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segunda-feira, 3 de maio de 2021

O Cristo Agênere

 


‘O Cristo Agênere – Considerações morais’

Fonte: ‘A queda original segundo o Espiritismo’

por J.-E. Guillet

Pesquisa e coordenação: Jorge Damas Martins

Copyright:  Casa de Recuperação e benefícios Bezerra de Menezes RJ RJ

                 Transcrevemos abaixo trecho das páginas 73 e 74 da obra referida acima na certeza da posterior autorização da CRBBM quanto à flexibilização de seus direitos exclusivos de reprodução.


             Eis agora as objeções e considerações morais.

                “Se o Cristo, diz-se, só teve um corpo fluídico, ele não provou nem a dor nem o sofrimento. Se ele não sofreu, a cena do jardim das Oliveiras, sua paixão e sua agonia são apenas um vão simulacro e uma comédia indigna que lhe tira todo o mérito que ele pode ter aos nossos olhos.”

                Os sofrimentos e a dores são de duas espécies: físicas e morais. Quanto mais o ser se eleva, á medida que seu ideal cresce, ele faz pouco caso das privações, menos ainda dos gozos materiais, e oferece sua vida, de boa vontade, para o triunfo de uma ideia. É como se tem visto os heróis e os mártires, por meio dos mais cruéis suplícios, morrerem com sorriso nos lábios. Vede Joanna D’Arc, Savoranola e todos os grandes perseguidos, e dizei se neles o sofrimento moral não ultrapassou a dor física?

                Mas sem procurar exemplos tão altos, qual é aquele dentre nós que, vendo sofrer alguém dos seus, não provaria as mesmas torturas que o ser amado? Crê-se que a mãe que visse massacrar seu filho sob seus olhos não sofreria mais do que ele?

                Está demonstrado que a dor física entorpece pouco a pouco o ser que a sente; é o que faz que um ferido, por exemplo, quase sempre perca os sentidos se o sofrimento é muito violento. Por outro lado, o estado psicológico no qual ele então se encontra neutraliza às vezes completamente a dor: como atestam as religiosas de Loudun, que nada sentiam dos atrozes tratamentos que elas se auto infligiam.

            Pois bem, pensar-se-á que, na paixão do Cristo, seja preciso ter-se em conta apenas a dor física? Será que os golpes da flagelação, do coroamento de espinhos, da crucificação não se repercutiam moralmente sobre a sua alma? Que diferença haveria então entre o mártir divino e os dois ladrões que participavam o seu suplício? e qual era o mais doloroso para ele ou o de estar crucificado, ou o de estar posto na classe dos criminosos?

                E é assim que a questão se apresenta por seu lado verdadeiramente grandioso. Se se imagina este Espírito puro, um Messias da mais elevada ordem, deixar os esplendores celestes para vir fazer o que? Repor sobre o caminho reto uma humanidade decaída; ser exposto a se ver insultado, vilipendiado como ninguém o foi jamais; ser condenado, ele, a Luz do mundo, a vir parlamentar com um Caifás, um Herodes, um Pilatos; ser obrigado a se valer constantemente de seu Pai celeste para aceitar sua missão, apesar dos benefícios que semeava sob seus passos; ser flagelado, achincalhado, maculado, por uma multidão vil amotinada contra ele; ser enfim abandonado, traído, renegado pelos seus, por aqueles mesmos que se aprouvera de encher do seu amor; e isso depois de uma vida dolorosa, fluidicamente falando; porque não é necessário se dissimulá-lo; ser atacado materialmente durante longos anos em um corpo perispirítico deve ser para um Espírito desta elevação uma prisão horrível e um suplício sem igual.

                E quem nos prova, de fato, que uma encarnação fluídica em um mundo material não seja um grande sofrimento e um devotamento admirável da parte de um Espírito puro!

P.S.: Este livro pode ser obtido via internet acessando o site da CRBBM: www.crbmm.org


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