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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

X. 'Apreciando a Paulo'



X
‘Apreciando a Paulo’
      comentários em torno
    das Epístolas de S. Paulo
   por Ernani Cabral

Tipografia Kardec - 1958


“A ninguém deveis coisa alguma,
a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros;
porque quem ama os outros, cumpriu a lei.
Com efeito: não adulterarás, não matarás, não furtarás,
não darás falso testemunho, não cobiçarás,
e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume:
amarás o teu próximo como a ti mesmo.
E isto digo conhecendo o tempo que já despertamos do sono;
porque a nossa salvação está agora mais perto de nós
do que quando aceitamos a fé.
A noite é passada e o dia é chegado.
Rejeitemos pois as obras das trevas,
e vistamo-nos das armas da luz.
Andemos honestamente, como de dia, não em glutonarias,
nem em bebedeiras, nem em desonestidades,
nem em dissoluções, nem em contendas e inveja;
Mas revesti-vos do Senhor Jesus-Cristo,
e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências.
(Paulo aos Romanos 13:8 a 14)

            O amor é tudo, alfa e ômega, princípio e fim. Tivemos origem no amor divino e, através do processo evolutivo de nossas diversas existências, é justo procedamos com amor, pois nossa meta é também o amor supremo - Deus!

            E Jesus havia enunciado:

            “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.
            Este é o primeiro e grande mandamento.
            E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
            Destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas.”
            Quem ama os outros cumpriu a lei”, diz o apóstolo. (Mateus, 22:37 a 40.)
           
            Paulo, a este propósito, reconheceu e proclamou: “Com efeito; não adulterarás, não matarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás, e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: amarás o teu próximo como a ti mesmo.””

            Quem ama a Deus, ama o próximo; e quem ama o próximo como a si mesmo, é cristão.

            Assim, o verdadeiro espírita, antes de tudo, é um arrependido e regenerado, não incidindo nos erros do passado, mas procedendo com brandura e humildade, tendo também muito cuidado com “a carne e suas concupiscências”.

            Como poderemos pregar a moral evangélica se ainda nos deixamos arrastar, desonestamente, pelas coisas da matéria? Como poderemos comungar com a espiritualidade superior, sem a “túnica nupcial”, indispensável a esse intercâmbio? “Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca”. (Mateus, 12:34.)

            “Porque por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado”. (Idem, 12:37.)

            Daí a necessidade de termos cuidado com as nossas palestras. A atmosfera de anedotas picantes, de escárnios, de ironia ou de mordacidade, atrai Espíritos inferiores, que de nós se aproximam e, às vezes, nos acompanham, como moscas em torno das chagas.

            As palavras edificantes constroem; mas as conversas e os gestos imorais deprimem e aviltam.

            Assim, o espírita deve pregar sobretudo pelo exemplo de sua conduta, que impressiona bem e dá autoridade moral a quem fala ou escreve, praticando aquilo que diz.

            Sejamos alegres, é verdade; mas portadores de alegria sadia, moralizada, construtiva. A vida é sempre bela e, por isto mesmo, digna de ser vivida em ambiente elevado, nobre, cristão. Portanto, não esqueçamos que a alegria é remédio de Deus, e agrada ao Senhor, como diz o salmista, mas a alegria legítima é aquela que decorre da moralidade ou da manifestação de sentimentos nobres. Assim, por exemplo, há muita superioridade moral em quem, sofrendo, mostra-se resignado e alegre, por compreender que este mundo é de provas e expiações, sendo a dor necessária ao burilamento de nosso espírito, de vez que é processo normal, indispensável à evolução ou à ascese.

            Nada de lamúrias, de queixumes ou de revoltas contra a justiça divina. Deus é bom, como Jesus frisou. Tudo o que padecemos, por mais estranho ou absurdo que pareça, é justo e apropriado à iluminação de nosso espírito.

