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domingo, 26 de março de 2017

O Espiritismo ante a Ciência e a Religião


   O Espiritismo ante a Ciência e a Religião 
por A. Assis
Reformador (FEB) Julho 1959

            Os dias de hoje, em que a Ciência marcha a passos acelerados, são vividos, por todos aqueles que creem em alguma coisa além daquilo que se pode medir, pesar e submeter a experimentos, numa, por assim dizer, batalha constante para
manter em pé suas concepções metafísicas, diante das arremetidas do cientificismo materialista.

            Talvez mais do que nunca, os progressos da Ciência fazem estremecer os bastiões da Religião, pois que aquela, bafejada por concordâncias aparentemente inquebrantáveis, vai apresentando fatos que destroem as revelações desta.

            No campo das atividades organizadas pelo homem, nota-se uma antinomia irreconciliável entre Ciência e Religião. Salvo as raras exceções, os cientistas se cobrem. de vanglórias toda a vez que, em virtude de suas descobertas, esmagam os artigos da fé religiosa dogmática. E os religiosos, por não poderem desmentir as verdades reveladas pela Ciência, procuram, num esforço de sobrevivência da Religião, confundir as afirmativas daquela, para confirmar a supremacia das suas.

            Reduzidos os termos - Ciência e Religião - a Matéria e Espírito, depara-se-nos um espetáculo contristador: a guerra entre espírito e matéria.

            É verdade que nem sempre foi assim. Houve tempo, a contar dos princípios da história da Humanidade, em que a Religião dominava amplamente, sendo as Escrituras ao mesmo tempo compêndios científicos e códigos jurídicos. Mas os religiosos não souberam compreender as revelações transcendentais, especialmente o seu aspecto progressivo, e buscaram cristalizar, imobilizar, como se já tivessem alcançado o Infinito, os conhecimentos que lhes eram transmitidos.

            A Lei, é claro, não tomou conhecimento disso. E enquanto a Religião estagnava, mercê das interferências humanas, a Inteligência se movimentava, crescia, agigantava-se, e com isso ia devassando os segredos da Natureza. Cumpria-se o "nada está oculto que não venha a ser manifesto; e nada foi escondido, que não haja de ser divulgado".

            Mais uma vez, porém, o homem não soube interpretar as mensagens que desvendava na pesquisa cientifica. Despindo o hábito religioso, vestiu o avental do cientista iconoclasta, e, longe de buscar entender as revelações religiosas à luz
das verdades científicas, encastelou-se no negativismo arrogante, passando a deprimir os templos da Fé e a exaltar os templos da Ciência. E hoje, em nome da fé científica, procura-se matar a fé religiosa.

            Podemos dizer, pois, que o mundo vive a época do predomínio da Ciência. E as verdades por esta demonstradas são tão assombrosas, que o homem, embriagado pelo ascendente que vai adquirindo sobre as forças naturais, volta, por outros caminhos, à egolatria, crente de que, com a desagregação da matéria, conseguiu o domínio sobre o Universo!

            Tem vivido a Humanidade, assim, até hoje, um duelo formidando entre Espiritualismo e Materialismo. E visto que a grande maioria daqueles que se intitulam "espiritualistas" timbram em viver como se fossem materialistas, poder-se-ia temer que, afinal, a vitória definitiva coubesse à Ciência, isto é, àquela ciência que procura demonstrar a inexistência do Espírito.

            Mas a Lei não se deixa surpreender. E ela, que é a Verdade, teria que reajustar as coisas, fazendo que fossem compreendidas e amalgamadas as verdades religiosas (reveladas) e as verdades científicas (desvendadas). Eis porque, há cem anos, funcionou mais uma vez a revelação transcendente: acendeu-se, no seio da Humanidade, a luz do Espiritismo!

            E a doutrina trazida pelos Espíritos tem como traço marcante fundir Ciência e Religião: com ela e por ela, a Ciência se torna religiosa e a Religião passa a ser científica. Soou a hora em que os homens são convocados a perceber que Ciência e Religião, em nosso estágio evolutivo, não são outra coisa que facetas de uma só e única Verdade.

            Força é reconhecer, todavia, que, nesse entrechoque de Ciência e Religião, a primeira soube encontrar melhores caminhos, pois foi no clima de livre pesquisa por ela implantado que o homem pode vir a vislumbrar, por exemplo, na observação dos fenômenos biológicos, a trama maravilhosa da evolução dos seres vivos, lançando as bases de uma das mais revolucionárias concepções descortinadas ao gênero humano.

            Mas o Espiritismo, como religião, e religião que convida os homens a pensar, vem em benefício da Ciência, adicionando-lhe os condimentos de espiritualidade que lhe aqueçam e aprimorem os conceitos, ao mesmo tempo em que nela encontre apoio para suas afirmativas. Da simbiose perfeita das duas brota o continuíismo da evolução infinita, a se desdobrar em dois planos, o visível e o invisível.

            E como confirmação iterativa do que acabamos de enunciar, vem de surgir, da lavra do Espírito que entre nós se fez conhecido pelo pseudônimo de André Luiz, um livro, a que não chamaremos novo porque é mais do que isso; é quase, diríamos, insólito. Insólito para os espiritistas, assim como para os cientistas que o
lerem...

