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sábado, 4 de agosto de 2012

'O Pré-determinismo na Evolução Humana'





O Pré–determinismo
na evolução humana


            A natureza humana tem muito de indecifrável. Basta que observemos os homens, que estudemos o caráter de suas múltiplas reações, que perscrutemos, através das palavras que proferem e dos atos que praticam, a gama, dos pensamentos que os animam, para, fazermos uma ideia, ainda que imprecisa, de quão extensa e profunda é a sabedoria das leis divinas. Cada ser humano é uma esfinge que tem de encontrar, um dia, a própria decifração pelo conhecimento de si mesmo. É mais difícil ao homem aclarar os mistérios da sua personalidade moral, do que descobrir erros, defeitos e deficiências na de seus semelhantes. Portanto, a sua maior tarefa tem de ser, e necessariamente o é, a reforma intima, conditio sine qua non de sua evolução.

            A melhoria física do homem efetua-se progressivamente, fato este constatável pelo estudo da ontogenia[1] e da filogenia[2] comparadas. A Natureza, em seus processos de seleção natural, promove o apuramento físico-orgânico do homem, cujo aprimoramento espiritual será, sem dúvida, alcançado mais lentamente. Compreende-se, portanto, que o papel do Espiritismo na reforma moral do homem é importantíssimo. Ela se efetuará em todos os quadrantes da vida terrena, auxiliada, numa certa medida, pelas forças espirituais, Também a Natureza não age cegamente. O seu trabalho é o reflexo, de uma orientação psíquica superior, objetivando a conquista de graus cada vez mais elevados na escala evolutiva do ser humano.

*

            O homem é um ser pré-determinado para o progresso. Dentro desse determinismo bio psíquico, conta com os recursos do livre arbítrio, ao qual está relativamente condicionada a sua marcha para o futuro. À medida que se for conhecendo, mais facilmente irá, compreendendo a razão das coisas, tornando-se mais espiritual, mais tolerante, mais amigo do próximo, menos cego pelo egoísmo, menos transtornado pela vaidade. À evolução do Espírito acompanhará a evolução da matéria, tudo, porém, dentro do relativismo em que se exercem o determinismo e o livre arbítrio, porque, na realidade, somente Deus é absoluto.

            O corpo físico do homem moderno, interna e externamente, é mais delicado do que o do homem dos primevos tempos. Isso é irrefutável prova de que está em ação permanente o processo seletivo da Natureza, processo que abrange todos os setores da vida orgânica e ínorgânica no Cosmos. O fato, aliás, está previsto numa obra mediúnica verdadeiramente magistral, surgida há cerca de oitenta anos. Citemos um trecho, entre muitos, interessantes e instrutivos, que ela encerra: "O homem (referimo-nos aqui à espécie e não ao sexo, pois do contrário designaríamos de preferência a mulher como sendo de uma organização mais adiantada) - o homem, do ponto de vista fisiológico, se irá modificando, a matéria tornando-se mais fraca, o sistema nervoso maiís desenvolvido, a inteligência mais precoce e ultrapassando muitas vezes as forças físicas; o espírito, enfim, irá dominando a matéria e a carne diminuindo à medida que o sistema nervoso se for desenvolvendo e a força vital animal for sendo substituída pela força espírito-nervosa. Tais os indícios que vos prevenirão da mudança que se há, de operar em vós." (1)

                (1) Os Quatro Evangelhos (A Revelação da Revelação) .

            Outro trabalho mediúnico de transcendental importância confirma essa opinião, demonstrando com segurança "as bases psíquicas dos fenômenos biológicos", encarecendo a necessidade de ser introduzido o "fator psíquico" na interpretação de todos esses fenômenos. E assevera: "O futuro vos prepara, através deste aperfeiçoamento evolutivo, que culmina no espírito, a par da progressiva desmaterialização das formas, da preponderância transbordante do psiquismo, um festim energético tirado de um raio de sol e, sem luta nem morticínio, repousareis saciados de eflúvios solares, tomando-os diretamente ao seu dinamismo. Isso se dá em planetas mais evolvidos do que o vosso: dar-se-á, para vós, num porvir ainda distante."(2)

                (2) A Grande Síntese.

