Pesquisar este blog

terça-feira, 28 de junho de 2011

Alegria! Alegria!


A Bênção da Alegria
            Um semblante jovial. Em qualquer idade, cativa, reunindo as criaturas em sua volta atraídas pela claridade da alegria,
            Uma expressão de face cordial inspira confiança e convida outras pessoas à convivência fraterna.
            Um sorriso de júbilo, tranquilo, renova a esperança de viver nos indivíduos que se deixaram debilitar, assim redescobrindo que é possível ser feliz.
            A irradiação da alegria sem balbúrdia alcança outros corações que se mimetizam, reencontrando motivação para prosseguir na existência redentora.
            A alegria é como um sol que modifica a paisagem em sombras, apresentando a beleza que se encontrava oculta.
            Necessária para a vida, gera otimismo e este produz estímulos e forças que dão resistência para os desafios que fazem parte da existência humana.
            Mesmo quando, aparentemente, não haja razão para sorrisos., a felicidade por encontrar-se reencarnado, com excelentes oportunidades que acenam para o triunfo, motiva à alegria que deve permanecer no homem.
                                                           *
             Quando a tristeza se instala nos sentimentos, a caminhada se faz mais penosa.
            Com alegria, as distâncias a vencer parecem menos largas e os problemas a solucionar se tornam mais fáceis.
            Alegria é presença de Deus no coração.
                                                           *
             Coloca a cor da alegria na tua face, e as sombras da tristeza baterão em retirada.
            Considera a luta e o sofrimento sob a luz da alegria, e as forças que pareciam entorpecidas pelas sombras dos desencantos assomarão, auxiliando-te a lograr a vitória.
            Deixa que o fluxo do entusiasmo te vitalize todos os valores adormecidos, e eles despertarão para o grande embate que te plenificará.
            Faze que, aqueles que choram ao teu lado, compartam das bênçãos da tua alegria.
            Assegura-te do bem estar que esparzes e não te detenhas, mesmo quando surjam os momentos graves na condição de testemunhos
                                                           *
             Com o pensamento ligado a Deus, a Fonte Inexaurível de onde haurirás os recursos superiores, mantém o clima de alegria.
            Nada te impeça de manter-te feliz. Nem as enfermidades, nem as dores morais, nem as necessidades físicas.
            Não permitas que o êxito te distraia na volúpia da presunção nem que o fracasso te magoe, derrubando-te no abismo da depressão.
            Um e outro são acidentes que ocorrem, mas de permanência relativa.
            A glória de hoje pode tornar-se a queda de amanhã.
            A alegria, porém, em qualquer circunstância, deve tornar-se um acontecimento normal, constante, permanente e modelador da tua existência.
                                                           *
             Na alegria sincera, que se exterioriza de ti, todos encontrarão a força da amizade atentadora, encarregada de proporcionar saúde e prosperidade.
            Assim, torna-te um exemplo vivo, como se conduzisses uma tocha acesa iluminando os caminhos humanos.
            Todos que estejam contigo, percebendo o teu natural regozijo se alegrarão, formando um grupo harmônico que alterará o ambiente social para melhor.
           Dessa alegria geral sairá o hino da bemaventurança, sensibilizando quantos o ouçam e aspirem à felicidade.          
                                                 *
            Todo o Evangelho de Jesus é uma constante canção de alegria, rica de esperanças e paz. Medita nisso, pratica-o, e a tua existência se renovará, porque alegria é saúde e é vida.

Joanna de Ângelis
por Divaldo Franco
em 'Momentos de Alegria' (4ª Ed. Alvorada)

"Eu sou Carlos Magno!"




    Eu sou Carlos Magno!..

