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quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Velar com Jesus



Velar com Jesus
 Emmanuel
por Chico Xavier
Reformador (FEB)
           
            E voltando para os seus discípulos, achou-os adormecidos e disse a Pedro: Então, nem uma hora pudeste velar comigo?" - (Mateus 26:40.)

            Jesus veio à Terra acordar os homens para a vida maior.

            É Interessante lembrar, todavia, que, em sentindo a necessidade de alguém para acompanhá-lo no supremo testemunho não convidou seguidores tímidos ou beneficiados da véspera e sim os discípulos conscientes das próprias obrigações. Entretanto, esses mesmos dormiram, intensificando a solidão do Divino Enviado.

            É indispensável rememoremos o texto evangélico para considerar que o Mestre continua em esforço incessante e prossegue convocando cooperadores devotados à colaboração necessária. Claro que não confia tarefas de importância fundamental a Espírito inexperientes ou ignorantes; mas, é imperioso reconhecer o reduzido número daqueles que não adormecem no mundo, enquanto Jesus aguarda resultados da incumbência que lhe foi devida.

            Olvidemos o mandato de que são portadores, inquietam-se pela execução dos próprios desejos, a observarem em grande conta os dias rápidos que o corpo físico lhes oferece. Esquecem-se que a vida é a eternidade e que a existência terrestre não passa simbolicamente de “uma hora”. Em vista disso, ao despertarem na realidade espiritual, os obreiros distraídos choram sob o látego da consciência e anseiam o reencontro da paz do Salvador, mas ecoam lhes ao ouvido as palavras endereçadas a Pedro: Então, nem por uma hora pudeste velar comigo?

            E, na verdade, se ainda não podemos permanecer com o Cristo, ao menos uma hora, como pretendemos a divina união para a eternidade?

O Bispo e os Espíritos



O Bispo e os Espíritos
por Hermínio Miranda
Reformador (FEB) Julho 1970

            - Papai, acabo de tomar uma dose de LSD. Será que você quer sentar-se comigo e me guiar na minha “viagem”?

            A pergunta era dirigida ao famoso Bispo da Califórnia, James A. Pike, do ramo americano da Igreja Anglicana. Não havia outra coisa a fazer senão ajudar Jim na sua aventura alucinante sob o efeito da droga. Não era mais segredo para o Bispo que seu filho de 19 anos de idade há algum tempo vinha tomando drogas. Tudo havia sido feito para subtrair o rapaz daquele pesadelo. No momento em que a pergunta lhe foi dirigida, encontravam-se pai e filho na Inglaterra, afastados do resto da família que ficara nos Estados Unidos. Era uma tentativa a mais de quebrar o hábito maldito de fugir a realidade que o jovem Pike adotara.

            Seu pai já fizera todos os exames de consciência para procurar saber onde havia falhado, passara por todas as aflições por ver assim truncado o destino do filho para o qual certamente sonhara com realizações até mesmo superiores às suas próprias.

            A narrativa, densa e dramática, duma sinceridade e franqueza comoventes, está no livro intitulado “The Other' Side” (“O Outro Lado”), publicado em 1968 nos Estados Unidos. O Bispo Pike morreu tragicamente no ano seguinte, quando em viagem pela Terra Santa. A sua grande paixão era escrever sobre as origens do Cristianismo. Foi uma figura eminente na sua Igreja. Dinâmico, muito combativo e franco no expor suas opiniões, teve problemas com colegas e superiores mais ortodoxos que certa vez chegaram a julgá-lo por heresia.

            Depois de uma temporada em Londres, onde pai e filho conviveram por alguns meses, fazendo intenso estudos universitários, resolveram regressar separadamente aos Estados Unidos. O pai para participar de uma convenção de sua Igreja (depois retomaria à Inglaterra) e o filho para matricular-se na Universidade de São Francisco.

            Estava o Bispo oficiando na sua igreja quando recebeu como uma punhalada a notícia de que Jim suicidara-se num quarto de hotel em Nova Iorque.

            A tragédia atingiu em cheio aquele homem de sensibilidade e cultura, membro destacado de uma organização religiosa que, no entanto confessa que não tinha condições de dar nenhum conforto à família “na base de uma crença na vida após a morte”. Não será a única vez no livro que declara essa posição de descrença em face da sobrevivência do espírito, a despeito de ser líder religioso de uma extensa comunidade cristã. Já dissera páginas antes que “à falta de outra evidência ... tinha de admitir, com toda a honestidade, que não dispunha de dados suficientes sobre os quais pudesse basear uma afirmação de vida após a morte”. Certamente toda a estrutura do pensamento religioso que constituía objeto de sua vida e de sua pregação, é baseada na crença de que nós sobrevivemos à morte do corpo, mas crença não é evidência, e, para um espírito lúcido e habituado ao trato das ideias, não basta a crença quando o homem confronta com o problema da morte.

            Nessa altura, porém, a dramática história do Bispo Pike estava apenas começando. De volta à Inglaterra para dar prosseguimento aos seus estudos, levou seu capelão Davíd Barr e a Sra. Maren Bergrud, da Diocese da Califórnia, e que já uma vez o ajudara a preparar um dos seus vários livros. 0s três foram ocupar o mesmo apartamento onde por algum tempo viveram Pike e o filho.

            Uma noite, ao entrarem em casa, encontraram, sobre o chão, dois cartões postais colocados de modo a formarem um ângulo de 140 graus. {Mais tarde descobriu-se que a posição dos cartões indicava - ou pelo menos coincidia com a posição dos ponteiros do relógio no momento em que Jim se suicidara). Naturalmente que Jim tinha mania de cartões postais e a primeira coisa que fazia, ao chegar a uma cidade em visita, era comprar alguns deles que, segundo o pai, jamais punha no correio. Era estranho encontrar aqueles cartões, e a mulher que fazia a limpeza do apartamento afirmou categoricamente que nada tinha a ver com eles. Era de toda a confiança, honesta e muito cuidadosa em tudo quanto fazia. O incidente, embora estranho, não tinha grande significação. Ou pelo menos assim pensaram todos e Pike confessa que “jamais nos ocorreu que ele (Jim) poderia, de alguma forma, estar relacionado com os cartões”.

            Na terça-feira, 22 de Fevereiro, outro estranho acontecimento: a Sra.Bergrud apareceu de manhã para o café com parte de seus cabelos queimados. A surpresa foi grande e geral. Inclusive dela mesma que ainda não dera pelo fato. Uma mecha na altura da testa fora queimada em linha reta, ficando com as pontas pretas, mas nenhum sinal havia de queimadura na pele. Mistério.

            Na manhã seguinte novas porções do cabelo da Sra. Bergrud apareceram também queimadas. Depois de muita especulação ela parecia conformada e disse;

            - Bem, algumas pessoas não gostavam de meu cabelo em franjinhas mesmo; por isso talvez seja melhor assim como está.

