, absurdo também fora supor que o Espiritismo indisponha o homem para o desempenho de quaisquer atividades terrenas, tanto mais quanto, sabemo-lo, tudo se ajusta, na vida de relação, às provas antecipada e livremente escolhidas.

            No usufruto de uma liberdade condicional e sempre relativa é que incide o perigo das subversões e desvios, com agravo maior de responsabilidades, para quantos já conhecem o alcance da palavra que diz: muito se pedirá a quem muito se houver dado.

            De promessas falazes e simbolismos abstratos anda o mundo cheio; não faltam, nesta hora de sérios testemunhos, taumaturgos, salvadores de almas e de povos; os espiritas, nos vórtices dos entreveros, precisamos viver a doutrina, honrando lhe os princípios, sem de modo algum nos esquivarmos ao tributo do mundo, mas, tanto quanto possível, sobranceiros às paixões do mundo.

            E para isso, em consciência, o que mais importa é compreender e sentir; para exemplificar, antes de pregoar, deixando aos lídimos Servos do Senhor o amanho do alfombre para a germinação da semente.

            A nós, o que nos compete, não é deblaterar e combater a iniquidade; mas pedir a Deus que o tumulto de iniquidades não nos esmoreça na fé, que, por misericórdia e de acréscimo já nos estrutura o Ideal em forais de eternidade.

            Fé que se não estima e equipara à matéria plástica, por forjar-se e impor-se em
 cânones de convenção, mas que se afirma patrimônio da alma, espontâneo, inalienável e incoercível em suas fontes divinas, sagradas, intangíveis.

            Pois seja esta fé o nosso testemunho da hora.


Editorial do Reformador (FEB)  em 16 de janeiro de 1937


[1] Carvão ardente, brasa, fogo dos olhos... do blog.


27 de Junho





27 Junho

  Amor não cria problema,
Nunca censura ou reclama,
Trabalha e perdoa sempre
Sem pedir nada a quem ama.


 Targélia  Barreto
 por Chico Xavier 
in ‘Reformador’ (FEB)  Agosto 1970




Quid est veritas?



Quid est veritas?  JUN 27

                    
            Inquiriu Pilatos: “Tu és rei?”
            Tornou Jesus: “Sim, eu sou rei. Para isso nasci, e por isso vim ao mundo: para dar testemunhos à verdade. Todo o homem que é da verdade dá ouvidos à minha voz.”
            Observou Pilatos: “Quem é a verdade?” E, dito isto, voltou a ter com os judeus e declarou-lhes: “Eu não encontro nele crime.”  João,  18,  23 ss


            “Que é a verdade?...”

            O cético romano não esperou pela resposta de tão momentosa pergunta.

            E diante dele estava o único homem que podia definir a Verdade.

            Todos os filósofos do paganismo revolveram na mente angustiosa interrogação: Que é a Verdade?... Existe a Verdade?... É atingível a Verdade?...

            Aristóteles desce ao túmulo sem perceber o eco ao brado da sua inteligência.

            Platão expira sem ver satisfeitos os anseios do seu coração.

            Paulo de Tarso, às portas de Damasco. Interroga ao invisível vencedor o que é a Verdade...

            Agostinho, no mais aceso das suas saudades metafísicas, só pede a Deus uma coisa: o conhecimento da Verdade...
           
            A Verdade, ó Pilatos de todos os tempos e países, é esta: que aquela ruína humana do pretório é a Verdade e a Vida, é o Rei da Verdade, veio ao mundo para fundar o Reino da Verdade, e os seus vassalos são palavras da Verdade.

            Entretanto... o seu reino não é deste mundo. Está no mundo, sim, neste mundo da ilusão e da mentira, mas aqui não nasceu, daqui não partiu, aqui não tem sede permanente, aqui não será o seu termo final...

            Quem é do Cristo é amigo da Verdade...      


