Pesquisar este blog

sábado, 9 de janeiro de 2016

O Retrato de Roustaing

As fotos que aparecem junto às milhares de postagens que já fizemos 
tem o objetivo de 'colorir' o texto ou de relembrar personagens da história espírita. 

No caso de J.-B.Roustaing - o notável escritor e médium amigo de Kardec -,
 infelizmente não existem registros de sua última encarnação, 
nem sob a forma de pintura nem sob a forma de retrato. 

Um companheiro blogueiro entendeu que uma das fotos semelhantes 
às que aqui expomos seria de Roustaing. 

Ledo engano. 
Essas fotos foram tiradas no centro histórico de Frankfurt, Alemanha.

Desfeito o mal entendido, que o amigo blogueiro receba 
nossas mais fraternas saudações de respeito. 




terça-feira, 5 de janeiro de 2016

No templo da união fraternal

       Meus amigos, Jesus nos abençoe.

       Espiritismo no Brasil é a revivescência do Evangelho de Redenção. Não nos esqueçamos dessa verdade simples, para que não estejamos desajustados, à frente das responsabilidades que esposamos perante o Senhor.

            Em outros climas sociais e políticos, a Doutrina Consoladora dos Espíritos tem sido relegada à retorta ou à discussão, convertendo-se em mero experimento científico ou em pura divagação filosófica, procrastinando-se divinas realizações do Plano Superior que objetivam a sublimação da Humanidade.

            Raros círculos, fora do santuário brasileiro, guardaram fidelidade à expressão real do Espiritismo, como genuíno mensageiro de Nosso Senhor Jesus-Cristo, na restauração da Boa Nova, em sua primitiva feição.

            E, amparados pelo "acréscimo da Misericórdia Divina", nosso movimento expressa em suas atividades essenciais o soerguimento do homem para a era nova, descerrando vastos horizontes ao conhecimento santificante, como fator decisivo de recondução do homem moderno às bases da civilização cristã, que esperamos seja efetivamente erguida no Planeta, nos séculos futuros.

            Somos, desse modo, no Brasil, obreiros da Celeste Revelação, trabalhando na construção da legítima fraternidade, que, em nos regenerando, retificará igualmente a esfera em que evoluímos, no rumo das supremas edificações do espírito na glória porvindoura.

            Não podemos assim, segundo nos parece, comprometer a estabilidade de um cometimento que, no fundo, não nos pertence, estabelecendo qualquer serviço de incompreensão ou intolerância que redundaria em maior agravo de responsabilidade para nós mesmos.

            Aprendamos, pois, a decidir nossas afirmações de trabalho e a solucionar os problemas que nos afligem no templo da união fraternal, sob a inspiração do Mestre que nunca falha, a benefício dos discípulos de boa-vontade. Não possuímos, pessoalmente, qualquer credencial que nos autorize a formular apelos à concórdia e à compreensão dos votos que abraçamos diante de Jesus.

            Cada qual de nós permanece no setor de luta que lhe foi atribuído pela Eterna Sabedoria e devemos, antes de tudo, cultuar o respeito à tarefa dos nossos associados de ideal, sem interferências descabidas no esforço a ser realizado individualmente por nós todos, nas linhas de ação renovadora que nos reúne os braços e os pensamentos, as esperanças e os corações. Contudo, tanto quanto nos seja possível, auxiliemo-nos uns aos outros para que a obra da unificação dos espíritas do Brasil não periclite por nossa causa.

            Recordemos a gravidade da hora que o mundo inteiro atravessa, desfalecendo à míngua de cooperação e de entendimento, de humildade e de amor e não nos esqueçamos de que quase um milhão de companheiros do Espiritismo Cristão, na terra que nos acolhe, esperam de seus orientadores exemplos de fé e trabalho sadio, de esforço e renunciação pessoal, na aplicação com o Mestre da Eterna Verdade.

            O momento não comporta divergências e deserções, no escuro desvão das atitudes precipitadas, e, na abençoada sementeira de luz que, entre nós, se cobre de flores, não será justa a deliberada implantação do escalracho venenoso do personalismo desequilibrado, erva sufocante e daninha que, em todos os tempos, tem asfixiado as melhores esperanças da Humanidade melhor.

