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sábado, 24 de outubro de 2020

Tentação de Jesus

                            

Tentação de Jesus

A Redação  Reformador (FEB) 16 Junho 1919

             “Aí permaneceu quarenta dias e foi tentado pelo diabo; nada comeu durante esses dias e, passados eles, teve fome...” Lucas Cap. IV:2

             De uma facundia (eloquência) prodigiosa só igualável à própria puerilidade e ousadia, são os argumentos e conceitos de ordinário empregados pelos adversários da doutrina espírita.

            Há poucos dias, era um confrade cioso dos créditos do nosso proselitismo, que chamava a nossa atenção para o trecho de um sermão católico, no qual se pretendia inferir da passagem evangélica da “tentação de Jesus” a existência e, mais do que isso - a ascendência do demônio.

            Ora, a quem quer que se dê ao trabalho de filosofar medianamente com a própria inteligência, não será difícil, já agora, concluir que essa entidade individualizada na acepção comum que lhe empresta o catolicismo romano, colide – substancialmente com os atributos de suprema bondade e onisciência de Deus.

            Porque de duas uma:-ou Deus criando os anjos não os fez íntegros em sua pureza, ou não os fez essencialmente iguais. No primeiro caso haveria imperfeição técnica da obra; no segundo, flagrante injustiça, tanto mais odiosa quanto irreparável na consumação dos séculos.

            Deste dilema não há fugir e quando os que levianamente estadeiam esses princípios, completam tão falho raciocínio com palavras ocas de sentido como: - Deus assim quis - esquecem-se de que são eles, simplesmente eles, que estão querendo que Deus assim quisesse.

            E é por estes e outros absurdos correntes em religião, pela falsa noção de Deus, da criação e dos seus destinos que a humanidade desvaira e procura em reivindicações de força bruta a solução do problema de sua felicidade ou infelicidade na Terra.

            Que se nos não atribuam exageros de sectarismo ao afirmarmos que, do conflito incoercível da religião com a filosofia, no que elas têm até agora realizado, se originam os males da nossa época.

            Ninguém há que, na ignorância ou, pelo menos, na incerteza de alguma coisa para além desta vida, possa imolar-lhe abnegada e inteiramente o seu ideal de felicidade.

            Ninguém pode compreender um Deus onipotentemente voluntarioso, que deixa morrer os filhos à fome, imperturbável na sua glória, para que outros filhos realizem desde logo quanto lhes farte, na terra como no céu.

            Aí, porém, os divinos procuradores e privilegiados da Verdade são lógicos: este pandemônio terreno não deixa de ter analogia com a sua gênese abstrusa, salvo quanto às perspectivas.

            Na Terra, a anomalia é temporária e no mundo espiritual ela é eterna e definitiva; mas na Terra como nos arcanos do infinito, há seres ingenitamente privilegiados, homens ou anjos votados ao eterno suplício ou à eterna felicidade!

            Razão de sobra para que os libertários contemporâneos, os equalitaristas de todos os matizes proclamem que as religiões têm sido e são os maiores inimigos do homem, da sua liberdade, da sua fraternidade.

            É preciso, portanto, proclamar bem alto, também, que a Religião, indestrutível em si, e inalienável também da natureza humana, como princípio causal, está pervertida no seu curso, adulterada nos seus fins, incapaz, em suma, de satisfazer os reclamos da consciência humana nos seus legítimos ditames.

            Não somos nós, porém, os criadores de uma nova religião, não somos sequer, os tarefeiros dessa obra reparadora no que ela tem de mais elevado e positivo; são os espíritos do Senhor, são os que falam de um mundo extreme de paixões rasteiras, de prejuízos mesquinhos, que vêm, não já pela palavra mas pelo fato incontrastável, proclamar e provar a sua oportunidade, reconciliando a fé com a razão, e integrando Deus nas consciências justamente combalidas ou simplesmente revoltadas.

            A isto pretendem opor-se os doutos teólogos, de modo gratuito e com a só autoridade da sua tradição. É justo e por tal não os malsinamos, cônscio de que têm o seu papel assinalado na evolução que se intensifica e precipita. Da história do mundo, conhecemos o suficiente para saber quanto custa a demolição de consagrados privilégios e regalias. Basta lembrar o sangue dos mártires do Cristianismo, sem esquecer o que por “amor” ao mesmo Cristianismo, se derramou nas guerras religiosas ou por sentenças da truculenta inquisição.

            E tudo para que? Para que ainda hoje “O Cristo” se conserve desconhecido, inconcebível, ao ponto de o julgarem a ele – Deus - passível de tentação do maior êmulo (adversário) de Deus, ou seja de si mesmo.

            Quanta puerilidade! Quanta incoerência! Mas não no alonguemos na explicação do texto evangélico que é o que de perto diz com a nossa tarefa nesta tribuna doutrinária. Jesus, homem, não poderia jejuar 40 dias no deserto, impunemente; Jesus, Deus, não poderia ser tentado. As suas palavras ao povo tinham, como de resto muitos dos seus ensinamentos, um sentido emblemático, visando o futuro das gerações que ele presidiu e preside do alto da sua glória. Deixando e retomando a vida (no caso o corpo) quando queria, o Divino Mestre por satisfazer a tradição do povo judeu (1) rarefez os fluidos que lhe davam a corporeidade tangível e deu, com a sua ausência aparente, mais uma dessas lições que precisam ser compreendidas em espirito e verdade.

                 (1) Os profetas se preparavam para as suas missões por meio da meditação, da prece e do jejum, no deserto. (Roustaing VI pag. 315 - edição 1918)

             O jejum é preceito salutar relativamente, no seu aspecto físico. Todos sabemos as virtudes de uma bem e entendida frugalidade. Do ponto de vista moral, porém, ele é absoluto e neste sentido é que Jesus o prescrevia, maximé (principalmente) para os nossos tempos. O demônio existe, não como êmulo do Pae, personalizado e votado ao mal eterno, mas simbolizado nos espíritos inferiores, que se aproveitam das fraquezas humanas para cevar a suas paixões desordenadas. E o jejum do mal, é a abstinência dos maus atos, dos maus pensamentos flui afugentam e neutralizam a tentação, enquanto os sentimentos contrários, as obras e pensamentos de amor e caridade atraem os bons espíritos e nos fortalecem para vencer os próprios arrastamentos. De mais, se, como dizem os mesmos Evangelhos, os espíritos imundos os espíritos das trevas luziam espavoridos à simples aproximação do Messias de Deus, não há admitir esse colóquio monstruoso, essa hipótese infirmativa da própria divindade de Jesus que a igreja tão ciosamente defende, mas não explica.