   José Brígido*
 Reformador (FEB)  Novembro 1957
* Indalício Mendes
           
            O problema da reencarnação na vida humana é de superior importância. Ela explica muitas dúvidas e resolve muitos ‘porquês’ que preocupam a Humanidade. Esclarece a razão das desigualdades sociais, o motivo da diversidade da sorte, das dores, etc. A reencarnação é uma lei que promove a evolução do Espírito, na busca da perfeição incessante.
            Não se pense que o homem foi destinado à escravidão e ao sofrimento. Nada disto. O homem tem um destino mais belo e mais digno. Se ainda não o alcançou, deve-se à lentidão com que assimila a lei moral que rege as relações dos indivíduos e das coletividades entre si.
            A maldade, a inveja, o egoísmo, enfim, todos os defeitos do caráter humano são provas evidentes do atraso moral em que ainda nos encontramos. À medida que o homem for progredindo moralmente, sua concepção da vida irá mudando para melhor. Então, compreenderá que só o bem traz compensações benéficas ao espírito. A função do Espiritismo no mundo é justamente fazer o que não puderam realizar outras religiões. O Espiritismo, trazendo em si o programa reencarnacionista como elemento de progresso da Humanidade, apoia-se também no Evangelho de Jesus, para ensinar à Humanidade, de modo claro, sem sofisma, sem mistério, sem milagre, sem ofensa à razão, que em vez de ser algoz de seus semelhantes, deve o homem ser principalmente um irmão esclarecido e prestante.
            A reencarnação é a mais impressionante prova da sabedoria e da justiça de Deus. Na mais filosófica das línguas, o sânscrito, a reencarnação é denominada sansara. Tem um sentido mais lato, que talvez não possamos reproduzir no idioma que falamos. Os orientais, no entanto, referem-se a samsara com extremo respeito, porque sabem a extensão da lei e não desconhecem que todos estão irremediavelmente sujeitos às suas conseqüências.
            Graças ao Espiritismo, os ocidentais estão ficando mais elucidados acerca da reencarnação. Há alguns anos, apenas os povos do Oriente conheciam e pregavam a reencarnação. Para os ocidentais, isso não passava de fantasia, de pretexto para contos e poemas. Se ainda há países recalcitrantes no Ocidente, porque fiéis a dogmas estreitos, há outros de mentalidade mais maleável, que já vão aceitando os princípios reencarnacionistas, porque já podem entreabrir os olhos à forte luz da verdade revelada.
            Há também povos ou raças que, embora aceitando a reencarnação, não possuem uma idéia muito certa acerca dos deveres que todos temos de preservar a vida, porque penas pesadas e dolorosas atingem os espíritos que buscam a desencarnação por suas próprias mãos. Vamos dar um exemplo que serve, simultaneamente, para  ilustrar o que afirmamos. Os esquimós aceitam a reencarnação, mas desconhecem as provações que aguardam os suicidas. Quando um deles tem uma existência muito difícil ou infeliz, sem esperança de melhoria, procura uma família em boas condições para nela ingressar pela reencarnação.    Escolhido um casal de recém-casados, procura-o e pergunta-lhe se lhe permite ser seu primeiro filho. Se o casal concorda, por considerá-lo, apesar de tudo, pessoa de bom caráter, ele se dirige calmamente para determinada distância e então se suicida, acreditando convictamente de que seu espírito passará a fazer parte da família por ele escolhida.
            Naturalmente, quando os esquimós conhecerem a Doutrina Espírita, e isso poderá não estar tão longe quanto parece, saberão que o suicídio é contrário à lei, embora a reencarnação seja a expressão mais completa da justiça divina.
            Henry Ford, o famoso industrial norte-americano que revolucionou o programa de relações entre o capital e o trabalho, no período áureo de suas atividades de grande fabricante de automóveis, declarou, certa vez:
            “-Eu adotei a teoria da reencarnação quando completei vinte anos de idade. A religião não me oferecera nenhuma luz nesse sentido, pelo menos nada encontrei nela para me esclarecer. Não achava no trabalho algo que me desse completa satisfação. Todo trabalho é fútil quando não nos ajuda a utilizá-lo com o fim de acumular a experiência que nos conduz de uma vida para outra. Quando aceitei a teoria da reencarnação, foi como se tivesse descoberto um vasto programa universal, e cheguei à conclusão de que o momento para meditar sobre as minhas idéias estava ao meu alcance. O tempo já não me parecia limitado a deixei de ser um escravo do relógio. Havia tempo para planejar e criar idéias novas. A descoberta da reencarnação pôs meu cérebro à vontade. Era um problema resolvido. Senti imediatamente que a ordem das coisas era progressiva e estava sempre presente quando me aprofundava nos mistérios da vida. Nunca mais procurei em outro campo solução para o paradoxo da vida.
            Se desejarem escrever um relato destas minhas palavras, escrevam-nos de maneira que sejam compreendidas por qualquer homem. Eu gostaria de comunicar a todos o prazer de sentir a calma que nos envolve quando pesquisamos o caminho já percorrido de nossa existência.
            Nós todos conservamos vagas recordações de outras vidas e freqüentemente sentimos impressões nítidas de haver contemplado cenas e momentos de existências anteriores. Isto, porém, não é essencial. O que é certo é o resultado de nossa experiência, porquanto constitui o ponto de valor real que deve ficar sempre firme conosco.”

                                   ***

            Muito significativas são essas palavras de Henry Ford. O seu humanismo ficou comprovado nas soberbas lições que deu ao mundo industrial norte-americano. Fez que seus operários se tornassem colaboradores diretos de seus grandes empreendimentos, dando-lhes participação mais objetiva nos proventos da colossal empresa. Em virtude dessa alta compreensão, alcançou preços verdadeiramente revolucionários na indústria de automóveis. Os operários ganhavam mais e os carros custavam mais barato, tornando-se acessíveis às classes mais modestas do povo. Foi uma experiência que não poderá ser esquecida. É que Henry Ford não trabalhava com o pensamento apenas voltado para a existência atual. Ele pensava também no futuro, nas responsabilidades que a reencarnação sugere. Estava plantando para o porvir. Algum dia seu nome será objeto de considerações mais vastas e profundas, pelo que ele realizou.

                        ***

            Napoleão Bonaparte, o grande Imperador dos franceses, tinha consciência de haver existido anteriormente. Tanto assim que, em dada ocasião, quando se achava rodeado de seus marechais, exclamou enfaticamente:
            -Eu sou Carlos Magno!          
            Os marechais entreolharam-se, talvez supondo gracejo a expressão do imperador. Este, então, sério e incisivo, perguntou:
            -Sabem vocês quem sou eu?
            O silêncio foi a resposta dos militares, que ignoravam onde queria chegar o célebre guerreiro. Então, dando um tom ainda mais enérgico às suas palavras, Napoleão reafirmou:
            -Eu sou Carlos Magno!
            É bem possível que, na intimidade, os marechais admitissem haver sofrido o imperador um fugaz acesso de loucura, pois não entendiam a razão de sua afirmativa. E isso não é para admirar, porque hoje, quando a Humanidade já passou mais da metade do século XX, ainda há homens que se intitulam cientistas, que sorriem cepticamente e negam, sarcásticos, a realidade do Espiritismo, considerando a reencarnação um  devaneio de loucos... Se isto acontece num século de notáveis conquistas científicas, não é para espantar que sucedesse ao tempo de Napoleão Bonaparte...           
            O estudioso que desejar fazer percuciente estudo biográfico de Carlos Magno e Napoleão Bonaparte, há-de encontrar na vida de ambos muitas afinidades. Há-de surpreender-se, porque essas afinidades poderão conduzi-lo a conclusões muito interessantes acerca da afirmativa de Napoleão a seus marechais;
            -Eu sou Carlos Magno!



segunda-feira, 27 de junho de 2011

O tema é: 'Finados'