            Considerando, desse modo, o patrimônio das obrigações que nos foram cometidas, doemos todos os recursos ao nosso alcance, para que o nosso programa de harmonia e confraternização não se reduza a discursos e textos brilhantes, sem significação para as nossas tarefas substanciais.

            Alguém já disse que "o Espiritismo será aquilo que os homens dele fizerem", porque, indiscutivelmente, somos a instrumentalidade de Jesus, concretizando-lhe os planos de redenção sobre a Terra. Façamos, pois, quanto estiver em nossas possibilidades para que as resoluções da nossa Doutrina de Amor sejam firmadas em assembleias dignas do nosso movimento de santificação, para que a vitória nascente de nossa união evangélica seja, de fato e de verdade, hoje e sempre, uma bandeira de esperança e salvação para o mundo, em nome de nosso Divino Mestre e Senhor.

(Mensagem recebida em Pedro Leopoldo, no dia 31 de agosto de 1953,
pelo médium Francisco Cândido Xavier,
dirigida a Francisco Spinelll, Bady Elias Curi e José Simões de Mattos.
Publicada em "O Espírita Mineiro", de agosto-1953,
e no "Reformador", de novembro-1953, páginas 257/8.)

No templo da União Fraternal
Emmanuel por Chico Xavier

Reformador (FEB) Março 1976

domingo, 3 de janeiro de 2016

Perguntas-te se eu estava triste...



           Perguntaste se eu estava triste e eu te disse que não. Às vezes, minha amiga, nós olhamos o mundo e o nosso semblante fica um tanto turvado! Não é tristeza, não; minha amiga, é receio que fantasia o nosso olhar de tristeza. Sim, receio da vida face àqueles a quem queremos o maior bem. Dizem que não nos devemos preocupar. Eles aprendem por si mesmos.  A vida ensina... Mas,  esta frase só serve para ser lançada às pessoas de mau caráter: àqueles que não olham: para os coitados que atravessam as ruas ,em cotoveladas conosco, tantas vezes ziguezagueando, à procura de uma paz que não encontram nunca! E o mais feliz face às coisas da Terra, segue rápido, sem dar atenção a nada; é o vencedor que não tem tempo para olhar os vencidos.

            E o chão das ruas vai resistindo aos corações de pedra de tanta gente que esconde as alegrias só para si!

            E o homem simples caminha, levando suas tristezas cobertas de lamentos surdos!

            E aquele pai atônito suplica ao mundo que não leve sua filha aos esconderijos da dor!

            E o herói que nada temera na guerra pergunta aflito à Vida para onde teria levado seu filho!

            E a criança sem lar pergunta às gotas de chuva onde está a Mãe que nunca vira!

            E as lágrimas embaçando os olhos de tontos sofredores desafiam a vaidade, lançando-se sobre as calçadas escorregadias!

            E os felizes, em função dos bens terrenos ainda se queixam das pequeninas
cotoveladas sofridas nas ruas cheias de gente ansiosa de paz; mas, aquém, o tormento espreita em todas as esquinas.

            Minha querida consóror: não é tristeza, não, é receio. Receio face àqueles aos quais queremos bem. Porque, enfim, depois de tanta luta, quase sempre encontramos novos solos áridos à espera de novos lamentos! É a roda das encarnações...

            Minha amiga: O grande lenitivo, nós o sabemos, não está na Terra que pisamos, que chora e sofre conosco. Crê-me: o grande lenitivo, a grande esperança, está na convicção da vida espiritual, de que nos falam o Evangelho e a Terceira Revelação! Para alcançá-la, é preciso haver sofrido, haver chorado, haver vivido a vida de desenganos, de ingratidões, de decepções, haver resgatado os débitos da vida precedente! Mas, ainda que tenhamos um quadro resplandescente sobre a vivência espiritual, ainda assim sofremos, não por nós, mas pelos nossos entes queridos que ainda não compreenderam a Doutrina Espírita e,  menos experientes, se acham lançados nessa rude marcha da Vida.

            A mocidade, essa boa e alegre mocidade, segue feliz, graças a Deus! Mas nós a acompanhamos com o coração, emitindo verdadeiras sinfonias patéticas, em função de nossa experiência já sofrida.

            E quantos pais há que não podem ser felizes neste palco da vida onde seus filhos são atores lançados não só às comédias, mas também aos dramas e às tragédias!

* * *

            Mundos de provas e expiações, de que tanto nos falam Kardec e Roustaing!

