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domingo, 8 de novembro de 2020

Titânica Tarefa

 

     Antônio Wantuil
                                                                         O Presidente mais longevo da FEB 1(943-1965)

Titânica Tarefa

por Tasso Porciúncula (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Fevereiro 1962

             A literatura espírita tem progredido extraordinariamente no Brasil graças, em grande parte, aos esforços despendidos pela Federação Espírita Brasileira. Obras de caráter científico, religioso, doutrinário e literário tem saído das oficinas do Departamento Editorial da FEB, oficinas que já não dão conta dos trabalhos que se acumulam, aguardando impressão. Isto quer dizer que o movimento espírita continua crescendo e crescendo muito depressa. Tão depressa que os recursos materiais da Federação Espírita Brasileira, requisitados para a ampliação do Departamento Editorial, não bastam para satisfazer as exigências normais do movimento.

            Muitas vezes a FEB se vê impossibilitada de reeditar obras importantes, de cunho científico, doutrinário ou literário, por não haver espaço e máquinas disponíveis. Em certos casos urgentes, a FEB tem recorrido a tipografias particulares mas semelhante providência encarece sobremaneira as obras, dificultando o programa estabelecido pela FEB.  

            Não obstante isso, conseguiu o Departamento Editorial liberar uma grande obra que aguardava sua vez de reedição. Referimo-nos ao monumental trabalho de Epes Sargeant intitulado “Bases Científicas do Espiritismo”, cuja primeira edição em nosso idioma foi impressa em Paris há muitos anos, e estava completamente esgotada.

            A nova edição foi cuidadosamente revista, segundo a edição original norte-americana. Traz esclarecimentos oportunos além de informações biográficas a respeito do insigne Epes Sargent, tão pouco conhecido nos meios espíritas de hoje.

            É preciso que os espíritas levem em conta os esforços e os sacrifícios da Federação Espírita Brasileira em reeditar obras antigas, indispensáveis à sobrevivência da cultura espírita, como tem feito e continuam fazendo. Estão, nesse caso, além de “Bases Científicas do Espiritismo”, estes livros: “Animismo e Espiritismo”, de Alexandre Aksakof: “O Espiritismo”, de Paul Gibier, “O Fenômeno Espírita”, de Gabriel Delanne; “Um caso de desmaterialização”, de Alexandre Aksakof; “A Morte e seu Mistério” (3 volumes) “O Desconhecido e os Problemas Psíquicos” de Camille Flammarion, etc. Isto sem se falar em outras de cunho doutrinário e evangélico como “'No Invisível”, “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”, “Cristianismo e Espiritismo”, essas e outras de Léon Denis: “A Psicografia ante os Tribunais” de Miguel Timponi, cuja primeira edição se intitulava “O Caso Humberto de Campos”; “Os Quatro Evangelhos” de Roustaing, etc. 

            Muitas obras de feitura e conteúdo científicos têm de sobreviver em reedições periódicas para que as novas gerações se ponham a par dos fatos e das ideias discutidos e comprovados no pretérito. Um livro como “Física Transcendental”, de Frederico Zöllner, ou estas de Delanne: “O Espiritismo perante a Ciência”, “A Evolução Anímica” e “Reencarnação” têm de fazer obrigatoriamente parte da biblioteca dos estudiosos, daqueles que, além dos conhecimentos doutrinários e evangélicos do Espiritismo, queiram estimular sua cultura com as obras de divulgação científica.

 

Do blog: O esforço da FEB vem desde sempre...

sábado, 7 de novembro de 2020

Vale a pena suicidar-se?

 


Vale a pena suicidar-se?

 João Marcus (Hermínio Miranda)

Reformador (FEB) Março 1963

             É impressionante o número de suicídios que encontramos relatados nos jornais. Porque tanto se matam as criaturas, especialmente agora nesta época de dificuldades e incertezas? Deixemos de lado as causas imediatas, como problemas financeiros, amorosos ou de consciência. Isso é apenas a gota d’água que fez transbordar o cálice, toque final que acabou por romper o precário equilíbrio emocional do ser, desatando seu impulso destrutivo numa ânsia de libertação. São secundárias essas causas, embora tenham sido o fato precipitador da tragédia. Secundárias e relativas, porque um motivo, que poderia ser extremamente fútil para um, assume proporções alarmantes para outrem. Além disso, vemos o mesmo indivíduo suportar, às vezes, golpes muito mais graves e sucumbir, depois, diante de questões que um pouco mais de tolerância ou paciência teriam colocado em sua verdadeira perspectiva. Muito depende pois do seu estado emocional no momento em que lhe surge o problema pela frente.

            Quando penso nisso, lembro-me sempre de uma advertência que encontrei no guichê de uma loja em Nova lorque, dizia assim: “Que diferença fará isso daqui a 99 anos? ” Aquilo que agora nos parece uma calamidade insuportável, reduz-se às proporções de mero incidente daqui a poucas horas, alguns dias ou uns escassos meses. É fácil demonstrar a veracidade da afirmação: quais foram as mágoas que nos atingiram tão fundo no ano passado? Ou há 3 anos? Mesmo que nos lembremos de algumas delas - as que nos pareceram mais graves -, já não nos ferem como então. Com o decorrer de pouco mais de tempo, lembrar-nos-emos delas até mesmo com certo sorriso indulgente e pensaremos: “Veja só! Isso me deu tanto aborrecimento e, afinal, nem valeu a pena...” De outras vezes, aquilo que nos atormentou, nem sequer teve existência real; foi produto de uma imaginação exaltada, momentaneamente obscurecida pelo cansaço, pelas paixões ou pelo simples desconhecimento dos fatos. Logo a seguir, o que nos parecia tão alarmante, verificamos ser simples suspeita com aparência de realidade.

            Por isso, não é necessário pesquisar as causas imediatas, que desencadeiam a tragédia do suicídio, examinemos as origens profundas do fenômeno.