            A frase sacudiu Pike, pois ale se lembrou perfeitamente de Jim comentando com ele certa vez que não gostava das franjinhas de Maren e chegara mesmo a propor a ela que os cortasse.

            Dias depois, a Sra. Bergrud amanheceu com ferimentos sérios nas mãos. Parecia que um instrumento perfurante havia sido introduzido sob suas unhas. Uma estava quebrada e realmente caiu mais tarde; outra não se quebrara, mas a carne sob ela estava ferida.

            Na discussão que se seguiu e na preocupação com os curativos, não observaram senão depois que o resto das franjinhas da Sra. Bergrud tinha desaparecido!

            Eram apenas os primeiros fenômenos, as primeiras manifestações evidentes de um Espírito em desespero e confusão, tentando transmitir, a pessoas inteiramente despreparadas para o problema, sinais de sua sobrevivência.

            - Eu apenas gostaria - diz o Bispo aos seus amigos -- de compreender o que está acontecendo aqui.

            No meio da conversa que se seguiu, descobriram que o próprio Bispo - ao que tudo indica para nós espíritas - tinha servido de médium a uma manifestação do Espírito do filho. Para grande surpresa sua e de seus amigos, não se lembrava absolutamente de nada do que dissera em estado de transe, mas os pensamentos expressos foram muito chocantes para os que ouviram as palavras pronunciadas, pois revelavam atitudes mentais inteiramente diferentes das habituais no Bispo. Segundo lhe contaram, Pike, depois de deitar-se à noite, sentara-se na cama e começara a falar daquela maneira estranha, como se estivesse monologando. Não seria difícil reconhecer naquelas palavras a expressão do pensamento de Jim e não do velho Pike, razão pela qual a Sra. Bergrud ficou tão chocada ao ouvi-las pronunciadas pelo seu amigo, pois desconhecia totalmente a origem e razão do fenômeno.

            Píke começou então a admitir a possibilidade de que aquela série de acontecimentos tivesse a ver algo com o filho morto. Mas por onde começar a investigação cuidadosa e consciente dos fatos? Nenhuma ideia, nenhum preparo, nenhuma orientação. Era um Bispo protestante, dedicara toda a sua vida à Igreja e à sua teologia e certamente sempre tivera o hábito de por de lado sem exame, os fenômenos e as referências que tivessem qualquer relação com o mundo dos Espíritos. Ouvira falar, por exemplo, em “poltergeist”, mas não tinha ideia precisa do que fosse. Ao que se lembrava vagamente a coisa tinha algo a ver com distúrbios provocados pelo Espírito de uma pessoa morta na casa onde residira em vida. Seria isso? Viu-se então, “pela primeira vez, diante da possibilidade real de que a fonte de tudo quanto estava acontecendo poderia ser o meu filho - morto, mas ainda vivo”.

            Esse ponto era uma encruzilhada e não faltou ao Bispo Píke a coragem necessária para seguir adiante nas suas pesquisas, estranhas e desusadas pesquisas para um “príncipe” da igreja Reformada. Suas confissões são às vezes de comovente sinceridade: Custei muito a acertar a possibilidade de que se tratava de Jim, pois não acreditava que ele continuasse a viver”. (Grifo meu). E mais: nem Maren, sua secretária, nem Davíd, seu capelão, acreditavam na vida póstuma! “Contudo, diz Pike, não podíamos pensar em outra explicação - resultado, que agora compreendo - da nossa ingenuidade e da falta de sofisticação em relação a todo o campo dos fenômenos psíquicos”.

            A quem recorrer numa emergência dessas? Lembrou-se então do Reverendo Pearce-Higgins que entendia dessas coisas em virtude de suas experiências psíquicas e da sua participação na organização de sua igreja que patrocina essas pesquisas.

            E assim, na manhã de 28 de Fevereiro, o Bispo Pike ligou para o Reverendo Pearce-Higgins, narrou-lhe os acontecimentos e pediu orientação.

            Pearce-Higgins explicou ao eminente amigo, neófito em coisas dessa natureza, que havia duas explicações plausíveis para os fenômenos: ou eram expressão de uma hostilidade a alguém que viera ocupar a casa em que vivera o Espírito, ora desencarnado, ou recursos para chamar a atenção de alguém. Em suma, para encurtar a história, Pearce-Higgins marcou hora para o Bispo Pike com uma médium muito conhecida em Londres, a Sra. Ena Twig, e, através dela, Pike pode, afinal, conversar, digamos assim, face a face com o filho morto.

            Os preconceitos do Bispo em relação à prática mediúnica começaram a cair. Esperava encontrar, na casa da Sra. Twig cortinas pesadas, abajures de seda com babados, ornamentos exóticos e uma semiobscuridade atravancada de objetos e móveis; enfim, a caricatura cinematográfica e anedótica da mediunidade. Ao contrário, o cômodo era tão simples e comum que, ao escrever seu livro, mais tarde, ele nem se lembrava dos pormenores para descrevê-lo.

            Seria impraticável reproduzir toda a conversação e aquela natural aflição por dizer muita coisa em poucas palavras, num espaço exíguo de tempo. É fácil, porém, imaginar a cena! de um lado da vida, o filho suicida recém-retirado de uma existência sem horizontes sob a terrível pressão das drogas; de outro lado um pai aflito, presenciando um fenômeno que lhe era inabitual e ao qual apenas umas semanas antes jamais teria pensado em assistir, muito menos provocar.

            A sessão contou com a presença algo surpreendente do Espírito do eminente teólogo Paul Tillicb, amigo de Pike e que parecia estar ajudando Jim no mundo espiritual. O Bispo sentiu um verdadeiro choque emocional ao ser revelada a presença do seu grande amigo, recentemente desencarnado. E ainda: como é que a médium poderia saber que o novo livro de Pike, que estava sendo lançado naquele momento nos Estados Unidos, tinha uma dedicatória a Paul Tillich?

            - O rapaz - disse Tillich - era um visionário, nascido fora de seu tempo. Encontrou
uma sociedade desconcertante na qual a sensibilidade é classificada como fraqueza.

            A uma pergunta do Bispo sobre se seria boa coisa divulgar a realidade da sobrevivência e da comunicabilidade a resposta veio de Paul Tillich e muito cautelosa:

            - O fogo na planície pode causar o caos se não for controlado. Trabalhe cuidadosamente mas conserve em mente a palavras -: “Conhecereis a verdade e a verdade vos líbertará!”

            E nesse tom terminou a primeira sessão mediúnica a que assistiu o Bispo James A. Pike.

            Daí em diante, atirou-se ele com disposição e inteligência ao estudo dos fenômenos, à leitura de livros e aos contados com quem pudesse instruí-lo sobre a matéria. Voltaria a servir-se de médiuns, tanto na lnglaterra como nos Estados Unidos. Sob estranhas condições, tal como previra o Espírito de seu filho, encontraria nos Estados Unidos uma organização, também ligada à Igreja, que o ajudou nos seus estudos.