Huberto Rohden
in “Em Espírito e Verdade”
Edição da Revista dos Tribunais, SP – 1941  



terça-feira, 26 de junho de 2012

b.b A Moral do Espiritismo




 b/b  A Moral do Espiritismo



            No Espiritismo, a ideia dominante no ensino doutrinário de sua moral é a de progresso, de evolução moral humana. Já se disse que a moral não é nada se não for o elemento mais essencial e o mais indispensável do verdadeiro progresso da humanidade. (4)   É esse progresso moral, como fator principal do progresso espiritual, que o indivíduo deve ter em mira, sem que abandone o progresso em outros domínios, em outras direções, como o que lhe traz a cultura intelectual, o progresso, enfim, que lhe traz o conhecimento do verdadeiro e do belo. É um progresso geral que só pode ser feito gradualmente de encarnação em encarnação, neste e em outros mundos habitados mais evoluídos e na vida desencarnada, sempre se passando do inferior para o superior, até que se chegue, ainda com a aquisição de novas qualidades, desconhecidas e incompreensíveis para nós, à pureza, a uma perfeição, cujo limite não nos é dado conhecer, mas que não pode ser absoluta, porque perfeição absoluta só a tem Deus. Se o Cristo disse que procurássemos ser perfeitos como o Pai celeste é perfeito (Mt. V, 18) não foi porque fosse possível atingir a perfeição divina, o que seria igualar a Deus, mas para que mantivéssemos em nós o ideal de perfeição. Sendo o Cristo o ser mais perfeito que já veio à Terra, é justamente ele que deve servir de modelo e guia.

            (4) Alfred Loisy: La Morale Humaine, pág. III

            É com a aplicação do conhecimento de si mesmo e com o cumprimento de certos deveres, que esse progresso pode ser realizado.

            É pesquisa do conhecimento de si mesmo, é, de fato, o melhor meio do indivíduo fazer o progresso de suas qualidades morais. Para ter as regras de conduta moral, Sócrates fazia do conhecimento de si mesmo um método filosófico. É indispensável que o indivíduo se habitue a fazer, como disciplina, esse conhecimento, de tal modo que faça dele também um método para o estudo e desenvolvimento de seu Eu moral, como ele é em psicologia, estribado na reflexão e observação interior ou introspecção, um método para o estudo dos estados de consciência.

            É nesse conhecimento que pode estar baseada a autoeducação que o indivíduo deve procurar fazer. É no estudo moral interior, que o indivíduo deve fundar sua autoeducação, que concorrerá para o seu aperfeiçoamento moral, desde que seja feito com esmero e esforço constante. "Para uma autoeducação esmerada, diz num livro excelente, um Espírito instrutor, é preciso permanente exame de consciência, a fim de conhecer-se sempre, a todo o momento, o estado da própria alma. Deste modo, resolvido a aperfeiçoar-se, o indivíduo não perde ocasião de estimular o desenvolvimento das virtudes nascentes em si mesmo, e de afogar os vícios e maus hábítos." (5)
            (5)  Angel Aguarod: Grandes e Pequenos Problemas, pág. 266.

            Esse aperfeiçoamento moral é mesmo um dever para o Espírito encarnado. É o que lhe pode dar o verdadeiro sentimento de dignidade humana, ou o respeito de si mesmo. É um dever do indivíduo para consigo mesmo.

            De maneira que a moral espírita, como a moral do Cristo, está toda na exaltação da alma. Isto sem querer dizer, entretanto, que tudo na vida material seja sem valor. O corpo deve merecer um cuidado especial, sendo mesmo um dever do indivíduo o da sua conservação, com as preocupações de saúde e higiene e interdição do suicídio, visto ser ele o instrumento da alma, visto ter ele relações com a alma que é preciso manter em equilíbrio. O suicídio, sendo a morte voluntária, determinada pela falta de coragem do indivíduo na aceitação das coisas de seu destino, tem, segundo o Espiritismo, consequências dolorosas na vida futura.

            Mas há, acima de tudo, dois grandes deveres para o indivíduo, que são os dois maiores mandamentos, como disse o Cristo ao fariseu, doutor da lei, que o interrogou: o de amar a Deus e o de amar o próximo como a si mesmo (Mt. XXII, 35-39; Mc. XII, 28-31; Lc. X, 25-21).