            Porque se mata a criatura humana? Mata-se o pobre, o aleijado, o doente, como também se mata o rico, o belo, o saudável. Porquê? Na verdade, o suicídio é, basicamente, uma fuga. O suicida quer fugir de situações embaraçosas, de desgostos, de pessoas que detesta, de mágoas que não se sente com forças para suportar, deseja, afinal de contas, fugir de si mesmo. É aí que está a gênese do seu fatal desengano: não podemos, de maneira alguma, fugir de nós próprios. Para que isto ocorresse, seria necessário que tudo se acabasse com a morte; seria preciso que, ao cortar o fio da existência, tudo o que somos se dissolvesse num instante, em nada. E não é assim que acontece; absolutamente não. Vemos, então, que o fundamento da ilusão suicida está na total ignorância do homem diante de sua própria natureza espiritual.

            Há de chegar o dia em que todos compreenderão que somos Espíritos encarnados e não simples conglomerado de células materiais; que o corpo físico é um mero instrumento de trabalho e aperfeiçoamento do Espírito; acessório e não principal, na estrutura da personalidade humana.

            Nesse dia não haverá mais suicidas. Suicidar para quê? Se apenas o organismo físico se destrói, ao passo que o princípio espiritual sobrevive? Abandonado pelo Espírito, o corpo não é mais que um amontoado de matéria. E, como tal, volta para a sua origem, isto é, a terra, O Espírito, a seu turno, também regressa para o lugar donde veio; aquilo a que o Dr. Hernani G. Andrade chama hiperespaço. Com o espírito é que pensamos e sentimos; nunca com o corpo físico, mera ferramenta. Para certificar-se disso, basta ver um cadáver. Que é que falta à criatura que acaba de Morrer? Tem ainda os músculos, a mesma cor dos olhos, o cérebro. Os órgãos internos. Porque não se mexe mais não anda, não fala, não vive? Porque sua carne entra logo em decomposição e seu corpo começa a ruir como uma casa abandonada? A resposta é simples: é porque algo muito importante deixou aquele corpo para sempre. Esse algo, princípio imaterial do ser, é o Espírito, órgão diretor e coordenador, sem o que tudo se desorganiza e se desintegra. A parte que fica é inerte sem vida própria, não sente dor, nem outra qualquer sensação - é só matéria. A consciência está no Espírito que parte. Por conseguinte, quando deixamos o corpo material, levamos nossas lembranças, sentimentos, paixões, alegrias, tristezas, esperanças, temores, angústias e sofrimentos, tal como os experimentávamos aqui na carne. O corpo não é mais que uma vestimenta perecível do Espírito imortal. E se sofríamos aqui, sofreremos muito mais do lado de lá da vida, se praticarmos a violência do suicídio. Não só porque nossas mágoas terrenas persistem, mas porque descobrimos, surpresos, envergonhados e terrivelmente arrependidos, que continuamos vivos, com as mesmas ideias que tínhamos, e ainda sofrendo dores muito mais agudas, porque só então nos assalta, num tremendo impacto, a amarga compreensão da loucura que praticamos.

            Para os espíritas, familiarizados com a literatura mediúnica, isso não é novidade. Temos inúmeros depoimentos de Espíritos que provocaram a destruição de seu corpo físico, na trágica ilusão de que dessa forma se libertariam para sempre de seus problemas.  E vêm confessar, amargurados, que o portão da morte não se abre para a escuridão vazia do nada; que a vida continua, com o corpo físico ou sem ele; e aquilo a que chamamos morte é uma simples transição - seus portões no levam a uma outra forma de vida e não ao aniquilamento. E então aquele que destruiu voluntariamente seu envoltório material chega à dolorosa conclusão de que apenas conseguiu agravar enormemente seus problemas íntimos, sem libertar-se de nenhuma de suas dificuldades. E descobre, ainda mais, que terá de voltar à carne em outras condições, talvez ainda mais penosas e precárias, tantas vezes quantas forem necessárias – para corrigir, refazer e pacificar.

            Assistimos, então, ao funcionamento inapelável da lei cármica de causa e efeito, ajudando o pobre ser derrotado e doente a tomar o amargo remédio da recuperação. E aquele que arrebentou seus próprios ouvidos, com um tiro assassino renasce com o mecanismo da audição destruído; não podendo ouvir, não aprende a falar. E daí atravessar uma existência inteira, isolado na solidão forçada, a fim de que seu Espírito compreenda, no silêncio, o verdadeiro sentido da vida e o valor inestimável dos dons que recebem ao nascer. O que tomou venenos corrosivos, volta à carne com as vísceras deficientes, sujeitas a misteriosas e incuráveis mazelas.

            Tudo isso porque não podemos ir adiante sem pagar o que devemos, e, sendo a justiça de Deus tão perfeita, não pagamos senão o que devemos, segundo diz a Lei. Logo, o suicídio é o maior, o mais trágico e lamentável equívoco que o ser humano pode cometer. Para não suportar uma dor que deveria durar alguns instantes, buscamos, precipitadamente, outra que pode durar tanto quanto uma nova existência de aflições.

            Certamente Deus nos dá os recursos necessários à recuperação, mas o esforço da subida tem que ser nosso, para que dele decorra o mérito da ação.

            Isso de dores, mágoas, sofrimentos e aflições é tudo condição transitória de seres em reajuste moral. No fundo de si mesmo, o Espírito esclarecido sabe, intuitivamente, a razão da sua dor e se rejubila com ela, porque somente pagando o que deve poderá prosseguir para o Alto. E sabe mais: certo da perfeição da Lei, na qual não há injustiças, compreende que, se sofre, é porque deve; a Justiça Divina não cobra multas a quem não cometeu infrações: ela é infinitamente mais perfeita que a dos homens.

            Dessa forma, interferindo violentamente no mecanismo das leis supremas, o suicídio agrava os problemas, em vez de resolvê-los.  

