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quarta-feira, 5 de maio de 2021

Imortalidade condicional

 

Imortalidade Condicional

A Redação

Reformador (FEB) Abril 1914

             O dogma da eternidade das penas que importa no reconhecimento da eternidade do mal, adotado pela religião de Roma e pela ortodoxia protestante, entrou em franca decomposição.

            Embora as religiões o proclamem ainda, figura, nos seus artigos de fé, como um texto morto, que tem o seu lugar na história das aberrações humanas.

            Essa crença, que tantos terrores infundiu em espíritos atrasados de outras épocas, não penetra mais nas consciências.

            Não podem os encarnados de hoje, com algum adiantamento, aceitar a velha solução tradicional do problema escatológico.

            Impossível é, entretanto, afasta-lo das nossas cogitações porque o destino das almas a todos interessa.

            Em artigo da nossa edição anterior, demos perfunctória noticia de uma solução, já acolhida em círculos protestantes e que se aproxima da doutrina espírita.

            Vamos apresentar, agora, outra reposta ao magno problema, também adotada por teólogos e pastores protestantes, que a tem propagado em numerosos volumes.

            Não se pode negar que, entre o sectário do protestantismo, se ligue importância a esse movimento contrário ao dogma tradicional das penas eternas e que, tendo precursores na filosofia, começou, em meados do século passado, com a obra de Edward White - ‘A lmortalidade Condicional’, com as suas prédicas e foi impulsionado por numerosos adeptos.

            Para conhecer a doutrina condicionalista lemos, entre outras, as obras notáveis de H. Drummond (‘As Leis da Natureza no Mundo Espiritual’) e E. Petavel-Ollif (‘O Problema da Imortalidade’) bem diferentes no método e na exposição, mas chegando ao mesmo resultado.

            Sustentam os condicionalistas que a alma humana, como todo ente criado, é, em principio, mortal.

            Torna-se, porém, imortal pela fé em Cristo, libertando-se do pecado pela prática de sua doutrina. A imortalidade, adquire-a o indivíduo pela sua fé e por seus atos.

            A alma pecadora, depois de punida em outra existência, morre de... inanição.

            Drummond, em estilo atraente, aplica ao mundo dos espíritos, por analogia, as leis da natureza, conhecidas e interpretadas, conforme a doutrina darwínica.

            Na luta pela existência sucumbem os fracos, sobrevivem e se perpetuam os fortes, que souberam adaptar-a ao meio.

            No mundo espiritual, os fracos, que tem de desaparecer, porque não souberam Iutar, resistir, adaptar-se ao meio, vencer, em suma, são os pecadores, os que fazem o traspasso na impenitência.

            Peteval-Olliff acumula textos sobre textos do antigo e do novo Testamento, e de escritores velhos e modernos, para provar que a Bíblia condena, não ao fogo eterno, mas à morte, ao aniquilamento a alma dos pecadores impenitentes.

 *

             Irreconciliáveis com o dogma das penas eternas, os condicionalistas encontraram uma solução, que poderemos chamar de política religiosa, porque ameaçam os pecadores com as penas temporárias, em que podem acreditar, e com a extinção da personalidade, o nada.

            A igreja católica está petrificada no seu dogma. 

            Bosquejando uma notícia sobre as modernas ideias escatológicas da teologia protestante, considerada liberal e progressiva, o nosso intuito é tornar patente a superioridade da solução espírita, expressa no lema kardeciano: nascer, morrer, renascer, progredir sempre.

            Estão as nossas provas:

            - Na própria natureza da alma preexistente e sobrevivente; nos fenômenos do nascimento e da morte, cujos mistérios estão desvendados.

            - Nas revelações dos espíritos;

            - Nos fatos observados, estudados, recolhidos nos nossos anais, na crônica, na tradição e na história.

            A nossa documentação não pode ser apagada.

            A solução espírita, que remove todas as dificuldades - fácil seria enumera-la - opostas ao dogma e às variantes modernas, não é fantasista, como a teológica.

            Assenta em fatos positivos e concludentes, que opulentam os nossos arquivos.

            Ainda que pese ao negativismo estéril e dissolvente, aí estão as revelações sobre o destino da alma, fora dos domínios do sobrenatural, que a ignorância inventou.

            O concilio de Trento recomendou aos padres que, em suas prédicas, evitassem o problema escatológico. Calvino confessava-se horrozisado com a solução da sua teologia - decretum quidem horribile falcor. (Na verdade, decisões horríveis falham)

            Passou esse período sombrio.

            As lições do Espiritismo sobre este assunto, antes considerado transcendente, são positivas, claras, simples, singelas, como as do Evangelho, e, amanhã, serão verdades incontestes e banais, como a rotação do planeta, negada durante os séculos de dominação da igreja romana.


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