Finados

por Thiago
“Reformador”(FEB)
Novembro 1980
          
            Aos 2 de novembro, todos os anos e em toda parte, cultuam os homens a memória dos seres amados que partiram para o outro lado da vida. Induzidos por esse hábito do culto aos chamados mortos, vão em romaria aos cemitérios, levando flores, e lá se quedam em orações junto aos túmulos dos seus finados, nem sempre isentos de amargurada tristeza.
            Piedosa tradição de todos os povos, nenhum reparo há que fazer a esse culto, em dia e lugar consagrados, enquanto manifestação sincera de amor e de saudade, ao mesmo tempo que de respeito e veneração aos entes queridos que se foram.
            O espírita, contudo, que no dia universalmente consagrado aos chamados mortos - ou finados - não comparecer à necrópoles majestosas para orar junto aos túmulos, que sabem vazios de qualquer traço do que foram as individualidades reais daqueles que amaram e amam e onde apenas foram inumados os seus despojos perecíveis, não peca contra qualquer sentimento de amor e de saudade, nem falta com o respeito e a veneração que lhes são devidos. Ele - o espírita verdadeiro e sincero - sabe que esses sentimentos, essas lembranças, essas saudades podem, dirigindo-se a Espíritos libertos, legitimamente manifestar-se em simples e puros pensamentos, através de preces despidas de quaisquer objetivações exteriores, partidas do fundo dos seus corações e que serão recolhidas pelos entes queridos também em seus corações, mas como Espíritos, que prescindem, para recolhê-las, de locais determinados e dias consagrados.
            Respeitáveis são as tradições e respeitados devem ser os atos piedosos dos que ainda têm apenas vagas noções do que seja realmente um morto - assim chamado -, que é, entretanto, o verdadeiro vivo, e de como ele vive no plano espiritual que a todos nos espera quando libertos da prisão e dos grilhões carnais.
            Não existe a morte, sabe-o hoje de modo cabal todo verdadeiro espírita. Morto é apenas o corpo, simples veste passageira do Espírito que, em realidade, é o verdadeiro ser, na sua individualidade consciente e imortal, eterno desde a sua criação e destinado pelo Criador a progredir sempre, até a Perfeição - seu alvo supremo -, e, então, será Espírito puro.
            Pode, então, o Espírita, em sã consciência, substituir o culto tradicional - em outros respeitável e, para muitos, indispensável-, pela simples lembrança, em pensamento e oração, que sempre pode ser feita, em qualquer momento ou em qualquer parte, quer no templo da natureza, sob a abóbada de um céu matinal, azul e límpido, ou quando, à noite, já recamado de estrelas, quer no recesso do lar, no santuário doméstico, a sós e recolhido, ou em reunião com os outros seres amados, que ainda vivam neste mundo.
            O de que, porém, o verdadeiro espírita não mais duvida, o de que ele tem, ao contrário, absoluta certeza é que os mortos vivem e, na verdadeira vida, lhes apraz serem lembrados com amor e tranqüila saudade, serena e terna, que comunica aos caros invisíveis a certeza de que ainda são amados, venerados. Isto lhes propicia verdadeira felicidade, ao contemplarem os seres queridos, que aqui deixaram, resignados com os desígnios divinos, animosos trabalhando pelo progresso próprio e da Humanidade e mais do isso, certos do futuro reencontro na verdadeira pátria que está no Além.
                Esqueces, pois - se já o podes -, os túmulos em terra rasa ou erigidos em suntuosos mausoléus, mas consagra sempre, aos teus finados, pensamentos de amor e tranqüila saudade, porque, cada vez que o fizeres e onde quer que seja, Espíritos felizes te contemplarão sorrindo do outro mundo e, numa reciprocidade onde o verdadeiro amor e a gratidão estarão reunidos, também por ti dirigirão preces ao Eterno, recomendando-te à sua bênção e à sua proteção e divino amparo, fortalecendo-te o espírito nas lutas e provações necessárias desta vida na Terra transitórias, enquanto aguardas, na resignação ativa e no trabalho que aperfeiçoa, o futuro reingresso na Vida verdadeira e eterna. 



Roustaing e Kardec... Inimigos?!?



          Roustaing escreve a Kardec 


Reformador (FEB) Maio 1953

                        “Caro Senhor e venerando chefe espírita:

            Recebi a carinhosa influência e recolhi o benefício destas palavras do Cristo a Tomé: felizes os que não viram e creram.          
            Palavras profundas, verdadeiramente divinas, que nos mostram a senda mais segura e racional e que nos conduzem a fé segundo a máxima de São Paulo, que o Espiritismo completa e realiza.
            Rationabili sit obsequium vestrum.
            Ao vos escrever em Março p.p. pela primeira vez, dizia: eu nada vi; mas li, compreendi e creio.
            Hoje, venho dizer-vos que Deus me premiou por haver acreditado sem ver, uma vez que posteriormente vi, e ainda bem que vi em condições proveitosas, pois a parte experimental veio, se assim me posso exprimir, animar a fé que a parte doutrinária havia propiciado, fortalecendo-a, vivificando-a.
            Depois de haver estudado e compreendido, eu conhecia o mundo invisível tal como o estudante que conhecesse Paris pelo respectivo mapa; ao passo que hoje, pela experiência, pelo trabalho e atinada observação, conheço esse mundo tal como o forasteiro que percorresse a grande capital, o que não vale dizer que lhe penetrasse todos os recantos.
            Todavia, desde princípios de Abril, graças às relações do excelente Sr. M. Sabo e sua família - gente patriarcal e toda ela composta de bons e veros espíritas - pude trabalhar e trabalhei, ora com eles, ora em minha casa, concorrendo a esses trabalhos outros adeptos convictos da verdade espírita, posto que nem todos ainda efetiva e praticamente espíritas.
            O Sr. Sabo vos enviou o relatório de nossos trabalhos, obtidos a título de ensinamento, quer por evocações, quer por manifestações espontâneas dos Espíritos superiores.
            E creia que sentimos tanto de alegria e de surpresa, quanto de acanhamento e humildade, ao receber ensinamentos tão preciosos e sublimados, de Espíritos assim elevados, que nos visitaram ou enviaram mensageiros para falarem em seu nome.
            Ah! quão feliz me considero em não pertencer, pelo culto material, a esta Terra que, agora o sei, não constitui para o homem mais que um lugar de exílio, propiciatório de expiações e provas!
            Feliz, sim, por conhecer e haver compreendido a reencarnação em toda a sua latitude e consequências, como realidade e não como simples alegoria!
            A reencarnação, sublime e eqüitativa fórmula da Justiça Divina, tal como ainda ontem a definia meu Guia, tão bela, tão consoladora pela possibilidade de fazermos amanhã o que não pudemos fazer ontem, e que impele a criatura a caminhar para o seu Criador; - essa lei eqüitativa e justa na frase de Joseph de Maistre, em comunicação que nos deu e vos transmitimos é ainda, conforme a palavra divina do Cristo, - o caminho longo e difícil de percorrer para chegar às moradas divinas.
            Agora é que eu compreendo as palavras do Cristo a Nicodemos: ‘pois quê! sois doutores da lei e ignorais estas coisas...’
            Hoje que Deus me permitiu compreender integralmente toda a verdade da lei evangélica, a mim mesmo eu pergunto como a ignorância dos homens, doutores da lei, pode resistir nesse ponto à clareza dos textos e produzir dessarte o erro e a mentira que geraram e entretiveram o materialismo, a incredulidade, o fanatismo ou a covardia.
            Pergunto como essa ignorância, como esse erro puderam produzir-se, quando o Cristo tivera cuidado de proclamar a necessidade de reencarnar, dizendo: - importa-vos nascer de novo, e, daí, a reencarnação como único meio de ver o reino de Deus o que aliás já era conhecido e ensinado na Terra, tanto que Nicodemos deveria sabê-lo.
            “-Sois doutores da lei e ignorais essas coisas.”
            É verdade que o Cristo acrescenta a cada passo - “quem tiver ouvidos de ouvir, que ouça” e mais - “eles têm olhos e não vêem, têm ouvidos e não ouvem nem compreendem” - o que se pode  aplicar tanto aos seus contemporâneos como aos que lhe sucederam.
            Eu disse que Deus na sua bondade me recompensara pelos nossos trabalhos e pelos ensinamentos que permitiu nos fossem ministrados por seus mensageiros, missionários devotados e inteligentes junto aos seus irmãos, no intuito de lhes inspirar o amor do próximo, o esquecimento das injúrias e o culto devido ao Ente Supremo.
            Eis que agora compreendo as palavras do Espírito de Fenelon, referindo-se a esses mensageiros divinos - “eles viveram tantas vezes que se tornaram nossos mestres.”
            Eu lhes agradeço humilde e alegremente, a esses mensageiros divinos, o nos terem vindo ensinar que o Cristo está em missão sobre a Terra, para propaganda e êxito do Espiritismo - essa terceira explosão da bondade divina, que colima a última palavra do Evangelho - ‘Unum ovile et unus pastor.”
            Agradeço-lhes, sim, o nos virem dizer: “nada temais, pois o Cristo (que denominam também O Espírito da Verdade) é o maior e o mais legítimo missionário das idéias espíritas”.
            Aliás, essas palavras me haviam impressionado vivamente e eu conjeturava onde poderia estar o Cristo em missão na Terra.
            “A Verdade dirige - diz então o Espírito de Marius, bispo dos primeiros tempos da Igreja - essa coorte de Espíritos enviados por Deus, em missão, para propaganda e êxito do Espiritismo.”
            E que doces e puras alegrias derivam desses trabalhos espíritas pela caridade feita aos Espíritos sofredores!
            Que consolo é o de nos comunicarmos com os que da Terra se foram, parentes ou amigos, ouvindo-lhes a confissão de que são felizes ou aliviando-os se o não são!
            E, como é viva e radiante a luz desses mesmos Espíritos, os quais na veracidade integral da lei do Cristo nos dão a fé pela razão, nos fazem compreender a onipotência do Criador, sua grandeza, sua justiça, sua bondade e misericórdia infinita e nos colocam, assim, na deliciosa necessidade de praticar a divina lei de amor e caridade.
            Sublime, a ilação de tais ensinos, compreendendo nós que os seus divinos transmissores, fazendo-nos progredir, progridem também eles, e vão aumentar a falange sagrada dos Espíritos perfeitos!
            Admirável, divina harmonia, que nos mostra a unidade de Deus e a solidariedade de todas a suas criaturas, como nos mostra essas mesmas criaturas sob a influência e impulso dessa solidariedade, dessa simpatia, dessa reciprocidade, chamadas a gravitar e gravitando - não sem faltas e quedas, de começo - na longa e alta escala espiritual, a fim de, finalmente, degrau a degrau, atingir - partindo do estado de simplicidade e ignorância à perfeição intelectual e moral e, por essa perfeição - a Deus.
            Admirável e divina harmonia, que nos mostra esta grande divisão dos mundos de exílio onde tudo é prova ou expiação, e dos mundos superiores, morada dos bons espíritos, onde só lhes cumpre progredir para o bem.
            A reencarnação, bem compreendida, ensina aos homens que eles aqui estão neste baixo mundo apenas de passagem e que são livres de a ele regressarem, uma vez que se esforcem para isso; ensina que o poder, as riquezas, as dignidades, a  ciência, não lhes são dados senão a título de provas, como meio de caminhar para o bem; que tudo isso lhes vem às mãos como simples depósitos e meios de praticarem a lei de amor e caridade; que o mendigo é irmão do potentado perante Deus, e talvez o fosse mesmo perante os homens; que esse mendigo poderia ter sido rico e poderoso e que a atualidade miserável de sua condição representa a falência de suas provas, lembrando assim aquele apotegma do ponto de vista social - não há mais que um passo do Capitólio a Rocha Tarpéia, com a diferença, porém, que, pela reencarnação, o Espírito se levanta da sua morte e pode, remontando o Capitólio, dali projetar-se às cumiadas celestes, à mansão esplêndida dos bons espíritos.
            A reencarnação, ensinando aos homens que, conforme o conceito admirável de Platão, não há rei que não descenda de pastor, como não há pastor que não descenda de rei, amortece-lhes todas as vaidades humanas, segrega-os do culto material, nivela, moralmente, todas as condições sociais.
            Em uma palavra: a reencarnação constitui a igualdade, a fraternidade entre os homens, tanto quanto entre os Espíritos, em Deus, e perante Deus.
            E constitui também essa liberdade que, sem amor e caridade, não passa de utopia, como bem no-lo disse há pouco o Espírito de Washington.
            No seu conjunto, o Espiritismo veio dar aos homens a unidade e a verdade em todas as conquistas intelectuais e morais, nessa tarefa sublime de que somos apenas os mais humildes obreiros.
            Adeus, meu caro senhor; depois de um silêncio de três meses, eis que vos amofino com esta assaz longa carta.
            Respondei-me quando puderes e quiserdes.
            Propunha-me ir a Paris para ter o prazer de vos conhecer pessoalmente, para vos apertar fraternalmente a mão, porém a minha precária saúde mo tem impedido até o presente.
            Desta, podeis fazer o uso que vos aprouver, na certeza de que me honro de ser devotado e publicamente espiritista.
            Vosso mui dedicado
            Roustaing, advogado.”