            A ordem é esperar com paciência, resignação e confiança, aguardando serenamente a libertação, Acima de toda mágoa, o Espírito pode pairar serenamente e até mesmo embalado por secreta alegria, pois tem a certeza de que está resgatando com a única moeda válida - a do sofrimento - compromissos que ainda o prendem a um passado faltoso.


O hábito faz o monge

 


O hábito faz o monge  

Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Maio 1962

             A tolerância é virtude, mas não invalida a necessidade do corretivo em benefício daquele que a recebe. Quando há tolerância com o mal, sem o esclarecimento adequado para a tentativa regeneradora, o sentimento de indulgência se confunde com o de conivência e, neste caso, prejudica ainda mais aquele com o qual se procurou ser tolerante. É imprescindível, portanto, que, no exercício da tolerância, saibamos exercer a ajuda pelo esclarecimento, procurando amparar o faltoso para que ele não reincida na falta.

            Desde, porém, que o erro é insistentemente praticado, percebe-se a inutilidade da tolerância sistemática, porque, em lugar de se favorecer a recuperação do faltoso, dá-se lhe estímulo involuntário. E quando a falta procede de uma organização que defende uma doutrina cristã, que sabe, portanto, a importância do bom exemplo e a alta nocividade do mau exemplo, a tolerância tem de ser exercida ainda com maior cuidado por aqueles que a observam e veem que ela não está palmilhando o terreno que leva ao respeito das ideias que diz acatar.

            Todos nós somos imperfeitos e falíveis. Desde, porém, que desempenhemos uma função ou ocupemos um cargo, com a responsabilidade de respeitar programa preestabelecido, seremos faltosos se não o fizermos e se, consciente e repetidamente, infringirmos as determinações desse programa. Não nos move o desejo ou a preocupação de atacar ninguém. Se exercemos a crítica em determinados casos fazemo-lo com o fim de demonstrar contrastes e contradições flagrantes, erros que se eternizam, mas o fazemos com o objetivo cristão de induzir o criticado a uma revisão de suas ideias e de seus atos, para alcançar a possibilidade de acertada retificação de rumos. 

            Lemos que a Igreja Católica resolveu, mais uma vez, tomar posição na política, “orientando o eleitorado”. A LEC) (Liga Eleitoral Católica) adquiriu fama negativa por sua conduta, Agora surgiu a ALEF (Aliança Eleitoral pela Família), que também, como a outra, tem o beneplácito do Cardeal Arcebispo. Os objetivos explícitos são louváveis, mas os implícitos, geralmente os que prevalecem, conforme a LEC já demonstrou, se prestam a fins que ferem a liberdade de opinião, a liberdade de voto, o direito que cada ser humano deve ter de livre escolha. Disse Jesus: “a César o que é de César”...

            Estamos chovendo no molhado, porque os exemplos de humildade deixados pelo Cristo, inclusive com o “lava-pés” por ele instituído, se chocam com práticas que não são rigorosamente cristãs.

            Vejamos este trecho de telegrama de 21 de Março, publicado nos jornais do Rio: “Cidade do Vaticano, 21 - Os novos cardeais da Igreja Católica romana beijaram hoje as sapatilhas de seda do Papa João XXIII", etc.

            Em casos como esses, “o hábito (costume) faz o monge”.

 Do blog: Este artigo é datado de quase 60 anos atrás. Hoje, outras são as correntes religiosas que buscam ocupar grande espaço no mundo da política. Não nos cabe desenvolver o assunto. Apenas registra-lo.


sexta-feira, 6 de novembro de 2020

A "Ave Maria" mostrando a desmoralização do Espiritismo...

 




A “Ave-Maria” mostrando 

a desmoralização do Espiritismo...

por Leopoldo Machado     Reformador (FEB) 16 Junho 1937

             Conhece o leitor a Ave Maria? Não nos queremos referir à saudação do anjo a Maria, nem tampouco à oração que dela derivou, ao bimbalhar montono (monótono) de sinos à hora do Angelus. Referimo-nos à revista semanal e paulista, católica, ilustrada, filiada à Associação dos Jornalistas Católicos. Um de seus números, o de 21 de novembro de 36, que às mãos nos veio por obsequio de mãos amigas, traz, na página de frente, um artigo suculento, do Padre Luis Salamero C. M. F. contra o Espiritismo, sobre cuja cova Flammarion e Raupert lançaram - diz o articulista - as últimas pás de cal. Lendo a moxinifada (miscelânea) repontou-nos, para logo, à mente, aquela do católico Ruy Barbosa: “O sistema papal foi sempre este: difamar sem escrúpulos”. (“O Papa e o Concilio”), 2ª Edição, pag.31).

            Dizer, com efeito, que Camille Flammarion foi, para o Espiritismo, o que diz o reverendo Salamero, só mesmo por ignorância, ou má fé, que é pior, ou abuso da ignorância de seus fiéis, que é mais grave, ou por difamação, que é doloroso!

            O reverendo, cheio de ódio clerical contra o espiritismo assente, parece-nos, naquelas coisas todas juntas, assevera que daquelas regiões ignotas donde ninguém mais volta, nem Kardec, nem Flammarion, com todo os seus vivos trejeitos, conseguiram que um só Espírito de morto voltasse. E arruma uma confissão do astrônomo francês, aquela confissãozinha já muito conhecida, arranjada pelos inimigos do Espiritismo, em que Flammarion diz que “em quarenta anos de pesquisas, todos os médiuns célebres passaram por seu gabinete e não houve um só que ele não surpreendesse em trapaças. TRAPAÇAS D0 ALTO ESPIRITISMO, escreve em grifo o Reverendo. E conta mais uma história confusa como os dogmas de sua Igreja, complicada como o mistério da sua Santíssima Trindade, de uma sessão em que Flammarion e Kardec andaram às voltas com o Espírito de Galileu, que não era mais do que o próprio Flammarion auto sugestionado, como ele mesmo Flammarion confessou. E conclui, dizendo que o grande astrônomo, embora confessasse que alguns (médiuns) houve, talvez, poucos, que pareciam sinceros, mas enganou-se miseravelmente.