            Minha querida amiga, minha consóror, não é tristeza, não, é receio.

            Nós sentirmos vibrar em nossas almas a luz doutrinária.

            Sabemos que as melhores moradas do Pai estão à nossa espera, em função de nossa redenção.

            Sabemos que tudo que vive neste mundo: natureza, animal, homem - sofre.

            Sabemos que muitos sofrimentos nossos foram por nós próprios escolhidos quando do preparo de nossas encarnações.

            Sabemos que não há grandeza sem sofrimento, nem purificação sem provação.

            Mas, minha querida amiga: o que tenho não é tristeza, não, é receio!...

            Ainda ontem, li um soneto do poeta Jacy Pacheco, este bom amigo, por Deus premiado com sua alma de artista. Assim disse o sei “Inevitável”:

Meu pequenino filho, eu bem quisera
tua alma acalentar, na iluminura
das lendas encantadas, na doçura
de um eterno reinado de quimera.

Mas. .. crescerás. E a sorte que te espera
é a mesma que me deu muita amargura!
As fábulas que embalas com ternura
sucumbirão ante a verdade fera!

Os teus brinquedos, que acarinhas tanto,
- eu antevejo com pesar profundo -
a pouco e pouco perderão o encanto.

Ah! Quantos pensamentos me consomem!
Pensar que, triste, enfrentarás o mundo,
saber, meu filho, que serás um homem!

* * *

            Minha querida amiga, a Doutrina maravilhosa de Jesus, confirmada pelo Espiritismo, nos ensina:

            É preciso viver muitas vidas para aprendermos a ver sofrer aquele a quem queremos bem!.. E só os milênios e milênios de dores é que fazem os Santos!

Perguntas-te se eu estava triste...
Aldemar Velloso

Reformador (FEB) Brasil Espírita (Outubro) 1971

sábado, 2 de janeiro de 2016

Herói Obscuro


Pai João! Tão velhinho
Que já perdeu a conta
Dos anos que viveu...
Os seus cabelos encarapinhados,
Que ainda fazem mais preta
A pele que Deus lhe deu,
Lembram um carneirinho
Muito branco
Na orla de um monte quando desce a noite...
Artrítico, pés tortos, passo lento,
Anda apoiado à rústica muleta
E quando o inverno brande o seu açoite,
E o capim, de pendões arroxeados,
Cobre as montanhas ondulando o vento,
Pai João sente um frio!

Flor da pobreza,
Impregnado de mato,
Como um ninho de pássaro, arredio,
O seu casebre pequenino esponta
Em plena natureza,
A se espelhar na água tranquila
De um regato...
Um fogão de tijolo, um catre, um banco
E algumas coisas mais ali se encontram.
A riqueza, porém, de Pai João
É o seu cachimbo e umas imagens gastas
De Jesus e Nossa Senhora
Que ele adora
Com ternura infinita
E em suas preces fita,
As mãos trêmulas sobre o coração...

Buscam lhe ainda as benzeduras,
Feitas com fé imensa
Que lhe acende a pupila,
Doentes de alma e corpo
Confiantes no êxito das curas...

Doce velhinho
Abençoado mineiro
Que ajudaste a extrair, assíduo e nobre,
Um dos tesouros colossais
Desse estupendo solo brasileiro,
Hás de morrer no esquecimento e pobre
Sem o carinho
E a recompensa
Que mereces!
Tu, cujos braços trabalharam tanto
Nos opulentos cafezais
E hoje são como galhos ressequidos
De uma árvore cansada de dar frutos...
Vemos-te por teu singelo encanto,
Pelos teus sentimentos impolutos,
Porque esqueces
As tuas cicatrizes
O martírio da tua mocidade
De castigos atrozes,
Falar aos brancos afetuosamente
Humildemente,
E nunca te revoltas, nem maldizes
A injustiça dos homens
Que em tempos idos
Foram teus algozes!

Todos te sabem preto, Pai João!
Mas ninguém soube definir ainda
Qual a cor da tua alma pura e linda,
E de Perdão...
Herói Obscuro
Carmen Cinira
por Chico Xavier

Reformador (FEB) 01.04.1949 ?