            Estas observações vêm a propósito, porquanto, não faz muitas semanas, lemos num jornal o testemunho dum cientista americano a cerca  da modificação por ele notada na estrutura físico-fisiológica de seus compatriotas. Essa alteração, mesmo a somática, passa despercebida aos leigos, mas já a Ciência tem suas atenções despertadas para o fenômeno, que anuncia, por esse meio, estar a Humanidade quase no limiar de novos tempos, dos tempos que a desintegração atômica parece indicar como sendo os primórdios do Terceiro Milênio.

            As guerras, os cataclismos, as grandes calamidades, instrumentos de provação da Humanidade, são sempre seguidos pela miséria e pela fome. Os povos atingidos mais frequentemente por essas provações vão experimentando os primeiros efeitos da ação evolutiva que preparará os homens para o futuro. A Civilização, com os seus hábitos e os seus excessos, também realiza sua tarefa nesse sentido, porque nada do que ocorre no Universo sucede por acaso.

            O progresso material, moral e espiritual do homem é, pois, pré-determinado. A evolução se processa com maior ou menor intensidade de indivíduo para indivíduo. Uns vão mais depressa; outros, mais devagar. Fatores inúmeros, visíveis e invisíveis, influem na marcha ascensional de cada um, porque o livre arbítrio de que dispomos é que situa o nosso progresso em face da evolução cósmica. O determinismo evolutivo se exerce por muitas formas, inclusive pelo sofrimento. As dores do mundo representam a colheita que os Espíritos culpados vão fazendo, a todos os instantes, a fim de cumprirem, graças à oportunidade de redentoras encarnações, as leis a que está subordinada a nossa natureza espiritual, leis que, pelos imperativos da causa e do efeito, fazem que o semeador colha sempre frutos correspondentes às semeaduras efetuadas.

            Tudo tem sua razão de ser. Ninguém sofre por alheias culpas. O Mane, Thecel, Phares, do festim de Baltasar, repete-se em cada momento da vida humana. Tudo está "pesado, contado, dividido", sendo impossível a alguém fugir à lei de causa e de efeito, que é a "pena de talião" de que nos fala o Velho Testamento, hoje compreendida em seu verdadeiro sentido. O que é nosso, ninguém nos tirará, como também não tiraremos nada que pertença a outrem. Para que se cumpra o "olho por olho, dente por dente" das vetustas Escrituras, os Espíritos estão sujeitos às reencarnações, porque não nos cai um só fio de cabelo da cabeça que não seja por vontade do Pai.

            Não se julgue que os desentendimentos humanos, os conflitos internacionais, as controvérsias políticas que incendeiam nações, lançando-as nos horrores e nas confusões fratricidas, sejam exclusivamente consequências de ações contemporâneas. Muitos sofrimentos, muitas provações individuais e coletivas, podem vir de outros tempos, representando o encontro de contas antigas, contraídas em passadas encarnações. Por isto, a lei de causa e de efeito - o "olho por olho, dente por dente", que se interpretava como pretexto para o homem exercer justiça por suas próprias mãos - é, já o dissemos, a lei que todos conhecemos hoje como manifestação legítima da Justiça Divina, traduzida pelas palavras do. Cristo de Deus: "tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o assim também vós a eles; porque esta é a Lei e os Profetas" .

            É evidente, portanto, a necessidade da prática do bem e o abandono definitivo do mal em todas as suas formas, para que possamos apressar a nossa caminhada para a frente e para o alto. Somos, até certo ponto, os arquitetos do nosso futuro moral e espiritual, porque, afirmou o Mestre, "a cada um segundo as suas obras". E Paulo, na Epístola aos Gálatas, deu realce a esse fecundo preceito evangélico, ao deixar aos pósteros esta advertência:

            "- Aquilo que o homem semear, isso também ceifará" .


por    Indalício Mendes
in Reformador (FEB) Setembro 1945



[1] Do Blog: Estudo das origens e desenvolvimento de um organismo.
[2] Do Blog: Estudo das hipóteses de relação evolutiva entre um grupo de organismos.

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