            Os tempos aí estão, porém, chegados para a elucidação dos Evangelhos enterrados há mais de dezesseis séculos, e tanto mais promissores se nos afiguram os tempos, quanto, para essa obra de remodelação religiosa, os mensageiros do alto não vão bater às portas de bronze dos templos de pedra, mas às dos templos vivos nos quais há um altar que se chama - razão, para um só pontífice que se chama - consciência.

            Pontificando nesse altar em ritualismo comprovado por fatos transcendentes à própria vontade, a humanidade cônscia da perenidade e grandeza dos seus destinos concluirá logicamente que eles se não resolvem a bombas de dinamite nem a tiros de canhão, porque há uma justiça indefectível e sobranceira, que pauta e gradua a sua escalada na realização de todas as conquistas, individuais ou coletivas, na Terra, no espaço, na Universo enfim.

            E dizer-se que isto lá está nesses Evangelhos que a igreja conhece mas sofisma há vinte séculos!



sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Espiritismo religioso

 

Espiritismo Religioso

por Hernani T. Sant’Anna

Reformador (FEB) Julho 1954

             Se o Espiritismo guarda a finalidade precípua de transformar a face moral do Planeta, pelo esclarecimento das massas populares elevando o nível de entendimento e vida dos povos, não podemos entende-lo sem o aspecto religioso, porque somente a Religião é capaz de propiciar à multidão os recursos necessários à reforma dos costumes à ascensão positiva dos valores sociais.

             Esta é, aliás, a grande lição que a História nos ensina, quando nos coloca face a face com os grandes movimentos coletivos de todos os tempos. Penetrar a alma do povo, atingir a sociedade no que ela possui de mais íntimo, modificando lhe a própria ética de viver, é privilégio da Religião. A Ciência só atinge a técnica, não chega aos sentimentos. E as teorias filosóficas, quando divorciadas do ideal que age, não vão além do círculo das elites intelectuais, para mero gáudio da fina dialética e honra inócua de estantes e museus.

             Valham, pois, os esforços honestos e bem intencionados de quantos lidam por fazer penetrar o Espiritismo na consciência coletiva, semeando nas almas humanas os pólens das concepções superiores. Compenetrando-se da eternidade da vida, da responsabilidade individual perante a lei, da necessidade do esforço próprio para a conquista da felicidade, da lei de cooperação fraternal, da justiça perfeita que pontifica em todos os quadrantes do Universo, irá o povo, espontaneamente e por seus próprios atos, inaugurando uma era nova de entendimento e paz social, com trabalho digno e farto para todos.

             Numa época como a que vivemos, tão repleta de inquietações e violências, não pode haver trabalho mais nobre e produtivo do que esse, de acender a luz a luz do espírito por sobre a noite de angústias e dos desesperos humanos, à custa de renúncia e abnegação, amor e sacrifício.

             Afinal, é dessa lide silenciosa de arregimentação do bem, sem virulências e extremismos, objetivos de dominação ou de avassalamento, que nascerá a grandeza do futuro, a paz das nações e a felicidade dos povos deste orbe.


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Espiritismo

 



Espiritismo

por Carlos Imabassahy   Reformador (FEB) Junho 1924

 

            O Espiritismo não se resume, a meu ver, unicamente, num corpo de doutrina.

            Esta é, sem dúvida, a parte principal, a mais importante do edifício em construção. Mas, não é a única; há outras, no grande todo, que não podem ser postas à margem.

            Todas elas, as partes, as vigas do grande monumento espiritualista se acolchetam, formando um conjunto harmônico.

            Tende tudo para um fim único: - a convicção, nos homens, que devem praticar a lei do amor.

            É esse, necessariamente, o alvo a que miram os espíritos superiores, encarregados pelo Mestre da missão grandiosa de regenerar o planeta.

            Mas, esse edifício, que se principia a erigir com um pouco de boa vontade aqui na Terra e com maravilhosa energia no Espaço, precisa de alicerces; são neles que assenta o organismo que agora começa a desenvolver-se.

            Os alicerces do Espiritismo são a parte experimental, são os fatos mediúnicos, que surgem por toda a parte, trazendo à pobre humanidade sofredora a prova da sobrevivência, com todas as consequências que dela dimanam: -as tristezas, as angústias, as dores para os maus; a paz, as alegrias, a felicidade para os bons.

            Sem os casos da mediunidade, não teria surgido o Espiritismo. Existisse somente a doutrina, bela, não obstante, como é, e não passaria de uma abstração filosófica, pouco mais valiosa que a de Sócrates ou Platão, cuja recordação histórica nos impressiona ainda, mas de pequenos frutos para o progresso do gênero humano.

            Na sua onisciência, o Criador achou que já era tempo de revolver, de sanear esse marnel (lodaçal) em que vivemos. E mandou-nos, então, a Nova Revelação pelo Espírito da Verdade; transmitiu-nos e transmite-nos os ensinamentos do Além, pela comunicação dos Espíritos.

            E que são as comunicações dos Espíritos? -São as mensagens, são o intercâmbio entre vivos e mortos, são o fenômeno espirita.

            É esse fenômeno que, a meu ver, se não pode abandonar; pelo contrário, todos os espíritas deveriam estudá-lo, ampara-lo, encaminha-lo, promove-lo, com os recursos de que dispomos, auxiliando por um lado a ciência, em vez de hostiliza-la, e, por outro, procurando trazer a todos os experimentadores, os ensinamentos de Allan Kardec, que se encontram no Livro dos Médiuns, para que seja de bons resultados, celeiro de provas fecundas, a parte prática, base onde assenta toda essa obra divina.

            Na ‘Vie d'Outre Tombe’, órgão da Federação Espírita Belga, o brilhante colaborador da Revue Spirite, Sr. Luiz Gastín, publicou interessante artigo, há pouco traduzido e remetido à ‘Aurora’ pelo confrade C. de Brito.