(Revue Spirite de 1861, pág. 167

13 Irmãos da Caminhada Terrestre


Obrigado Pai pelas bênçãos do dia de hoje !

Amigos da caminhada terrestre !

               Vamos, uma vez mais, conversar sobre a responsabilidade de se ter e professar a doutrina espírita do mestre Kardec, como orientação para nossos atos e atitudes, no dia a dia . Há uma grande responsabilidade para nós mesmos nesta escolha de fé. Ela é perfeita e exige de nós o esforço contínuo de se vigiar o que fazemos, o que julgamos. Nunca julgar o próximo, levianamente ou mesmo num gracejo. Tornar o ambiente caseiro sempre ameno, sem atritos. Compreender o comportamento do próximo, mesmo quando agressivo pois nem sempre nos é dado saber o motivo porque se comporta dessa maneira. Mesmo que nos sintamos atingidos pela inveja, pela mediocridade de cada um, façamos por onde superar esse envolvimento nocivo. Como? Pedindo ao Senhor que interfira, com seu amparo, anulando qualquer efeito negativo. Assim é viver em paz. Confiar, sempre e sempre nas forças do Astral superior. A luz bendita do Senhor estará sempre presente em nossas necessidades. Confiem em Jesus, confiem em nossa Mãe do céu. Amemos sempre o que é puro, belo  e bom. Deus estará sempre presente, para sentirmos o quanto somos amparados. Louvado seja o Senhor !

 RAMA’

por  Zilda de Carvalho  10/1994
 C E Jacques  Chulam  -  RJ, RJ.


Vendilhões do Templo / Sua destruição


Jesus expulsa os Vendilhões /    
 Da Destruição do Templo de Jerusalém      
                             
         2,13 Estava próxima a Páscoa dos Judeus, e Jesus subiu para Jerusalém. 2,14 Encontrou, no templo, os negociantes de bois, ovelhas e pombos e mesas de trocadores de moedas. 2,15 fez  Ele um chicote de cordas, expulsou todos do templo, como também as ovelhas e os bois, espalhou pelo chão o dinheiro, e derrubou as mesas. 2,16  Disse  aos  que  vendiam  as  pombas:  -Tirai isso daqui e não façais da casa de Meu Pai uma casa de negociantes!” 2,17 Lembraram-se, então, os Seus discípulos do que está escrito: “O zelo da tua casa me consome ” (Salmo 68,10)  2,18 Perguntaram-Lhe os judeus: -Que sinal nos apresentas Tu, para proceder deste modo? 2,19 Respondeu-lhes Jesus: “ -Destruí  vós este templo. Eu o reerguerei em 3 dias.” 2,20  Os judeus replicaram: -Em quarenta e seis anos foi edificado este templo e Tu hás de levantá-lo em 3 dias? 2,21 mas Ele falava do templo do seu corpo. 2,22 Depois que ressurgiu dos mortos, os seus discípulos lembraram-se destas palavras e creram na escritura e na palavra de Jesus. 2,23 Enquanto Jesus celebrava em Jerusalém a festa da Páscoa, muitos creram no Seu nome, à vista das curas que fazia. 2,24 Mas Jesus, mesmo, não fiava neles, porque os conhecia a todos. 2,25 Ele não necessitava que alguém desse testemunho de nenhum homem, pois Ele bem sabia o que havia no homem.
                        
        Para - Ele bem sabia o que havia no homem... - Jo (2,25), tomemos “Fonte Viva”, de Emmanuel por Chico Xavier:
           
            “Sim,  Jesus não ignorava o que existia no homem, mas nunca se deixou impressionar negativamente. Sabia que a usura morava com Zaqueu, contudo, trouxe-o da sovinice para a benemerência. Não desconhecia que Madalena era possuída pelos gênios do mal, entretanto, renovou-a para o amor puro. Reconheceu a vaidade intelectual de Nicodemos, mas deu-lhe novas concepções da grandeza e da excelsitude da vida. Identificou a fraqueza de Simão Pedro, todavia, pouco a pouco instala no coração do discípulo a fortaleza espiritual que faria dele o sustentáculo do Cristianismo nascente. Vê as dúvidas de Tomé, sem desampará-lo. Conhece a sombra que habita em Judas, sem negar-lhe o culto da afeição.
            Jesus preocupou-se, acima de tudo, em proporcionar a cada alma uma visão mais ampla de vida e em quinhoar cada espírito com eficientes recursos de renovação para o bem.
            Não condenes, pois, o próximo porque nele observes a inferioridade e a imperfeição. A exemplo do Cristo, ajudas quanto possas.
            O Amigo Divino sabe o que existe em nós... Ele não desconhece a nossa pesada e escura bagagem do pretérito, nas dificuldades do nosso presente, recheado de hesitações e de erros, mas nem por isso deixa de estender-nos amorosamente as mãos.”


            Para Jo (2,13-25) -Os Vendilhões são expulsos / A Destruição do Templo-, façamos as palavras de Bittencourt Sampaio por Frederico Jr, em “Jesus perante a Cristandade” motivo de nossa reflexão e estudo...