            E aqui vemos, em toda a sua crua realidade, as dificuldades que enfrenta o conhecimento da verdade que, segundo o Cristo, um dia nos libertará. Aquele homem notável, Bispo de uma grande comunidade cristã, autor de livros de sucesso na sua especialidade, pregador eminente de uma doutrina arrolada no fato básico da sobrevivência do Espírito humano, confessa não acreditar nessa ideia e admite jamais ter lido um único livro ou ensaio que cuidasse de qualquer aspecto da experiência psíquica, hoje tão amplamente divulgada.

            O resto do livro - e são ainda cerca de 200 páginas das 300 e tantas que o compõem - é uma narrativa fiel, descrevendo passo a passo a longa e penosa busca da verdade contida no fenômeno psíquico tão familiar aos espíritas.

            Sua primeira surpresa foi a extraordinária quantidade de livros existentes sobre o assunto, que até então lhe passara inteiramente despercebida. Sua conclusão, depois de muito estudar, meditar e assistir a manifestações de variada natureza, se resume, em suas próprias palavras, da seguinte maneira: Minha experiências pessoais, juntamente com os fatos que fui levado a pesquisar, como resultantes delas - tanto quanto as análises feitas por cientistas respeitáveis nos seus campos de atividade que também dedicaram cuidadosa atenção aos dados em mais de uma área psíquica - me habilitam a afirmar a “vida após a morte como coisa “natural” a esperar-se da psique humana que parece estar desde já na vida eterna. Prossegue dizendo que essa era uma afirmativa que ele não estivera em condições de fazer no seu último livro. E mais: que as crenças suscitadas pela evidência dos fatos eram poucas na verdade, mas baseadas em fundações muito sadias e experimentais.

            Deve causar-nos verdadeira revolução interior descobrir que tudo aquilo quanto serviu de base, à estrutura do nosso pensamento e da nossa vida, de repente não serve mais. E que a nova verdade descoberta precisa ser meditada, encaixada no arcabouço das nossas ideias e finalmente proclamada, num depoimento leal e sincero. É necessário abrir espaço para ela em nosso espírito e jogar fora as velharias que o atravancam e obscurecem. Por isso, o Espírito do jovem Pike, depois de aquietadas as suas angústias no novo plano de vida e certamente muito ajudado pelos seus amigos, declarou através da mediunidade de George Daisley:

            - Sinto-me tão feliz ao verificar que você resolveu enfrentar o desafio... estimulando outros a saírem em busca dos seus entes queridos. Diga-lhes para terem todo o cuidado na verificação dos fatos.

            E mais adiante:

            - Estou esforçando-me duramente para aprender que estar morto é na realidade estar mais vivo. É uma excelente ideia essa de narrar os fatos. Já há muito deveria ter sido feito isso.

            E, uma a uma, começam a chegar as verdades que a Doutrina Espírita já nos ensinou a tanto tempo. Por exemplo: numa tentativa de entrar em contato com o Espírito de Marem Bergrud, sua secretária, que também se suicidara, o Bispo é avisado de que ela ainda está muito confusa e sem condições de falar. Os Espíritos estavam cuidando dela com todo o afeto e atenção, mas Maren sofria bastante e estava mergulhada num estado de grande confusão mental. “Isto era perturbador - escreve Pike - mas refletia o que eu aprendera ser comum: que aqueles que morrem de morte violenta, ou que se suicidam, encontram maior dificuldade em ajustarem-se do outro lado.

            Ao cabo de algum tempo e depois de um programa gravado para a televisão canadense com famoso médium Arthur Ford, a coisa explodiu na imprensa como uma bomba, nas manchetes escandalosas: O Bispo Pike afirmava ter conversado com o filho morto. Como se fosse a maior novidade do mundo alguém conversar com Espíritos...

            A reação de amigos, conhecidos e desconhecidos, foi pronta e abundante. Cartas, telegramas e telefonemas choviam sobre o Bispo. Uns para ajudar, para oferecer consolo. Sugestões, narrar fatos semelhantes; outros para dizer os maiores abusos e impropérios. Um colega sacerdote escreveu um artigo para “provar” que Pike não havia falado com o Espírito do filho e sim com o Demônio. Nesse artigo, até mesmo fatos que eram do domínio público, porque haviam sido narrados pelos jornais, estavam truncados. Uma lástima... Quem poderia, no entanto, convencer um pai de que o Espírito com quem falou era do Demônio e não do seu filho? Não conhecemos os modismos, as expressões, as tendências, as preferências e antipatias dos nossos filhos?

            Muitos cristãos, comenta Pike, algo aturdido, não acreditam na comunicabilidade dos Espíritos, mas aceitam a “ressurreição” do Cristo. Era de esperar-se, prossegue, que esses cristãos acolhessem com enorme alegria a “prova de que a sua fé não é em vão”. Em lugar disso, a reação é predominantemente negativa, cheia de paixão e intolerância.

            Ao cabo dessa longa e penosa aventura, o Bispo estava convencido da sobrevivência do seu filho Jim. Muitas perguntas ainda lhe restavam sem respostas adequadas, mas é de admitir-se que depois de uma vida dedicada aos dogmas e ao pensamento ortodoxo que imobilizou em fórmulas o Cristianismo do Cristo, muita coisa ficasse mesmo por compreender e aceitar. Agora, porém, o Bispo James A. Pike também se encontra no mundo espiritual. Lá está, certamente, dando prosseguimento aos seus estudos e pesquisas. Algum dia ele voltará como Espírito manifestante ou reencarnado para contar o resto do seu drama. Vai ser uma história muito conhecida de todos nós espíritas: a de que o Espírito preexiste, sobrevive e reencarna-se. Que as leis de Deus são justas e infalíveis e não eivadas de dogmatismos intolerantes. Que somos todos irmãos em busca de luz e de paz.



Regresso de Noel Rosa





Regresso de Noel Rosa
Elias Barbosa
Reformador (FEB) Janeiro 1963

            Ao comparecer um escritor de renome, seja prosador ou poeta, a uma sessão espírita, através das faculdades medianímicas de determinado sensitivo, a mensagem que fica, quase sempre, suscita considerações múltiplas no ânimo dos estudiosos de questões literárias, mormente os que se preocupam com fazer análises estilísticas e confrontos entre as produções deixadas pelo autor, e as páginas por ele trazidas de além-túmulo.

            E, com efeito, não há estudo mais agradável de efetuar-se, principalmente quando um só Espírito, na mesma reunião, se comunica através de dois médiuns diversos, grafando, naturalmente, determinadas mensagens, uma após outra, existindo em ambas perfeita identidade não só no título, mas igualmente no estilo, servindo-se o autor da mesma técnica no que tange à disposição dos versos, ao ritmo, ao metro, ao esquema rítmico, enfim, à alma que existe em ambos os poemas, o mesmo amor pela terra em que nasceu e desencarnou, amor de que o artista deu provas, sobejamente, em toda a vida, através de canções que compôs; considerando-se, ainda, a circunstância de a entidade espiritual apor análoga assinatura em ambos os comunicados.