            É, na verdade, um grande dever para o indivíduo o de procurar despertar na sua consciência a intuição que ele tem da existência de Deus e amá-lo na sua obra e na sua lei. Para o amar verdadeiramente, o indivíduo deve procurar cumprir sua lei com todo o interesse, com todo o rigor, isto é, deve preocupar-se sinceramente com o seu progresso moral. Nisto, está realmente o amor a Deus, além da adoração e veneração que ele lhe deve. Assim, nada ou pouco adianta a adoração a Deus, à maneira das religiões, exclusivamente com a fé, se o indivíduo não cogitar de pôr em prática sua lei moral, de aumentar seus valores morais.

            No dever de amar ao próximo, está, por assim dizer, enfeixado um conjunto de virtudes que o indivíduo deve procurar possuir para o preencher. A caridade é a expressão mais perfeita desse amor, não somente a caridade material, aquela que consiste em dar aos pobres aquilo que lhes falta, como a caridade moral e sobretudo esta, mostrando-se o indivíduo disposto a ser tolerante e indulgente com os defeitos de seus semelhantes, mesmo de seus inimigos, a perdoar-lhes as faltas, em vez de encolerizar-se, a não julgá-los, a ser afetuoso, benevolente e paciente nas suas relações com eles, na vida doméstica, cotidiana ou social, a fazer-lhes, enfim, todo o bem possível, de modo que, tudo resumido, importe na existência da humildade e ausência de orgulho e egoísmo, que são os dois defeitos mais graves do homem. A caridade pode ir até o sacrifício, a renúncia. Fora da caridade não há salvação, eis a divisa do Espiritismo moral. Na caridade, estão contidos os princípios de fraternidade e solidariedade, que devem existir entre todos os homens. Mas se todas essas qualidades devem subsistir nas relações dos homens entre si, claro está que eles deverão acatar os direitos uns dos outros. Nisso está o dever de justiça, que fica ao lado da caridade, baseado não só no respeito mútuo, como na identidade de natureza e fim.

            Por outro lado, se é um dever para o indivíduo fazer seu aperfeiçoamento moral, como afirmação ou imperativo categórico de uma lei moral, que é a lei ensinada pelo Cristo, se ele tem a liberdade de praticar todos os atos necessários para esse fim, tem também a de não praticá-los, ou praticá-los de modo que se contraponham a esse fim. Pela sua própria vontade, pode fazer o bem ou fazer o mal. Sendo o indivíduo livre, assim como pode cumprir essa lei moral, também
pode violá-la, tornando-se nesse caso responsável pela violação. Há, portanto, uma liberdade dentro da qual o indivíduo pode mover-se, liberdade tanto mais limitada quanto mais inferior espiritualmente ou moralmente for ele, e que se vai alargando à medida que vai evoluindo moralmente ou espiritualmente. Há, assim, apenas uma liberdade moral. A liberdade e a responsabilidade são, destarte, para o indivíduo noções correIativas.  

            Estando a lei moral sujeita livremente à observação ou violação, é preciso ver qual é o sistema de sanções que ela acarreta. No Espiritismo, elas são de ordem espiritual puramente, sem que, todavia, ele se, oponha às sanções de ordem material, as que aparecem por intermédio das leis penais, contanto que não afetem a conservação pessoal, como, por exemplo, a pena de morte e sejam mais educativas que punitivas. São a sanção chamada natural pelos moralistas e a da vida futura.  São sanções que existem, não para que a lei moral seja cumprida, mas porque ela não foi cumprida, ou foi violada.

            Na sanção natural, resultante dos atos praticados conforme a lei moral, surgem no indivíduo as consequências felizes ou infelizes. Os atos bons trazem necessariamente a felicidade, mais tarde ou mais cedo, como os maus a infelicidade. O indivíduo, que é justo com seus semelhantes, tem sempre o melhor meio de obter a justiça para si mesmo. Quando não há para o indivíduo a recompensa imediata, há pelo menos a de sentir-se mais digno, há como que um "crescimento do ser".

            Na sanção natural, está inserida a sanção da consciência. A consciência tem sido tomada por um juiz infalível, que "recompensa com as alegrias do dever cumprido ou pune com as torturas do remorso", tanto na vida corporal como na. vida espiritual.

