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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Da Alma Humana



Da Alma Humana

Ernani Cabral
Reformador (FEB) Janeiro 1958

            A Federação Espírita Brasileira fez publicar, agora em 2ª edição, a excelente obra do médico português - Dr. Antônio J. Freire - intitulada "Da Alma Humana", livro muito interessante e instrutivo e que deve fazer parte da biblioteca de todo espírita estudioso.

            A doutrina dos Espíritos, que Allan Kardec codificou, afirma que o ser humano é composto de três partes ou elementos: corpo, perispírito e espírito.

            O perispírito, também chamado alma, mediador plástico, corpo astral, fluídico, sutil, aéreo ou etéreo, é componente de nosso "eu", de transcendental importância, servindo de ligação entre o corpo e o espírito, mas cuja existência é negada pelas religiões dogmáticas.

            É ele - o perispírito - uma realidade cientificamente demonstrada, porém aquelas religiões, repudiando a opinião dos primitivos cristãos de cultura, chamados também de "primeiros doutores da Igreja", entenderam de negar, categoricamente, sua existência. Assim procedem porque, limitando o estudo da alma e afirmando que o ser humano é composto apenas de um binômio (corpo e espírito), ficarão de pé seus dogmas, que são armas de terror, como o inferno, servindo tal doutrina aos seus interesses subalternos de dominação espiritual e política. Com efeito, o estudo profundo da alma leva à prova da reencarnação, da palingenesia ou das vidas sucessivas, o que seria a derrocada de toda a concepção religiosa católica ou protestante, que se baseia apenas em teorias despidas de cunho científico. Por isto, é proibido o livre exame dos dogmas e a investigação experimental sobre afirmativas religiosas! A mente humana fica adstrita a um círculo fechado e os teólogos ainda declaram que "Fora da Igreja não há salvação". É a escravidão completa das consciências, que faz lembrar o mesmo sentimento dominador e exclusivista dos césares romanos, e jamais a liberdade de Jesus, a que São Paulo se refere com palavras tão significativas: “Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade” (II Cor., 3:17). Vale dizer a contrario sensu que, onde não há liberdade, aí não está o Espírito do Senhor. 

            Mas a verdade é que o apóstolo dos gentios, na Primeira Epístola aos Tessalonicenses, 4: 23, fala em "espírito, e alma e corpo", reconhecendo que o ser humano é composto de três partes e não de duas somente, como as igrejas de Roma, da Inglaterra e dos Estados Unidos hoje em dia proclamam.

            Orígenes, Tertuliano, Santo Hilário, S. Basílio de Cesareia, S. Cirilo de Jerusalém, S. Cirilo de Alexandria, Santo Ambrósio, Metodius, Atanásio, Félix, Fulgêncio,  Arnóbio, Santo Agostinho, etc. "não consideravam o espírito como absolutamente material, admitindo todos eles o ternário humano : espírito (pneuma), uma alma vital com aparência de corpo fluídico (psique) e um corpo físico, carnal (soma)".        

            Remetemos o leitor ao livro supra citado, que se refere às fontes que comprovam tal afirmativa (págs. 76 a 79).

            Mas vale a pena esta pequena transcrição, de fls. 79, daquela excelente obra do Dr. Antônio J. Freire:

            "Ainda no século XVIII, ,no segundo Concílio de Niceia, João de Tessaloníca declara: "Os anjos, os arcanjos e também as almas são, na verdade, espirituais, mas não completamente privados de corpos. São dotados dum corpo tênue, aéreo, ígneo. Nos últimos doze séculos, algumas religiões ocidentais, para fins inconfessáveis, procurando incutir um obscurantismo ardiloso para fundamentar os seus abstrusos dogmas e melhor dominar consciências, a dentro de uma crassa ignorância, renegaram o ternário humano das gloriosas idades primitivas do Cristianismo para se petrificarem num binário insustentável, para assim, mais facilmente, fazer desaparecer o ensino do Cristo sobre o reencarnacionismo ou vidas sucessivas, que daria o golpe de misericórdia sobre o poder espiritual da Igreja, em especial na graça, na predestinação e nas indulgências, pingues fontes de oblatas que tem abarrotado as arcas dos seus cofres."

            A fim de tornarmos bem claro o que seja o perispírito (pedindo perdão àqueles que já conhecem o assunto sobejamente), vamos transcrever ainda um pequeno trecho de "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec, que trata, nas perguntas 93 a 95, do perispírito.

            "P. - O Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tem ou, como pretendem alguns, está sempre envolta numa substância qualquer?

            R. - Envolve-o uma substância, vaporosa para os vossos olhos, mas ainda bastante grosseira para nós; assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira.

            Nota - Envolvendo o gérmen de um fruto, há o perisperma; do mesmo modo, uma substância que, por comparação, se pode chamar perispírito, serve de envoltório ao espírito propriamente dito.

            P. - De onde tira o Espírito seu envoltório semimaterial?

            R. - Do fluido universal de cada globo, razão por que não é idêntico em todos os mundos. Passando de um mundo a outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa.

            P. - Assim, quando os Espíritos que habitam mundos superiores vêm ao nosso meio, tomam um perispírito mais grosseiro?

            R. - É necessário que se revistam da vossa matéria, já o dissemos.

            P. - O invólucro semimaterial do Espírito tem formas determinadas e pode ser perceptível?

            R. - Tem a forma que o Espírito queira.  É assim que este vos aparece algumas vezes, quer em sonho, quer no estado de vigília, e pode tomar forma visível, mesmo palpável."