            Conhecemos grande parcela da verdade, porque somos espíritas-cristãos. Se já estamos mais esclarecidos, nossa responsabilidade também é maior perante a Lei, pois nem ignorância mais poderemos alegar. Logo, como diz Paulo, “a noite é passada e o dia é chegado. Rejeitemos pois as obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz”.

            Alexandre Herculano, através da excelente mediunidade de Fernando de Lacerda, o saudoso confrade lusitano, aconselha com acerto:

            “Quando às vezes, as coisas se afiguram más, constituem um aspecto escuro, que serve para realçar, em breve, a claridade de uma situação melhor. Não desanimar nunca!
            Fugir à luta é cair; e a queda não aproveita a ninguém.
            De que serve blasfemar contra a sorte, desferir queixumes sobre a adversidade, se a sorte se não muda com blasfêmias, nem a adversidade se vence com lástimas?
            A queixa é desafogo dos fracos e dos pusilânimes.
            O forte não se queixa: - cala-se e reage.
            Luta. Vence ou é vencido, mas luta.
            Se vence, não exagera o triunfo; se é vencido, não se entrega a lamentos para exagerar a derrota.
            Na luta, o vencido de hoje é o vencedor de amanhã.
            Compenetra-te desta verdade.
            Não é vencido o que consideram vencido; é o que assim se considera; de modo que o segredo da vitória não é apanágio do que se supõe triunfador: é o do que se não dá por aniquilado.”

            Quantos conselhos sábios os Mensageiros do Senhor nos dão, e quantas maravilhas há nas epístolas de Paulo, por vezes escondidas em seus refolhos, como flores perdidas nas campinas, mas descobertas pelos que buscam o contato com a natureza, ou melhor, com as coisas de Deus. Somente esses perfumes imperecíveis verdadeiramente inebriam, elevam e purificam os corações, sequiosos de luz, de amor e de ascensão para os céus!

            “Andemos honestamente, como de dia, não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções, nem em contendas e inveja”, recomenda o apóstolo dos gentios.

            E Paulo de tudo isso se distanciou, como dos excessos da lei velha, por amor a Jesus, que traçou o legítimo roteiro da salvação. Esta se obtém com lutas, sofrimentos e dificuldades, porque assim é mister, para purificação do espírito.

            Os abusos dos prazeres da mesa e as delícias enganadoras do álcool só servem para a perdição. Pior ainda são outras dissoluções, as concupiscências da carne, as desonestidades, contendas e inveja, que conduzem à desgraça moral, à infelicidade do espírito, às zonas infernais da mente, tornando o homem escravo de suas paixões. Mas Jesus é o médico das almas e somente ele ou seus mensageiros poderão libertar a criatura do jugo do erro ou da subjugação do mal.

            Mas, se somos espíritas, procedamos bem.

            “Se despertamos do sono, a salvação está mais perto de nós.”

             Todavia, o reino de Deus só se conquista com luta, coragem e virtudes. Somos sacerdotes de nós mesmos. A batalha maior é contra nossas próprias imperfeições. Lembremo-nos de que o Pai Celestial vê nossos atos, examina nossos corações, compreende e abençoa nosso esforço em prol da salvação.

            Portanto, acerquemo-nos dos ensinamentos do Divino Mestre, que é “o caminho, a verdade e a vida”. Bebamos da água pura de sua doutrina, ora interpretada em espírito e verdade, porque ela mata toda a sede. Quando tivermos dúvidas, sejamos bons. É       
a bondade o traço característico do cristão. E usemos de bondade também para conosco mesmos, sendo arrependidos, regenerados, e tendo confiança em Deus, que a ninguém desampara!


            E ouçamos a Paulo, um dos apóstolos queridos de Nosso Senhor, “vaso escolhido” de seu amor, o qual, como o Cordeiro Imaculado, deu sua vida pela Humanidade, para ressurgir nos céus, puro e redimido, deixando-nos em suas epístolas o roteiro sublime da salvação.

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