Pesquisar este blog

terça-feira, 3 de março de 2020

Quinze minutos

Chico Xavier

Quinze Minutos
Hilário Silva por Chico Xavier
Reformador (FEB) Julho 1960

I

            Aristeu Leite era antigo lidador da Doutrína Espírita.

            Assíduo cliente das sessões.

            Dono de belas palestras. Edificava maravilhosamente os ouvintes.

            Bom leitor.

            Correspondente de instituiç:ões distintas.

            Mantinha com veemência o culto do Evangelho no lar.

            Extremamente caridoso. Visitava, cada fim de semana, vários núcleos beneficentes.

II

            NaqueIa sexta-feira. foi para easa exultante.

            Vivera um dia pleno de trabalho, coroado à noite pela oração ao pé dos amigos.

            Entrou. Serviu-se de pequeno porção de leite e, logo após, dirigiu-se ao quarto de dormir, onde a esposa e as filhinhas repousavam.

            Preparou-se para o sono.

            Sentia, porém, necessidade de meditação e voltou à sala adjacente.

            Abriu pequeno volume e releu trecho breve:

            “O cristão é testado, a cada instante, em sua fé, pelos aconhecimentos naturais do  caminho.
            Por isso mesmo, a oração e a vigilância, recomendadas pelo Divino Mestre, constitui elementos indispensáveis para que estejamos serenos e valorosos nas menores ações da lida.
            Em razão disso, confie na Providência Maior, busque a benignidade busque a benignidade e seja otimista.
            A caridade, acima de tudo, é infatigável amor para todos os infelizes.
            Por ela encontraremos a porta de nossa renovação espiritual,
            Acalma-se, pois, sejam quais forem as circunstâncias e ajude a todos os seres da Criação, na certeza de que estará ajudando a si mesmo.”
             Aristeu fechou o livro, confortado. e refletiu: - “Estou satisfeito, Vivi bem o meu dia. Continuarei imperturbável. Auxiliarei a todos. Estou firme. Louvado seja Deus.”

            Sem dúvida, sentia-se mais senhor de si.

            Realizava-se. E em voo mais alto de superação do próprio valor acreditou-se em
elevado grau de ascensão íntima .

            Nesse estado d'alma, proferiu breve oração e consultou o despertador. Uma e quinze da madrugada. Apagou a luz e recolheu-se.

III

            Penetrava de leve os domicílios do sono, quando acordou sobreexcitado.

            Alguém pressionava de manso a porta.

            A esposa despertou trêmula.

            Aterrada, não conseguia sequer falar.

            Aristeu, descontrolado, pode apenas balbuciar:

            - Psiu, psiu... Ladrão em casa.

            Lembrou-se, num átimo, de antigo revólver carregado, em gaveta de seu exclusivo conhecimento.

            Deslizou à feição de gato.

            E porque o rumor aumentasse, disparou dois tiros contra o suposto intruso.

            Dispunha-se a continuar. quando voz carinhosa exclamou assustadiça:

            - Meu filho l Meu filho! Sou eu, seu pai! Sou eu! Sou eu!..

            Desfez-se o tremendo engano.

            O genitor do chefe da casa viera de residência contígua. Possuindo as chaves domésticas, não vacilara, aflito, em vir rogar ao filho socorro médico para a esposa acamada, com febre alta.

            Algazarra.

            Vizinhos em cena.

            Meninas em choro de grande grito.

            Aristeu, envergonhado, abraçava o pai, saído incólume, e explicava aos circunstantes o acontecido .

            Enquanto revirava pequena farmácia familiar, procurando um calmante, deu uma olhadela no relógio.

            Uma e meia da manhã.

            Entre os votos solenes e a ação intempestiva que praticara, havia somente o espaço de quinze minutos...


Nenhum comentário:

Postar um comentário