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sábado, 7 de setembro de 2013

O Bom Caminho




O Bom Caminho
Ismael Gomes Braga

            Os adversários do Espiritismo levantam muitas objeções teóricas em nome do Materialismo reinante, procurando demonstrar que todos os fenômenos básicos do Espiritismo são ilusórios: ou são fraude ou podem ser explicados como fatos naturais, puramente materiais, que ocorrem sem a intervenção de Espíritos. A essa corrente de pensamentos negativos se filiam os teólogos católicos, dando apoio incondicional à ciência oficial materialista, sem refletirem que esses fenômenos, assim negados, são básicos igualmente do Catolicismo, e que, se fosse possível destruir o Espiritismo com essas negações, igualmente e ainda mais rápido o Catolicismo ficaria demolido.

            A aparição de Elias e Moisés a Jesus é fenômeno puramente espírita, sessão espírita de materializações. O reaparecimento de Jesus em carne e osso aos discípulos, depois de seu sepultamento, é um caso de materialização fantasmática hoje bem estudado pelo Espiritismo. A aparição de anjos a Zacarias e a Maria, anunciando o nascimento de João e de Jesus, é fato puramente espírita. O aparecimento do anjo a José, em sonho, dando instruções para salvar-se a vida do Menino, é fenômeno espírita muito comum e já classificado como "sonhos premonitórios", em nossa técnica.

            Não há um só fenômeno básico da Doutrina Católica que não seja fato espírita, embora a recíproca não seja exata, porque o Espiritismo estuda ainda outros fenômenos que não entraram na edificação católica; por exemplo, os fatos que demonstram a reencarnação, todos eles negados pela Igreja de Roma.

            A campanha católica contra o Espiritismo ataca, portanto, em cheio a própria Igreja, cujos alicerces ficam negados, e, consequentemente, a sua própria razão de ser; mas a nossa finalidade neste artiguete é um pouco diferente dessa polêmica teórica.

            Em "Reformador" de Julho e Setembro de 1946, páginas 149 e 217, (1) aparecem dois artiguetes nossos, referentes a uma aparição de Allan Kardec, num sonho que tivemos em Junho de 1946, durante o qual o mestre nos mostrava uma folha de papel datilografado, ou uma prova tipográfica, no fim da qual havia uma nota escrita à mão, que ele nos mostrava, apontando-a com o dedo e nos ordenava: "Corrija assim".

            (1) Do Blog: Não dispomos desses exemplares de ‘Reformador’. Se o colega de estudos conseguir, por favor entre em contato conosco.

            No sonho recebemos a folha e respeitosamente prometemos cumprir a ordem, mas ao despertar não tínhamos mais o documento e iniciamos a procura de alguma coisa a corrigir no trabalho que então estávamos executando, que era a tradução para o Esperanto do livro "L'Évangile selon le Spiritisme".

            O sonho era nítido, impressionante; a ordem era imperativa. Confrontamos de novo, frase por frase, a tradução com o texto original francês da terceira edição do livro, e nada encontramos a modificar. Não confiando só em nossos olhos, pedimos a dois amigos cultos, perfeitos conhecedores das duas línguas - francês e Esperanto - para fazerem por nós o cotejo dos textos. Igualmente eles não encontraram coisa importante a corrigir e limitaram-se a fazer burilamentos, aliás muito preciosos para melhorar a nossa tradução.

            Estava tudo certo e, no entanto, tínhamos também certeza de que havia algo de importância a corrigir, porque o sonho não nos saía da memória, como um encargo de consciência: havíamos recebido uma ordem e prometido cumpri-la. 

            Lembrámo-nos então de que um nosso amigo possuía a primeira edição, hoje muito rara, daquele livro monumental do Cristianismo, e passamos a confrontar a terceira edição francesa com a primeira. Foi quando viemos a encontrar duas faltas de texto indispensável em duas mensagens. Na comunicação de Jorge, Espírito Protetor (Paris, 1863), à pág. 271 do original, faltavam duas frases, o que tornava obscuro o texto:

            "Inevitável parece a luta entre os dois e difícil achar-se o segredo de como chegarem a equilíbrio." Veja-se pág. 241 da tradução portuguesa, de 1948, onde está corrigido com nota ao pé da página.