            De onde tirou tudo isto, não diz o reverendo. Nem dize-lo precisava, de vez que escreveu somente para quem só crê por força do pater-dixit.

            Comecemos estranhando aquele seu ‘regiões ignotas’ a respeito da ‘outra vida’. Como ‘ignotas’, de vez que S. Revma. vende, a dinheiro de contado, a entrada no Céu, conforme as posses do freguês, que lhe mande celebrar missas e exéquias; que lhe pague sacramentos e formalidades religiosas? E não lhe é conhecidíssimo, também, o inferno, para onde vão os espiritistas, os protestantes, os que não leem por seu catecismo? E do purgatório não tira S. reverendíssima, à força de missas muito bem pagas, as almas sofredoras? ‘Ignotas’ quer dizer desconhecidas. Ora, se a Igreja de S. reverendíssima mercadeja com o Céu e o Purgatório e manda para o inferno quem não vai ao mercado, logo... para S. reverendíssima e para sua Igreja ‘a outra vida’ não deve suportar aquele seu incisivo regiões ignotas, donde ninguém mais volta. E se, padre Luis Salamero, uma entidade clerical mais graduada do que V. Revma. vier dizer que volta? Se esse mesmo Flammarion, que v. reverendíssima cita de má fé ou de indústria, provar que volta? E se o próprio Raupert desmentir à V. Revma., dizendo que volta? Se os três juntos atestarem, ao mesmo tempo, que V. Revma. não sabe o que diz, ou que mente, desvirtuando os factos?

            Um bispo é alguma coisa mais do que um simples Salamero. D. Viçoso, bispo de Mariana, ao ouvir do cônego Rosário que falecera o cônego Manoel Júlio, por cujo falecimento dobravam os sinos de Mariana, turbou-se. Diz-lhe, então, o cônego Rosário, para atenuar lhe a turbação: “Spiritus qui vadit non redil”, (o espírito de quem está caminhando não se recuperará) Sr. Bispo. “Volta - respondeu-lhe D. Viçoso - quando Deus o permite. E o bispo contou, então, a aparição de um moço do Tijuco, aluno do Colégio Caraça, ao Padre Leandro Rebelo Peixoto, cujo cadáver estava ainda em exposição na capela, no momento mesmo em que o padre superior participava o seu falecimento à família. O fato se contém no livro de memórias do Sr. Victor Silveira, publicado a expensas do governo de Minas...

            Se o padre conhecesse o livro de Flammarion, “A Morte e seu Mistério”, três alentados volumes que Briguiet editou traduzida em 1923, não diria a tolice que afirmou. Na obra em questão, não faz outra coisa o grande astrônomo francês, senão demonstrar a verdade da existência e manifestação dos Espíritos, manifestação, até, de Espíritos de pessoas ainda vivas. O que faltou ao padre Salamero foi observar esta advertência judiciosa de quem, realmente, examina antes de aceitar, as teses, e que é do próprio Flammarion: “Todas as narrativas devem ser, a priori, consideradas suspeitas; porém, declara-las todas inadmissíveis é simplesmente uma estupidez.” (Obra citada, volume III, pág. 10). Pois é assim que o Reverendo Luís Salamero declara todas elas...

            Nem queremos, por enquanto, apreciar o grau de sabedoria do Sr. J. Godfrey Raupert, que, “como membro da Sociedade Psíquica de Londres, observou os fenômenos de manifestação dos Espíritos”, como declara ele.

            Só bem nos sabe, por agora, confundir o Reverendo Luís Salamero, mostrando-lhe que o seu sábio de Londres, o sr.Godfrey Raupert, recentemente convertido das ilusões espiritas á verdadeira luz do Catolicismo, não nega os fatos que o articulista reverendo nega. Temos o livro de Raupert: “O Espiritismo”, tradução de Lucio José dos Santos, edição da Tip. Lar Católico, de Juiz de Fora, 1930. Um dia, ainda havemos, se Deus nos der forças e vagar, de contar interessantíssima história de sua conversão ao catolicismo e fazer, do mesmo passo, a análise da maravilhosa peça que é o seu livro contra o Espiritismo. O autor, o sábio J. Godfrey Raupert, admite, e o demonstra cabalmente, a existência de seres inteligentes, invisíveis, externos ao homem, aos quais se deve atribuir a produção de muitos destes fenômenos. No fundo, pois, está Raupert de acordo com os espiritistas, deles divergindo, porém, quanto à natureza da causa produtora dos fenômenos. (Obra citada, prefácio, pag. 11).

             “A conclusão não pode ser senão que tais fenômenos procedem necessariamente da intervenção do Espírito do mal” (Idem, pag. 11).

            E aqui temos um sábio que admite, como qualquer padre Luís Salamero, a existência do diabo a acionar as manifestações espiritistas. E dado que Satanás, em que a Igreja e os padres fingem acreditar, existisse de verdade e fosse o produtor dos fenômenos espiritistas, seria para perguntar ao sábio Raupert, ao padre Luíz Salamero, ao tradutor da obra em cita, se Satanás é espírito, ou criatura de carne e osso, como todos eles e como nós? Raupert quis, com efeito, achar uma explicação para os fenômenos que observou, fora da ciência espiritista, a contento do clero, a quem alugou a sua pena. Daí, a novidade colimando (ir de encontro) não contrariar a infalibilidade clerical. Seja, porém, como fr, o fato é que o sábio de Londres não pode negar a evidência dos fatos. E diz, afirmando-os: “É convicção do autor que o melhor, se não o único meio eficaz de combate ao Espiritismo consiste em torna-lo conhecido, com verdade, sinceridade e lealdade” (Mesma obra, pag. III). Efetivamente, isto, porém, não agrada à Igreja. Nunca lhe agradou o exame livre daquilo que lhe contrarie as ensinanças (ensinamentos). À Igreja, bem não soa, a respeito do Espiritismo, aquele acerto de Gamaliel: “Se esta obra for dos homens, se desfará. Mas, se for de Deus, não podereis desfaze-la”. (Atos, 38-39). Das outras religiões, das ciências e das filosofias, aí em curso, não pede o Espiritismo outra coisa, senão aquilo que Raupert aconselha. Foi esse pândego de Raupert que escreveu, à pag. 158 da obra em cita, aquele episódio que pusemos no “Julga, leitor, por ti mesmo”, em que confessa a manifestação de um Espírito, que o faz perder o equilíbrio e cair; que arrasta pés na escada; que faz que os padres, que não creem na volta dos Espíritos à Terra, fujam deles?

