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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

5. 'Guia Prático do Espírita'



5
 ’Guia Prático
 do Espírita’

por  Miguel Vives y Vives

3ª Edição

 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
1926


 O QUE DEVE SER O ESPÍRITA
PERANTE A HUMANIDADE


            Disse o Senhor: Vós sois o sal do mundo; se o sal perde o seu sabor, com que se há de salgar? Equivale isso ao seguinte: Vós sois a luz do mundo; se a luz perde a sua claridade, com que se há de alumiar?

            Todo espírita que tiver feito profissão pública de suas crenças, nunca deve deixar de verificar por onde passa, onde vai, que lugares frequenta: observam-nos muito e muito nos estudam para verem como nós, espíritas, procedemos, visto saberem que a nossa maneira de pensar é muito distinta da dos que não professam nossas ideias.

            Devemos, pois, ter muito presentes aquelas palavras de um grande espirito: Providência no pensar, providência no falar, providência no proceder, porque, se esquecermos as regras que o Espiritismo nos prescreve, algumas das quais se acham apontadas nos capítulos anteriores, podemos cair no ridículo, por não condizerem os nossos atos com a moral que o mundo espera de nós; moral que, quando bem praticada, é o melhor meio de propagar e exalçar nossos princípios. Uma atitude correta e cheia de doçura é de produzir atração e pode-nos captar as simpatias de muitos a quem nos tornaremos agradáveis pelo nosso trato. Os modos e costumes são a primeira coisa que todo o espírita deve empregar na sua propaganda: primeiro obrar, depois falar, a não ser que a necessidade das circunstâncias nos obrigue a falar antes de obrar. Quando assim tenhamos de proceder, devemos ser muito prudentes e humildes, dando provas de excelente educação. Se for preciso, porém, obrar primeiro, faça-mo-lo; vale mais que nos conheçam primeiramente pelas obras que pelas palavras; assim, quando vier a hora de falar, escutar-nos-ão com mais respeito e seremos mais bem entendidos, procurando não empreender a propaganda de nossas ideias senão em ocasião oportuna, começando sempre por mostrar o que é a moral do Espiritismo, suas tendências e fins, que são tornar os homens melhores, trazer a paz à humanidade, preparando-nos um porvir mais feliz do que o que possuímos na Terra, e só se deve entrar na explicação dos fenômenos espíritas quando já as pessoas a quem se falar tiverem aceite a moral e houverem compreendido um tanto a sua sublimidade; e, caso se possam expor fatos, devem ser escolhidos aqueles que melhor podem ser compreendidos e estiverem ao alcance das pessoas a quem falarmos. 

            Temos ouvido, às vezes; certos espíritas falarem entre pessoas profanas em Espiritismo e temos ouvido a explicação de fenômenos muito fora do alcance do auditório; traz isso sempre como resultado perda de tempo e dá pasto à incredulidade, porque considera-se fanático o citado espirita, perdendo ele assim toda a influência moral sobre quem o ouve.

            Por isso, a propaganda moral é quase sempre bem recebida, mormente se o espírita que a exercita é pessoa que sabe portar-se de maneira distinta, causa muito fácil para todo espírita estudioso e que esteja bem compenetrado do que o Espiritismo lhe prescreve. Não se deve esquecer que um dos primeiros mandamentos da lei é: Amarás ao próximo como a ti mesmo; e se bem que seja muito difícil praticar este mandamento ao pé da letra, não é menos verdade que somos obrigados a praticar a caridade entre nossos semelhantes. Assim, pois,
se entre nós devemos ser indulgentes e benévolos, e nos cumpre desculpar, dissimular e até perdoar os nossos mútuos defeitos, não menos o devemos praticar para com os outros.