            Na vida futura ou espiritual, é onde aparecem as verdadeiras sanções decorrentes da lei moral. Aparecem na sua plenitude e na maior intensidade. O Espírito, pela sua natureza fluídica, apresenta-se na vida espiritual com suas sensações, percepções e faculdades mais intensas, mais agudas, assim como com seus sentimentos mais fortes, de modo que tanto o bem como o mal, tanto as penas, que trazem o sofrimento, como as recompensas, que trazem a felicidade, são mais vivas.

            O sistema de sanções da vida futura no Espiritismo é um passo a mais dado sobre o sistema de sanções que foi pregado pelo Cristo, como este foi além do que pregou a lei mosaica. No Espiritismo, as sanções espirituais são, sobretudo, baseadas em observações mediúnicas. São os próprios seres saídos da Terra que vêm relatar as situações em que se encontram na vida espiritual, quando violam ou seguem os preceitos morais, descrevendo suas posições felizes ou infelizes. É preciso ler o Céu e o Inferno, de Allan Kardec, (6) para se notar a triste e dolorosa situação dos Espíritos culposos que povoam o espaço, ou já ter assistido às sessões espíritas de beneficência, onde se procura dar alívio e consolo a esses Espíritos, para se ver como eles aparecem com os sofrimentos, às vezes, os mais pungentes

            (6)  Allan Kardec: Le Ciel et L'Enfer ou Justice divine selon le Spiritisme, Paris, 1865.

            No código penal da vida futura, que foi publicado no Céu e o Inferno, Allan Kardec define não só as sanções espirituais provenientes dos males feitos na Terra pelos seres que se tornam depois Espíritos sofredores, inclusive as sanções expiatórias, como as daqueles que praticaram o bem e que se tornam Espíritos felizes, que merecem as recompensas. Deste modo, as sanções são sempre proporcionadas ao grau de mérito ou demérito do indivíduo.

            Assim como na moral espírita tudo se resolve na lei do amor, nas sanções tudo se resolve em reações às violações dessa lei. Mas como o desconhecimento dessa lei ou suas violações são imperfeições do indivíduo, as sanções não são senão reações a essas imperfeições. Por isso, Allan Kardec, depois de ter estudado detalhadamente todas as sanções da vida futura, mostrando que seus elementos principais estão no arrependimento, expiação e reparação, resume essas sanções na questão das imperfeições individuais ou falta de progresso moral, em três regras principais: 1ª - "O sofrimento está ligado à imperfeição moral"; 2ª - "Toda imperfeição, toda falta que decorre dela, contém em si seu próprio castigo, por suas consequências naturais e inevitáveis, sem que seja preciso uma condenação especial, para cada falta e cada indivíduo"; 3ª - "Todos podem desfazer-se de suas imperfeições pela vontade, podem afastar os males, que são consequência dessa imperfeição e assegurar assim na felicidade futura". (7)

            (7) Allan Kardec: Le Ciel et I'Enfer, pág. 109.


por   Chrysanto de Brito
in ‘Allan Kardec e o Espiritismo’
Ed. ECO – ano ?


Origens...







            “Mais uma vez vai o homem desperdiçando as oportunidades de legítimo progresso. Mais uma vez a Clemência ilimitada do Senhor começa a se manifestar.

            Em meio ao materialismo devastador, que afasta o coração humano de Deus, erguem-se as ideias desse verdadeiro cristão que foi Jean Jacques Rousseau, com sua iluminada sensibilidade e seu profundo amor e fidelidade aos Evangelhos, em frontal contraste com seus antigos companheiros, a preparar os caminhos para o advento da Terceira Revelação da Lei de Deus. Nas páginas do romance pedagógico ‘Emílio’ estavam gravadas as ideias de luz que iriam influenciar todos os homens realmente sensíveis à obra de redenção humana, à verdadeira religião que é acima de tudo amor. No Contrato Social, Rousseau condena veementemente a intolerância entre os homens e prega o restabelecimento das ideias do Cristo como único meio de serem resolvidos os ingentes problemas sociais, salientando que "a religião do homem, sem templos, sem altares, sem ritos, limitada ao culto puramente interior do Deus Supremo e aos deveres eternos da moral. é a pura e simples religião do Evangelho, o verdadeiro teísmo e o que se pode chamar direito divino natural".