            Mas o que existe de interessante nessa matéria é que, grandes cientistas, conforme frisam diversas obras espíritas, como "O Problema do Ser, do Destino e da Dor", de Léon Denis, erudito escritor de França, e aquela do notável médico português, servindo-se do hipnotismo ou do magnetismo, já conseguiram exteriorizar o perispírito, o que vem derrubar, fragorosamente, as assertivas das religiões dogmáticas a respeito de tão transcendental assunto. As experiências e os fatos comprovados são autoridades que desmentem quaisquer teorias, por mais ardilosas ou inteligentes que pareçam... Com efeito, a verdade constatada esmaga as concepções em contrário! Contra a "prova provada" não pode haver mais argumento: Só o do sofisma, em sua palidez cadavérica, fácil de ser destruído pela lógica.

            As experiências do Coronel Albert de Rochas d’Aiglun, diretor da Escola Politécnica de Paris, foram as que primeiro enfrentaram o problema. Foi ele o criador do metapsiquismo experimental, que veio revolucionar a Psicologia, "arrancando a alma humana dos domínios obscuros da abstração e da metafísica, fazendo-a entrar no campo da abstração e da análise direta, com a imortal descoberta da exteriorização do duplo, no fim do século passado". Mas os estudos prosseguiram por outros cientistas, por outros investigadores da verdade, como Hector Durville e L. Lefranc, Dr. H. Baraduc e Charles Lancelin, para citarmos apenas alguns dentre os maiores.

            Todavia, o que há de Impressionante nesse profundo estudo é que vieram a ser comprovadas, não as teorias dos padres, mas as esotéricas, teosofistas e rosacrucianas, que afirmavam ser o perispírito composto de sete almas ou de sete envoltórios, que puderam ser separados pelo hipnotismo.

            Todos esses experimentadores conseguiram também obter o fenômeno da regressão da memória, em sensitivos que observaram, os quais, em estado hipnótico, descreveram algumas de suas reencarnações anteriores, citando nomes, vidas e fatos, em certos casos investigados e comprovados, o que faz afastar a possibilidade da fraude ou da simples sugestão.

            Experiências recentes, realizadas por hipnotizadores nos Estados Unidos e na Europa, vieram reiterar a realidade de tais fenômenos, o que importa em afirmarmos que a reencarnação está hoje cientificamente comprovada, sendo bem manifesta a verdade contida no versículo de João, 3:3, onde Jesus já revelara a existência das vidas sucessivas, que os ortodoxos negam, torcendo a clareza meridiana do texto.

            Mas voltando àqueles múltiplos aspectos da alma, também já desdobrados, é oportuno esclarecermos que, consoante comunicação de um Espírito, ao Conde Albert de Rochas: "o perispiríto é constituído por uma série de invólucros, mais ou menos eterizados, de que os habitantes do Mundo astral se vão desfazendo, sucessivamente, à "medida que se elevam na escala da evolução, não sendo embutidos uns sobre os outros como os tubos de um telescópio, mas Interpenetrando-se em todas as suas partes".

            Somente a leitura "Da Alma Humana" poderá convencer-nos das cautelas tomadas pelos cientistas investigadores; de sua paciência beneditina; de seu conhecimento profundo da matéria e de seu domínio das forças ocultas; do esforço continuado e
persistente em prol da verdade; e do êxito que obtiveram para coroar sua boa vontade, cultura e denodo, sendo de destacar-se, sobretudo, Charles Lancelin, que conseguiu, prosseguindo nas experiências de De Rochas e de Hector Durville, através de processos hipnomagnéticos de análise e de síntese, tornar visíveis os sete envoltórios da alma humana e que são: a alma vital, a alma sensível, a alma mental, a alma causal, a alma moral, a alma intuitiva e a alma consciencial. Atrás desta, invisível, eteno, sublime, perfectível e divino, está o espírito, o qual, através das múltiplas reencarnações ou de vidas sucessivas, lutando, sofrendo, falindo, emendando-se ou soerguendo-se, mas evoluindo sempre, marcha com firmeza e com esperança para o foco centrípeto de cuja mente sublime emanou, em sua marcha constante para o Alto, ou seja, para Deus, o Pai Celestial de amor e de misericórdia.

            Ele, que é a suprema bondade, nunca jamais haveria de permitir que um filho seu se perdesse, razão pela qual o dogma do inferno eterno é uma legítima heresia, pois fere a noção da misericórdia divina, erro crasso que devemos repelir com toda a convicção de nosso Espírito, que foi criado para a perfeição, vale dizer, para a felicidade eterna! Só assim poderemos compreender porque Jesus, cujaspalavras jamais passarão, disse em Mateus, 19:17, em Marcos, 10:18 e em Lucas, 18:19, que "não há bom senão um só, que é Deus".

            Ele é bom porque quer que, pelo nosso próprio esforço, pelo nosso próprio mérito, através de vidas sucessivas, sejamos perfeitos algum dia, quando alcançaremos a felicidade eterna, que a todos nós está reservada pelo seu grande, pelo seu admirável, verdadeiro e paternal amor! 


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