            Nele se lê o seguinte tópico, de acordo com as ideias que vimos de expor:

             “É fácil compreender que, se deixarmos perpetuar-se esse desmembramento da Ciência da Alma- ou Espiritismo científico, os psicólogos, psiquistas e metapsiquistas criarão - cada um no seu terreno - um corpo de doutrina separado, isolado, tendendo por consequência para rejeitar como inútil e vã a contribuição superior e sintética do Espiritismo propriamente dito.

            Não é exagero supor que os desmembramentos acima citados têm sido de setenta anos para cá - suscitados, inspirados ou favorecidos pelos adversários do Espiritismo, querendo enfraquece-lo destruindo sua unidade, procurando diminuir seu poder de ação, a importância de seu movimento social e seu alcance, encurralando-o, limitando-o à comunicação entre os vivos e os mortos.

            Era incontestavelmente estreitar o campo dos estudos espíritas, ao mesmo tempo que sua influência na evolução do pensamento contemporâneo. O domínio do Espiritismo sendo restringido de diversos lados e desmembrado, ele ficaria logo reduzido a não ser mais que uma teoria filosófica ou uma tese religiosa explicando o que se passa depois da morte.

            Semelhante situação, à medida que os ramos destacados do Espiritismo fossem crescendo com um caráter quase exclusivamente científico, concorreria para que o Espiritismo fosse absorvido pela metapsíquica - como o magnetismo foi absorvido pelo hipnotismo - suprimindo, bem entendido, todas as conclusões filosóficas e morais da nossa doutrina.”

             De fato, se ao Ciência e a Religião não só procurarem unir e abraçar, cooperando ambas, cada qual do seu lado, para o Progresso; se elas continuassem afastadas, como o têm sido até agora, e se nós, espíritas, contribuíssemos para esse afastamento, aqueles que se supõem sábios, cada vez mais engolfados no materialismo, esforçar-se-iam por separar das cogitações científicas todo o lado moral, todo esse facho de luz que Jesus veio fincar no coração do planeta e que o Espiritismo veio reativar no coração dos homens.

            Aos espíritas incumbe o dever de trazer a colaboração do seu esforço e de suas luzes, onde quer que haja um movimento, onde quer haja manifestações espíritas, surjam elas por meio da ignorância e tome o nome de feitiço, apareçam no seio do orgulho e do ceticismo e se rotule com o nome de Ciência.

            O que colimamos, nós, espiritas, é o Bem. Vamos procura-lo, alimenta-lo, robustece-lo, onde se encontre, esforçando-nos por que se não apaguem essas fagulhas que nos principiam agora a iluminem e donde surgirá mais tarde o grande clarão, o imenso incêndio que abrasará em amor puro e desinteressado todas as criaturas da terra.

            Deveríamos aproveitar tudo o que concorresse para a demonstração dessa grande verdade: - que só pelo Amor podem os homens ser felizes.

 *

             As dúvidas que se notam ainda nas reuniões em que se fazem trabalhos práticos de Espiritismo; o pouco conhecimento da doutrina - auxiliar necessário, imprescindível nesses trabalhos práticos; os percalços e os perigos que, força é convir, os acompanham, perigos inevitáveis em todos os ramos da atividade humana e sobretudo naqueles que estão em começo, levam-nos a recear entrar em contato com o mistério e ouvir as vozes do Além. E daí o se aconselhar não só prudência, senão o afastamento completo das sessões espíritas.

            A prudência é uma virtude, mas o recuar é medo.

            Deixamos de mão aquilo que não é possível enfrentar. Mas isso se não dá com as experiências psíquicas, que sabemos onde ir estuda-las, que temos onde aprende-las. E se Kardec nos ensinou como pratica-las, não me parece curial pô-las à margem pelos contratempos a que nos podemos expor.

             Tirados os elementos onde se encontram as provas do que afirmamos; esgotada a fonte de ensinamentos, que deve ser perene, porque nós marchamos e aprendemos sempre; retirado o sopé do edifício, que fica?

            Um corpo de doutrina, muito belo, mas insulado, parado, estagnado, no meio do caminhar constante da Natureza. Com os tempos, os seus raios irão perdendo o brilho, como ja se extingue o das religiões do passado. 

                E quando chegasse o Futuro, com os ensinamentos acumulados pelos séculos, encontrariam os pósteros apenas, de nossa passagem pela Terra, pálida e fugitiva lembrança, perdida, como lenda, nas páginas da história universal.

                Felizmente tal não se dá. Quando nos entibiem (entorpeçam) os perigos da mediunidade, quando nos tragam o desânimo a sua má aplicação; quando nos façam esmorecer e fraquejar o muito que há por fazer, por construir, aí estão os nossos amigos do Além para amparar-nos e alimentar a fé vacilante; aí estão os fatos psíquicos surgindo continuamente como a demonstrar que é por esse meio que o Criador pretende ferir a atenção dos homens; aí está toda a fenomenologia espírita, aparecendo, provocada ou espontaneamente, pela vontade ou sem a vontade das criaturas, embora oponham-lhe ainda as maiores barreiras os seres que povoam a Terra, deste lado ou do outro lado da vida.

            O movimento que se iniciou não pode parar.

            A cada um a sua tarefa: a este, as pesquisas científicas; àquele, a propaganda pela pena ou peja palavra. Tal dedicar-se-á à experimentação, tal outro à doutrinação. Todos, porém, como vários rios que se dirigem para o mesmo estuário, tendem para o mesmo fim - o Progresso.

            Aos construtores do grande edifício foram confiados misteres diferentes: cabe a cada um sua missão.

            Mas a obra, no seu conjunto, é uma única; todos concorrem para o Bem, todos contribuem com a sua quota parte, para que possa ser colocado no topo do monumento a formosa inscrição, que já liam os antepassados no coração de Jesus:

             - Amai-vos uns aos outros.


quarta-feira, 21 de outubro de 2020

A Revolução francesa de 1789 e o Espiritismo

                            

A Revolução Francesa de 1789 

e o Espiritismo

por Fernando de Alencar      Reformador (FEB) Junho 1908

             Desde o sangrento alvorecer da Revolução francesa de 1789 vai o nosso mundo evolucionando em marcha progressivamente célere, e, na atualidade, esse movimento ascensional vai se tornando cada vez mais precípite, sentindo-se que o coração do Planeta pulsa vigorosamente ao influxo do Cristianismo, esse flamejante sol, cuja luz, por tantos séculos velada pelo papismo e pela tirania feudal, rompendo essas duas grandes nuvens tenebrosas, vai se desdobrando vitoriosamente por sobre todas as nações, todas as cidades, todos os lares, iluminando com seus vivificantes raios todos os corações, que o gelo do ceticismo e o luto da desesperança tornaram hirtos, macilentos, cadavéricos!