            Digno de nota, nesse âmbito, foi o que se deu na noite de 24 de Novembro de 1962 sábado de calor intenso, em Uberaba, Minas:

            Presente à reunião pública da Comunhão Espírita Cristã, de que partilhavam os conhecidos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, uma vez feita a prece de abertura aos estudos programados, enquanto a comentarista dos trechos kardequianos, lidos na noite, prosseguia em sua breve alocução, algo de admirável se deu, no concernente ao trabalho mediúnico, e do qual fomos testemunha, ao lado de grande número de visitantes do Rio, S. Paulo e Belo Horizonte, dentre outros os jornalistas Jorge Rizzini e Ismael Ramos das Neves.

            No lugar costumeiro, o médium Waldo Vieira, que é também médico respeitável, com a mão esquerda sobre os olhos, deixa que a destra corra, vertiginosamente, sobre o papel, ouvindo-se lhe o ruído característico do lápis ao fixar as palavras da entidade comunicante.

            Nesse interim, o médium Francisco Cândido Xavier permanece em silêncio.

            Tão logo o medianeiro de “Conduta Espírita” deposita o lápis sobre a mesa, o médium do “Parnaso de Além-Túmulo”, após ligeiro intervalo, começa a escrever, também de modo rápido.

            Minutos depois, encerradas as atividades, dá-se a palavra a Waldo Vieira para a leitura da mensagem recolhida.

            Com que júbilo, ao final da peça constituída por primorosas trovas, ouvimos o nome de Noel Rosa! Sim, não era ninguém mais que o famoso compositor brasileiro, o suave poeta de Vila Isabel, que nos presenteara com magníficas quadras, a que deu o nome de “Canções”.

            Dada a palavra, posteriormente, a Francisco Cândido Xavier, mais se nos aguçou a curiosidade, de vez que identificávamos absoluta semelhança de estilo, a fluidez e leveza, sustentando-nos o alto grau de emoção, acentuando-se nos o encantamento ao verificar que a segunda produção medianímica estava subordinada ao mesmo título e vinha subscrita pelo mesmo poeta: Noel Rosa.

            Não havia dúvida. Acabávamos de assistir a insofismável fenômeno mediúnico. Algo singular e comovente para nós que o presenciávamos, sentindo e raciocinando as verdades do Mundo Espiritual. Em poucos minutos, Noel Rosa patenteara-se, inconfundível, enternecendo--nos com as suas trovas ressumantes de simplicidade e, como tudo que é simples, rorejantes de beleza.

            Antes de transcrevermos, na íntegra, ambos os poemas, tracemos breve nota biográfica do distinto compositor patrício.

            O autor de mais de trezentas composições (inclusive valsas), segundo Brício de Abreu, em reportagem publicada em “O Cruzeiro”, de 26 de Maio de 1962, nasceu no Rio (Vila Isabel), a 11 de Dezembro de 1910.

            “Noel Rosa, ao morrer” - é Brício de Abreu quem o diz -, “era um compositor de popularidade relativa. Era mais conhecido no meio musical e no rádio, pois, tão logo se lançou como profissional, passou a frequentar os corredores das rádios e gravadoras à procura de oportunidades. Muito trabalhador - ao contrário dos que apregoam apenas a sua boêmia -, Noel Rosa tomou parte em audições na “Rádio Phillips”, com Marília Batista e Luís Barbosa, no “Programa Casé”, e, depois, com Henrique Batista, irmão de Marília, no programa que alcançou regular notoriedade: “Sambas e Outras Coisas”.

            “Há 25 anos” - é ainda o grande musicólogo que o afirma -, “às 19:30 horas da terça-feira, 4 de Maio de 1937 - morria, no chalé da Rua Teodoro da Silva, 130, em Vila Isabel (Rio), o compositor Noel Rosa. Da casa fronteira vinha o ruído de um “assustado”: estavamcantando o samba de sucesso que dizia: “De babado sim/ Meu amor ideal! Sem babado não.” Era um samba de Noel."

            Cinco lustros depois da desencarnação do poeta, com que entusiasmo podemos afirmar, categoricamente, que apenas aparentemente “Vila Isabel perdia o seu cantor, e a música popular brasileira, um dos seus maiores compositores”, posto que Noel Rosa continua vivo, guardando sempre na alma a saudade de sua querida Vila Isabel, tão exaltada por ele em seus versos e sambas imortais.

            Ofertando ao leitor as trovas medianímicas, a que nos referimos, vamos, pois, ao primeiro poema, psicografado pelo médium Waldo Vieira:

CANÇÕES
Trova - no mundo apagado
Ou na luz dos sóis dispersos -
É o coração musicado
Na pauta de quatro versos.

Quisera cantar no asfalto
Os reinos desconhecidos,
Mas se a canção vem do Alto
A Terra não tem ouvidos.

Saudade - doce e cruel -
Tem sete letras de arminho,
Sete lâminas de mel
Que cortam devagarinho.

                 Vida - um eterno presente               
Vida e morte - vem e vai.
Vida humana – tão somente
A flor que fenece e cai...

Se alguém falasse: - "Noel,
Onde queres outra vida?"
Diria: "- Em Vila Isabel,
A minha vila querida!"

            Deixamos, evidentemente, de fazer qualquer comentário em torno do pensamento expresso pelo poeta, quer sob o ponto de vista formal, quer espiritual, para que o leitor possa, em toda a sua intensidade, sentir o impacto superior da mensagem musicada de Noel Rosa.

            Concluindo nossas modestas considerações sobre o fato que reputamos dos mais autênticos dentro do campo mediúnico - a volta de Noel Rosa através de dois médiuns, na mesma reunião pública, com mensagens altamente identificadoras -, transcrevamos o poema psicografado por Francisco Cândido Xavier, instantes depois que Waldo Vieira concluía o seu excelente trabalho psicográfico:

Canções

O clarão da Luz Divina,
Nas rimas cheias de graça,
É como sol que ilumina,
Entrando pela vidraça.

Sinto agora o céu fulgente,
Mas trago, no azul sem fim,
As mágoas da nossa gente
Chorando dentro de mim.

O samba não é pecado
Se nasce do coração:
Jesus nasceu festejado
No meio de uma canção...

Meu Rio, belo e risonho,
Canto ainda a serenata,
Em tuas praias de sonho,
Em tuas noites de prata.

Deus não faz adulação,
Mas fez com novo buril
O Brasil do coração
e o coração do Brasil. (*)

            (*) Um fato digno de observação: é que as trovas aqui referidas foram psicografadas, exatamente oito dias antes do encerramento do Congresso Nacional do Samba, cujas sessões se realizaram na terra natal do poeta, na antiga Câmara Municipal, tendo, na véspera do encerramento, a 1º de Dezembro de 1962, sido aprovada a "Carta do Samba", elaborada pelo professor Edson Carneiro.



