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sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Tenho Tempo, Senhor!


Saí, Senhor...
Lá fora, os homens saíam...   
Iam, vinham, andavam, corriam.
As bicicletas corriam, os automóveis corriam, 
a rua corria, a cidade corria,
Todo o mundo corria.
Corriam todos, para não perder tempo:
Corriam ao encalço do tempo, 
para recuperar o tempo, para ganhar tempo.
Até logo, doutor, desculpe-me - não tenho tempo.
Passarei outra hora, não posso esperar mais - não tenho tempo.
Termino aqui esta carta - pois não tenho tempo. 
Queria tanto te ajudar - mas não tenho tempo. 
Não posso aceitar, por falta de tempo.
Não posso refletir, nem ler, ando assoberbado - não tenho tempo.
Gostaria de rezar - mas... eu não tenho tempo. 
Compreende, Senhor, eles não têm tempo. 
A criança está brincando, não tem tempo, 
agora mesmo... mais tarde... 
O estudante tem seus deveres a fazer, 
não tem tempo... mais tarde... 
O universitário tem muitas aulas e tantos trabalhos,
 que não tem tempo... mais tarde... 
O rapaz pratica esporte, não tem tempo... mais tarde...
O que casou, há pouco, tem sua casa, deve organizá-la, 
não tem tempo... mais tarde... 
O pai de família tem seus filhos, não tem tempo... mais tarde...
Os avós têm seus netos, não têm tempo... 
mais tarde... Estão doentes. 
Precisam tratar-se... não têm tempo...
 mais tarde...Estão à morte, não têm...
Tarde demais... não têm mais tempo.
Assim correm todos os homens atrás do tempo, Senhor. 
Passam correndo, pela Terra, apressados,
atropelados, sobrecarregados, enlouquecidos... 
Nunca chegam, falta-lhes tempo, 
Apesar de todos os esforços, falta-lhes tempo.
Falta-lhes muito tempo. Com certeza, 
Senhor, erraste os cálculos.
Há um engano geral:
Horas curtas demais, Dias curtos demais, 
Vidas curtas demais.
Tu, que estás fora do tempo,
 Senhor, sorris ao ver-nos assim, brigando com ele,
E sabes o que fazes. 
Não te enganas quando distribuis o tempo aos homens.
A cada um dás o tempo de fazer o que queres que faça. 
Mas é preciso não perder tempo, não esbanjar tempo,
 não matar o tempo, 
pois o tempo é um presente que nos dás.
Presente perecível, 
um presente que não se conserva.
Tenho tempo, Senhor,
Tenho todo o meu tempo, Senhor, 
todo o tempo que me dás,
Os anos de minha vida, dias de meus anos,
 minutos de meus dias, são todos meus. 
Cabe-me preenchê-los tranqüilamente...
Mas preenchê-los inteirinhos... 
Para dá-los a Ti - e que, da água sem sabor, 
faças um vinho generoso, 
como outrora em Caná, 
fizeste para as bodas humanas.

Nesta noite, eu não Te peço, Senhor,
O tempo de fazer isto e depois aquilo,
Peço-Te a graça de fazer, 
conscienciosamente, 
no tempo que me dás, 
o que queres que eu faça.'
                                                            Michel Quoist
 em Poemas para Rezar  (Liv. 2 Cidades)

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