            A tremenda Revolução tem, para seus rubros desvarios de alucinada sublime, uma justificativa aceitável, uma atenuante absolutória (absolutiva).

            Se fez espargir ondas de sangue, se supliciou a tirania, em compensação exauriu perenes fontes de amaríssimas lágrimas!

            Se desmoronou um trono, sob cujas ruínas foram sepultados a família real e os seus numerosos caudatários, em troca ergueu uma ara (cultivo) sacrossanta à Liberdade - essa deusa martirizada por tanto tempo, e tantas vezes, supliciada na cruz formada pelos rudes lenhos chamados cetro e básculo (cajado)!

            Se, de um lado, despedaçou o negro sólio (inabalável) da tirania secular, e se espatifou os altares que se haviam transformado em verdadeiros balcões, de outro, com a mesma energia e justiça reivindicadoras, britou, numa loucura sagrada, as enéas (?) portas da Bastilha, de cuja espessa noite - só estrelejada de lágrimas - arrancando as míseras vítimas, ali sepultadas em vida, fe-las respirar as auras oxigenadas da liberdade d'envolta com os raio vivificantes do amor e da esperança, que jaziam cadavéricos no túmulo de seus corações.

            O mundo, amortalhado na escravidão, dormia o sono da miséria e da inércia, agitado de pavoroso pesadelo, provocados pelas patas do despotismo, que tripudiava sobre o seu peito descarnado e exânime!  

            O estrondo do desmoronamento da Bastilha despertou-o subitamente! Alçou fronte para o alto. Sentiu baixar-lhe do céu sobre o cérebro uma luz deslumbradora – a luz da razão e no peito os aromas inefáveis da liberdade e do amor em sua mais alta expressão, sem os quais o progresso e a felicidade não passam de concepções quiméricas!

            Tendo conquistado a liberdade cívica, a Revolução – essa heroína que teve por mãe a Enciclopédia que Diderot, Voltaire, Rousseau, d’Alembert e tantos outros imortalizaram  desapareceu do cenário do mundo, depois de haver semeado no cérebro da humanidade os gérmens da Civilização - essa árvore de precioso frutos - a cuja alentadora sombra já se vão acolhendo harmoniosamente, em significativo amplexo quase todas as Nações, que têm agora os olhos fixos num horizonte inundado, presentemente, de azul e ouro, d'antes toldados pelas nuvens do fumo dos canhões, sulcadas pelos rubros clarões sinistros dos fuzis!

            O mundo tem evolucionado.

            As artes, as letras, as ciências marcham desassombradamente à conquista de seus ideais sacrossantos! Sente-se que um vigoroso punho invisível impulsiona a humanidade para a terra da Promissão.

            Tudo murcha, tudo progride.

             Somente Roma estaciona, queda e hirta, revestida no limo de seus dogmas, como rijo escabroso penedo impassível em meio da torrente cristalina das ideias modernas deslizando, rápida e serenamente, para o oceano sem margens da perfectibilidade, em cujas ondas abismais o naufrágio é vida!

            A atlética heroína, a Revolução, proclamando os direitos do cidadão, arvorou bem alto o lábaro da liberdade, que projetou sua sombra benfazeja por sobre quase toda a superfície do planeta.

            Mas a proclamação desses direitos por tantos evos (eternidades) conculcados (humilhados) pelos verdugos do Povo, não era certamente, a única aspiração veemente das sociedades, cujo peito arquejava, opresso, ao peso da tirania régia!

            O princípio básico das liberdades cívicas estava conquistado a golpes das penas dos Enciclopedistas e da lâmina fria e cruel da guilhotina revolucionária! O feudalismo era um cancro! Para extirpa-lo, no estado de civilização em que estava então o mundo, foi necessária a efusão de sangue, provocada pelo bisturi da Revolução. Explodiu terrível, como a tempestade, mas, como esta, purificou o ambiente social! Foi cruel, mas foi útil. Portanto, não assiste razão àqueles que, como o padre Júlio Maria, trovejam objurgatórias (condenações) contra a filosofia e a saneadora Revolução do século XVIII.

            Mas, como dizia, as liberdades cívicas tinham sido conquistadas. Sem embargo, continuava ainda maniatada a virgem chamada Liberdade de Consciência.

            Tinha-se efetuado a revolução na sociedade; era preciso realiza-la nas consciências. Mas como?

            A sangria revolucionária havia descongestionado o cérebro do mundo dormindo o sono comatoso da apoplexia, provocada pelo sol equatorial do despotismo!

            Tinha-se feito muito, mas não se fizera tudo; restava libertar as consciências. Mas como?  

            Roma tinha sido, até bem pouco tempo, o baluarte inexpugnável, que era preciso derrocar, a despeito de tudo, para libertar a pobre ultrajada.

            Da imprensa e das tribunas populares partiam esfuziando vigorosas setas contra o Vaticano – formidável reduto do Passado!

            A filosofia enciclopedista já lhe havia feito experimentar alguns estremecimentos; contudo, continuava de pé a mole (indolência) sinistra!

            Mas aquilo, que o cérebro dos encarnados não conseguiu de modo completo, já agora o vai realizando o ensino dos espíritas, com uma lógica e clareza admiráveis.  

            Os Evangelhos, até então abstrusos, lidos hoje a luz da exegese das inteligências de além-túmulo, estão sendo facilmente compreendidos, e o papismo, avaro e orgulho, entrincheirado no espantalho de seus domas, que o bom senso já repudia com gargalhadas mefistofélicas, vai cedendo o lugar, em dissimulada fuga, reprimindo a custo a explosão de sua fúria impotente diante da cruzada imponente do moderno Espiritualismo que, cônscio de seu valor e de sua vitória, avança tranquilamente, sitiando em colunas cerradas, o suntuoso palácio de Caifás de Roma, palácio que há de fatalmente arder no sublime incêndio ateado pelas flamas da Verdade, que o Espiritismo vai desdobrando ante os olhos surpresos do mundo desperto!