Sobre um suspiro



Sobre um suspiro
Roque Jacintho
Reformador (FEB) Julho 1970

            Lemos sobre um suspiro medieval. A pequena nota na grande imprensa dizia que grande líder espiritualista, saudoso do amplo domínio com que trazia em cativeiro grande parte do nosso mundo civilizado, deitando um olhar sobre o panorama atual de nossa Humanidade, suspirou profundamente e anunciou:

            - O progresso não conduz a parte alguma.

            Essa afirmação ressuma miopia espiritual.

            O progresso material, embora possa gerar atitudes conflitantes com as Leis Espirituais - conflitantes porque se toma a parte pelo todo -, promove a libertação da criatura, pelo amadurecimento do seu senso-moral.

            São os últimos elos da senzala que se rompem. De submissa a dogmas e preceitos seculares, a criatura sacode-se a si mesma, despertando da hibernação em que se amodorrava, alcançando novas condições para abarcar com mais largueza os fenômenos da própria Vida Eterna.

            Acordamos que o avanço técnico não cria felicidade.

            Coloca, porém, o homem a caminho desse extraordinário encontro com seu mundo íntimo, a fim de torná-lo senhor de qualidades espirituais dormentes.

            Sem a conquista do meio, o homem não se voltaria para dentro de si mesmo, interessado de conquistar-se.

            Quando, pois, se atinge o nível do conforto, do bem-estar, diminuindo a quota de tempo nas atividades mais grosseiras que lhe asseguravam a sobrevivência física - faz-se o tempo de sua espiritualização. Antes, tal ocorrência seria impraticável, porque ele estaria inteiramente empenhado na luta contra o meio, imaturo para autodescobrir-se.

            Tão logo o homem vença a euforia de suas conquistas, asserenando o próprio ânimo, eis que se compenetra que não basta apropriar-se de leis de natureza material, fazendo-se um escravo de suas máquinas e de seus desejos satisfeitos.

            Técnicas são meios e não um fim em si.

            A criatura está segura dessa realidade maior.

            Tão exclusivamente não encontra, porém, nas religiões organizadas, respostas às suas necessidades profundas, deparando com um sacerdócio empenhado em retirar um quinhão de tudo quanto ocorre, na preservação de seu patrimônio, e interessado em garantir-se de que poderá encontrar fórmula mágica para, no tumulto que ocorre nos instantes de alforia, forjar algemas para atrelar a Humanidade aos seus programas particularistas e temporais.

            A técnica não faz mal ao homem. A ausência de evolução religiosa, a falência de autenticidade é que, nesta quadra especialíssima do progresso, distanciam o homem dos templos de fé, imantando as suas esperanças nas retortas dos laboratórios, de onde espera ver surgir a equação dos seus conflitos íntimos.

            Uma pílula para curar insanidade!

            Uma inalação química para produzir um gênio!

            Um programa educacional para suprir o vazio de sua alma ou a explosão de instintos aviltados num mergulhar em apetites grosseiros.

            Drogas anticoncepcionais para sensualismo desenfreado.

            Filhos de laboratório para povoar o mundo!

            Em meio a essa dolorosa experiência de nosso século, o Espiritismo-cristão é a mensagem de luz que atravessa as trevas, convocando o homem para a descoberta de seu mundo íntimo, para a liberação, afinal, de suas forças interiores, a fim de que se refaça o equilíbrio de seus sentimentos, através da integração da criatura em sua verdadeira natureza.

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

A vigilância



A Vigilância

         24,36  Mas, quando será aquele dia e aquela hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem mesmo o Filho. Só o Pai é que sabe. 24,37 Assim como foi nos tempos de Noé, assim acontecerá na vinda do Filho. 24,38  Nos dias que precederam o dilúvio, comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. 24,39  E os homens nada sabiam, até o momento em que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim será também na volta do Filho. 24,40  Dois homens estarão no campo. Um será tomado, o outro será deixado. 24,41  Duas mulheres estarão moendo no mesmo moinho. Uma será tomada e a outra deixada. 24,42 Vigiai! Pois não sabeis a hora em que virá o Senhor. 24,43  Sabei que se o pai de família soubesse em que hora da noite viria o ladrão, vigiaria e não deixaria arrombar a sua casa. 24,44  Por isso, estai também vós preparados porque o Filho virá numa hora em que menos pensares.

         Para Mt (24,36-39) -Do dia e da hora ninguém o sabe, só o Pai - leiamos a  Sayão em “Elucidações Evangélicas”:

            “Dizendo isso, quis Jesus que os homens compreendessem quão orgulhoso e inútil é o pretenderem sondar o futuro, que só Deus conhece. Ao mesmo tempo, quis infirmar desde logo a ideia de divindade que, pela sua presciência, sabia lhe havia de ser atribuída, ideia cuja duração só seria permitida pelo tempo que necessário fosse à transformação do culto material em culto espiritual.

            Deus releva sempre os erros que, em matéria de crenças, são cometidos de boa fé. Unicamente o orgulho e a hipocrisia, a felonia e a mentira são punidos, porquanto só as faltas tornam culpada a criatura.

            Assim Ele releva o erro que de boa fé cometem os que crêem na divindade do Cristo. Para esses, a luz se fará mais tarde. Os que, porém, se apoiam na divindade atribuída a Jesus e se esforçam por sustentá-la sem nela crerem, rejeitando conscientemente a nova revelação que os Espíritos do Senhor, órgãos do Espírito da Verdade, trazem aos homens da parte de Deus, esses são exploradores do Cristianismo, são velhacos e hipócritas. Longa e dolorosa expiação os aguardará.

            Estas palavras do Mestre: “Assim, vigiai e orai a todo momento, a fim de que mereçais evitar todas essas coisas que hão de acontecer e possais aparecer diante do Filho”, bem como estas outras: “Esta geração não passará sem que todas essas coisas se hajam realizado”, contém uma alusão necessária à reencarnação dos que, retardatários, viverão de novo na Terra e habitarão os pontos dela onde se hão de produzir os cataclismos oriundos da transformação planetária. Aludem à posição dos que se houverem suficientemente adiantado para estar habitando mundos superiores, por ocasião de tais acontecimentos, prontos a voltarem à Terra, a fim de lhe auxiliarem a marcha ascencional, na época em que Ele de novo aparecerá, mas dessa vez em todo o seu fulgor espírita, no planeta terreno depurado e transformado.”