            Os que não são espíritas sustentam às vezes questões, altercações, disputas e rixas em que até se maltratam; devemos fugir em absoluto de tudo isso; se com bons modos pudermos levar as causas ao seu lugar, devemos fazê-lo; se para isso, porém, tivermos de nos separar das regras prescritas, devemos nos calar ou buscar a melhor maneira de evitar tal situação, e se de qualquer assunto, apesar de nossa prudência e amor, não pudermos sair bem, devemos sofrer com paciência as iras da ignorância e da má fé; devemos perdoar sem reservas dentro de nossa alma e devemos fazer o bem pelo mal se for possível. Por isso, nunca devemos esquecer a prática do Mestre e Senhor. Ele é o modelo, a verdade e a vida. Que disse Ele, quando o insultavam, apostrofavam, maltratavam e lhe cuspiam no rosto? Nada; baixava os olhos e perdoava no seu íntimo. Pois si o que tanto é e tanto podia assim praticou, faremos nós outros o contrário? Desgraçado do espírita que tem ocasião de devolver o bem pelo mal e que o não faz. Desgraçado do espírita que pode perdoar e não perdoa, pois dia virá em que exclamará: de que me serviu saber o que eu sabia e ter-me chamado espírita? mais me tivera valido ignorá-la; não teria contraído tanta responsabilidade.

            Espíritas há que, guiados pela sua ardente caridade, se dedicam a curar enfermos por meio do magnetismo, com água magnetizada ou com passes magnéticos; quando nestas, práticas se não mistura nenhuma pretensão, mas se evidencia grande amor ao enfermo e o desejo único de fazer o bem com fé ardente no Pai, podem-se alcançar bons resultados; deve-se refletir, porém, que se o espírita deve ter prudência em todos os casos, muito mais deve te-Ia o que quiser dar saúde aos enfermos; deve esse levar uma vida muito pura, isenta de faltas e defeitos que podem retirar-lhe a boa proteção; porque, do contrário, em lugar de fazer bem
aos enfermos, lhes fará mal, prejudicando-os. O que quiser aliviar ou curar a humanidade doente, ainda que não seja senão entre as suas relações particulares, deve levar vida de santidade; assim a classificamos, para distinguir ao que tal faça, mormente se o espírita que cura não é homem que possua a ciência médica ou outra ciência que o acredite como tal. Os que só o fazem, porém, por amor à humanidade, devem despojar-se de tudo o que possa empanar o brilho de seu espirito, para que seu perispírito e seu corpo possam transmitir bons fluidos.

            Devem, pois, aplicar-se sempre as seguintes máximas: si queres curar aos outros, é necessário que primeiro estejas curado de teu corpo e de tua alma; mal poderás curar os outros, se estiveres enfermo.

            Deve-se pôr em prática, portanto, os modos e costumes que deixamos consignados; abstendo-se de fazer às pessoas que se procura curar promessas que não se possam cumprir, porque, quem se dedica a práticas tão elevadas, nunca deve confiar em suas próprias forças, mas contar com os seus bons desejos, sua vontade e sobretudo com a ajuda de Deus e dos bons espíritos, procurando ter fé no que curou os cegos e os paralíticos e ressuscitou os mortos. Assim procedendo, muito se poderá esperar de Quem tudo pode e aquela missão será pano de lágrimas para os que choram e os que sofrem (1).        

            (1) Cumpre, porém, não esquecer que se deve dar de graça o que de graça se recebe, porque é muito prejudicial à todo o espírita fazer profissão lucrativa da proteção que vem do alto. Fazer a caridade é um bem; explorá-la... um mal.

            Em resumo: a humanidade geme, chora, desespera-se pelo muito que sofre; o egoísmo devora-a toda; as vítimas da maldade se sucedem umas às outras, as religiões desviaram-se do verdadeiro caminho; são escassos homens de bem, os quais são sempre intermediários entre a humanidade e a Providencia, pois nós, os espíritas, somos os encarregados de trazer a luz. Nós sabemos porque a humanidade sofre, porque chora, porque se desespera; sacrifiquemo-nos, pois, para lhe poder explicar a causa dos seus sofrimentos, das suas lágrimas, da sua desesperação; obremos de maneira que todos saibam que a lei depura, eleva, purifica, exalça, e assim cumpriremos a nossa missão.

            O espírita que muito quer fazer pelos seus semelhantes não deve perder de vista o Senhor quando o açoitavam atado à coluna, quando o coroavam de espinhos, quando carregava a cruz, quando consumava o sacrifício, para que saiba imitá-lo em seus atos de amor à humanidade, de abnegação e sacrifício.

            Vós sois o sal do mundo; se o sal perde o sabor, com que se salgará?




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