            Na página 297 do original da 3ª edição francesa, a mensagem de Erasto, sobre a "Missão dos espíritas", recebida em 1863, em Paris, estava sem assinatura e faltando toda a parte que damos a-seguir, realmente indispensável para compreensão do ensino. Foi devidamente reajustado o texto português na edição de 1948" págs. 266/7, com nota em pé de página, e, é evidente, no texto em Esperanto, publicado em 1947.

            Eis o texto que faltava na 3ª edição francesa e nas brasileiras até 1948:

            "Ide, pois, e levai a palavra divina: aos grandes que a desprezarão, aos eruditos que exigirão provas, aos pequenos e simples que a aceitarão; porque principalmente entre os mártires do trabalho, desta provação terrena, encontrareis fervor e fé. Ide; estes receberão com hinos de gratidão e louvores a Deus a santa consolação que lhes levareis, e baixarão a fronte, rendendo-Lhe graças pelas aflições que a Terra lhes destina.
            Arme-se a vossa falange de decisão e coragem! Mãos à obra! o arado está pronto; a terra espera; arai! 
            "Ide e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou; mas, atenção! entre os chamados para o Espiritismo muitos se transviaram; reparei, pois, vosso caminho e segui a verdade.
            Pergunta. - Se entre os chamados para o Espiritismo muitos se transviaram quais os sinais pelos quais reconheceremos os que se acham no bom caminho?
            Resposta. - Reconhecê-los-eis pelos princípios da verdadeira caridade que eles ensinarão e praticarão. Reconhecê-lo-eis pelo número de aflitos a que levem consolo; reconhecê-los-eis pelo seu amor ao próximo; pela sua abnegação; pelo seu desinteresse pessoal; reconhecê-los-eis, finalmente, pelo triunfo de seus princípios, porque Deus quer o triunfo de Sua lei; os que seguem sua lei; esses são os escolhidos e Ele lhes dará a vitória; mas Ele destruirá aqueles que falseiam o espírito dessa lei e fazem dela degrau para contentar sua vaidade e sua ambição. – ERASTO, anjo de guarda do médium. (Paris) 1863.”

            Durante oitenta e três anos este longo trecho esteve omitido nas edições de "O Evangelho segundo o Espiritismo", e só nestes 11 anos mais recentes foi reposto no lugar; em português e Esperanto, continuando ainda omitido nas edições em outras línguas. 

            No entanto, quem reflita um pouco sobre estas linhas verá sua atualidade, sua vital importância, quando se realiza literalmente essa predição: os grandes desprezam a mensagem dos Espíritos; os eruditos, emproados em seu orgulho, exigem provas; os pequenos e simples aceitam a Revelação e transformam suas provas em novas esperanças e alegrias vivas.

            O bom caminho fica mostrado pela Lei de amor universal: tudo mais é teoria vaidosa e estéril.

            O verdadeiro espírita, aquele que trilha a boa estrada, aquele que devemos ter na mais elevada consideração e que nos deve merecer respeito e admiração, - está clara e sinteticamente definido nesta mensagem de Erasto, de tal forma que hoje e sempre os poderemos facilmente reconhecer.

            Talvez se pergunte: porque Allan Kardec só em 1946 providenciou a reposição do texto em seu lugar e por um meio tão vago como a mensagem em sonho?

            Não sabemos responder, mas podemos supor que só então se preparava a edição do livro numa língua de alcance mundial, destinada a levar o ensino a todos os povos do Ocidente e do Oriente, e só então pareceu ao mestre necessário repor o ensino em seu lugar. 

            Foi um simples sonho, sim, mas de uma nitidez impressionante, que se tornou dever de consciência e deu meses de trabalho e preocupações até descobrirmos o ponto a completar.

in Reformador’ (FEB) Outubro 1958

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