Antônio Luiz Sayão



            Em nossa caminhada, passo a passo com Jesus, muitas foram as vezes em que fomos amparados pela palavra amiga de Antônio Luiz Sayão. Sua contribuição para o
esclarecimento e divulgação da mensagem espírita foi e continua sendo muito importante. Assim, nada mais justo que fazer uma pausa nessa caminhada, para dedicar a ele o merecido espaço em nossas postagens. Ajuda-nos, o livro de Zêus Wantuil - Grandes Espíritas do Brasil, publicação FEB:

            Antônio Luiz Sayão desencarnou em dia de festa nos dois planos. No plano espiritual celebrava-se a chegada de mais um completista, pela adjetivo criado mais tarde por André Luiz, quando se refere a todo espírito que consegue levar a bom termo as obrigações assumidas previamente à sua reencarnação na Terra.

            Festa no plano físico pois, naquela data -31 de Março- o Codificador do Espiritismo também tinha feito sua passagem para um plano maior.

            Estávamos em 1903 e o Movimento Espírita renovava-se em seus valores encarnados, uma vez que, em curto espaço de tempo, tinham galhardamente cruzado a porta estreita nomes de importância, a saber; Bittencourt Sampaio, Bezerra de Menezes, Isabel Maria Sampaio, Manuel dos Santos Silva e outros, membros do Grupo dos Humildes (depois Grupo Ismael).

            Antônio Luiz Sayão nasceu no Rio de Janeiro, em 1829. Diplomou-se em Ciências Jurídicas em São Paulo, SP.

            Exerceu a advocacia, no Rio de Janeiro, por muitos anos. Converteu-se ao Espiritismo ao ver recuperada sua mulher, que padecia de horríveis males, por anos, e que foi curada por misericórdia de Deus que se serviu de médico homeopata, veículo da cura divina. Sua conversão foi escrita em carta de próprio punho, publicada no Reformador de junho de 1891.

            O prefácio de seu livro mediúnico "Elucidações Evangélicas", é datado de abril de 1896. Das palavras de Sayão aos seus leitores, transcrevemos pequeno trecho: 

            "Da árvore do bem, à cuja sombra repousei um dia, cansado das fadigas de uma existência atribulada, colhi os dulçurosos frutos, que hoje convosco reparto.
            Em maior abundância quisera dar-vo-los; infelizmente, a hora da colheita não foi ao levantar da aurora mas sim ao cair da tarde.
            Poucos, esses mesmos não seriam colhidos, se de Jesus a luz bendita não viesse afugentar da noite as trevas, que já se aproximavam no horizonte e que me envolveriam em meio dos meus labores.
            As páginas deste humílimo livro simbolizam os frutos de que vos falo.

            Nelas encontrareis as doçuras de uma outra vida; nelas encontrareis o remanso das vossas dores, se porventura sofreis." 

Consciência e Responsabilidade



            O homem é o único responsável pela aflição e pela angústia em que se debate, que apontam compromissos sérios assumidos diante da própria consciência.

            Para explicar tal situação, não nos cabe aqui dar busca nos escaninhos do Universo, nem mesmo fazer retrospecto dos erros milenares, os quais lançaram à geena, aos poucos, a humanidade terrestre. Trabalho já executado, merece, contudo, algumas considerações em face da riqueza de matizes que traz no bojo, sempre que entendido de acordo com os princípios de iluminação que o nosso Pastor veio trazer-nos.

            Atualmente, esses princípios ganharam sua verdadeira vida com o Espiritismo, renascença suprema do Evangelho, que veio a favor dos homens, visando fornecer
subsídios para o restabelecimento da pureza original do Espírito. Em momento algum o Espiritismo deve ter sido como veículo de projeções pessoais, com que venhamos a
agradar quem quer que seja, em prejuízo da Doutrina. E, muito menos, que através dele jamais se endossem ideias anticristãs, sendo, para tanto, o nosso critério único aquele do Evangelho. Façamos praça do postulado de base no Espiritismo: a liberdade com responsabilidade, perante Deus, perante nossa consciência. Por isso, recordemos, já não mais temos que lançar mão dos meios mundanos, caracterizados pela hipocrisia contumaz, nos quais, a pretexto de bem viver, simulamos deferência ao próximo, odiando-o cortesmente. Ao contrário, nosso proceder estará pautado tão somente no fato de encararmos com benevolência a realidade do mundo, por estarmos conscientizados de suas carências profundas, sem que nos adaptemos aos desvarios que a inexistência de equilíbrio costuma acarretar, e, principalmente, por fazermos profissão de fé espírita e, portanto, raciocinada, a fim de que alcancemos a unidade de entendimento na unidade do amor.

