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domingo, 12 de agosto de 2012

7. 'Amor à Verdade' por Alpheu Gomes




 7
“Amor à Verdade”
por Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927


Ser espírita

            O presente capítulo fala mais diretamente aos que nos dizemos espiritas, como apelo à observância daquelas palavras do Mestre: “Sede perfeitos como vosso Pai é perfeito”.

            Preciso realmente se torna, de quando em quando, um memorandum desses. Porque, segundo é regra, não nos faltam também (somos homens) descuidos que registrar e mesmo fraquezas de algum modo prejudiciais ao franco e inelutável propagar da doutrina. Impossível negá-lo.

            Entretanto, se mais que ninguém temos provas e provas da sobrevivência, a ninguém, está claro, mais imperiosamente corre o dever de se corrigir, retificar inveteradas ideias, disciplinar o pensamento e, sobretudo, combater, a todo pulso, este que sempre foi e é a nossa triste chaga - o orgulho.

            Em geral, pesa-nos dizê-lo, 80 % dos espiritas limitam-se ao fenômeno das comunicações, desaproveitando as suas consequências morais, não buscando conhecer as leis, maravilhosas em sua essência, grandiosas em seu conjunto.

            Quantas vezes conculcados (desprezados) os ensinos de Jesus por confrades que se tornam vingativos, rebeldes à voz do coração, guardando no peito ressentimentos embaraçadores da sua própria evolução!

            Não cessava Jesus, em sua missão, de aconselhar: “Sede humildes”; e a Pedro, sendo por este oportunamente perguntado: “Não deveis perdoar até sete vezes, mas setenta vezes sete vezes”. Ora, nem sempre nas polêmicas, posto sejam de parte a parte invocados os mais belos sentimentos cristãos, nem sempre se extremam os contendores de todo saibo (sabor desagradável) de intolerância, marca irrefutável de sobranceria e de menosprezo ao Mestre.

            É a transgressão, a lamentável transgressão do mandamento máximo: amar ao próximo como a si mesmo.

            Pois bem; deplorando-o deveras, e por isso mesmo que frisa perfeitamente com o assunto, não nos sofre o ânimo guardar avaramente um ditado cuja leitura estamos ainda longe de poder dispensar. Nada obstante algumas referências particulares, parece muito servirá também aos que em lisa fé estudam. Ei-lo:

            “Paz de Maria seja com o meu filho.

            Venho satisfeita animar-te; porque os filhos amados do Pai recebem sempre o salário das suas boas obras.

            Estou satisfeita, porque correspondeste aos meus conselhos, e com esforço e elevação tens-te conduzido.

            Sinto que a tua alma se aproxima do ponto indispensável para que possamos fazer de ti um bom espirita, tão humilde como compreendedor da doutrina.

            Às vezes custa-nos (sem se tornar impossível) realizar na Terra certos desígnios do Pai, por escassearem aí os elementos de que precisamos dispor.

            Os espíritas seriam deles as verdadeiras fontes, se fossem pelo menos esforçados. Quantos grupos ativam trabalhos, promovem obras de caridade, conferências, que pouco diferem das demais, porque não fazem abrolhar o amor assim ao Criador como à criatura.

            Ser espirita é ser cristão: ter no coração toda a fé e na alma os ensinos de Cristo, a fim de que, em suas ações, palavras e gestos, encontrem sempre o mais forte de todos os sentimentos - o amor, a mais elevada de todas as virtudes - a humildade.

            Ser espirita é caminhar todos os dias um bocado, para que sirvam suas pegadas de roteiro a quantos, cegos, não possam por si mesmos caminhar.

            Ser espírita é ser, afinal, humilde como o foi Jesus; tão resignada como pude ser; e tão verdadeiro como é a luz.

            Ah! meu bom e carinhoso amigo, como te desejava assim! como daria metade da minha felicidade para que chegasses a ser um bom espírita!

            As dores que tens sofrido não compensam ainda as que fizeste sofrer. O amor que te esforças por cultivar, não paga ainda o amor que te dei e o que te dá o Guardador celeste.

            O que já subiste, aquém está da metade do que alcançarás em te erguendo verdadeiro espirita.

            As lutas, o trabalho, o amor e, sobretudo, a tábua dos teus deveres, deverão sofrer, de tua parte, um exame continuo, meticuloso e atento: atento como é teu Guia, meticuloso Jesus amado, e continuo o Pensamento eterno. Assim que, nos teus atos, conhecerás teus defeitos; nos teus deveres, compreenderás a minúcia e perfeição das leis, que foram feitas para todos os povos e para qualquer tempo.

            Quando uma alma começa a elevar-se, para que alcance a real felicidade, é preciso não temer nem duvidar.

            O dia de amanhã pertence a Deus, e a ele todos têm que servir - não por obrigação, mas por amor; não pelo temer, senão por obediência e docilidade. Mas não confundir amor essência, amor luz, atração das almas, com sentimentos outros que lhe usurpam o sublime nome.

            Vejo que tens palmilhado longos carreiros juncados de espinhos e vencido óbices para muitos intransponíveis; mas ainda não entestaste com a verdadeira trilha. Para o que, é indispensável unificares inteiramente as tuas virtudes, que, já o sabes, uma vez conquistadas nunca mais se perdem.

            As almas ávidas de saber buscam, em todos os momentos possíveis, nos menores interregnos mesmo de suas provas, matéria para estudo e maneira de se elevarem no concerto universal.

            A alma que recebe certos ensinamentos, nada mais precisa senão meditar, estudar e caminhar.

            Adeus, meu amado filho. Coragem, fé, humildade e amor; com o que vencerás todos os obstáculos na vida.




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