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sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Contra ou a favor?




Contra ou a favor?
Sylvio Brito Soares
Reformador (FEB) Maio 1976

A cerca de Alcindo Guanabara, grande jornalista, há uma estória que se popularizou.

José Carlos Rodrigues, redator-chefe do "Jornal do Commercio", costumava, às sextas-feiras santas, publicar longo artigo sobre a vida do Cristo. Como, porém, estivesse esse redator em viagem, o gerente do jornal chamou Alcindo e lhe pediu um artigo sobre Jesus Cristo. Alcindo aceitou a incumbência. Depois, dizem, de haver dado alguns passos, retornou e perguntou ao gerente:

- Você se esqueceu de dizer-me se o artigo deve ser contra ou a favor.

Carlos de Laet, ao receber D. Silvério, na Academia Brasileira de Letras, aludiu a essa anedota em seu discurso. Isto irritou alguns acadêmicos e deu lugar, naturalmente, a uma questão entre Laet e Félix Pacheco.

Lauro Müller, no entanto, asseverava que a coisa se passara diversamente.
Recebendo a encomenda do artigo, Alcindo Guanabara teria perguntado, aludindo às crenças de José Carlos Rodrigues: - Cristo católico ou protestante?

Este episódio se explica, sem dúvida alguma, em virtude de as religiões existentes se preocuparem mais com seus cultos, com a manifestação externa de suas crenças, do que propriamente com o espírito da Religião, tão bem definida por Jesus, em seu Evangelho. Eis por que o Espírito Emmanuel disse, muito bem, que "os cultos religiosos, por sua feição dogmática, são transitórios como todas as fórmulas de convencionalismo humano".

Só a Religião pregada e praticada pelo Divino Enviado não sofre qualquer modificação no tempo e no espaço, porque ela é AMOR, e somente o amor tem a força incoercível de conduzir o homem à presença de nosso Pai Celestial.

*

Mas, voltando à explicação de Lauro Müller, no tocante à estória a que acima nos referimos, acreditamos sinceramente que Alcindo Guanabara desejava saber apenas, a fim de conduzir seu artigo, se José Carlos Rodrigues era católico ou protestante, tanto que Luiz Edmundo, em sua obra "O Rio de Janeiro de meu tempo", referindo-se a esse grande jornalista que foi Alcindo Guanabara, disse ser ele "sisudo e infenso a relações banais”.

Arredio e grave, como uma cegonha, de ar ensimesmado e triste. Como jornalista, não queria saber de assuntos que não fossem sérios, quando escrevia: problemas sociais, questões de economia ou de finanças, religião e política. Antes de terminar o século, já era um grande nome no nosso jornalismo, como os de Bocaiúva, de Rui, de Ferreira de Menezes, de Araújo, de Patrocínio.

"Tanto no início de sua carreira, como no apogeu, foi sempre o mesmo. O mesmo na indumentária e na conduta espiritual, com a mesma barba, as mesmas idéias, os mesmos óculos, a mesma sobrecasaca, a mesma gravidade.

"De novo, a bem dizer, só nos revelou certas tendências espíritas que, aliás, conservou até fechar os olhos.

"Em companhia de Luís Murat, Alberto de Oliveira e outros próceres da literatura nacional, ia muito ao grêmio União Caridade, à Rua Silva Jardim, 9, onde se reuniam os mais convencidos adeptos da Doutrina Kardequiana.

"É a mesinha dos três pés, horas e horas em confabulação com o astral...

"Não discutia, porém, o Espiritismo que professava. E na prática estrita da moral da seita, marchava sereno e bom, sem um deslize."

*

Era natural que o apreciado escritor Luiz Edmundo, sem o indispensável conhecimento da Codificação Kardequiana, considerasse o Espiritismo uma seita, quando, na verdade, ele é a Religião, como muito bem acentuou Allan Kardec, que dispensa dogmatismos, sacramentos, sacrifícios, sacerdócio. É a revivescência do verdadeiro Cristianismo do tempo de Jesus.

"O que se faz preciso na vossa época, disse o esclarecido Espírito Emmanuel, é estabelecer a diferença entre Religião e religiões.

"A religião é o sentimento divino que prende o homem ao Criador. As religiões são organizações dos homens, falíveis e imperfeitas como eles próprios; dignas de todo o acatamento pelo sopro de inspiração superior que as faz surgir, são como gotas de orvalho celeste, misturadas com os elementos da terra em que caíram. Muitas delas, porém, estão desviadas do bom caminho pelo interesse criminoso e pela ambição lamentável dos seus expositores; mas a verdade um dia brilhará para todos, sem necessitar da cooperação de nenhum homem."


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