            Em face disso, é útil relembrar a existência dos mais variados interesses, em sua maioria conflitantes, na arena da humanidade, já nos últimos gritos do inconformismo. É lícito a esses que ainda vivem na cegueira a busca de posições de destaque na sociedade, ou o culto ardente às perspectivas - que lhes são ainda grandiosas - de vitória no terreno das facilidades do mundo. Desculpam-se lhes, de certo modo, faltas que mais não nos cabe cometer, porque ainda não abandonaram os antolhos da aparência, permanecendo escravizados do imediatismo. Em seus raciocínios confundidos é perfeitamente plausível o esforço de competir violentamente com o próximo, porque eles ainda vivem no plano do banal, contrario em essência ao espiritual. Por isso, abalançamo-nos a perguntar aos companheiros: será conveniente nossas transformação em feras esfomeadas, para que possamos auxiliar o mundo? Se é lícito ao homem buscar bens imediatos, será conveniente àquele que os recebeu procurar granjear a todo custo, sem prejuízo da coerência, as fugacidades do mundo? Qual há de ser a atitude do espírita, que em si e por si já é o cristão, se bem vive o Evangelho? Compactuar com a terra, ou lutar em seu beneficio, sobrepujando quaisquer orgulhos e vaidades?  

            Parece-nos, cumpre que repitamos, imperiosa a tomada de consciência do espírita no Espiritismo verdadeiro.

            Para todos nós, disputas mundanas não passam de miragens no deserto de aridez espiritual, principalmente se trazidas para o corpo do Espiritismo. É urgente a compenetração de que nossa luta é íntima; de que só temos como contendor o egoísmo, com seu séquito de misérias morais.

            Avante, portanto, na luta deflagrada contra suas barricadas, nós que permanecemos na trincheira do amor, porque os entrechoques do mundo se veem esgotados com a descida do véu da grande transição. Mas, a competição do amor contra o ódio é a luta verdadeira do homem novo contra o homem velho.

            Na consecução desse ideal, que já se torna realidade, acima de tudo unamo-nos, sem precipitações, na batalha contra as sombras, porque acima delas está o Sol Inapagável, único que nos há de acalentar por toda a eternidade.

            Paz.

Consciência e Responsabilidade
por Sayão

(Mensagem recebida na sessão pública de 17-9-1974, na FEB - Seção Rio.) 

Fidelidade à Doutrina



            Amigos em Jesus, meu abraço a todos como saudação fraternal e saudosa!

            Após período ainda não finalizado de recuperação física aqui no mundo espiritual (considero a minha vida aí todo um longo período de recuperação moral), venho trazer a palavra alegre daquele coração que, jubiloso, agradece a Jesus, na Casa de Ismael, a bênção do retomo ao trabalho redentor.

            É ele ainda um recomeço, mas aí como aqui o tempo é curto e escassos os trabalhadores: aqueles sinceros, que se aproximam desta casa e do trabalho que ela significa, com vontade de anular-se em suas personalidades para que o serviço da Caridade verdadeiramente renda e progrida. Há tanto a ser feito, a obra de evangelização ainda pode ser considerada como apenas iniciada, que todos os que amam esta Doutrina Cristã com aquele sentimento semelhante ao do náufrago a quem é lançada a salvação, não podem declarar-se cansados ou desanimados.

            Animados sejamos da certeza de que o Senhor dará ao servidor as energias de que precisa, suprindo-lhe as carências de toda sorte. Pede-lhe apenas firmeza de propósitos, fidelidade à Doutrina, seu estudo e prática cotidiana da moral evangélica, cuja vivência será em realidade o único marco de distinção entre os espíritas-cristãos e os demais companheiros de lutas.

            Precisamos todos uns dos outros, e todos, inegavelmente todos, precisamos do Evangelho como guia de nossas provas e atividades dentro da Seara. Nele encontraremos todas as forças, esperanças, todas as respostas. É amigo fiel e seguro, no qual aprendemos, chorando e sofrendo, mas persistindo sempre na decisão realizada, a superar o mundo de erros, paixões e crimes que vivências criminosas geraram para todos nós.