            O coração da humanidade já se vai abrindo, de par em par, à invasão benéfica dos sentimentos filantrópicos! O ouvido atento do observador já não lhe ausculta o ruído precipite e desordenado que, dantes, tão frequentemente, nele produziam as execrandas paixões do ódio e da vingança, cujos relâmpagos sinistros vão sendo substituídos pela encantadora aurora do amor e pelo sol da ciência. Os fragrantes eflúvios do perdão e da caridade já embalsamam o coração dos Continentes!

            O mundo marcha!

            Nunca a frase feliz de Pelletan (Pierre Clément Eugène Pelletan (29-10-1813 a 13-12-1884, escritor, jornalista e político francês) teve mais verdadeira aplicação do que na atualidade. A humanidade tem marchado; mas hoje, sob o influxo do Espiritismo, ela galopa, corre célere a conquista do seu ideal de felicidade, que só podem realizar a Verdade e o Amor!  

            Este já foi ensinado exemplarmente Jesus, com uma sublimidade sem par. Aquela só em parte foi revelada pelo enviado de Deus, o qual, consoante o que afirmou, não fez a revelação completa, por ter a certeza de que não seria compreendido pelas inteligências apoucadas das turbas que o ouviam, e prometeu que ao mundo enviaria o espírito da Verdade, que é, incontestavelmente o Espiritismo, que se vai irradiando vertiginosamente por todo o mundo, enchendo os cérebros de clarões dourados e os corações de alvissareiras esperanças, de ridentes aleluias!

            Depois da revolução nas instituições políticas, era de prever a revolução nas consciências. Aquela efetuou-a Revolução de 1789. Esta vai sendo realizada triunfantemente pelo credo espírita. Aquela deu o golpe de morte no feudalismo: foi heroína!

            Esta vai fazendo ressurgir o Mundo do túmulo do fanatismo: é divina.

            A Revolução de 1789 transformou servos e párias em cidadãos!

            O Espiritismo há de transformar os cidadãos em anjos!

 


terça-feira, 20 de outubro de 2020

O Suicídio

 


O Suicídio   

por A Redação / Bitencourt Sampaio (Espírito)

Reformador (FEB) Junho 1924

             Se algum livro, folheto ou opúsculo há que mereça amplíssima divulgação, sucessivas e intermináveis edições, é esse que há anos publicou sob o título acima, o nosso devotado e saudoso confrade Francisco Chaves, que hoje frui no mundo espiritual o prêmio do seu esforço por afastar da senda do maior dos crimes os seus irmãos da terra.

            Abrindo com o incomparável ditado do Espírito de Camillo Castello Branco, dirigido ao seu amigo Silva Pinto que pensava em suicidar-se, o volumezinho de Francisco Chaves contém, ora resumida, ora desenvolvidamente, o que a doutrina espírita ensina, com relação a esse ato de fraqueza, de desespero e, sobretudo, de incredulidade, que se chama - suicídio, cujas consequências, no mundo da verdade, são as mais horríveis e dolorosas a que se pode condenar o ser humano. De par com o que a doutrina expõe a cerca de tão nefando atentado, o maior de todos, contra as leis divinas, emanadas do amor infinito, o folheto a que nos referimos corrobora os ensinos doutrinários com o testemunho dos que, como o grande escritor cujo nome vimos de citar, puderam verificar a realidade da desgraça imensa que é o suicídio.

            A obrinha de Francisco Chaves (1) é, pois, também, como se vê desde logo, excelente repositório do que de melhor se pode responder em breves palavras aos que, no insano propósito de combater o Espiritismo, vivem a alegar, por ignorância, ou por felonia (crueldade), que ele é caminho franco para o suicídio, quando a realidade é que ainda nenhuma doutrina, filosofia ou credo religioso conseguiu fundam entrar a condenação desse ato funestíssimo pela maneira irretorquível por que o faz o Espiritismo, que apoia a sua profligação (derrota) na mais eloquente das provas - a dos fatos.

 

                (1) Do blog: Não encontramos a obra citada em nenhuma de nossas fontes. Caso o leitor disponha de um exemplar em sua biblioteca solicitamos contato pela gentileza de uma cópia. Grato.

 

            Bem compreendendo tudo isso e sentindo viva a necessidade de colocar em todas as mãos um livrinho tão útil e tão benéfico, nesta época em que, entre nós como por toda a parte, se observa o que se poderia chamar a epidemia do suicídio, o nosso prezado companheiro Frederico Fígner teve a feliz e generosa inspiração de mandar fazer, por sua conta, larga reedição do precioso volume, para distribui-lo copiosamente.

            Querendo, porém, que a nova edição trouxesse alguma coisa de novo e, mais ainda, alguma coisa que aumentasse o valor já não pequeno da caridosa obra de Francisco Chaves lembrou-se aquele companheiro de pedir ao bondoso Espírito de Bittencourt Sampaio, esteio dos mais fortes da Federação no mundo espiritual, um prefácio ou prólogo para o volume que se está reimprimindo. Aquiescendo, como era de esperar, a essa justificada solicitação, Bittencourt Sampaio prometeu que daria o que desejava Fígner e com ele os seus companheiros desta casa. Cumprindo a promessa, ditou a página que adiante se vai ler e que, antes de realçar o valor da obra a que se destina, dará às colunas desta revista um brilho e um relevo que lhe não são habituais.

            Eis o que disse o luminoso Espírito, a quem tantos benefícios e tão caridosa assistência devem os que mourejam nesta oficina de trabalho espiritual, que é a Federação:

 ADVERTÊNCIA AOS QUE DESESPERAM

             Vai, ó criatura, e conquista, com o suor de teu rosto, o pão de cada dia.

            Palmilha, passo a passo, a via dolorosa da expiação para limpares teu Espírito das manchas que o cobrem. Eis a exortação que ao Espírito fazem os que velam pelo seu progresso, quando a lei das existências várias o arroja a tomar a libré da terra.

