Aonde
Vamos
Redação
Reformador (FEB) 1º de Agosto de 1918
"Nons pensons avec Bacon que si "un peau
de raison, une‘etude superficielle de la physique conduit á l’atheisme (levis
degustatio), des connaissences plus approfondies (pleni haustos) ramènent aux
idées et aux sentiments religieux.” (Psychologie de Ia croyance -Camille
Bos, pag. 157)
Os que não se
forram ao superior tributo da Razão e para além dos âmbitos estreitos do
materialismo, na entrosagem da existência coletiva colimam algo de mais nobre
que a simples satisfação do ego contingente e confinado a formas perecíveis,
esses, perguntam licitamente para onde vamos.
Vivemos de fato? Pensamos e atuamos?
De boa-fé, parece que ninguém o contestará.
Mas porque viver, pensar e atuar? Se existimos, quem nos
criou?
A fatalidade de um mecanismo indefinido e cego?
Energia universal?
Que é isso, que será isso substancialmente considerado?
Acaso, dizermos que o fenômeno vital se rege por leis que
tais presumidas será definir intrinsicamente a vida?
Mas, a consciência também no lo diz: - a lei pressupõe
legislador e a lei apreendida pela inteligente, se nulo não é o postulado de
que o efeito é idêntico à causa.
Com os ateístas impenitentes e sistemáticos, sempre que abordamos
a questão “ab initio”(desde o início), pretendem eles infirmar-nos a crença
alegando não haver provas provadas da existência de Deus.
Quereriam, assim, que lhes definíssemos a Suprema Inteligência
do Universo de um modo concreto, mas esquecem-se de que, da sua própria inteligência
que não é suprema e muito menos universal não poderiam, na sua inopia (indigência) relativa, dar
jamais uma prova absoluta e definida.
Estas considerações vêm de molde e a propósito de
afirmativas ainda há pouco feitas “ex-cathedra” (com conhecimento) por um de
nossos publicistas, que não negava nem afirmava Deus, simplesmente porque não
haveria corno demonstra-lo.
Entretanto, para logo reconhecia e proclamava a
perpetuidade da vida e a lei de evolução.
Constatava o sofrimento e relegava ao futuro a solução do
problema, que, a despeito de tudo, remanesce da mentalidade e do esforço de
muitos séculos e gerações.
Nós poderíamos, por conseguinte, argumentar com o ilustre
articulista que o nosso Deus reside na sua própria Hipótese de Passado e
Futuro, que só por analogia se infere e não se define, nesse QUID que escapa e
recua, em regra, a “mens cogitatio” (coisa
que pensa?) por mais perspícua (nítida) que
ela seja, mas que também o faz amplificando-se e definindo-se nas suas leis.
O erro, o grande erro dos filósofos negativistas está no
quererem julgar Deus através do prisma antropomorfo, locando na Terra a fonte
imane das origens e o centro das possibilidades universais.
Certo,
desse ponto de vista precário eles não deixam de ter razão, porque o conhecido
histórico dessa falida caravana - a Humanidade planetária considerada à luz da
Nova Revelação – é um acervo de vicissitudes tremendas, de incongruências
monstruosas, desde que, por considera-la nos insulamos no já agora exótico
conceito de uma existência singular, sem antecedentes e consequentes, o que
tanto vale dizer - sem causa nem fins.
E daí as aberrações assinaladas, aliás inteligentemente
pelo escritor a que nos vimos reportando, nos deuses mais ou menos teratológicos,
guerreiros, vingativos, incríveis em suma, porém mais ou menos amoldados e
apassivados a todos os crimes e tiranias, e de que é atenuada variante e bênção
oficial de católicos e protestantes a cada qual de seus exércitos, que se
defrontam e aniquilam na mais iníqua das guerras.
Esta concepção clássica da Divindade tende, contudo, a
modificar-se mercê das novas fontes da psicologia experimental, que a tese espírita
veio precipitar, ao menos para os investigadores despreconcebidos de fanatismos
e má vontade.
