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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

02 / 03 Dom Henrique de Sagres, servo de Deus



02/03 Dom Henrique de Sagres, servo de Deus


por Clóvis Ramos
inReformador”(FEB)   Abril 1981



II – Helil - Emissário de Jesus

            Para se entender a aproximação, cada vez maior, dos espíritas brasileiros e portugueses - num reencontro de corações que comove - o livro de Humberto de Campos, psicografado por Francisco Cândido Xavier, "Brasil, Coração do Mundo, Pátria, do Evangelho", é o roteiro.

            Explicando que o material a empregar-se na abençoada tarefa de espiritualização a que todos somos chamados, sob a inspiração de Ismael, não vem das fontes de produção originariamente terrena e sim do plano invisível, onde se elaboram todos os ascendentes construtores da Pátria do Evangelho, narra o poeta de "Poeira", no capítulo 1, a história de Helil, o sábio judeu enviado em missão a Portugal na figura simpática de D. Henrique de Sagres, para acelerar o advento de uma nova era.

            E permitimo-nos repetir, nestas colunas, o depoimento do escritor maranhense, no seu jeito tão pessoal de dizer, no seu estilo inconfundível. Exprimiu-se, também, como poeta, que o autor do "Memórias", "Os Párias", "Destinos", "À Sombra das Tamareiras", "Lagartas e Libélulas" e tantos outros livros de mérito, principalmente quando escrevia em prosa era um poeta:

            "Anjos e Tronos lhe formavam a corte maravilhosa. Dos céus à Terra, foi colocado outro símbolo da escada infinita de Jacob, formado de flores e de estrelas cariciosas, por onde o Cordeiro de Deus transpôs as imensas distâncias, clarificando os caminhos cheios de treva. Mas, se Jesus vinha do coração luminoso das esferas superiores, trazendo nos olhos misericordiosos a visão dos seus impérios resplandecentes e na alma profunda o ritmo harmonioso dos astros, o planeta terreno lhe apresentava ainda aquelas mesmas veredas escuras, cheias da lama da impenitência e do orgulho das criaturas humanas, e repletas dos espinhos da ingratidão e do egoísmo. Embalde seus olhos compassivos procuraram o ninho doce do seu Evangelho; em vão procurou o Senhor os remanescentes da obra de um de seus últimos enviados à face do orbe terrestre. No coração da Úmbria haviam cessado os cânticos de amor o de fraternidade cristã. De Francisco de Assis só haviam ficado as tradições de carinho e de bondade; os pecados do mundo, como novos lobos de Gúbio, haviam descido outra vez das selvas misteriosas das iniquidades humanas, roubando às criaturas a paz e aniquilando-lhes a vida.

            - "Helil - disse a voz suave e meiga do Mestre a um dos seus mensageiros, encarregado dos problemas sociológicos da Terra - meu coração se enche de profunda amargura, vendo a incompreensão dos homens, no que se refere às lições do meu Evangelho. Por toda parte é a luta fratricida, como polvo de infinitos tentáculos, a destruir todas as esperanças; recomendei-lhes que se amassem como irmãos, e vejo-os em movimentos impetuosos, aniquilando-se uns aos outros como Caims desvairados.

            - "Todavia - replicou o emissário solícito, como se desejasse desfazer a impressão dolorosa e amarga do Mestre - esses movimentos, Senhor, intensificaram as relações dos povos da Terra, aproximando o Oriente e o Ocidente, para aprenderem a lição da solidariedade nesses experiências penosas; novas utilidades da vida foram descobertas; o comércio progrediu além de todas as fronteiras, reunindo as pátrias  do orbe. Sobretudo, devemos considerar que os príncipes cristãos, empreendendo as iniciativas daquela natureza, guardavam a nobre intenção de velar pela paisagem deliciosa dos Lugares Santos.

            "Mas, - retornou tristemente a voz compassiva do Cordeiro - qual o lugar da Terra que não é santo? Em todas as partes do mundo, por mais recônditos que sejam, paira a bênção de Deus, convertida na luz e no pão de todas as criaturas. Era preferível que Saladino guardasse, para sempre, todos os poderes temporais na Palestina, a que caísse um só dos fios de cabelo de  um soldado, numa guerra incompreensível por minha causa, que, em todos, os tempos, deve ser a do amor e da fraternidade universal.      

            "E, como se a sua vista devassasse todos os mistérios do porvir, continuou: " - Infelizmente, não vejo senão o caminho da sofrimento para modificar tão desoladora situação. Aos feudos de agora, seguir-se-ão as coroas poderosas e, depois dessa concentração de autoridade e de poder, serão os embates da ambição e a carnificina da inveja e da felonia, pelo predomínio do mais forte.”