            O pensamento de Rousseau iria cair no coração de João Henrique Pestalozzi e exercer sobre seu espírito, exaltado e sonhador, bom e tolerante, uma extraordinária influência, incentivando-lhe a encetar sua obra revolucionária nos domínios da educação. Introduzindo notáveis modificações nos métodos de ensino, tendo sempre presentes as inspiradas palavras de Rousseau "A única lição de moral que convém à infância, e a mais importante para toda a idade, é a de nunca fazer mal a ninguém", Pestalozzi funda em Yverdun um dos mais notáveis centros de educação de que se tem notícia, abrindo suas portas para alunos do mundo inteiro, sem distinção de língua, raça ou credo religioso, dando logo de início, uma notável lição de universalismo e fraternidade, que iria marcar indelevelmente todos os seus discípulos.

            Convencido de que "a ênfase educativa deve ser posta sobre a espontaneidade natural do ser humano, que convêm preservar contra a corrupção social", ergue as bases da moderna pedagogia, associando severidade e amor, justiça e caridade, como qualidades essenciais ao desempenho das funções magistrais.

            No ambiente fraterno e doce de Yverdun é que vai se formar o espírito de Denizard Rivail, amado discípulo de Pestalozzi, a quem caberia a sacrossanta missão de codificar a doutrina Espírita, tarefa gigantesca que desempenhou com o maior acerto e dignidade, legando ao homem a explicação definitiva para todas as suas dúvidas a respeito do porque da existência e dos sublimes objetivos da vida material.”

por Nilton S. Thiago

trecho do prefácio do livro
 “O Conflito dos Séculos”
de Arnaldo S Thiago
 1ª Ed Lunardelli  1975 (?)


h. Instruções dos Espíritos



h. Instruções dos Espíritos
           

Progressão dos Mundos

             O progresso é lei da Natureza. A essa lei todos os seres da Criação, animados e inanimados, foram submetidos pela bondade de Deus, que quer que tudo se engrandeça e prospere. A própria destruição, que aos homens parece o termo final de todas as coisas, é apenas um meio de se chegar, pela transformação, a um estado mais perfeito, visto que tudo morre para renascer e nada sofre o aniquilamento.

            Ao mesmo tempo que todos os seres vivos progridem moralmente, progridem materialmente os mundos em que eles habitam. Quem pudesse acompanhar um mundo em suas diferentes fases, desde o instante em que se aglomeraram os primeiros átomos destinados a constituí-lo, vê-lo--ia a percorrer uma escala incessantemente progressiva, mas de degraus imperceptíveis para cada geração, e a oferecer aos seus habitantes uma morada cada vez mais agradável à medida que eles próprios avançam na senda do progresso. Marcham assim, paralelamente, o progresso do homem, o dos animais, seus auxiliares, o dos vegetais e o da habitação, porquanto nada em a Natureza permanece estacionário. Quão grandiosa é essa ideia e digna da majestade do Criador! Quanto, ao contrário, é mesquinha e indigna do seu poder a que concentra a sua solicitude e a sua providência no imperceptível grão de areia, que é a Terra, e restringe a Humanidade aos poucos homens que a habitam!

            Segundo aquela lei, este mundo esteve material e moralmente num estado inferior ao em que hoje se acha e se alçará sob esse duplo aspecto a um grau mais elevado. Ele há chegado a um dos seus períodos de transformação, em que, de orbe expiatório, mudar-se-á em planeta de regeneração, onde os homens serão ditosos, porque nele imperará a lei de Deus.