    O padre articulista da ‘Ave Maria’ cita, caluniando as irmãs Fox, outra grande autoridade contra o Espiritismo: o Padre Heredia. Possuímos, também, o livro de C. M. de Heredia S. J: ‘O Espiritismo e o Bom Senso’ que brevemente, se Deus no-lo permitir, mostraremos quanto vale, que vale tanto quanto o de Raupert, ou quanto o artigo do Padre Luis Salamero, ou quanto a Igreja dos três juntos.


quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Res non verba

                      


Res non verba  (fatos não palavras)

por   M. Quintão  Reformador (FEB) Janeiro 1923

             O fato merece glosado, (ser comentado)  em que pese a transcrição integral feita pelo nosso confrade Fred Fígner, em uma de suas crônicas Espíritas do prestigioso ‘Correio da Manhã’ e a que faz, neste mesmo número, o Reformador.

            Não é que o fato seja dos mais surpreendentes nem inusitados para quantos se ilustram na histeria copiosa e edificante da fenomenologia espírita.

            Precioso, entretanto, e oportuno se torna ele pela documentação de um testemunho próximo, cuja autenticidade pode ser solicitada, por quem quer que duvide da sua origem.

             O Dr. Matta Bacellar é um médico de nome feito e de ilibada reputação social. Político militante, ao seu tempo, ele ocupou no seu Estado, e fora dele, cargos de responsabilidade e foi, se nos não enganamos, deputado Constituinte republicana. Médico, clínico há cinquenta anos, lá em Belém, onde reside, ele soube granjear a estima publica a golpes de talento e bondade. É, em suma, uma figura popular.

            Pois bem: materialista confesso desde os tempos acadêmicos, mas sempre leal, esse homem não desdenhou observar os fenômenos espíritas através da mediunidade da Sra. Prado e bastou que, tocado em sua consciência, viesse de público declarar a bancarrota de suas teorias materialistas, abraçando o Espiritismo, para que os corifeus do Catolicismo -como se as crenças fossem coisa de empreitada e o averbassem de paranoia, papalvo e quejandas gentilezas dos que têm Deus nos lábios e fel no coração.

            Objurgatórias (condenações) tais, por gratuitas e tendenciosas, quanto ocas, não têm, sequer, o mérito da originalidade: são “mutatis mutandi” (uma vez efetuadas as necessárias mudanças) o que dos primitivos e veros cristãos diziam os celsos (sublimes), em coro com os sacerdotes de Júpiter e outros deuses menores.

            Contudo, a História é pouco lida e menos meditada nestes tempos de vida intensa e apressada, pelo que sempre convém assinalar a circunstância: são os sacerdotes católicos, presuntivamente espiritualistas, logicamente deístas, os que profligam (derrotam) a conversão de um materialista, demonstrando assim que é melhor não conhecer Deus, não o amar nunca nem jamais pretender servi-lo, em consciência, do que faze-lo pelo Espiritismo.

                Eis o que em poucas palavras, poucas e claras como a sua alma de penitente, nos diz o Dr. Bacellar, antes de historiar o fato - a dilatação de um tumor operado à sua vista e de outras muitas pessoas, por uma entidade espiritual materializada.

                Não queremos nem devemos indagar aqui do modo pelo qual atuaria o cirurgião do espaço, para alcançar o que na técnica humana demandaria todo um aparelhamento prévio. Sabemos, ou antes presumimos, como os seres desencarnados evoluídos manipulam os fluidos imponderáveis aos nossos sentidos, mas, entretanto, condutores de energias incalculáveis. E haverá nisso algo de extraordinário, de incompatível com o que nos limites da humana ciência se nos vai revelando? Pois não estão aí patentes em seus efeitos, embora intangíveis em sua essência, a eletricidade, o magnetismo, os raios ultravioleta? Disso tudo, que é fluido, não ensaia a medicina aplicações à terapêutica?

             Que resta, então, para legitimar o fenômeno no consenso dos seus contraditores? O fato? Ele aí está. A sua origem espirítica? Talvez, mas neste caso a controvérsia não deveria partir da Igreja, que prega a imortalidade da alma e acredita na “comunicação dos Santos”, e sim dos materialistas impenitentes e contumazes.

             A estes competiria provar como, “cientificamente”, das camadas corticais de um cérebro (oh! cerebrina ectoplasmia) sai um cirurgião perfeito e acabado e ainda se faz acompanhar de um assistente espiritual, ambos visíveis e palpáveis, enquanto o médium em transe lá está amarrado a uma cadeira, quando não enjaulado a cadeado!

            Afinal, não há como deixar de convir: é bem mais cômodo negar o fato a priori, insultar os que têm a coragem moral de o testemunhar e confessar, do que explica-lo satisfatoriamente à luz da razão.

            Nós que há vinte anos estudamos e pesquisamos estas coisas; que não colocamos, jamais, os preconceitos da Terra acima dos ditames da consciência; que temos meditado a fragilidade, a transitoriedade de teorias científicas, sistemas filosóficos e confissões religiosas, sempre reivindicamos o direito de clamar: neguem, insultem, mas... provem o contrário.

            Se o Espiritismo, que apresenta fatos desta ordem e converte sábios e doutores é uma doutrina de loucos, deem-nos, então, coisa melhor, mais racional, mais positiva, mais consoladora .

            “Res non verba”, senhores tutores da Natureza ou procuradores de Deus em causa própria. Vamos, a questão não é de palavras, é de fatos.