            Seu titulo: "Evolução em dois Mundos" é um convite ao raciocínio avançado, a levar a criatura humana a descortinar os horizontes da imortalidade, apercebendo-se do mecanismo grandioso da evolução, a processar-se ininterruptamente na sequência alternada de vida e "morte", de vida encarnada e vida desenfaixada da carne.

            Para os espiritistas, a obra vem solidificar a sua convicção religiosa, realçar a magnificência da Doutrina. E ela se destina, a nosso ver, de preferência aos que não aceitam as teses do Espiritismo, especialmente àqueles que, por conferirem primazia ou exclusividade aos postulados científicos, repelem as explicações que não sejam extraídas das provas de laboratório.

            O próprio Autor espiritual, no pórtico de seu livro, cita, entre outros, o seguinte conceito de Allan Kardec, constante de "A Gênese": "O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente; a Ciência, sem o Espiritismo, se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação."

            Dentre os aspectos novos da obra que apreciamos, destaca-se o de ter André Luiz mobilizado dois médiuns; um em Pedro Leopoldo, Francisco Cândido Xavier; outro em Uberaba, Waldo Vieira, ditando-lhes alternadamente, em dias determinados de cada semana, as suas mensagens, que se encadeiam perfeitamente, formando a harmonia do conjunto.

            A outra faceta nova deste livro é que André Luiz não usa aquele estilo narrativo de todas as suas obras anteriores. Em vez disso, e com a mesma fluência de sempre, ele faz uma exposição maciça, embora sintética, de fundo científico. Com que objetivo? Ele mesmo o explica, em sua ''Nota ao Leitor", ao declarar que as páginas que escreveu buscam "aliar o conceito rígido da Ciência, compreensivelmente armada contra todas as afirmações que não possa esposar pela experimentação fria, e a mensagem consoladora do Evangelho do Jesus-Cristo de que o Espiritismo contemporâneo se faz o mais alto representante na atualidade do mundo ..."

            Essa destinação do Espiritismo, de aliar fé e razão, de conjugar ciência e religião, tornou-se evidenciada desde a primeira hora. Kardec foi inspiradamente claro ao elaborar a Codificação .

            E a literatura espírita, quer da lavra de encarnados quer de desencarnados, tem insistido nesse ponto.

            No tocante à tese fundamental do novo livro de André Luiz, vale a pena citar uma passagem da obra de autoria do Dr. Antônio J. Freire intitulada "Ciência e Espiritismo":

            "0 Transformismo e o Espiritismo, talvez antagônicos aparentemente dentro das escolas positivista e materialista, são no entanto, substancialmente termos complementares, intimamente ligados na correlação indissolúvel que une a forma à vida no panvitalismo universal.

            Só pela ação dum dinamismo psíquico, ainda que rudimentar, podem ser preenchidas as lacunas e resolvidas as incógnitas que ainda obscurecem alguns problemas do transformismo: - quer fisiológicos, desde a própria origem das espécies e da histólise dos insetos até as transformações bruscas criadoras das novas espécies (mutação de Vries); quer de origem psicológica, como demonstrou Fabre para os instintos dos insetos; quer, ainda, de ordem filosófica, fazendo o transformismo  “sair o máximo do mínimo, o complexo do elementar") como justifica o Dr. G. Geley na sua obra magistral – “De l’Inconscient au Conscient”.

            Emmanuel, o seguro mentor espiritual do nosso Chico Xavier, em seu livro "O Consolador", já havia abordado, sem rebuços, esse pormenor. Foi assim que, respondendo à pergunta nº 35 - A genética está submetida a lei puramente materiais?, ele afirmou:

            "As leis da genética encontram-se presididas por numerosos agentes psíquicos que a ciência da Terra está longe de formular, dentro dos seus postulados materialistas. Esses agentes psíquicos, muitas vezes, são movimentados pelos mensageiros do plano espiritual, encarregados, dessa ou daquela missão junto às correntes da profunda fonte da vida. Eis porque, aos geneticistas comumente se deparam incógnitas inesperadas, que deslocam o centro de suas anteriores ilações."

            Não se creia, pois, que André Luís, no seu novo livro "Evolução em dois Mundos", tenha ferido uma tecla desconhecida dos espiritistas. Para estes, confirmando o que se encontra registrado em outras obras, ele vem trazer maior soma de esclarecimentos, evidenciando com isso que também a evolução da intelectualidade humana sofre a fecundação dos agentes da Espiritualidade Superior.

            Para aqueles que fazem repousar no cientificismo materialista a base de suas concepções da vida, o livro é uma prova daquela ousada afirmativa de Allan Kardec, ainda em "A Gênese" de que o “materialismo pode ver por aí que o Espiritismo longe de temer as descobertas da Ciência e o seu positivismo, vai além e os provoca, por ter certeza de que o princípio espiritual, que aliás possui existência própria não pode com isso sofrer".

            Mencionaremos, atinentes às considerações que ora tecemos, os títulos de alguns capítulos dessa nova obra de André Luiz, que valem por primícias daquilo que se vai encontrar em seus textos:
"Evolução e corpo espiritual"
"Evolução e sexo"
"Evolução e hereditariedade"
"Evolução e metabolismo"
"Evolução e cérebro"
            É uma obra que nos introduz no fascinante e profundo campo da Biologia, mas daquela que é realmente a Ciência da Vida.


            Uma obra para quem tem "olhos de ver".

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