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sexta-feira, 23 de abril de 2021

Provas e contraprovas

 

Provas e contraprovas 

por M. Quintão

Reformador (FEB) 1º Agosto 1936

             Sempre nos pareceu, em doutrina, que a melhor semente é a que cai na leiva (sulco do arado) da dor.

            Na prática, o que de melhor se demonstra é que a propaganda indireta, teórica, genérica, impessoal, apenas revolve as superfícies.

            Quando muito, predispõe à aceitação dos princípios, nunca a atitudes conscienciais, definitivas e definidas.

            Dir-se-á, então, que pode facilitar a crença, mas, não engendra, não sanciona a Fé que remove montanhas.

            Não há como um fato - também se costuma dizer - para esmadrigar (separar) dúvidas e aparelhar convicções.

            Entretanto, a verdade é que os fatos a granel verificados de todos os tempos, nem a todos convencem, mesmo aqueles para quem vertem em abundância de graças.

            E, assim, se verifica como para crer não basta saber, nem conhecer; é preciso merecer; e o merecimento supomos - tanto quanto no lo autoriza supor o revelado - só pode estimar-se em patrimônio intrínseco de maturidade do Espírito, na escala de sua própria evolução.

            Seres há, nos quais o sofrimento só produz revolta e desespero.

            O que se resolve em causa de afirmação e conformação para uns, resolve-se para outros em indiferença e negação. A dor é sempre a mesma dor, mas seus efeitos se diversificam, variam de criatura a criatura.

            Como o líquido, que se conforma ao vaso por enche-lo, a dor já não teria, então e por si só, a virtude da propiciação espiritual, até que o vaso, expurgado de escórias à luz dos Tempos, já não pudesse toldar o líquido.

            Nem por outro motivo se justificariam, melhormente, as palavras do Divino Mestre, quando advertiu – “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.

            Milhares de criaturas viram o Pastor, ouviram-lhe a voz, testemunharam os seus feitos; mas, os apóstolos foram doze, apenas, e ainda hoje, dobados (passados) 20 séculos, a humanidade, atônita, tapa os ouvidos e cerra os olhos par não entender o Cristo de Deus.

            Prevalecente vemos assim, ainda nisto, a outra palavra que diz: “Muitos serão chamados e poucos serão escolhidos.

            No vortilhão das provas emergentes, individuais e coletivas, a dor, em monda (correção) constante para maiores messes futuras, só recolhe, contudo e como sempre, os maturados, legítimos frutos da seara.

            São as verdadeiras conversões, que atestam o determinismo da Lei, sobranceira a todas as dúvidas e relutâncias, com refulgência de graças.

            Richet e Lombroso, juntos, viram os fatos; o primeiro despediu-se do mundo com o aceno de uma grande esperança; o segundo vacilou, um instante, em proclamar ao mundo, desde logo, a sua fé.

            Comparem-se as atitudes e veja-se até que ponto podem intervir nos domínios do subjetivo os fatores meramente intelectuais e os físicos.

            É que as mesmas coisas, ocultas aos grandes, são relatadas aos pequeninos.

            E os pequeninos não são, qual possam crê-lo, apenas os pobres de mentalidade e conhecimentos exteriores. São, sim, e sempre, os ricos de sentimento e coração, sábios da ciência divina, que é amor, que se não improvisa em livros; que se não elabora em academias, porque só se forja em cadinhos de eternidade, mercê de uma evolução indefinita.

            Felizes, portanto, os que já se forram ao condicionalismo do fato para argamassar a sua fé; felizes, ainda, os que no fato tiverem a sua Pentecostes (entre os judeus, celebração da lei dada por Deus a Moisés no monte Sinai, cinquenta dias depois da saída do Egito.  Entre os cristãos, festividade que celebra a vinda do Espírito Santo no 7.º domingo depois da Páscoa. Fonte: Dic. Priberam), emules (excede os outros no que é bom) de Thomé; mas, ai dos coveiros de talentos; dos que, recebendo a moeda, em madureza de espiritualidade, lhe negarem o teor divino.

            Neste caso, não há computar somente os que refogem (?) de nossas fileiras, postulantes de outros credos ou inscientes de credo algum, porque nos havemos de penitenciar maiormente, os que vamos em sarabanda (tipo de dança) de aleluias, espalhando teorias e alardeando fados (forças misteriosas que se supõe dirigirem o destino), larvando-os embora dos mesmos estigmas, que a uns e outros anódinos (paliativos) tornam os mesmos fatos e teorias.

            E que se nos não increpe (acuse) também de pessimismo no constatar a grande, a ancestral inopia (imperfeição) humana, por concluirmos em tese e em síntese que, se os tempos são verdadeiramente chegados, poucos serão - em espírito e verdade - os que aos tempos se achegam, cônscios da Apocatástase (restauração) que se prenuncia em renovação de valores morais, compatíveis com as gerações prepostas ao advento do Reino do Cristo na Terra, para que esta se transforme de estância de expiação e provação em céspede (pedaço de terra) de regeneração e salvação.

            Porque, até que isso aconteça, os fatos e teorias, velhos quanto o próprio mundo, na forma como na essência, hão de estimar-se por simples meio acidental, antes que fim precípuo e essencial.

            O homem velho aí está em plenitude de servidão e atividade, na Religião como na Política, na Ciência como na Família; e como não há deitar impunemente vinho novo em odre velho, o resultado também aí o temos em penhor de angústias e catástrofes, que pare em negar-nos a própria origem divina, ao mesmo tempo que nos arrebatam e destroem as parcas reservas de energias e esperanças, lançando-nos à aventura na conquista de todas as geenas, que boas seriam se o nada existisse e pudessem os iludir a verdade, qual o fazemos a nós mesmos.

            Que, pois, agraciados desta hora soleníssima, saibamos, acima e antes de tudo, prezar intimamente a palavra de VIDA, que de fato o é, porque só ela vivifica para e de toda a eternidade.

            A nós já se nos tem qualificado de místico, por sobrepormos a todos os conhecimentos o do Evangelho. Que importa?

            Ainda agora, de um autor contemporâneo (1) lemos: “O mundo, tal como é, e esse livro não podem coexistir. Ou um ou outro. O mundo tem de deixar de ser como é, ou esse livro deverá desaparecer do mundo”.

            (1) ‘Jesus Desconhecido’, de Dimitri Merejko.  

             Ora, não há como nem por onde controverter (questionar) que todas as teorias e fatos espíritas latejam no Evangelho do qual, dizem os Espíritos e disse-o Kardec, o ESPIRITISMO é simples confirmação, apropinquada (aproximada) aos tempos - o Paracleto.

            Se os homens em fúrias de vandalismo iconoclasta pudessem varrer da face da Terra o código divino, Jesus, que o deu em legado eterno à Humanidade, saberia por seus arautos restabelece-lo no coração dos homens.

            Mas, não! Não e nunca... O mundo deixará de ser o que é, precisamente porque, renovado em suas fontes espirituais em algaras (investidas) de bênçãos, os levitas de amanhã trarão insculpidos no coração os ditames vivos da Lei integral, para cumpri-la extreme de fatos e teorias.

            E ninguém dirá sejam uns e outros elementos primordiais da Fé, porque todos os teremos como derivantes consubstanciais à mesma Fé.

            Os Tomés escalonados ao longe hão de gritar a mea culpa e todas as provas se-lo-ão de direito, em consciência antes que de fato.

            E todos nos confirmaremos na justeza e alcance do verbo divino, quando assegurou: “o reino de Deus está dentro de vós”, REGNUM DEI INTRA VOS EST.


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