Morta durante duas horas

 

Morta durante duas horas

A Redação     Reformador (FEB) Janeiro 1962

             Penka Naidenova, enfermeira húngara de 23 anos, trabalhava no Hospital de Sofia. No dia 24 de Março do ano passado, estava ela a esterilizar os instrumentos para serem usados numa operação no dia seguinte. Em dado momento, por volta de 17h 30m., enquanto abria a torneira, ela casualmente tocou a outra mão num fio de eletricidade com uma corrente de 380 volts. Um choque violento e o corpo de Penka Naidenova caiu ao chão, ouvindo-se apenas profundo suspiro.

            Um médico, chamado à pressa, declarou: “Não se ouve o bater do coração, não se sente o pulso.”

            Imediatamente iniciaram a respiração artificial. A seguir, abriu-se o tórax e fizeram-se massagens diretas no coração. Passados 37 minutos, este passou de repente a vibrar, mas anormalmente. Novos expedientes médicos e aos 43 minutos, obtinham-se contrações normais. Mas, sempre que paravam com as massagens, extinguia-se a atividade do coração.

            O corte no campo operatório começou a sangrar. Levaram-na rapidamente para a mesa de operações. Cento e vinte minutos depois de clinicamente morta, o coração dela iniciou o seu batimento: 110 pancadas por minuto. Penka Naidenova ressuscitava para a vida terrena, mas ainda permaneceria mergulhada em profunda inconsciência durante 72 horas.

            Muito lentamente foi recuperando os sentidos. Após dez dias, começou a falar: palavras isoladas, frases curtas. Não conhecia ninguém, mas sabia seu próprio nome e respondia a algumas perguntas.

            Só dois meses mais tarde Penka Naidenova entrava numa vida quase normal. E por esta altura começaram a despertar nela estranhas recordações do tempo em que... estivera morta, e ela mesma é que nos conta:

             “Estive num mundo estranho. Era maravilhoso estar ali. O Sol brilhava. Os prados eram verdes. Movia-se tão levemente, como se pudesse voar. Quando era criança, com quatro ou cinco anos, a minha avó falava-me do Paraíso e do Céu e com a minha imaginação infantil imaginei Céu tal como o vi agora.  

            Também, encontrei pessoas, mas não consigo lembrar-me delas. Conheci-as, já as devo ter visto alguma vez. Tento constantemente lembrar-me dos seus rostos para recordar os nomes. Mas, quanto mais me afasto desse acontecimento cada vez se tornam menos claras as recordações.

            Julgo poder dizer que nunca experimentara tal sensação de felicidade e de alegria como durante aquelas horas no mundo maravilhoso; digo horas, mas não sei ao certo quanto tempo durou, Devem, ter sido os minutos ou horas em que fui considerada clinicamente morta.”

             (Condensado de “O Globo”, 31-10-61.)  

             Nota da Redação: Casos semelhantes acham-se registrados em livros, e a próprio “'Reformador” já publicou alguns, notando-se em todos um aspecto deveras significativo: a vivência da pessoa clinicamente morta, num plano extra corpóreo, de além túmulo, tão real quanto o nosso, demonstração insofismável de que a vida continua...

 


Fenômenos mediúnicos

 


Fenômenos mediúnicos

Albino Teixeira por Chico Xavier  

Reformador (FEB) Abril 1962.

             Os fenômenos mediúnicos a se evidenciarem, inevitáveis, nas estradas do homem, guardam expressiva similitude com a presença das águas, nos caminhos da Terra.

            Águas existem, por toda a parte.

            Possuímo-las cristalinas em fontes recamadas de areia, pesadas de barro nos rios que desgastam o solo, tisnadas na sarjeta em que rolam depois da chuva, lodacentas no charco, furtadas de represas concentradas em lagoas infectas, amargas em poços largados no esquecimento, semi-envenenadas nos esgotos de lama...

            Todas elas, contudo, podem ser decantadas, medicadas, purificadas e renovadas para servir.

            Assim também os fenômenos mediúnicos.

            Venham de onde vierem, assinalam-se por determinado valor.

            Entretanto, é preciso não esquecer que devem ser examinados, raciocinados, interpretados e compreendidos pata mostrarem proveito justo.

            Para eles e junto deles, todos nós temos a Doutrina Espírita por filtro de tratamento.

            À vista disso, não desprezeis fato algum, mas, igualmente, em tempo algum não vos canseis de estudar.


quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Perdoados, mas não limpos

 

Perdoados, mas não limpos

Emmanuel por Chico Xavier  Reformador (FEB) Fevereiro 1962

             Em nossas faltas, na maioria das vezes, somos imediatamente perdoados, mas não limpos.

            Fomos perdoados pelo fel da maledicência, mas a sombra que tencionávamos esparzir, na estrada alheia, permanece dentro de nós por agoniado constrangimento.

            Fomos perdoados pela brasa da calúnia, mas o fogo que arremessamos à cabeça do próximo passa a incendiar-nos o coração.

            Fomos perdoados pelo corte da ofensa, mas a pedra atirada aos irmãos do caminho volta, incontinenti, a lanhar-nos o próprio ser.

            Fomos perdoados pela falha de vigilância, mas o prejuízo em nossos vizinhos cobre-nos de vergonha.

            Fomos perdoados pela manifestação de fraqueza, mas o desastre que provocamos é dor moral que nos segue os dias.

            Fomos perdoados por todos aqueles a quem ferimos, no delírio da violência, mas, onde estivermos, é preciso extinguir os monstros do remorso que os nossos ensinamentos articulam, desarvorados. 

*

             Chaga que abrimos na alma de alguém pode ser luz e renovação nesse mesmo alguém, mas será sempre chaga de aflição a pesar-nos na vida.

            Injúria aos semelhantes é azorrague mental que nos chicoteia.

            A serpente leva consigo a peçonha que veicula.

            O escorpião carrega em si próprio a carga venenosa que ele mesmo segrega.