A vinda do Filho de Deus



A Vinda do Filho de Deus

24,29 Logo após estes dias de tribulação, o sol escurecerá, a lua não terá claridade, cairão do céu as estrelas e as potências  dos   céus  serão  abaladas.  24,30  Então, aparecerá no céu o sinal do Filho. Todas as tribos da terra baterão no peito e verão o Filho vir sobre as nuvens do céu, cercado de glória e de majestade. 24,31  Ele enviará seus anjos com estridentes trombetas, e juntarão seus escolhidos dos quatro ventos, duma extremidade do céu à outra. 24,32 Compreendei isto pela comparação da figueira: Quando seus ramos estão tenros e crescem as folhas, pressentis que o verão está próximo. 24,33  Do mesmo modo, quando virdes tudo isto, sabei que o Filho está próximo, à porta. 24,34  Em verdade vos declaro: “-Essa geração  não passará antes que tudo isto se cumpra!” 24,35 “- O céu e a terra passarão mas as minhas palavras não passarão!”
            Para Mt (24,29-31) - ...e reunirão os seus eleitos! -leiamos a Sayão em “Elucidações Evangélicas”:  “As referências aqui feitas ao escurecimento do Sol e da Lua, à queda das estrelas, etc., foram um novo aviso que, veladamente, Jesus deu dos acontecimentos de ordem física e de ordem moral que hão de suceder, até ao momento em que o reino de Deus se estabeleça em todos os corações. No tocante à ordem física, aludia Ele às revoluções parciais e sucessivas, que ocasionarão a transformação do nosso planeta porém, não bruscamente e sim por obra dos séculos. 

            O nosso globo que, como todos, saiu dos fluidos incandescentes e impuros, isto é, carregado de substâncias próprias à constituição da matéria, tem que, despojado de todos os princípios materiais, imergir nos fluidos puros. Para lá chegar, tem que seguir, quanto à decomposição da matéria, a mesma progressão que seguiu para a sua composição. Antes, porém, já nós teremos passado por imensa modificação, as raças se terão renovado pela encarnação de Espíritos mais bem preparados e tudo terá progredido.

            A alusão, veladamente feita, ao escurecimento do Sol e à desaparição da luz da Lua entende com o fato, que se há de verificar, de a Terra se ir afastando desses dois astros. Quando depurada, ela se terá afastado do centro onde ora gravita e então esplenderá de luz própria. As estrelas que cairiam do céu, as virtudes celestes que se abalariam são os luzeiros do Senhor, os Espíritos protetores dos homens, que trazem as claridades do céu e as fazem chegar aos nossos olhos. Cada vez em maior número, essas estrelas se abalarão e descerão até nós, para fazerem luzir às nossas vistas claridades desconhecidas, que neste momento nos ofuscariam.

            O sinal do Filho que, segundo a predição de Jesus, há de aparecer no céu, é o advento do reinado do amor e da caridade. O joio será então completamente separado do trigo, isto é, os obstinados no mal serão afastados do nosso planeta e a Humanidade, regenerada, estará pronta para receber em seu coração o reino do Senhor. Nessa época é que um só será o Pastor, a cujos pés todas as ovelhas se prostrarão e, diante das grandes graças que terão recebido, chorarão tanto de reconhecimento e alegria, como de pesar por haverem desconhecido a mão paternal que as dirigiu.

            Aí, verão o Filho vir sobre as nuvens do céu, com grande poder, grande majestade e grande glória, isto é ver-lo-ão vir em todo o fulgor espírita, ao seu reino, preparado para tornar-se um dos reinos do Pai, como habitação de puros espíritos.” 

A queda de Jerusalém e outras



Predição sobre Jerusalém e Outras
                  
24,1   Ao sair do templo, os discípulos aproximaram-se de Jesus e fizeram-nO apreciar as construções. 
24,2  Jesus, porém, respondeu-lhes: “ -Vedes todos estes edifícios? Em verdade vos declaro: Não ficará aqui pedra sobre pedra - tudo será destruído.” 
24,3  Indo Ele ausentar-se no Monte das Oliveiras, achegaram-se os discípulos e, estando a sós com Ele, perguntaram-lhe: -Quando acontecerá isso? Qual será o sinal de Tua volta e do fim do mundo?     
24,4  Respondeu-lhes Jesus:
“ -Acautelai-vos,  que  ninguém   vos   engane. 
24,5 Muitos virão em Meu nome, dizendo: Sou eu  o  Cristo, e seduzirão a muitos. 
24,6  Ouvireis falar de guerras e de rumores de guerras. Atenção que isso não vos perturbe, porque é preciso que isso aconteça. Mas, ainda não será o fim.
24,7  Levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino e haverá fome, peste e grandes desgraças em diversos lugares. 
24,8  Tudo isso será apenas o início dos sofrimentos. 
24,9  Então, sereis entregues aos tormentos, matar-vos-ão e sereis, por Minha causa objeto de ódio para todas as nações. 
24,10  Muitos sucumbirão, trair-se-ão mutuamente e mutuamente se odiarão. 
24,11 Levantar-se-ão muitos falsos profetas e seduzirão a muitos. 
24,12  E, ante o progresso da iniquidade, a caridade de muitos se esfriará. 
24,13  Entretanto, aquele que perseverar até o fim, será salvo. 
24,14 Esta boa nova será divulgada pelo mundo inteiro para servir de testemunho a todas as nações e, então, chegará o fim.”
       
         Para Mt (24,1-2) -Predições sobre a Cidade de Jerusalém e Outras -, leiamos “A Gênese”, de Kardec, no seu Cap. XVII:
           
            “A faculdade de pressentir as coisas porvindouras é um dos atributos da alma e se explica pela teoria da presciência.  Jesus a possuía, como todos os outros, em grau eminente. Pode, portanto, prever os acontecimentos que se seguiriam à sua morte, sem que nesse fato algo haja de sobrenatural, pois que o vemos reproduzir-se aos nossos olhos, nas mais vulgares condições.”

            Para Mt (24,2) -Não ficará pedra sobre pedra..., leiamos a Vinícius, conforme gravado no Reformador pg.145 Ano 1933:

            “Ao sair Jesus do templo, disse-lhe um de seus discípulos: Olha, Mestre, que pedras e que edifícios! Disse-lhe Jesus: Vês estes grandes edifícios? Não ficará pedra sobre pedra, que não seja derrubada.
            Jerusalém, Jerusalém! que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quiz eu ajuntar teus filhos, como a galinha ajunta os do seu ninho debaixo das suas asas e tu não quiseste! Eis aí vos é deixada a vossa casa. Declaro-vos que não me vereis mais até que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor.”
            As palavras de Jesus não passam: atravessam os séculos e os milênios por sobre as gerações que se sucedem no cenário terreno. O que ele disse acerca de Jerusalém constitui uma profecia aplicável a todas as grandes capitais do mundo materialista de todos os tempos.
            Os homens se impressionam com o vulto do progresso material em suas múltiplas expressões. Orgulham-se dos seus feitos, descobertas e invenções; das suas metrópoles, cujas ruas e praças ostentam arranha-céus, teatros, catedrais, monumentos e outros muitos expoentes da arte, da riqueza e da civilização sem moral e sem justiça.  Esquecem-se, porém, do que têm sucedido com tudo isso, apesar do testemunho insuspeito da história. Nào percebem que essas construções, de que tanto se jactam, por vezes ficaram reduzidas a montões de escombros!
            As gerações que se seguem entregam-se novamente ao delírio dos sentidos, vendo, a seu turno, ruir as pedras de seus edifícios! É Saturno, o deus antropófago, devorando os próprios filhos!
            De fato, onde está a potentíssima Roma dos Césares? Que é feito da Grécia, berço das artes e da filosofia de outrora? Onde o Egito dos Faraós, com suas ciências tão afamadas? E a Babilônia, em cujo reino o sol nunca se punha? Reportando-nos aos nossos dias, cabe indagar: onde a decantada civilização européia, cujas nações vivem em constantes sobressaltos, e cujos povos se mantêm em atitudes de feras que mutuamente se temem e se vigiam?
            Jerusalém caiu fragorosamente no ano 70, conforme o vaticínio do Senhor.
      Tal como a capital da Palestina, vem desmoronando, numa derrocada sinistra, o mundo materialista, o reino de Mamon, de Baco e de Vênus!
            E assim sucederá, até que os homens deixem de construir sobre a areia, e, abrindo o coração às revelações do céu, digam: Bendito aquele que fala em nome do Senhor!

            Para  Mt (24,4) - Acautelai-vos, que ninguém vos engane!   - leiamos   “Livro  da Esperança”, de Emmanuel por Chico Xavier:
           
            “Forçoso distinguir sempre o exterior da conteúdo. Exterior atende à informação e ao revestimento. Conteúdo, porém, é substância e vida. Exterior, em muitas ocasiões, afeta unicamente os olhos. Conteúdo alcança a reflexão. Simples lições de coisas aclaram-nos o asserto. A casa impressiona pelo feitio. O interior, contudo, é que lhe decide o aproveitamento. A máquina impressiona pelo feitio. O interior, contudo, é que lhe revela a função. Exterior consegue enganar. Um frasco indicando medicamento é capaz de trazer corrosivo. Uma bolsa aparentemente inofensiva pode encerrar uma bomba.    Conteúdo, entretanto, fala por si.A essência disso ou daquilo é ou não é. Imperioso considerar ainda que todas as aquisições, conhecidas por fora, somente denotam valor real se filtradas por dentro.
            Cultura é patrimônio incorruptível, no entanto apenas vale para a vida, no exemplo de trabalho daquele que a possui.Título profissional tem o crédito apreciado pelo bem que realiza. Teoria de elevação não vai sem a prática. Música é avaliada na execução.
            Atendamos, pois, às definições espíritas, que nos traçam deveres imprescritíveis, confessando-nos espíritas e abraçando atitudes espíritas, mas sem esquecer que Espiritismo, na esfera de nossas vidas, em tudo e por tudo, é renovação moral.”

            Antônio Lima em “Vida de Jesus” nos conta do templo de Jerusalém, através de Antiguidades  Judaicas de Flavius Josephus:

            “O templo de Jerusalém tinha cem côvados de largo e cento e vinte de altura, que com o tempo ficou reduzida a cem côvados, devido ao desaprumo dos alicerces. Era uma maravilha a qualidade e a cor das pedras do edifício, assim como as suas dimensões, pois tinham vinte côvados de comprimento, oito de altura e doze de largura. As artes tinham rivalizado para que causasse assombro a arquitetura daquele monumento, que parecia o palácio de um rei, o mais esplêndido que o sol tem iluminado. Os seus pórticos eram adornados com ricos tapetes recamados de flores de púrpura. Das cornijas das colunas caíam cepas de ouro com os seus pâmpanos e cachos. O templo tinha dez portas, quatro ao norte, quatro ao meio-dia e duas ao Oriente. Estas portas tinham duas folhas e mediam trinta côvados de altura e quinze de largura. Os ângulos eram chapeados de ouro e prata e só um era de cobre de Corinto - metal mais precioso que qualquer outro. O frontispício do monumento, com os seus muitos enfeites de ouro, tinha um brilho prodigioso aos raios do sol nascente. O interior do edifício, dividido em duas partes, era de uma riqueza que deslumbrava. Sobre a porta do primeiro recinto sagrado via-se uma cepa de ouro do tamanho de um homem, com cachos do mesmo metal. As portas que conduziam ao segundo recinto eram cobertas de um tapete babilônico de cinquenta côvados de altura e dezesseis de largura. O azul, a púrpura, o carmim e o linho, misturados nos tapetes, representavam os quatro elementos: o azul, o ar; a púrpura, o mar; o carmim,o fogo, e o linho, a terra que o produz. A arte, ajudada pela ciência, também tinha ali representada a esfera celeste. Passado o segundo recinto e no interior do templo, estava o Santo dos Santos. O templo era rodeado por largas e altas galerias, sustentadas por fortes paredes. A leste do monumento religioso havia um outro, que se achava convertido num terraço com quatro fachadas cujas pedras enormes estavam juntas umas às outras com chumbo. Uma tríplice galeria, que atravessava profundo vale, servia de comunicação entre o templo e o bairro ocidental da cidade. Aquela galeria era sustentada por cento e sessenta e duas colunas de ordem coríntia, de vinte e sete pés de circunferência cada uma. Ao norte do templo, a torre de Asmoneus, reedificada por Herodes e semelhante ao seu palácio, e que tomou o nome de Antônia em memória ao benfeitor do rei (Marco Antônio). Uma abóbada subterrânea comunicava a torre Antônia com a porta oriental do templo. Era nesta fortaleza que se guardavam as vestimentas solenes do sumo-pontífice e do tesoureiro.”

            Emmanuel, em seu romance   “Há dois mil anos...” nos   traz   mais   alguns   aspectos   de Jerusalém e seu Templo, à época de Jesus, que valem a pena apreciar...