            E porque vez o Espírito à masmorra da carne? Será por um capricho da Divindade? Será por uma manifestação da cólera divina, que os pretensos representantes de Deus lhe atribuem para manterem, em seu proveito, presa a humanidade ao terror supersticioso? Não, o Espírito delinquente, aquele que um dia olvidou a lei do amor que esqueceu a sua origem, que fez tábua rasa (esqueceu) da humildade, esse sim, é condenado à estação de cura, pelas paragens da dor. E nada, que não ela, o pode libertar dessa lei, que é a manifestação mais lídima do amor do Deus.

            Se as religiões radicadas nas massas ensinassem ao homem a razão de ser da dor, se lhe mostrassem a dupla significação das lágrimas, que tanto podem ser a expressão de um sofrimento horrível, como a cristalização da alegria mais pura do Espírito cheio de gratidão, por certo, livros como este não precisariam ser espalhados em nossos dias. Mas... não é aqui o lugar próprio para grafar em letras candentes a responsabilidade que pesa sobre os ombros dos primeiros convidados para o banquete do Pai de Família.

            A amizade de um irmão dedicado quis colocar o meu nome no frontispício desta obra. Esse desejo traduz mais uma prova de afeto, a que prazerosamente correspondo, do que necessidade de valorizar a obra, já de si mesma tão valiosa, pelo seu contexto. Quero, apenas, dizer o que meu Espírito sabe destas coisas; quero bradar aos incautos, que caminham na vida conduzidos por cegos, que o fosso os espera, se não se precaverem da companhia. Isto tenho de o dizer com o Evangelho na mão, porque só esse é o roteiro capaz de levar a porto seguro a nau da vida.

            Não valem sofismas, não colhem subterfúgios, nem há ritos, nem dogmas, nem fórmulas, nem aberrações que evitem o exato cumprimento da lei. A vida do homem é divina, porque é criação e desígnio do Ser Supremo. Ele no-la dá, Ele no-la mantém e quer somente com ela e por ela a purificação do delinquente. Como, pois, fugir à dor física, ao opróbio (vexame), a desonra, se esse foi o ferrete que nodoou o nosso Espírito, marcando-o, até que a purificação apague o estigma? Como evitar a chaga, quando o sentimento destila veneno que empeçonha a alma?

            Insensatos, que desprezam o único meio de regeneração que a misericórdia lhes concede em meio de sua desdita! Cegos, que têm o remédio nas mãos e o deixam escapar ofuscados pela tentação da liberdade, uma liberdade que a falta de fé mal lhes deixa vislumbrar!

            Eu, porém, digo a quem me ler: só há uma saída para o prisioneiro da dor; só há uma chave para abrir a porta do cárcere expiatório - é a resignação; é aceitar a vida terrena tal qual seja, dolorosa, rude, cheia de pesares e desilusões.

 *

             Pretendia apenas colocar ao lado do de Camilo o meu nome; com isto teria dito tudo quanto poderia dizer sobre tão relevante assunto. Suas “Palavras aos Desgraçados” são um grito da experiência, são o brado da sinceridade que a sua consciência de Espírito arrependido soltou aos quatro ventos, a fim de ser ouvido pelos tentados à deserção do campo da luta. Ele disse, enumerando os crimes mais hediondos que podem aculcar (?) a consciência de um filho de Deus: “o suicídio é a suprema ofensa a Deus.” De fato, ninguém definirá melhor, ninguém poderia ligar palavras que exprimissem tão ao vivo o que representa esse crime para a vida do Espírito. Pintando com cores carregadas a região onde choram os desgraçados falidos, disse, com aquela sinceridade tão sua, que nem o Dante soube combinar as tintas para patentear aos olhos humanos o quadro que se defronta ao suicida, ao ingressar nas regiões do Infinito.

            Poderia eu dizer mais? Não, nem creio mesmo que alguém pudesse faze-lo, de modo a melhor calar no ânimo dos que aí são levados à tentação, pelo peso do fardo que não sabem tornar leve.

            Mas, e não posso tornar mais tétrico o quadro, permite, no entanto, o Senhor eu Deus que o servo possa tornar mais suave as tintas da paisagem triste, que leva o Espírito inclinado ao máximo crime a descrer da própria salvação. Permite o meu Senhor que eu diga ao peregrino da dor: Sofreia as tuas cogitações pessimistas e olha para as aves que te cercam, para a vegetação que te rodeia, para esse ar festivo que a Natureza ostenta, É a mão do Criador que aí se patenteia! Nesse ritmo perfeito, que tudo move e tudo regula, está a ação da invisível Vontade que domina sobre tudo quanto é criado.

            Detém-te, pois, nas tuas cogitações pessimistas, mísero pecador; dá novo rumo ao teu pensamento. Leva-o para o seio de Nosso Senhor Jesus Cristo. Aí, aguarda a voz do teu guia e ele te dirá: “Será possível que a mão que veste de galas a erva do prado e põe na garganta dos pássaros o gorjeio de alegria possa ferir-te, a ti criatura dotada de livre arbítrio? Dirá mais essa voz amiga: “Penetra, sofredor, no âmago de ti mesmo e procura no teu sentimento pecaminoso a causa do teu sofrer. Então, sim, poderás compreender a dor, bendize-la mesmo, porque só ela será capaz de fazer brotar no teu Espírito alvoradas sem fim.”

            Posso ainda dizer: Olha para a frente caminheiro: na estrada a percorrer há caminhos íngremes e carreiros suaves, numa promiscuidade que assombra o teu olhar; mas, fita ao longe e verás, embora distante, o oásis reparador, onde poderás restaurar as forças combalidas, para recomeçares a jornada, já agora, por trilhas menos ásperas.

            Toma o teu bordão e segue.

            Eis o que posso dizer aos que me lerem. Só esse caminho liberta o Espírito das urzes da viagem terrena. O outro, de que fala o Camilo, é o atalho que leva à montanha escarpada do desespero.

             Bittencourt  


A Missão do Consolador

                       

A Missão do Consolador          

 16,5 "- Agora, vou para Aquele que Me  enviou, e ninguém de vós Me  pergunta: - Para onde vais? 

16,6  Mas porque falei assim,  a  tristeza encheu o vosso coração. 

16,7  Todavia, digo-vos a verdade: a vós convém que Eu vá! Porque, se Eu não for, o Consolador não virá a vós, mas se Eu for, vo-lo enviarei. 

16,8 E, quando Ele vier, convencerá o mundo a respeito do  erro, da  justiça e do juízo. 