 *

             Ridiculizados, atacados, perseguidos ou dilacerados, evitemos o mal, mesmo quando o mal assuma a feição de defesa, porque todo mal que fizermos aos outros é mal a nós mesmos.

            Quase sempre aqueles que passaram pelos golpes de nossa irreflexão já nos perdoaram, incondicionalmente, fulgindo nos planos superiores; no entanto pela lei de correspondência, ruminamos, por tempo indeterminado, os quadros sinistros que nós mesmos criamos.

            Cada consciência vive e evolve entre os seus próprios reflexos.

            É por isso que Allan Kardec afirmou, convincente que, depois da morte, até que se redima no campo individual, “para o criminoso a presença incessante das vítimas e da circunstâncias do crime é suplício cruel.”


terça-feira, 3 de novembro de 2020

Conversa com os médiuns

              

Conversa com os Médiuns

por Percival Antunes  Reformador (FEB) Fevereiro 1962

 

            Entre as obras de alto valor doutrinário que a Editora da Federação Espírita Brasileira tem divulgado, encontra-se “Ensinos Espiritualistas” de William Stainton Moses, médium de diversas mediunidades, que desfrutava de enorme prestígio em sua época, não só por sua erudição como por sua esmerada educação moral

            Médium do nobre Espírito “Imperator”, pode ele legar ao mundo um dos livros mais interessantes e elevados da literatura espírita.

            Dele vamos reproduzir, para esclarecimento dos leitores que ainda não o conhecem, algo relativo aos médiuns. São conselhos de “Imperator”, que devem ser seguidos à risca.

 

                                                 A atitude dos médiuns

 

            Todos os médiuns muito desenvolvidos devem ser circunspectos: é sempre perigoso, para eles, fazer parte de grupos submissos a influências que lhes são desconhecidas. Forcejai por vir ao Centro com o vosso espírito paciente e passivo, e assim obtereis mais facilmente o que desejais.”

             Nota - Esse perigo, de que fala “Imperator”, também pode atingir os médiuns incipientes, mal orientados ou rebeldes, que não sigam as instruções do Guia ou do seu Diretor de trabalhos mediúnicos. O médium somente deve trabalhar sozinho depois

que para isso estiver autorizado pelo Guia. E somente os médiuns desenvolvidos se encontram capazes disso. Os outros, inexperientes ainda não devem fazê-lo, pois ficariam sujeitos a perturbações nocivas e a contratempos perigosos.

Cuidados necessários

             “lmperator” fez com Stainton Moses o que o igualmente nobre Espírito Emmanuel sói fazer com Francisco Cândido Xavíer: ampara-o, orientando-o. Em sua ausência, outros Espíritos igualmente dedicados, como “Rector” e “Prudens”, faziam-lhe as vezes, com idêntica elevação de propósitos.

             “Devereis sempre preparar-vos no moral e no físico para ficar em estado de vos comunicar. Já vos dissemos que não podemos operar quando o estômago está repleto de alimento e hoje acrescentaremos que o organismo não deve estar enfraquecido.

            “É tão inconveniente debilitar as forças vitais, deixando de se nutrir, como embrutecer-se pela gulodice e pela bebida. O ascetismo e o completo abandono aos desejos são extremos que nada produzem de bom. O estado intermediário deixa as forças corpóreas em perfeito equilíbrio, enquanto as faculdades mentais são nítidas e calmas. Requeremos uma inteligência ativa, nem débil nem sobre excitada, e um corpo vigoroso, sem excesso nem desfalecimento.

            “Cada homem pode, pelo exercício de uma fiscalização judiciosa sobre si mesmo, chegar a esse estado, que o torna ao mesmo tempo mais apto a desempenhar a sua tarefa na Terra e a receber as instruções que lhe são enviadas. Os hábitos cotidianos são muitas vezes mal dirigidos, o que torna doentes os corpos e os espíritos. Não indicamos regimes fora da recomendação de ter em tudo, cuidado e moderação. Quando estamos em contato pessoal, podemos então dizer o que convém às necessidades particulares. Cada um deve procurar o que melhor lhe convém.

            “Ensinar a higiene do corpo como a da alma, faz parte da nossa missão. Declaramos a todos que o cuidado judicioso do corpo é essencial ao progresso da alma.

            “O estado de existência artificial que prevalece; a ignorância quase total do que concerne à nutrição e ao vestuário; os viciosos hábitos de excesso, que estão muito espalhados, são obstáculo sérios para atingir a verdadeira vida espiritual.”

             Nota - Soberba lição, essa. E muito oportuna também em nossos dias. É ideal que os médiuns, ao se dirigirem ao trabalho mediúnicos, levem o corpo e a alma limpos. Tudo que contraria a higiene constitui forma de vibração negativa.

 Receptividade do médium

             “A tarefa mais difícil para nós é escolher um médium pelo qual as comunicações de Espíritos elevados possam tornar-se públicas.

            “0 médium deve ter faculdades receptivas, pois não podemos inocular em seu cérebro maior número de informações do que a que pode receber; além disso, ele deve afastar-se de estultos preconceitos mundanos, convindo que tenha retificado os erros da sua mocidade e provado que pode aceitar uma verdade, ainda que seja impopular.

            “Ainda mais: deve estar livre do dogmatismo teológico e de ideias sectárias preconcebidas. Não deve estar sob a influência de noções terrestres, nem permanecer ligado à enganadora ilusão de que ele sabe, pois isso é ser ignorante de sua própria ignorância.”

 Conselhos aos médiuns

             “Mantende vos tão passivo e tranquilo quanto o puderdes, e não experimenteis comunicar-vos conosco quando estiverdes excitados pelo trabalho, agitado por aflições ou com o corpo fatigado. Auxiliai para que aperfeiçoemos a nossa experimentação, em em vez de intervirdes para corrompê-la.

            "Um corpo excitado ou inerte e um espírito vago e inativo impedem-nos de operar livremente.

            “Para nós, tudo está subordinado à educação do espírito, que deve desenvolver-se sem cessar.”