                                   Santo Agostinho   ( Paris, 1862)


páginas 86-87  de
‘O Evangelho Segundo o Espiritismo’ por
Allan Kardec
127ª Ed  FEB - 2007
Tradução de Guillon Ribeiro


No Mundo, mas não do Mundo


 No Mundo,
mas não do Mundo  JUN 26

                    
            Foi Jesus apresentado ao governador. E o governador lhe dirigiu esta pergunta: “És tu rei dos judeus?” Respondeu-lhe Jesus: “Sim, eu o sou, mas o meu reino não é deste mundo.” Entretanto, não deu resposta alguma as acusações dos sacerdotes e anciãos. Perguntou-lhe então Pilatos: “Não ouves de quanta coisa te fazem carga”?”
            Jesus, porém, não lhe respondeu a pergunta alguma, de maneira que o governador se admirou grandemente.   Mateus  27,  11  ss; João  18,  36



            Um homem reduzido a uma chaga viva, abandonado dos seus, ludibriado de todos, a poucos passos da morte – esse homem tem a estranha temeridade de se dizer rei, em face do representante do império dos Césares.

            Mas o seu reino não é deste mundo. É de algum mundo incógnito, mais amplo, mais belo, mais divino que o nosso.

            Ele mesmo, o Nazareno, não é deste mundo. Por isso, o mundo não o compreende, não o quer, não lhe deu um berço para nascer, nem lhe dará um leito para morrer.

            O seu reino não é desses reinos pueris, ridículos, mantidos à força de lâminas de ferro e de cadáveres humanos.

            O seu reino é sustentado pelas colunas da razão e da fé. Pelas energias imortais do coração e da graça. Pelas potentes legiões do universo espiritual.

            É o reino da Verdade e da Vida.

            É o reino da Justiça e da Paz.

            É o reino da Fé e do Amor.

            É o reino da Graça e da Glória.

            E estas coisas, embora no mundo, não são do mundo.

            São do céu – são de Deus...

                                              
           
Huberto Rohden
in “Em Espírito e Verdade”
Edição da Revista dos Tribunais, SP – 1941  


26 de Junho




26 Junho

Se resguardas na lembrança
Alguma ofensa sofrida,
Deixa ofensa esquecida
Na luz eterna do Bem;


  Maria Dolores 

por Chico Xavier 
in ‘Coração e Vida’ (IDEAL) 1ª Ed  agosto  1978



segunda-feira, 25 de junho de 2012

a/b A Moral do Espiritismo



a/b  A Moral do Espiritismo


            A moral tem para o Espiritismo uma importância tal que, sendo ele uma doutrina filosófica, se torna quase uma filosofia moral. De fato, foi para o Espiritismo uma grande ideia, uma ideia fundamental, a de trazer para o mundo uma doutrina que concorresse para provocar uma transformação mais profunda e mais rápida do caráter humano, que viesse, enfim, provocar na humanidade uma reforma moral mais intensa, mais segura.

            A moral espírita tem seu fundamento na moral crística. Deixo de empregar ropositalmente a expressão cristã, para evitar a confusão que ela pode trazer. A expressão cristianismo enxertada na dogmática das religiões, que têm por base a vida do Cristo, e divulgada geralmente pelos escritores que se ocupam desse assunto, admitida como sinônimo de religião, não pode ser confundida com a que deve ser empregada no sentido do movimento primitivo, que girou em torno da personalidade do Cristo, antes de qualquer organização religiosa,  movimento esse que foi, com o acessório das curas e outros fatos extraordinários, todo moral.

            Não é que isso importe em repúdio ao Cristianismo como religião. O papel que ele representou no mundo até o advento do Espiritismo, não obstante todos os seus erros, todos os seus desvios, não deixa de ter tido uma grande utilidade. Ele manteve, através da história, em relevo a personalidade do Cristo, embora erradamente, embora mal interpretada. O movimento somente ou puramente moral, que se fizesse em torno dela, acabada a missão oral de seus discípulos diretos, com as instruções que lhes deu Jesus, não teria talvez a mesma repercussão que teve o movimento religioso, que se fez muito depois de sua morte, mormente porque
os escritos evangélicos que ficaram não dão, nem a medida exata da grandeza da missão do Cristo, nem a medida de seu ensino.

