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domingo, 9 de dezembro de 2012

18b. 'À Luz da Razão' por Fran Muniz



18b
“À Luz da Razão”

por   Fran Muniz

Pap. Venus – Henrique Velho & C. – Rua Larga, 13 - Rio
1924


A REENCARNAÇÃO



            A doutrina da reencarnação, quando mesmo não pudesse o homem dedutivamente encontra-la, tinha já por si a afirmação de Jesus em muitas passagens do Evangelho.

            Respondendo a Nicodemos disse o Mestre:

            “Em verdade te digo que se o homem não nascer de novo, não poderá ver o reino de Deus” Nicodemos lhe disse “Como pode o homem nascer sendo já velho?” Jesus respondeu: “Em verdade te digo que se o homem não renascer da água e do espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que nasce da carne é carne e o que nasce do espirito é espirito.”  

            “Não te admires de eu te dizer: É preciso que tornes a nascer.”

            Para quem dispõe de um pouco de bom senso, não pode haver nada mais claro. Só faltou a Cristo dizer: Tu tens que reencarnar, isto é, nasceres outra vez, tomando novo corpo, para expurgares todas as tuas faltas, com o teu espírito subjugado à matéria. Isto, porém, naquela época, seria incompreensível a Nicodemos que apesar de “doutor” não alcançaria  tanto. Tal qual como os há hoje ainda a quem vai certa a exprobração de Cristo a Nicodemos:

            “Pois tu és doutor em Israel e desconheces estas coisas?”

            Israel aqui, também pode ser figurada nos domínios papais, onde os respectivos doutores desconhecem tudo quanto é racional, sublime e verdadeiro.  Continuemos, porém, volvendo o olhar para as passagens evangélicas.

            Quando Jesus perguntou aos apóstolos: “Quem dizem os homens que eu sou?” Responderam-lhe: “Uns dizem que João Batista, outros que Elias, Jeremias, ou algum dos profetas.”

            Isto revela, evidentemente, a crença na reencarnação, que existia entre o povo; e essa opinião estava já consagrada, pois que, Jesus não a repeliu, como fazia sempre que os seus discípulos incorriam em atos ou crenças absurdas. Bem ao contrário, porém, ele sancionou a verdade da reencarnação, com o seu silêncio.

            Quando ainda os discípulos lhe perguntaram: “Porque dizem os escribas e fariseus que Elias deve vir primeiro?”

            Jesus retrucou:

            “Digo-vos que Elias já veio e eles não o conheceram.”

            Compreendendo os discípulos que ele se referia a João Batista, também não foram dissuadidos dessa compreensão pelo Mestre. Em vez disso Jesus fortaleceu a velha crença do renascimento, confirmando, sem equívoco possível, a reencarnação do espírito de Elias no corpo de João Batista: “Se quereis compreender o que vos digo, é Ele mesmo, que é o Elias que há de vi”. E, por mais que os interessados na cegueira humana se esfalfem em negar, esconder e mutilar essa lei impecável da reencarnação, será cada vez mais infrutífero tal esforço. Ela é como um rio caudaloso: se por um lado se pretende barrar-lhe a passagem, ela extravasa pelo outro. Criação de Deus, que poder maior se lhe pode contrapor?

            O raciocínio é também um grande agente na percepção das causas transcendentes; vamos, pois, emprega-lo neste problema:

            O próprio Cristo, segundo afirma a igreja romana, encarnou na terra. Ora, é claro que o seu espírito não foi criado exclusivamente para animar o corpo do qual se servira, porquanto era adulto e perfeito quando aqui nasceu. Porque razão, pois, outros espíritos também adultos, embora não aperfeiçoados, não podem igualmente tornar a nascer, tomando outro corpo?

            A igreja quer secar o oceano, retirando-lhe as águas a colherinhas de chá.

            Ainda outra prova de reencarnação se evidencia nesta previsão de Jesus, por ocasião da Ceia pascoal, dirigindo-se aos apóstolos:

            “Em verdade vos digo que um de vós me trairá; mas, ai daquele por quem será entregue o Filho do Homem: melhor fora a esse não ter nascido.”

            Tomando-se a criação da alma especialmente para cada corpo, seria incompreensível que Jesus assim falasse, visto que, se Judas não tivesse nascido, ficaria o seu espírito criado, inutilmente, sem animar nenhum corpo.

            Vejamos, no entanto, de que modo a doutrina da reencarnação esclarece aquela sentença do Cristo e prova a sabedoria e a verdade com que foi ela proferida.

            Judas, do mesmo modo que todos os apóstolos, Maria, José, João Batista e demais personagens que aparecem no Evangelho, pediram para vir à Terra auxiliar a missão de Jesus; era para eles uma felicidade trabalhar em beneficio do Mestre.

            Judas, porém, embora advertido de não levar a cabo tão espinhosa missão, em virtude de suas tendências, ainda não curadas, para o erro, insistiu e veio a baquear com a traição, que a ganância pelo dinheiro o obrigou a praticar.

            Ante semelhante queda, é que Jesus disse: “ser melhor não ter ele nascido”- isto é, não haver reencarnado na terra, pois teria de encarnar em outra ocasião, neste, ou noutro planeta, ficando isento da consequência desta nova falta.

            O crime de Judas não é maior porque incorre numa traição contra o Cristo. Judas, reencarnado, que foi, ignorando as qualidades divinas do Mestre, praticou uma grave deslealdade de amigo e como tal é que se o deve julgar.

            Demais, tudo tinha que se passar assim pela vontade do Altíssimo. A tragédia estava escrita e precisava ser representada. Coube a Judas um ingrato papel mas era o que lhe estava distribuído.

            Outro raciocínio conduziria a diminuir o poder de Deus quando tivesse de lidar com Herodes e Pilatos...

            Daqui, pois, um apelo aos homens de boa vontade: Reabilitai Judas em vossos corações! Não permitais que, nos sábados de aleluia, continuem os vossos filhos, na sua inconsciência, apupando um comparsa do drama que se desempenhou a contento do Autor. Sem ele, notai bem, a obra de amor, humildade e perdão que veio Cristo pregar ao mundo, resultaria incompleta, faltando-lhe o exemplo edificante do Pregador.

            Além disso, tantos séculos são decorridos após estas cenas, que Judas, reabilitado já pelas sucessivas reencarnações, é hoje um espírito de luz, digno do nosso amor e maior respeito.

            A reencarnação, em suma, é uma lei estabelecida, comprovada e aceita pela maioria dos homens de bom senso. O Evangelho está repleto de advertências que ressaltam ao espírito, sobre a existência dessa lei e só não as percebe quem está interessado em tresler (ler trocado ou às avessas).

            Negar a reencarnação é negar a palavra de Cristo: ademais se ela não existisse, nem valia a pena ter Jesus descido à Terra para ensinar a um resumido número de homens, cuja vida seria extinta em breve. O Evangelho, portanto, restaria inútil, visto que, não sendo ele cumprido, como devia ser pela religião romana, bastava à gente permanecer simplesmente católico para ganhar o reino do Céu.

            Não. Jesus veio para premunir (acautelar) o futuro dos existentes que haviam de voltar. É isso o que tem acontecido e acontecerá, mesmo em relação aos doutores da igreja de Roma, pois, embora contra a vontade hão de tornar a nascer. Não se atemorizem, porém, porque voltarão com melhores ideias. Esse é, aliás, um castigo merecido, pois, já hoje, não se lhes dará crédito que, de boa fé, perseverem no erro, mas sabe-se bem que, só por interesses inconfessáveis, dissimulam a sua irredutibilidade.

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