            “À época da permanência da família de Públio Lêntulus (Anos 32/50 de nossa era), Jerusalém  acusava  novidades e esplendores da vida nova. As construções herodianas pululavam nos seus arredores, revelando novo senso estético por parte de Israel. A predileção pelos monólitos talhados na rocha viva, característica do antigo povo israelita, fora substituída pelas adaptações do gosto judeu às normas gregas, renovando as paisagens interiores da famosa cidade.
            A joia maravilhosa era, porém, o Templo, todo novo na época de Jesus. Sua reconstrução fora determinada por Herodes, no ano de 21, notando-se que os pórticos levaram oito anos a edificar-se, e considerando-se, ainda, que os planos da obra grandiosa, continuados vagarosamente no curso do tempo, somente ficaram concluídos pouco antes de sua completa destruição.
            Nos pátios imensos, reunia-se diariamente a aristocracia do pensamento israelita, localizando-se ali o forum, a universidade, o tribunal e o templo supremo de toda uma raça.
            Os próprios processos civis, além das discussões engenhosas de ordem tológica, ali recebiam as decisões derradeiras, resumindo-se no templo imponente e grandioso todas as ambições e atividades de uma pátria.
            Os romanos, respeitando a filosofia religiosa dos povos estranhos, não participavam das teses sutis e dos sofismas debatidos e examinados todos os dias, mas a Torre Antônia, onde se aquartelavam as forças armadas do Império, dominava o recinto, facilitando a fiscalização constante de todos os movimentos dos sacerdotes e das massas populares.”
            “Ao tempo de Cristo, a Galileia era um vasto celeiro que abastecia quase toda a Palestina. Nesta época, o formoso lago de Genesaré não apresentava nível tão baixo, como na atualidade. Todo o terreno circunvizinho era de regadio, em vista das fontes numerosas, dos canais e do serviço das noras que elevavam as águas, dando origem a uma vegetação luxuriante que enfeitava de frutos e enchia de perfumes aquelas paisagens paradisíacas.
            O trigo, a cevada, as abóboras, as lentilhas, os figos e as uvas eram elementos de semeadura e colheita em todo o ano, dando à vida satisfação e abundância. Nas eminências da terra, misturando-se aos extensos vinhedos e olivais, elevavam-se palmeiras e tamareiras preciosas, cujos frutos eram os mais ricos da Palestina.
            Em Cafarnaum, além dessa riquezas, prosperava a indústria da pesca, dada a abundância do peixe no então chamado “Mar da Galileia,” o que  resumia uma vida simples  e tranquila. Dentre todos os outros povos dos centros galileus, o de Cafarnaum se distinguia por sua beleza espiritual, despretenciosa e singela.”

A Queda de Jerusalém (Ano 70)

            Na véspera da queda de Jerusalém, já se lutava quase corpo a corpo, em todos os pontos de penetração, havendo incursões de parte a parte nos campos inimigos, com recíprocas crueldades contra todos os que tivessem a infelicidade de cair prisioneiros...
            Um dos núcleos de resistência situava-se num casarão, próximo da Torre Antônia... 
            Dali, observava-se cenas de selvageria e sangue da plebe anônima e amotinada, que exterminava numerosos cidadãos romanos, lembrando a tarde dolorosa do Calvário, em que o piedoso profeta de Nazaré sucumbira na cruz, sob a voz terrificante das multidões enfurecidas...
            Jerusalém, tomada de assombro, mobilizava as derradeiras energias para evitar a ruína completa...
            Já se ouviam na cidade os primeiros rumores das forças romanas vitoriosas, entregando-se ao terror e ao saque da população humilhada e inerme. Por toda parte, o êxodo precipitado de mulheres e crianças em gritaria infernal e angustiosa...
            Superada a última resistência, Jerusalém esteve, por vários dias, entregue ao saque e à desordem, levados a efeito pela soldadesca do Império, faminta de prazeres e envenenada no vinho sinistro do triunfo. Todos os chefes da resistência israelita foram presos, a fim de comparecerem a Roma para o último sacrifício, em homenagem às festas comemorativas da vitória...
            Depois da matança de onze mil prisioneiros feridos ou inválidos, massacrados pelas legiões vencedoras; depois dos pavorosos espetáculos da destruição e saque do templo magnífico, no qual Israel julgava contemplar a sua obra eterna e divina para todas as gerações de sua posteridade prolífera, voltou a caravana compacta dos vencidos, inclusive Simão -seu chefe supremo- e troféus maravilhosos, de modo a exibir em Roma todos os ornamentos ilustrativos da vitória, entre vibrações tumultuárias e cânticos de triunfo...”

Predição sobre Jerusalém e Outras

 24,15  Quando, portanto, vocês virem que a devastação abominável de que fala o Profeta Daniel atingiu o lugar santo*, 
24,16  então, os habitantes da Judeia fujam para as montanhas. 
24,17  aquele que está no terraço de sua casa não desça para buscar o que está em sua casa. 
24,18  e, aquele que está no campo não volte para buscar suas vestimentas. 
24,19  Ai das mulheres que estiverem grávidas ou amamentando naqueles dias. 
24,20  rogai para que a vossa fuga não seja no inverno, nem em dia de sábado. 
24,21  porque, então, a tribulação será tão grande como nunca foi vista, desde o começo do mundo  até o presente, nem jamais será. 
24,22 Se aqueles dias não fossem abreviados, criatura alguma escaparia. Mas, por causa dos escolhidos, aqueles dias serão abreviados. 
24,23  Então, se alguém vos disser: Eis, aqui está o Cristo! Ou Ei-lo acolá! Não creiais! 24,24  Porque se levantarão falsos profetas e falsos Cristos, que farão milagres a ponto de seduzir, se isso fosse possível, até mesmo os escolhidos. 
24,25  Eis que estás prevenidos 
24,26  Se, pois, vos disserem: Ele está no deserto... Não saiais! ou Lá está Ele em casa... não o creiais! 
24,27  Porque, como o relâmpago parte do Oriente e ilumina até o Ocidente, assim será a volta do Filho do Homem! 
24,28  Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias! *Daniel (9,27) refere-se a instalação de ídolos pagãos em templo judaico.

        Para Mt (24,28) -Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias, encontramos em “Pão Nosso”, de Emmanuel por Chico Xavier o que se segue:

            “Apresentando a imagem do cadáver e das águias, referia-se o Mestre à necessidade dos homens penitentes, que precisam recursos de combate à extinção das sombras em que se mergulham.
            Não se elimina o pântano, atirando-lhe flores. Os corpos apodrecidos no campo atraem corvos que os devoram.
            Essa figura, de alta significação simbológica, é dos mais fortes apelos do Senhor, conclamando os servidores do Evangelho aos movimentos do trabalho santificante.
            Em vários círculos do Cristianismo renascente surgem os que se queixam, desalentados, da ação de perseguidores, obsessores e verdugos visíveis e invisíveis. Alguns aprendizes se declaram atados a influência deles e confessam-se incapazes de atender aos desígnios de Jesus.
            Conviria, porém, muita ponderação, antes de afirmativas desse jaez, que apenas acusam os próprios autores. É imprescindível lembrar sempre que as aves impiedosas se ajuntarão em torno de cadáveres ao abandono.
               Os corvos se aninham noutras regiões, quando se alimpa o campo em que permaneciam.
            Um homem que se afirma invariavelmente infeliz fornece a impressão de que respira num sepulcro; todavia, quando procura renovar o próprio caminho, as aves escuras da tristeza negativa se afastam para mais longe.
            Luta contra os cadáveres de qualquer natureza que se abriguem em teu mundo interior. Deixa que o divino sol da espiritualidade te penetre, pois, enquanto fores ataúde de coisas mortas, serás seguido, de perto, pelas águias da destruição.”