16,9 Convencerá o mundo a respeito do erro, que consiste em não crer em Mim; 

16,10  Ele o convencerá a respeito da justiça, porque Eu vou para junto do Meu  Pai  e  vós    não  Me  vereis;    

16,11  Ele o convencerá a respeito do juízo, que consiste em que o Príncipe deste mundo já está julgado e condenado.

16,12 Muitas coisas ainda tenho-vos a dizer, mas não as podeis suportar agora.

16,13  Mas, quando vier aquele Espírito de Verdade, ele vos guiará em toda verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá o que ouvir e anunciar-vos-á as coisas que  virão.   

16,14  Ele Me glorificará, porque receberá do que é Meu, e vo-lo anunciará. 

16,15 Tudo o que o Pai possui é Meu. Por isso, disse: Há de receber do que é Meu e vo-Lo anunciará.”

            Para Jo (16,7) A vós convém que Eu vá...- busquemos “Pão nosso” (Ed. FEB), de Emmanuel por Chico Xavier:

             “Semelhante declaração do Mestre ressoa em nossas fibras mais íntimas.

            Ninguém sabia amar tanto quanto Ele, contudo, era o primeiro a reconhecer a conveniência da partida, em favor dos companheiros.

            Que teria acontecido se Jesus teimasse em permanecer? Provavelmente, as multidões terrestres teriam acentuado as tendências egoísticas, consolidando-as.

         Porque o Divino Amigo havia buscado Lázaro no sepulcro, ninguém mais se resignaria à separação pela morte. Por se haverem limpado alguns leprosos ninguém aceitaria, de futuro, a cooperação proveitosa das moléstias físicas. O resultado lógico seria a perturbação geral no mecanismo evolutivo.

            O Mestre precisava ausentar-se para que o esforço de cada um se fizesse visível no plano divino da obra mundial. De outro modo, seria perpetuar a indolência de uns e o egoísmo de outros.

            Sob diferentes aspectos, repete-se, diariamente, a grande hora da família evangélica em nossos agrupamentos afins.

            Quantas vezes surgirá a viuvez, a orfandade, o sofrimento da distância, a perplexidade e a dor por elevada conveniência ao bem comum?

              Recordai a presente passagem do Evangelho, quando a separação vos faça chorar, porque se a morte do corpo é renovação para quem parte é também vida nova para os que ficam.”

          Para Jo (16,13) -O Espírito de Verdade vos guiará... -  tomemos “Segue-me!” (Ed. FEB), de Emmanuel por Chico  Xavier:

                O caminho de toda a Verdade é Jesus Cristo. O Mestre veio ao mundo instalar esta verdade para que os homens fossem livres e organizou o programa dos cooperadores de seu divino trabalho, para que se preparasse convenientemente o caminho infinito. No fim da estrada colocou a redenção e deu as criaturas o amor como guia.

            Conforme sabemos, o guia é um só para todos. E vieram os homens para o serviço divino. Com as cooperadores vinham, porém, os gênios sombrios, que se ombreavam com eles nas cavernas da ignorância.

            A religião, como expressão universalista do amor, que é o guia, pairou sempre pura acima das misérias que chegaram ao grande campo; mas este ficou repleto das absurdidades. O caminho foi quase obstruído.

         A ambição exigiu impostos dos que desejava, passar, o orgulho reclamou a direção dos movimentos, a vaidade pediu espetáculos, a conveniência requisitou máscaras, a política inferior estabeleceu guerras, a separatividade provocou a hipnose do sectarismo.

            O caminho ficou atulhado de obstáculos e sombras e o interessado, que é o espírito humano, encontra óbices definitivos para a passagem.

            O quadro representa uma resposta a quantos perguntarem sobre os propósitos do Espiritismo cristão, sendo que o homem já conhece todos os deveres religiosos. Ele é aquele Espírito de Verdade que vem lutar contra os gênios sombrios que vieram das cavernas da ignorância e invadiram o campo do Cristo.

            Mas, guerrear como:  Jesus não pediu a morte de ninguém. Sim, o Espírito de Verdade vem como a luz que combate e vence as sombras, sem ruídos. Sua missão é transformar, iluminando o caminho para que os homens vejam o amor, que constitui o guia único para todos, até a redenção.”

             Para  Jo (16,13), Ele vos guiará em toda verdade - buscamos, ainda, “Segue-me!” (Ed. FEB) de Emmanuel por Chico Xavier:

                  “De que maneira vencerá o Espiritismo os obstáculos que se agigantam à frente?

            Há companheiros que indagam: “Devemos buscar saliência  política ou dominar a fortuna terrestre?” Enquanto isso outros enfatizam a ilusória necessidade da guerra verbal a greis ou pessoas. Dentro do assunto, no entanto, transcrevemos a Questão nº 799 de “O Livro dos Espíritos”.

            Prudente e claro, Kardec formulou, aos orientadores espirituais de sua obra, a seguinte interrogação: “De que maneira pode o Espiritismo contribuir para o progresso? E, na lógica de sempre, eis que eles responderam:

            Destruindo o materialismo que é uma das chagas da sociedade, ele faz que os homens compreendam onde se encontram seus verdadeiros interesses. Deixando a vida futura de estar velada pela dúvida, o homem perceberá melhor que, por meio do presente, lhe é dado preparar o seu futuro. Abolindo os prejuízos de seitas, castas e cores, ensina aos homens que os há de unir como irmãos.

              Não nos iludamos com respeito às nossas tarefas. Somos todos chamados pela Bênção do Cristo a fazer luz no mundo das consciências - a começar de nós mesmos - , dissipando as trevas do materialismo ao clarão da Verdade, não pelo espírito da força, mas pela força do espírito, a expressar-se em serviço, fraternidade, entendimento e educação.”

 


segunda-feira, 19 de outubro de 2020

De direito e de fato

 


                                                                                                                                                M. Quintão 

De direito e de fato

por Manuel Quintão      Reformador (FEB) 16 Junho 1937

             Recebemos constantemente jornais, panfletos e revistas, assinalados, em que se contém diatribes mais ou menos estultas e aleivosias transparentes, bolsadas à doutrina espiritista e aos seus adeptos.

            Adivinhamos a Intenção dos remetentes, quase sempre anônimos, a presumir neles o amor da verdade e um justíssimo zelo de causa, que só pode suscitar apreço.

