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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Finados


Finados
Editorial
Reformador (FEB) Novembro 1978


            Desde as mais remotas civilizações, o homem se dobra reverente ante o mistério dos sepulcros, para cultuar os seus mortos. Em face dos esquifes fechados, deixa escorrer o pranto sentido das suas saudades, enquanto guarda no coração o difuso pavor dos enigmas do desconhecido. Nem sempre, porém, é o amor que inspira o preito aos que partiram. Não foi, decerto, a piedade que levou Artemísia a erguer a Mausolo, rei da Cária, monumento tão faustoso que se tornou uma das maravilhas do mundo antigo. Nem foi a devoção sincera e humilde que pagou a Miguel Ângelo para projetar e construir os admiráveis túmulos dos Médicis. Mas a Grande Pirâmide de Gizé, mandada erigir por Quéops, filho de Snefru, com seus cento e quarenta e seis metros de altura, fala, no silêncio da sua linguagem de pedra, da solene certeza da vida eterna.

            Meio às mais contrastantes demonstrações de carinho e de vaidade, os cemitérios do mundo inteiro guardam desde as mais singelas covas rasas, das multidões de anônimos, até as suntuosas tumbas dos abastados e dos vencedores. Entretanto, nem os vilões nem os heróis, nem os criminosos nem os santos, habitam essas brancas cidades consagradas à morte. As sepulturas não conseguem reter o Espírito imortal que, liberto das constrições do corpo físico, ressurge, na glória das suas vestes perispiríticas, para novo ciclo de existência, em dimensão maior, mais vivo do que nunca, com os seus sentidos mais aguçados e com muito maior capacidade de pensar e de agir, de gozar e de sofrer.

            Perante o triunfo da vida, que se afirma vitoriosa para além da decomposição das vísceras abandonadas, soa sem sentido a lamentação das carpideiras e restam inúteis as cerimônias do luto exterior, convencional e vazio. Átropos, a Parca fatal, não tem, na verdade, o poder de cortar o fio da vida humana, porque o falecimento do corpo carnal é tão-só o rompimento do casulo da alma, puído e imprestável, substituível por outro, novo, embora igualmente temporário. De encarnação em encarnação, e de desencarnação em desencarnação, o Espírito vai realizando as suas experiências evolucionárias, na sua longa trajetória para a angelitude, meta de perfeição e de felicidade que todos consciente ou inconscientemente buscam. Por isso, não é raro de ver-se, aqui e ali, quem cultue a si mesmo, na imagem e na lembrança de um venerado antepassado ou de outro morto ilustre.

            Abrindo janelas novas ao entendimento humano e soprando com vigor milenares cinzas de ignorância, o Espiritismo trouxe aos homens da Terra não somente a mensagem consoladora da imortalidade, mas a da comunicação permanente entre os habitantes dos diversos planos da vida planetária. Com isso, ampliaram-se e melhoram incessantemente as oportunidades e as condições para esse tipo de intercâmbio, cada vez mais franco e decisivo, em benefício de toda a Humanidade.

            Agora, são os próprios mortos redivivos que vêm dizer e repetir aos vivos da carne, aos seus irmãos ainda encarnados, que realmente ninguém morre, que a morte é simples transferência de plano, provocada pelo falecimento de um corpo físico provisório e substituível, e que, além e acima dos cadáveres e dos sepulcros, a vida palpita, radiosa e sublime, invencível e sem fim...

            Finados! - quem são eles? Não existem. Não há finados, porque tudo o que realmente existe é vida, e vida em abundância, no Espírito de Deus que, como afirmam sabiamente as Escrituras, não é Deus de mortos, mas de vivos!

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