            É a esse movimento moral provocado pelo Cristo, que o Espiritismo fica adstrito na formação de sua doutrina moral. Apresentando-a com a mesma finalidade com que se apresenta a moral crística na época de seu aparecimento, o Espiritismo vem agora confirmá-la, colocá-la em termos mais exatos, vem explicá-la, completá-la, enfim. "Vossa Bíblia, disse o eminente Espírito de Imperator, a Stainton Moses, vos dá uma ideia muito imperfeita da influência que o Cristo exercia em volta dele; ela não insiste bastante sobre o efeito moral que produziam suas palavras e atos. Ela se apoia demasiadamente sobre as falsas interpretações provindas das classes instruídas e consideradas, que, então como sempre, foram as inimigas de toda a verdade nova." - "A falta daqueles que vos deixaram a única narrativa que possuis da vida de Jesus, é que eles muito se apoiaram sobre a perseguição levada contra ele pela ignorância letrada, e não bastante sobre a dignidade moral de sua existência no meio em que ele vivia. Esses escritores não se aproximaram daqueles que tinham recebido diretamente o ensino de Jesus: eles tomaram de décimas mãos as anedotas que abundavam. Isso importa notar."

            (1) William Stainton Moses: Enseignements Spiritualistes, trad. franc. ed. comemorativa, págs. 286 e 287.

             A moral crística não é inteiramente nova. Ela está no fundo de certos sistemas filosóficos e religiosos anteriores ao Cristo. Ela é a consequência de uma lei natural, de uma lei divina. No profetismo israelita estão seus primeiros delineamentos, tendo ela sua essência na lei mosaica, no Decálogo, que exprime no Antigo Testamento uma parte de verdade, e que foi ditado a Moisés pelos seus guias espirituais, conforme afirmou Imperator. Foi, entretanto, o Cristo que a desenvolveu superiormente, que lhe deu forma característica, que a personificou, enfim. Tendo ela sua fonte principal nos escritos evangélicos, mormente no que tem o nome de Mateus e especialmente no chamado Sermão da Montanha, sofrivelmente relatado, diz um Espírito, é neles que o Espiritismo pode ir beber. Ainda que duvidosos pelas suas deformações, pelas suas contradições, ainda que deficientes, é neles, todavia, que o Espiritismo pode ir buscar os elementos básicos para o estudo e formação de sua doutrina moral, admitindo-os não como documentos sagrados, inerrantes, intangíveis, como o quer a ortodoxia cristã, (Concílio do Vaticano: Constituição dei filius, cáp. II) mas como documentos narrativos, históricos, sujeitos ao exame e à crítica. Nesse caso, o Espiritismo terá que acompanhar o movimento de crítica histórica, que se vai operando em torno desses escritos há mais de meio século, onde se discutiram certas questões, certos problemas que ele forçosamente deve atender, e que só ele, com seus métodos de estudo e investigação, pode resolver, dando-lhe resultados definitivos.

            Também não se pode dizer que a moral do Espiritismo seja religiosa. O próprio da moral religiosa é estar confundida num sistema de dogmas e cultos, é ser ela o apêndice de uma religião, é estar ela identificada com os preceitos de uma religião positiva, de tal forma que se torna, às vezes, quase impossível separá-la. Já se vê que não é essa a condição da moral espírita. Ainda que o Espiritismo, embora com restrições, tenha extremo interesse no estudo das outras matérias contidas nos escritos evangélicos, a respeito da vida de Jesus, o que ele procura ver nesses escritos não é o espírito confessional que eles têm, mas o espírito moralista, com a sua metafísica, isto é, com a crença em Deus e com a crença na alma e na vida futura. De maneira que o Espiritismo, nem por admitir a existência de Deus, tem uma moral propriamente religiosa, pois que ele a aceita de maneira mais larga e como uma crença racional, a aceita com uma fé raciocinada, compreensiva, não com uma fé cega, como a admitem as religiões. O mesmo se pode dizer, com relação ao ensino da existência da alma e da vida futura, que ele amplia e lhe dá um caráter mais ou menos experimental. "O que o ensino dos Espíritos acrescenta à moral do Cristo, diz Allan Kardec, é o conhecimento dos princípios que ligam os mortos e os vivos, que completam as noções vagas que ele tinha dado da alma, de seu passado, de seu futuro, e que dão por sanção à sua doutrina as leis da natureza. (2)

            (2) Allan Kardec: La Genèse selon le Spiritisme, cap. I, nº 56.

