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quinta-feira, 8 de abril de 2021

O grande cadinho

 


O Grande Cadinho

por Vinícius (Pedro de Camargo)     Reformador (FEB) Janeiro 1934


          O que haverá de amor naquele amor?

            O que haverá de amor nesse outro amor?

            O que haverá, em suma, de amor nos amores deste mundo?

            O que haverá de ouro verdadeiro nesses metais reluzentes que os homens ostentam com tanta jactância e tanta veleidade? Quer parecer-nos que não existe nenhuma parcela do nobre minério em todas as joias e galas do século; afigura-se aos nossos olhos que todas são falsas, que todas simulam o que realmente não são.     

            E não será por isso mesmo que a dor impera no seio da humanidade, como fatal contingência?

            Certamente, pois o orbe que habitamos não passa de um imenso cadinho, onde se derrete o metal humano, para purificá-lo das escórias que o desmerecem e aviltam.

            Graças a tal processo, a percentagem mínima de amor que existe nos amores terrenos aumentará progressivamente até que haja muito amor nos amores dos homens.

            As escórias se evolarão (elevar-se voando), ao calor do sofrimento e das amarguras, ficando no fundo do cadinho, cintilante e bela, a gema pura, sem jaça e sem liga.


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