             Nota – Depreende-se daí quão importante se torna também o ambiente de trabalho. Há necessidade de que os assistentes colaborem com boa-vontade, mantendo pensamentos puros e voltados para a tarefa que se realiza. Só pode trazer resultados satisfatórios a comunhão de ideias elevadas.

            Nestas poucas linhas retiradas de uma das obras mais notáveis do Espiritismo, terá o médium uma ideia pálida da enorme importância do trabalho que foi chamado a realizar.


segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Desapontamentos

 


Desapontamentos

Valérium por W. Vieira

Reformador (FEB) Fevereiro 1962

 

            O homem ocioso repousara em excesso e perdera o sono.

            Tentando dormir mais uma vez, recolheu-se em aposento isolado.

            Depois de algum tempo, ressonava...

            Respiração estertorosa.

            Assobios estridentes.

            Passa um, quarto de nora.

            Emitindo sons mais altos, acorda a si mesmo.

            Levanta-se e sai, furioso, procurando o suposto responsável pelo desagradável ruído que o despertou...

 *

             Muitos atos das criaturas são semelhantes a esse.

            Aspiram simplesmente ao sono do repouso falso.

            E, quando, despertam, contrariadas, para a realidade espiritual que as cercam, buscam, em desespero, alguém a quem possam incriminar por sua incúria e desgosto, mas encontram, invariavelmente, em si mesmas, as únicas responsáveis.  

            Assim ocorre nas pequeninas contrariedades da vida humana e nas grandes desilusões da vida espiritual, após a viagem da morte.

 *

          Não culpe a ninguém por suas frustrações, presentes ou futuras.

            Ore, vigie e analise os próprios desapontamentos e verá que, ressonando na ociosidade e acordando na dolorosa vigília do arrependimento, o único responsável por eles é sempre você mesmo.


domingo, 1 de novembro de 2020

Finados

 


Finados
por Thiago
Reformador (FEB)  Novembro 1980

            Aos 2 de novembro, todos os anos e em toda parte, cultuam os homens a memória dos seres amados que partiram para o outro lado da vida. Induzidos por esse hábito do culto aos chamados mortos, vão em romaria aos cemitérios, levando flores, e lá se quedam em orações junto aos túmulos dos seus finados, nem sempre isentos de amargurada tristeza.
            Piedosa tradição de todos os povos, nenhum reparo há que fazer a esse culto, em dia e lugar consagrados, enquanto manifestação sincera de amor e de saudade, ao mesmo tempo que de respeito e veneração aos entes queridos que se foram.
            O espírita, contudo, que no dia universalmente consagrado aos chamados mortos - ou finados - não comparecer a necrópoles majestosas para orar junto aos túmulos, que sabem vazios de qualquer traço do que foram as individualidades reais daqueles que amaram e amam e onde apenas foram inumados os seus despojos perecíveis, não peca contra qualquer sentimento de amor e de saudade, nem falta com o respeito e a veneração que lhes são devidos. Ele - o espírita verdadeiro e sincero - sabe que esses sentimentos, essas lembranças, essas saudades podem, dirigindo-se a Espíritos libertos, legitimamente manifestar-se em simples e puros pensamentos, através de preces despidas de quaisquer objetivações exteriores, partidas do fundo dos seus corações e que serão recolhidas pelos entes queridos também em seus corações, mas como Espíritos, que prescindem, para recolhê-las, de locais determinados e dias consagrados.
            Respeitáveis são as tradições e respeitados devem ser os atos piedosos dos que ainda têm apenas vagas noções do que seja realmente um morto - assim chamado -, que é, entretanto, o verdadeiro vivo, e de como ele vive no plano espiritual que a todos nós espera quando libertos da prisão e dos grilhões carnais.
            Não existe a morte, sabe-o hoje de modo cabal todo verdadeiro espírita. Morto é apenas o corpo, simples veste passageira do Espírito que, em realidade, é o verdadeiro ser, na sua individualidade consciente e imortal, eterno desde a sua criação e destinado pelo Criador a progredir sempre, até a Perfeição - seu alvo supremo -, e, então, será Espírito puro.
            Pode, então, o Espírita, em sã consciência, substituir o culto tradicional - em outros respeitáveis e, para muitos, indispensáveis, pela simples lembrança, em pensamento e oração, que sempre pode ser feita, em qualquer momento ou em qualquer parte, quer no templo da natureza, sob a abóbada de um céu matinal, azul e límpido, ou quando, à noite, já recamado de estrelas, quer no recesso do lar, no santuário doméstico, a sós e recolhido, ou em reunião com os outros seres amados, que ainda vivam neste mundo.
            O de que, porém, o verdadeiro espírita não mais duvida, o de que ele tem, ao contrário, absoluta certeza é que os mortos vivem e, na verdadeira vida, lhes apraz serem lembrados com amor e tranquila saudade, serena e terna, que comunica aos caros invisíveis a certeza de que ainda são amados, venerados. Isto lhes propicia verdadeira felicidade, ao contemplarem os seres queridos, que aqui deixaram, resignados com os desígnios divinos, animosos trabalhando pelo progresso próprio e da Humanidade e mais do isso, certos do futuro reencontro na verdadeira pátria que está no Além.
            Esqueces, pois - se já o podes -, os túmulos em terra rasa ou erigidos em suntuosos mausoléus, mas consagra sempre, aos teus finados, pensamentos de amor e tranquila saudade, porque, cada vez que o fizeres e onde quer que seja, Espíritos felizes te contemplarão sorrindo do outro mundo e, numa reciprocidade onde o verdadeiro amor e a gratidão estarão reunidos, também por ti dirigirão preces ao Eterno, recomendando-te à sua bênção e à sua proteção e divino amparo, fortalecendo-te o espírito nas lutas e provações necessárias desta vida na Terra transitórias, enquanto aguardas, na resignação ativa e no trabalho que aperfeiçoa, o futuro reingresso na Vida verdadeira e eterna