            Nada obstante, quiséramos de uma vez por todas acentuar que essa campanha é velha quanto inócua e não deve ser, em boa tese, considerada um malefício capaz de alterar o desenvolvimento normal da doutrina, que, de direito e de fato, não nos pertence, por que é de Jesus.

            A crença, qualquer crença, se bem o considerarmos, corresponde menos a quaisquer sistematizações de ideias preconcebidas e de plano inculcadas, do que a um estado de consciência intrínseco, ou, seja, aptidão psíquica e patrimonial, que traduzimos por capital realizado do Espírito em evolução.

            Querer galvanizar na sequência dos séculos um sistema religioso ou filosófico é absurdo que atenta contra a verdade histórica de toda a nossa chamada civilização. As religiões são meios ocasionais, transitórios, de progresso e nunca finalidades definitivas e acabadas no tempo e no espaço.

            Como tais, podem elas justificar se em função de um periodismo relativo, mas nunca, jamais, impedir a ascese e o ritmo da evolução global, providencial e indefinita.

            A recalcitrância na exação dessa lei, em função de um livre arbítrio parcial, mas, sotoposto sempre a um determinismo superior, pelo enquadrar tiranias abomináveis e até mesmo ignóbeis - quais o registra o sectarismo fanático de todos os tempos e matizes, não deixa de, em sentido mais lato, corresponder àqueles meios reparadores que a Providência utiliza para o progresso do Espírito na trama das reencarnações sucessivas. E são assim, de paralelo, aqueles escândalos necessários, propiciados ao resgate do último centil.

            Em armadilhas de lobo só caem lobos - disse Jesus: de sorte que, entrevistos pelo prisma da nossa confissão genuinamente evangélica, esses pobres foliculários (jornalistas) que julgam poder arrasar consciências e modelar prosélitos à força de contumélias (insultos) e baldões (ofensas), não passam mesmo de meros visionários, enquadrados a preceito no capítulo dos cegos condutores de cegos, destinados ao barranco.

            E acompanha-los nos seus processos já não seria, então, apenas, ombrear com eles na inópia ou na maldade, para negarmos de público o fundamento de fé evangélica e uma superioridade moral imprescindente (sem relevância) aos nossos atos, mas perder de sobejo um tempo e vasa preciosos na edificação do próximo. Quanto de nós mesmos.

            Abstração feita do cunho individual, variável ao infinito, podemos classificar em duas categorias os antagonismos da Revelação Espírita: - conscientes e inconscientes.

            Entre os primeiros, destacam-se pela desenvoltura e filauda (sequência) das atitudes, os sacerdotes católicos e protestantes, empatranhados (patranha=mentira) nos seus dogmas caducários e ciosos de um regalismo (direito de interferir nos conceitos religiosos) tradicional. Misoneístas (com aversão a novidades) oportunistas, por índole e por hábito.

            Jogando de mão a partida com os naipes da ingenuidade e negligência humanas; entretendo e explorando essa quase indiferença das massas por tudo que não diz com a solução do problema biofísico - (Voltaire já dizia que três quartos do gênero humano não se preocupam com o ser pensante) - é de ver-se lhes, a sequela dos acomodatícios, que não creem muito nem pouco, mas caminham de plano e defendem, unguibus et rostro, (com garras e bico) as posições conquistadas.

            A esses que tais, inútil fora o tentar de qualquer forma convencê-los. São os cegos que não querem ver, e nós outros sabemos que nem Deus em sua onipotência violenta o livre arbítrio da criatura. Só o tempo provido de experiência amarga e sofrimentos longos poderá desbastar lhes a ganga do orgulho, estratificado e cultivado de muitas gerações.

            Quanto aos outros, os da segunda categoria, ou, sejam, precisamente, os componentes da massa a que nos referimos, será lícito esclarece-los, trabalhar por eles e para eles, sem contudo os escandalizar com a intransigência e a severidade de nossas atitudes, como quem sabe que tudo vem a seu tempo e tem uma razão de ser. Mais: como quem sabe que só Deus tem o poder de fazer das pedras filhos de Abraão.

            Não haverá, supomos, um só confrade consciencioso, capaz de negar seja Jesus o Pastor do rebanho, cuias ovelhas se hão de salvar sem perda de uma só. Dizendo ele que o pegureiro (pastor) deixaria as ovelhas sãs para cuidar da doente e tresmalhada, nós outros, ovelhas convalescentes e que mal ensaiamos os primeiros passos de retorno ao Aprisco, não devemos objurgar os que, nossos comparsas de ontem, hoje nos detraem, mesmo os de má fé, que são por isso mesmo os mais lastimáveis.

            O Amor, só o Amor edifica; e, se a triste e grande verdade é que nós, que tanto o apregoamos, ainda o não temos para recompensar aos nossos inimigos, compreendamos, entretanto, a necessidade de uma indulgência razoável, como premissa de fidelidade à palavra que diz; - amai aos vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam; orai pelos que vos perseguem e caluniam.

            Ao invés, portanto, de torneios literários em revides e pegadilhas (atritos), uma prece, uma vibração de amor é o que devemos reservar aos nossos pervicazes (cabeças-duras) agressores. E não esquecer, ao demais, que eles são preciosos auxiliares do nosso progresso real, com o facultar-nos o ensejo de praticar, de fato, a Caridade, que tanto apregoamos de direito.

            A humanidade contemporânea, em labores de acelerada transição, está referta (repleta) de teorias, de simbologias e ficções balefas (gordas e folgadas) e, se o Espiritismo é, iniludivelmente, a Ciência da Vida e a Religião da Verdade, não devem seus adeptos rebater na incude (bigorna) das paixões, que têm forjado e forjam ao presente, mais talvez que nunca, a desgraça do mundo.

            De resto, será essa uma cavilosa (fraudulenta) tática dos nossos invisíveis quão argutos inimigos, tendente a despertar e a entreter com discrimes (diferenças) e polêmicas menos edificantes os nossos mal extintos pruridos de homem velho.

            A luta, bem o sabemos, é necessária e até indispensável. No campo fecundo dos idealismos, é nela e por ela que acendramos a fé e aclaramos a razão; mas, convenhamos em que as nossas armas só lograrão triunfos.