            Feliz em poder estar com todos nesta Casa que sempre nos abrigou e auxiliou, humildemente peço as bênçãos do Senhor para os corações queridos que, sob os apupos do mundo - até mesmo o espírita - se dedicam a manter inabalável o lema ismaelino que lhe encima o pórtico.

            A irmã e amiga,

                                                           Yvonne

Fidelidade à Doutrina
Yvonne por Tânia de Souza Lopes

Reformador (FEB) Julho 1984 



Yvonne A Pereira - sua desencarnação


             No dia 9 de março corrente (1984), às 22 horas, aproximadamente, no Hospital da Lagoa, onde havia sido internada poucas horas antes, desencarnou a irmã e conhecida médium cujo nome dá titulo a esta página.

            Ao sepultamento, ocorrido no dia seguinte, 10 de março de 1984, às 16 horas, no Cemitério de Inhaúma, compareceram numerosos confrades e amigos, entre os quais se achava o representante da Federação Espírita Brasileira, na pessoa do seu Vice-Presidente Juvanir Borges de Souza, que representava também pessoalmente o Presidente Francisco Thlesen, a pedido deste.

            Momentos antes, os confrades presentes reuniram-se em torno do esquife mortuário para elevar a Deus uma prece. Usaram, então, da palavra o seu sobrinho, confrade Cesar Augusto Lourenço Filho, e o representante da FEB. O primeiro leu expressiva página deixada por D. Yvonne, escrita por ela para registrar as horas mais felizes da sua vida, dizendo aos seus irmãos que elas foram exatamente aquelas que pode dedicar ao trabalho na Doutrina Espírita. Juvanir Borges de Souza expressou admiração e reconhecimento à irmã cuja existência se extinguia após longo tempo de atividades benfazejas e, com sinceridade, acrescentou que todos, superando naturais sentimentos de pesar, como espíritas convictos, podíamos louvar a Deus pela libertação de um Espírito que, seguramente, reingressava na Pátria Espiritual redimido e merecendo a felicidade reservada aos que cumpriram na Terra os seus sagrados deveres e foram caridosos com os seus irmãos em sofrimento. Após essas palavras, o confrade Lauro de Oliveira S. Thiago fez a prece.

            Encerrou-se, assim, a existência terrena de D. Yvonne Amaral Pereira, médium dotada de valiosas faculdades, sempre postas a serviço do bem aos seus semelhantes e da Doutrina Espírita, à qual se consagrou com verdadeira devoção e plena consciência do seu imenso alcance.

            "Reformador", em seus números de janeiro e fevereiro de 1982, publicou os "Dados biográficos de Yvonne A. Pereira para a Federação Espírita Brasileira, em revisão feita em 1981, pela própria Autora, de escrito de 1973. Enviamos os nossos leitores, para maiores detalhes, a esse trabalho. Aqui desejamos apenas salientar, como homenagem de sincero afeto e admiração a esse Espírito de escol, os traços fundamentais da sua personalidade e a obra excelente que realizou como médium. Espírito de escol - dizemos - e o justificamos, pois duas coisas que caracterizam a distinção espiritual ela, inegavelmente, tinha: Inteligência e bondade. Não possuía senão a Instrução primária; no entanto, através de grande amor ao estudo e férrea vontade, que a levaram sempre a estudar "sozinha, até duas horas da madrugada", conseguiu adquirir Invejável cultura, conhecimentos literários, filosóficos, históricos, doutrinários, que lhe permitiram produzir obras em que, ao dom descritivo, se unem beleza e correção da linguagem. Escritora espírita de tão apreciáveis recursos, foi D. Yvonne Pereira a autora de dois livros sobre os aspectos da vida no Plano Espiritual, tal como os revelaram os próprios Espíritos, e sobre a mediunidade em si mesma e como, particularmente, ela a experimentou: "Devassando o Invisível" e "Recordações da Mediunidade". São duas obras interessantíssimas, em que o leitor, ao mesmo tempo que se deleita, instrui-se. Escreveu também muitos artigos para jornais do Interior e foi colaboradora de "Reformador", onde muitas vezes apareceu sob o pseudônimo de Frederico Francisco.