            Assim, se se quiser classificar a moral espírita, ela só pode ser classificada como uma moral filosófica, embora se relacione até certo ponto com a religião natural, porque o espírito do ensino do Espiritismo é filosófico, porque ela decorre de sua doutrina que é filosófica.

            Sabe-se que a moral do Cristo foi coordenada e estudada por Allan Kardec no Evangelho Segundo o Espiritismo."

            (3) Allan Kardec: L'Evangile selon le Spiritisme, 1864.

            Com a chave que lhe deu o Espiritismo, e com o auxílio que lhe trouxeram as instruções ditadas pelos Espíritos em diferentes países e por diferentes médiuns, Allan Kardec lhe analisou os preceitos tanto quanto era possível, utilizando-se da edição da Vulgata, traduzida em francês por Le Maistre de Sacy, exibindo antes um código de deveres morais, que uma teoria da moral. Mesmo o Cristo não veio fazer moral especulativa. Também não veio fazer da moral que pregava um conjunto de regras apenas para o seu meio. Seu fim foi mais elevado. Ele alegava que os preceitos que revelava, o ensino que dava, eram uma condição de salvação para a humanidade.

            Não é mais necessário falar aqui detalhadamente desses preceitos morais, depois de Allan Kardec. O que se procura estabelecer são princípios da moral do Espiritismo e mostrar a base que lhe deu a moral do Cristo.

  por   Chrysanto de Brito
in ‘Allan Kardec e o Espiritismo’
Ed. ECO – ano ?



Antes da Internet...



          Olhem só o que foi encontrado dentro de um exemplar de "Reformador' (FEB) de muito, mas muito tempo atrás.

    Trata-se de um cartão onde no verso escreveríamos os livros que buscávamos comprar na livraria da FEB, nome e endereço. 

     Depois, bastaria ir a uma agência da antiga ECT e postar o cartão. A cobrança se faria por reembolso postal. 

     Um detalhe: Já vinha selado... 

    100 réis custaria o envio...

     Saudades desse tempo? Nenhuma. 

     Adoramos o progresso que nosso Pai permite que usufruamos enquanto encarnados.
    


O traidor traído



 O traidor traído... JUN 25

                    
            Pela madrugada, resolveram os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo, de comum acordo, entregar Jesus à morte. Conduziram-no preso e entregaram-no ao governador Pôncio Pilatos.
            Ora, quando Judas, o traidor, viu que Jesus estava condenado, sentiu-se tomado de arrependimento e foi devolver as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e anciãos, dizendo: “Pequei, entreguei sangue inocente”.
            Replicaram-lhe eles: “Que temos nós com isso? Avém-te lá contigo mesmo.”
            Então, lançou ele as moedas de prata ao templo, foi-se embora e enforcou-se com uma corda. Os príncipes dos sacerdotes recolheram as moedas e disseram: “Não é lícito lançá-las ao cofre do templo, porque é preço de sangue.” Deliberaram comprar com elas o campo de um oleiro para servir de cemitério aos forasteiros. Por esta razão é chamado aquele campo, até o presente dia, Hacéldama, isto é: campo de sangueMateus  27; 1  ss



            O traidor acaba, por via de regra, traído.

            Ninguém lhe dá confiança.

            Todos se aproveitam dos seus serviços – mas ninguém quer saber da sua pessoa.

            Exploram o traidor e detestam a traição.

            Qual bagaço espremido, é jogado fora o desertor, desde que nada mais tenha a dar.

            Iscariotes reconhece e confessa o seu crime, mas não crê na bondade divina. Só crê na justiça.

            Contempla a torrente imunda da sua miséria, e não vê o oceano imenso da misericórdia de Deus, que absorve as torrentes e purifica todas as águas da iniquidade.

            “Nele há redenção copiosa...”

            Crer no seu pecado e descrer do perdão divino – é desespero e morte...

           
           
Huberto Rohden
in “Em Espírito e Verdade”
Edição da Revista dos Tribunais, SP – 1941