            “Findo o banquete, diz-nos o evangelista, o Divino Mestre dirige-se para Cafarnaum, mas, aproximando-se as festas da Páscoa, pouco aí se demora, seguindo com toda a comitiva para a cidade de Jerusalém.
            Aí chegado, entrando no templo, encontra-o convertido em casa do mais vergonhoso tráfico; e então, devorado pelo zelo, toma de umas cordas e expulsa os mercadores, declarando que a casa de seu Pai é casa de orações e não covil de ladrões.
            Mas, perguntamos, será possível que Jesus, a mansidão personificada, o mais extraordinário amor baixado à Terra, Jesus, o compassivo, o piedoso, tomasse de um azorrague e, em ímpetos de cólera, castigasse fisicamente os seus irmãos, ainda que devorado pelo zelo da casa de seu Pai?
            Não, certamente.
            Colocai nas mãos do Divino Mestre um látego de luz; imaginai-o mostrando-se, em toda a sua grandeza, diante dos profanadores do templo; figurai a turba dos mercadores caindo por terra, atônita e confusa, perante a grande luz que se irradiava do Divino Nazareno, e assim tereis o azorrague de que se serviu Jesus!
            E, apesar desse castigo todo moral, e apesar de todos os seus ensinamentos, que vêm de séculos, a feira de Jerusalém arma as suas tendas dentro da Igreja, e da forma a mais ignominiosa e que mais dói aos espíritos verdadeiramente cristãos, porquanto, se outrora se vendiam as aves, os mansos cordeiros  destinados aos sacrifícios dos holocaustos, hoje faz-se a feira dos sacramentos!
            Oh! deixai que eu vos diga toda a verdade, pois se Jesus não desce de novo à Terra, para expulsar os mercadores do templo, ele, no entanto, permite que os seus operários, que o mais humilde dos seus discípulos, levantando a laje do túmulo, venha mostrar à cristandade a sua divina e sacrossanta imagem, que não é, certamente, a que apresentais nas vossas catedrais pomposas!
            E nem os ouropéis, as grandezas dos vossos templos poderão jamais abafar, nos vossos relicários, a voz da própria consciência, que vos brada, em nome de Jesus, em nome de Pedro, o fundador da Igreja, que isso que hoje praticais não é mais nem é menos do que o que faziam os vossos antepassados, os escravos da idolatria, dentro dos templos de Jerusalém!
            Pois quê?  Aquele de quem vos dizeis representantes na Terra e que, menos que as feras que habitam as recônditas grutas, não tinha onde reclinar a cabeça - Jesus, o peregrino do amor que buscava, por toda a parte, enxugar as lágrimas dos aflitos, derramando nos seus corações doridos os bálsamos do seu amor sem termo - será, porventura, esse o que hoje levais à cabeceira dos enfermos e moribundos, simbolicamente no viático, a troco de vil moeda?
            Jesus, que entrava na casa de Levi para participar do banquete do publicano e que, quando censurado por isso, dizia que para os enfermos é que tinha vindo ao mundo, ele, que sempre deu preferência aos desgraçados, nega-se hoje a subir, simbolicamente na forma de uma hóstia, em nuvens de incenso, às mãos do sacerdote, em súplicas por aqueles a quem faltou a coragem bastante para o lutar da vida?!
            Jesus, que recomendou a oração do arrependido longe da praça pública, para que se não parecesse com os escribas e fariseus que, em grandes brados, faziam ostentação de suas crenças, hoje penetra o confessionário para, ainda a troco de vil moeda, dirimir pecados da humanidade?!
            Ele, que sempre protestou contra  a vontade do povo judeu, que tentava proclamá-lo rei, poderá influenciar os sacerdotes para os domínios teocráticos?
            Não, certamente! Não é esse o Jesus que pretendemos apresentar à cristandade no nosso humílimo trabalho.
            E, apesar do látego das nossas palavras, lamentamos que vós, sacerdotes, tenhais sobre os ombros a mais tremenda das responsabilidades - a responsabilidade da consciência perante Deus, a responsabilidade do vosso ministério  que por vós mesmos foi pedido, não para o comércio de Jerusalém, não para o comércio dos sacramentos, mas para o levantamento da alma cristã, até se encontrar com o seu Divino Pastor, lá nos páramos da luz, onde habitam os eleitos, os verdadeiros cristãos!
            Perdoai-me, se assim vos falo; mas, sobre nós pesam também responsabilidades: temos grandes compromissos que ainda não foram solvidos. E, antes que chegue a hora da colheita, antes que o Espírito de Verdade venha separar o joio do trigo, dando a cada um segundo os as suas obras, deixai que os filhos do túmulo, deixai que os vivos venham falar aos mortos, acordando-os dessa letargia de paixões que tem obcecado os espíritos, ao ponto de raramente se encontrar, na superfície da Terra, esse caminho de luz que há tantos séculos foi trilhado pelo Divino Cordeiro, atraindo, qual sol de amor, as almas, que pelo Eterno lhe foram entregues, para a salvação e para a felicidade.
            Deixai que os vivos venham dos túmulos dizer a todos vós: cristãos em Cristo, tomai do Evangelho; meditai sobre essas verdades, fazei penitência, porque o Espiritismo é o precursor do Espírito de Verdade! 
            Ele é o consolador prometido por N.S. Jesus Cristo aos seus discípulos, como a toda a humanidade, para acalentar-lhe as dores, mitigar-lhe as mágoas, amenizar-lhe as aflições nas horas de tribulação e dos grandes sofrimentos!
            Ei-Lo aí entre vós, manifestando-se, dia a dia, por toda a superfície da Terra, qual a voz clamante de João, chamando o povo ao novo batismo do Espírito Santo - à penitência e ao arrependimento. E como outrora os escribas e fariseus, os doutores da lei, sofreando o despeito e o ódio, se acercavam do Amantíssimo Cordeiro, perguntando-lhe com que autoridade rompia ele com os costumes da época e com as leis, por eles mesmos, os chefes da Igreja, estabelecidas, assim vós hoje pedireis também prodígios, grandes milagres, para que possais conhecer da autoridade que nos assiste para perturbar a marcha dos vossos negócios eclesiásticos, interrompendo com a palavra do túmulo a serenidade aparente das vossas consciências.
            Aos escribas e fariseus, aos doutores da lei, respondeu Jesus: Desfazei este templo e Eu o levantarei em três dias - fazendo alusão, diz-nos claramente o evangelista, ao templo do seu corpo que, cobiçado pelo ódio, devia tombar mais tarde, para mais tarde ressurgir; aos modernos doutores da lei, aos novos escribas e fariseus, poderá responder o Consolador prometido, isto é, os Espíritos em missão, ao serviço da vinha do Amado Mestre:

            Destruí a verdade, se o puderes, e só assim o Espiritismo desaparecerá da superfície da Terra; convocai novos concílios e nele determinai o desaparecimento da verdade, e, da boca dos túmulos, quais pedras da estrada de Jerusalém, bradará a voz dos enviados do Senhor, clamando, por toda  parte, pela observância do verdadeiro Evangelho, pelo cumprimento da Doutrina do Crucificado, tão mal compreendida e tão barateada pelas vossas ambições!

domingo, 26 de junho de 2011

48 Trabalhos do Grupo Ismael



48

SESSÃO DE 8 DE MAIO DE 1940

Manifestação sonambúlica

             Primeiro de um Espírito de pujante inteligência e vasta cultura, ex sacerdote da Igreja de Roma, em cujo seio fora como ele próprio o declarou, um dos maiorais da Inquisição e que conservando-se fiel à sua organização político-religiosa, trabalhou, durante séculos, pelo seu crescente poderio, à frente de falanges numerosíssimas de outros Espíritos. Desde o advento da Terceira Revelação, tornando-se, por isso mesmo, perseguidor tenaz e implacável da Doutrina Espírita a e de todos os seus profitentes, dos médiuns, sobretudo, que vinham a encontrar-se no âmbito da ação maléfica  que desenvolvia contra todos os que ele arrolava como hereges por insubmissos ao catolicismo romano. Para se fazer ideia da sua pertinácia na perseguição aos que se forravam ao jugo romanista, bastará dizer que, como se verá da comunicação final dada na mesma sessão, há vinte anos ele se manifestou diversas vezes no “ Ismael”’, como um dos mais terríveis perseguidores do médium Ulysses, ali se empunhando em debates doutrinários com Pedro Richard, que presidia ao Grupo e que, persistindo no espaço em seus propósitos caridosos, conseguiu afinal modificar-lhe as ideias e os sentimentos, conforme adiante se verificará. Esta sua primeira manifestação agora ocorreu depois de haver-se estudado, pelo Evangelho de João, a ‘’ressurreição de Lazaro’’, tendo alguns dos membros do Grupo explanado o texto evangélico, no sentido de demonstrarem que deste se evidência que não houve, no episódio em apreço, o a que vulgarmente se chama ‘’ressurreição’’, conforme o ensina a Igreja, nem, portanto, ‘’milagre’’, que, de fato não pode existir, porque as leis divinas são imutáveis e eternas, como o próprio Deus, que nelas está.
                Concluindo o estudo, eis se manifesta o Espírito a que nos referimos, dizendo:


            Espírito. -  Vocês não perdem vasa para demolir a Igreja, para lhe menoscabar a ação, sem compreenderem os fins dessa ação. Podeis afirmar que as massas ignorantes compreenderiam a ressurreição de Lazaro sem a interferência do milagre, tal como os vossos livros ensinam e vós aceitais,conforme estivestes comentando?
            Há, na Igreja de Roma, sacerdotes que compreendem o alcance e a sutileza das lições do Cristo; entretanto, como Ele o fez na sua missão evangelizadora, a Igreja projeta sobre a inteligência das massas a luz, mas graduando-a, para que elas não se deslumbrem e descreiam das afirmações religiosas e salvadoras.
            De fato como afirmais, as leis divinas não são arbitrárias. O sacerdote esclarecido não desmente esta verdade, porque negaria a sua própria evolução intelectual. Se as leis fossem arbitrárias, o mundo seria um caos inabitável.
            Faz-se necessário, pois, compreender a obra da Igreja e distinguir o mau sacerdote do sacerdote consciente, que apenas cala suas ideias em respeito à disciplina a que se submeteu.
            Sem ser um adepto da vossa crença, sem ser um combatente pela implantação de quaisquer ideias na consciência dos meus irmãos, aqui compareço assiduamente  para ouvir os vossos debates e as instruções dos vossos mentores. Contudo, sem ser um sectarista, no verdadeiro sentido da palavra,ainda permaneço mais nos arraiais do Catolicismo do que nos vossos, porque muitas coisas ainda são para mim obscuras no contexto da vossa doutrina.
            Não compreendo, por exemplo, a limitação do poder de Deus. Ouvi, há pouco, de um de vós, uma explicação que produziu dúvida no meu entendimento, sendo essa a razão por que venho tomar o vosso tempo precioso, quando aguardáveis palavra mais autorizada do que a de um simples ex clérigo. Deus é a lei em si mesma, dissestes. Se Deus é a lei, quem fez a lei? Poderei merecer a esmola de uma explicação vossa?

            (O diretor dos trabalhos tece breves considerações, mostrando ao visitante que os espíritas não cogitam de demolir coisa alguma, porquanto o Espiritismo, em o qual ressurge o Cristianismo do Cristo, é essencial e exclusivamente construtivo; que perguntar quem fez a lei, por ter ouvido que Deus é a própria lei, equivale a perguntar quem fez ou criou Deus; que, sendo Deus o absoluto e existindo desde toda a eternidade, uma vez Ele é o legislador, a lei evidentemente existe de toda eternidade: que, por outro lado, sendo Deus infinito em si mesmo e em todos os seus atributos,  não pode ser compreendido, nem, ainda menos, definido por inteligências finitas e ainda limitadíssimas como as nossas; que só podemos  compreender Deus sentindo-o, conforme melhor lhe explicariam aqueles mentores a quem o visitante pouco antes se referira. Quando á graduação da luz para massas ignorantes, pondera, porque há de a Igreja pretender sobrepor-se ao Cristo, que é a fonte mesma donde jorra a luz que ilumina as almas? Quem, melhor do que Ele, que preside á marcha  evolutiva da humanidade terrena, pode saber quando devem ser intensificadas  as irradiações da luz dos seus ensinos para aclaração do entendimento e da consciência humana?  Menos ainda se pode compreender que aqueles que o tem como sendo o próprio Deus e que não compreendem quaisquer limitações ao poder de Deus, entendam de limitar esse poder, no que concerne à ampliação das Verdades que as criaturas precisam conhecer e sentir, segundo as necessidades do seu progresso, da sua evolução, necessidades da qual somente Ele pode ser juiz).