            Mas foi, sobretudo, como médium que Yvonne Pereira produziu obras realmente notáveis, entre todas destacando-se "Memórias de um Suicida", devida ao Espírito Camilo Castelo Branco. É obra de inegável valor doutrinário e de apoio e fortalecimento moral a todos que passam por dolorosas provações e expiações nesta vida, ante as quais poderiam ser levados a fraquejar. Além dessa, porém, podem citar-se: "Nas Telas do Infinito", devida aos Espíritos Bezerra de Menezes (Primeira parte) e Camilo Castelo Branco (Segunda parte); "A Tragédia de Santa Maria", devida também ao Espírito Bezerra de Menezes; "Amor e Ódio", ditada pelo Espírito Charles; "Nas Voragens do Pecado", romance mediúnico, como o anterior, mas fazendo parte de uma série de três e ao qual se seguiram "O Drama da Bretanha" e "O Cavaleiro de Numiers", devidos todos ao Espírito Charles; "Dramas da Obsessão", ainda de autoria espiritual de Bezerra de Menezes; "Ressurreição e Vida", belíssima obra devida ao Espírito Léon Tolstoi; e, finalmente, "Sublimação", contos devidos também a Léon Tolstoi (Espírito), com dois capítulos finais do Espírito Charles.

            Sua mediunidade despontou espontaneamente desde a Infância. Aos cinco anos já via os Espíritos e com eles falava, estando a isso de tal modo habituada que lhe era como, coisa natural. Caracterizou-se pela facilidade com que se desdobrava, passando, então, a médium, em estado de emancipação, a ver e a ouvir os Espíritos que, segundo o seu próprio testemunho, lhe apresentavam em quadros vivos as cenas que ela depois teria de descrever nos livros que ía psicografar. Multas vezes caiu em estado cataléptico, letárgico, pela profundidade do desprendimento que a sua modalidade mediúnica lhe proporcionava. Isso ocorreu, Inclusive, na mais tenra Idade, com apenas vinte e nove dias de nascida, escapando de ser sepultada viva, sendo salva pela intuição e a fé maternas, o que constitui fato singularíssimo, ao mesmo tempo que importante e de grande Interesse Instrutivo, mas que não pode ser aqui narrado com a extensão que merece, pelo que enviamos os leitores que ainda não o conheçam ao livro em que a própria médium faz a narrativa: "Recordações da Mediunidade", capítulo 2, pp. 23 e seguintes.

            Nascida em lar espírita, a 24 de dezembro de 1906, num sitio nos arredores da Vila de Santa Tereza, no Município de Valença, Estado do Rio de Janeiro - hoje cidade de Rio das Flores -, desde menina não teve "outra crença senão a espírita".

            Com seus pais, generosos de coração, que abrigavam em seu lar, para os assistir, enfermos e ate mendigos, apesar de não serem ricos, aprendeu a levar vida modesta e conformada com a sua humilde condição social, mas, mesmo assim, a servir com verdadeira caridade os ainda mais necessitados. Recebeu de seu pai, que já no seu tempo fazia reuniões doutrinárias com os filhos semanalmente, "as primeiras lições de Espiritismo e de Evangelho". "Aos doze anos - diz ela - meu pai pôs em minhas mãos "O Evangelho segundo o Espiritismo" e "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec, os quais me acompanharam na travessia da vida e que estudo até agora, sem nunca me cansar da sua leitura. Aos 13 anos, comecei a assistir às sessões práticas de Espiritismo, as quais muito me encantavam, pois eu via os Espíritos se comunicarem, inclusive Bezerra de Menezes e demais assistentes espirituais. Fiz, assim, um grande aprendizado de prática espírita desde a adolescência, o qual muito tem valido aos meus variados desempenhos na seara espírita".

            Como médium psicógrafo trabalhou durante cinquenta anos, desde 1926 até 1980, quase a vida inteira.

            Foi médium receitista durante todo esse tempo e praticou muitas curas espíritas com auxílio de receituário homeopático, bem como através de passes e de preces.

            Foi grande sua atividade com Espíritos obsessores, aos quais dedicava caridosa simpatia e, por isso, captando lhes a confiança, conseguiu muitas curas dos que, por eles, eram obsidiados. Assistiam-na Espíritos da envergadura moral de Bezerra de Menezes, Bittencourt Sampaio, Augusto Silva, Charles e muitos outros. Nesses trabalhos exercia também a mediunidade de incorporação, em sua modalidade psicofônica ou falante. Possuía ainda mediunidade de efeitos físicos e materialização, mas a ela não se dedicou, a conselho mesmo dos seus guias.