Nem se estranhe que assim nos expressemos tratando de homens
de ciência, porque há também um fanatismo científico tão rotineiro, tão temeroso
e contumaz quanto o religioso, o político.
Aquele, porém, broqueado (ulcerado) de continuo na sua arquitrave
(vigas horizontais) e mercê dos ascendentes espirituais que propulsam as
ideias novas a seu tempo, vai rareando e mais de um Saulo a caminho da nova
Damasco surge armado em Paulo para afirmar a estupenda realidade da
sobrevivência do ser, íntegro e autônomo, eterno e progressivo, um estado “ab
material” (não material) da consciência humana.
São perspectivas novas, arcanos até aqui mal suspeitados
em nebulosidades metafísicas, que se afirmam e se tocam como para solidarizar
aa leis universais. E encarada sob este novo aspecto a Humanidade nada tem de inconsequente
e anômala em sua origem e fins.
Deus não é mais a síntese de privilégios e absurdos, mas
o Pai de todas as humanidades, a todas provendo e a tudo prevendo integral e
logicamente.
O homem encontra a razão de si mesmo e já não é o Prometeu
de um Cáucaso indefinível, um acidente inexpressivo no conjunto do problema, mas
um fator consciente na equação do Infinito que se lhe impõe na evidência de
quanto o cerca. Afinal, quando afirmamos que as religiões dogmáticas são os melhores
veículos do ceticismo contemporâneo não emitimos nenhum paradoxo, porque a
verdade, - justiça se lhe faça - é que o materialismo contemporâneo brotou de
espíritos de escol nos últimos tempos, os quais com a lógica das demonstrações positivas,
esmerilhando o micro e o macrocosmo derrubaram a dogmática ancestral de mitos e
lendas.
Era, portanto, preciso que a Fé - patrimônio inalienável
do espírito - evolvesse com os novos métodos, acessíveis à experimentação.
Por isso, os espíritos manifestam, dão testemunho da sua sobrevivência
e afirmam unânimes a existência de um Deus, que não definem, mas que sentem
melhor e mais compreendem na imperecibilidade da própria condição.
Vamos admitir que assim não fosse, que tudo não passasse
de um abstruso fenômeno anímico?
Que de melhor e mais positivo no apresentam os sábios da Terra
com as suas engenhosas estruturas de hipóteses e sistemas, para explicar a vida
que não podem negar?
Com eles, com as suas teorias sibilinas, a que se reduz a
entidade pensante neste mundo? ,
Naturalmente, ao que aí vemos - egoísmo e força bruta
mascarados em direito, moral de convenção, terror de fracos, abuso de fortes,
escravidão, covardia, miséria, desespero e... ruínas.
Há templos, altares, museus, academias, laboratórios, parlamentos,
mas não há Fé, nem Esperança, nem Altruísmo, porque não há consciência do Destino.
E
assim, cada qual faz o seu deus, acomoda-o às contingências da sorte, se é que
o não nega para afirmar-se!
O Deus? - é ele.
A Verdade? - é a sua inconsciência.
E depois... depois... depois... a morte, o nada!
E assim se
compreende o apotegma (palavra memorável) de
Claude Bernard a Victor Cousin, quando este lhe perguntava se de alguma coisa
não conhecia tudo:
“Se de alguma coisa
eu conhecesse tudo, eu tudo saberia.”
Mas demos graças a Deus, ainda assim, porque se Ele na
sua Infinita misericórdia se não impõe a todos, pela grandiosidade das suas leis,
a nós outros já se afirma nas leis da nossa consciência.
Nem malsinemos, tão pouco, esse impenitente antagonismo
de ideias, já por que das suas fileiras egressos aqui chegamos, já porque ele
pode ser considerado como essas tonalidades escuras que melhor destacam as belezas
da tela em conjunto, consagrando o artista que a concebeu e executou.
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