            Espírito . – O erro da Igreja não está propriamente na sua doutrina, mas no afastar-se ela dessa doutrina. A Igreja devera ser espiritual, para atuar espiritualmente na consciência das criaturas, tanto das paupérrimas, como das opulentas.
          Mas, a sua disciplina é necessária, tão necessária que a cada passo tropeçais na vossa obra
pela indisciplina dos vossos núcleos.
           
            Diretor. – Sim, a disciplina é necessária e nós a queremos; porém, não a disciplina compulsória, imposta pela violência. Queremo-la espontânea, para ser consciente, como a queria o Cristo, que nada impunha a ninguém; que apenas disciplinava pela exemplificação dos seus ensinos.

            Espírito .- Saberás que alguns dos que por aqui têm passado  e assistido aos vossos trabalhos se esforçam pela unificação do Catolicismo com o Espiritismo? E sabeis qual o maior campeão dessa obra?

            Diretor. – Penso saber, bem como os meus companheiros.

            Espírito . – Como quer que seja,  não estou autorizado a revelar-lhe o nome. A obra, entretanto, não é fácil. Eu aqui venho de há muito; mas apesar de haver modificado os meus sentimentos e ideias, ainda não comungo perfeitamente convosco. Compreendo que é necessária a reforma da igreja, porém não a sua derrocada.

            (O diretor observa que assim também o entendem todos os que se reúnem na Oficina de Ismael,certos de que a reforma da Igreja virá como efeito de evolução natural, porque assim é que ela se operará na conformidade das leis divinas.)

            Espírito. – Não é, contudo, geral esse modo de pensar entre os vossos companheiros e colaboradores. Tendes razão quando lembrais que o Cristo disse: quem não é contra mim é por mim. Mas, por isso mesmo, precisais distinguir o mau do verdadeiro sacerdote, assim como eu comparo, analiso e separo. Enquanto falavas e eu recolhido te escutava, ouvi do Alto, esta advertência: Se Deus é amor, contenta-te com essa explicação, porquanto, para a compreensão maior, é necessária a evolução,sem a qual nem o homens, nem os Espíritos adiantados jamais a teriam alcançado.
            A compreensão se vai dilatando e acelerando. À medida que o ser atinge um mais alto grau de moral,mais domina os conhecimentos científicos. Diz ainda o amigo que tenho a meu lado: não te apresses, não podes ir além do ponto, que os teus merecimentos te assinaram. Tem confiança e espera. Estas coisas,que são bens do Espírito, nenhum as pode adquirir de improviso, pois que, segundo a palavra evangélica,não se dão perolas a porcos.
            Estou satisfeito e confortado.

            (Breve silêncio)

            Aqui vim pela primeira vez e falei, há mais de 20 anos. Sentava-se ai onde estás o velhinho
cujas lágrimas muito concorreram para beneficiar o meu Espírito.
            Temos trocado ideias muitas vezes. E’ um campeão do Evangelho. Seu coração é um sacrário de sentimentos e é o seu coração que tem modificado o meu estado de alma. A par do ensino cristão, ele distribui o alimento do espírito. E’ um verdadeiro sacerdote.
            Agora me vou, porque ele vos quer dizer duas palavras.

*

Comunicação final,  sonambúlica


            Quem era o espírito que acabava de manifestar –se.- Debates com ele travados há vinte anos.- Disposições que inspiraram ao médium, mas que este não pode por em execução. - Abstração dos cuidados da vida material nos trabalhos do grupo.

Médium: J. CELANI


            Meus companheiros, paz e bendito seja o Cordeiro de Deus.
            Podeis dizer que ganhastes o vosso dia, não pelas palavras que ouvistes, mas pelos efeitos produzidos deste lado.
            E’ um velho combatente da Igreja, este que acaba de visitar-vos. Por muitos anos aqui esteve na estacada.
            O nosso Ulysses foi uma vitima sua, mas muito concorreu, pela mediunidade que possui, para o estado em que ele ora se encontra.
            Durante muitas sessões, aqui nos debatemos, ele arrimado nos seus conhecimentos, eu nas asas do meu Matias[1], graças a quem consegui tocar-lhe o coração. O merecimento, no entanto, se houve, foi coletivo.
Ainda aqui comparecem muitos dos que dessas sessões participaram.
            Quero, porém, fazer ressaltar, para vossa meditação, um fato que esta manifestação sugere: é que o médium vinha com o propósito de falar-te (ao diretor) sobre a disposição em que estava de abster-se desta tarefa, para a qual se julga incapaz. Mas, não teve ânimo, ou não pode.
            Meus companheiros, abstraí-vos de tudo o que pertence à vossa vida material, quando aqui penetrardes. Tornai de todo cristãos os vossos pensamentos e sentimentos, para  que os servos de Deus possam ressuscitar os lázaros morais do vosso ambiente, de modo que entre vós se faça o que fazia  o Cristo entre as multidões.
            É preciso compreendais a necessidade de separar completamente o que é do mundo exterior
 do que toca à vossa tarefa, quando aqui vos reunirdes.
            Eis o que tinha para dizer-vos hoje e permita o Criador que eu possa levar por diante o meu desejo,que é de produzir alguma coisa neste Grupo, do qual o meu Espírito recebeu muitas das graças que hoje o felicitam.
            Que a Virgem, a consoladora dos aflitos, não se esqueça do servo que se esforça por lhe reverenciar o Espírito excelso. Permita Ela que eu complete a educação do instrumento de que me sirvo, para que dado me seja cumprir a minha promessa. Que Ela vos acompanhe aos vossos lares e vos fortaleça o espírito para a continuação da nossa tarefa. São estes os meus votos. Deus vos abençoe. – Pedro. (Richard)