            Embora Yvonne Pereira tivesse exercido grande parte de suas atividades mediúnicas e espíritas independentemente e por estímulos próprios, exerceu-as também junto a vários Centros e Instituições espíritas aos quais prestou relevantes serviços, entre os quais podem citar-se: "Centro Espírita de Lavras" (mais tarde "Centro Espírita Augusto Silva" - um dos Espíritos que a assistiam), na cidade de Lavras, em Minas Gerais, o primeiro onde exerceu suas atividades, ainda muito jovem, como Secretária e como médium, responsável pelo "Posto Mediúnico", onde eram tiradas receitas homeopáticas e se processavam os trabalhos de passes e curas espíritas, em geral, dentro de um critério de modéstia e austeridade, sem alarde, e visando apenas à prática da mais pura caridade; "Casa Espírita", de Juiz de Fora, Estado de Minas Gerais, onde foi Secretária, Bibliotecária e Vice-Presidente; "Grêmio Espírita de Beneficência", de Barra do Piraí, no Estado do Rio de Janeiro, em que trabalhou como médium receitista, evangelizadora da infância e expositora da Doutrina; "Centro Espírita Luiz Gonzaga", em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, durante dois anos, em serviço de passes; "União Espírita Suburbana", no Rio de Janeiro, então Guanabara, em serviço de assistência a enfermos obsidiados.

            Não ficam nisso os trabalhos realizados por nossa Irmã, mas o que aí fica dá ideia de quão devotada trabalhadora foi ela da seara espírita, em cujas tarefas encontrava verdadeiro motivo de felicidade. Quem escreve estas linhas teve numerosas oportunidades de sentir isso nas conversas que com ela entretinha, na qualidade de seu médico, ao lado de outros colegas que também a assistiram. Praticando a Medicina de Hahnemann, administrava-lhe medicamentos homeopáticos, conforme seu desejo.

            Sempre a visitávamos em casa de sua Irmã Amália, onde residia, na Piedade. Íamos levar-lhe assistência médica, mas muito também recebíamos, em doação espiritual. Muito nos edificávamos ao constatar o verdadeiro enlevo que ela tinha, quando falava das coisas da nossa Doutrina. Por isso é com emoção que traçamos este registro; ele nos traz ao espírito uma grata lembrança da irmã que encerrou sua existência terrena após vivo testemunho de fidelidade a Jesus, o Mestre Divino.

            Grande foi a prova de D. Yvonne, em suas renúncias e sofrimentos; dolorosa, mas levada com firme decisão e grandeza de alma. Maior ainda foi a sua missão, consolando aflitos, elevando ânimos abatidos, tratando obsidiados e obsessores e, com especialidade, abrindo horizontes de redenção a suicidas, cujos testemunhos alentadores trazia também aos encarnados, ajudando estes a suportar com ânimo os seus fardos, sem desertar jamais dos caminhos da existência, sempre concedida por Deus para o progresso das suas criaturas.

            Paz e felicidade ao Espírito agora liberto é o voto que elevamos a nosso Pai Eterno.      


 Yvonne A. Pereira - sua desencarnação
A Redação - Reformador (FEB) Abril 1984


Do Blog: Yvonne Pereira escreveu inúmeros artigos em ‘Reformador (FEB)’ sob o pseudônimo  ‘Frederico Francisco’. Alguns desses artigos estão presentes neste blog.



Fel de provação


Quando a amargura visitar-te a casa,
Em fel de provação,
Não te esqueças do pranto que extravasa
Do lar de teu irmão.

Na angústia mais sombria, mais extrema,
Não desdenhes calar...
Muita boca infeliz grita e blasfema
Quando julga rezar.

Acharás menos sombra no caminho
Quando encheres de amor
O escuro sofrimento do vizinho
Mergulhado na dor.

Pensa na retaguarda de infelizes
Que te seguem sem pão,
Cheios de fome, sede e cicatrizes,
Desencanto e aflição.

Serve e passa esquecendo o mal e atreva
Porque o dom de servir
É a força luminosa que te eleva
Às bênçãos do porvir...

Não olvides que o Mestre da verdade,
Para fazer mais luz,
Fez-se o Divino Rei da Humanidade
Pelo escárnio da cruz...

Carmen Cinira
por Chico Xavier

Reformador (FEB) Março 1950