            Cristo viera a este mundo, na Palestina, a ensinar-nos que a glória maior é o amor, e era ele mesmo o Caminho, a  Verdade e a Vida, explicando que o maior entre todos haveria de ser servo de todos, pois ,só pela humildade e pela simplicidade se alcançaria, na Terra, o reino da Luz. Pregou-nos o amai-vos uns aos outros como a lei suprema, e amar a Deus sobre todas as coisas, e amar ao próximo como a si mesmo. Incompreendido, negado, perseguido, se viu martirizado, mas sua doutrina acabou difundida entre todos os povos, embora não de todo entendida, deturpada, geralmente, nos dias sombrios da Idade Média e ainda hoje. 

            Aconteceu que os homens ouviram as pregações de Pedro, o Eremita, e os reis cristãos se armaram para a guerra santa contra os infiéis, numa mortandade estarrecedora, ensanguentando todas as bandeiras do mundo cristão. As Cruzadas, a negação mesma da vida cristã.

            E Humberto de Campos prosseguiu no seu relato maravilhoso, que é como um poema de amor:

            "A amargura divina empolgara toda a formosa assembleia de querubins e arcanjos. Foi quando Helil, para renovar a impressão ambiente, dirigiu-se a Jesus com brandura e humildade:

            - "Senhor, se esses povos infelizes, que procuram na grandeza material uma felicidade impossível, marcham Irremediavelmente para os grandes infortúnios coletivos, visitemos os continentes ignorados, onde espíritos jovens e simples aguardam a semente do uma vida nova. Nessas terras, para além dos grandes oceanos, podereis instalar o pensamento cristão, dentro das doutrinas do amor e da liberdade.

            "E a caravana fulgurante, deixando um rastro de luz na imensidade dos espaços, encaminhou-se ao continente que seria, mais tarde, o mundo americano.

            "O Senhor abençoou aquelas matas virgens e misteriosas. Enquanto as aves lhe homenageavam a inefável presença com seus cantares harmoniosos se inclinavam nas árvores ciclópicas, aromatizando-lhe as eterizadas sendas, O perfume do mar casava-se ao oxigênio agreste da selva bravia, impregnando todos as coisas de um elemento de força desconhecida, No solo, eram os silvícolas, humildes e simples, aguardando uma era nova, com o seu largo potencial de energia e bondade”.

            No mesmo tom de ternura e harmonia, com a revelação que nos felicita:

            "Cheio de esperanças, emociona-se o coração do Mestre, contemplando a beleza do sublimado espetáculo.

            - “Helil – pergunta ele – onde fica, nestas terras novas, o recanto planetário do qual se enxerga, no Infinito, o  símbolo da redenção humana?

             - "Esse lugar de doces encantos, Mestre, de onde se veem, no mundo, as homenagens dos céus aos vossos martírios na Terra, fica mais para o sul.

            "E, quando no seio da paisagem repleta de aromas e de melodias, contemplavam as almas santificadas dos orbes felizes, na presença do Cordeiro, as maravilhas daquela terra nova que seria mais tarde o Brasil, desenhou-se no firmamento, formado de estrelas rutilantes, no jardim das constelações de Deus, o mais imponente de todos os símbolos.

            "Mãos erguidas para o Alto, como se invocasse a bênção de seu Pai para todos os elementos daquele solo extraordinário e opulento, exclama então Jesus:

            - "Para esta terra maravilhosa e bendita será transplantada a árvore do meu Evangelho de piedade e de amor. No seu solo dadivoso e fertilíssimo, todos os povos da Terra aprenderão a lei da fraternidade universal. Sob estes céus serão entoados os hosanas mais ternos à misericórdia do Pai Celestial. Tu, Helil, te corporificarás na Terra, no seio do mais pobre e mais trabalhador do Ocidente; instituirás um roteiro de coragem, para que transpostas as imensidades desses oceanos perigosos e solitários, que separam o velho do novo mundo. Instalaremos aqui uma tenda de a trabalho para a nação mais humilde da Europa, glorificando seus esforços na oficina de Deus. Aproveitaremos o elemento simples de bondade, o coração fraternal dos habitantes destas terras novas, e, mais tarde, ordenarei a reencarnação de muitos Espíritos já purificados no sentimento da humildade e da mansidão, entre as raças oprimidas e sofredoras das regiões africanas, para formarmos o pedestal de solidariedade do povo fraterno que aqui florescerá, no futuro, a fim de exaltar o meu Evangelho, nos séculos gloriosos do porvir. Aqui, Helil, sob a luz misericordiosa das estrelas da cruz, ficará localizado o coração do mundo”.

            Como se sabe, Helil, o mensageiro do Cristo veio ao mundo, e todas as ordens divinas foram cumpridas integralmente, e foi ele, reencarnado, o heroico D. Henrique, o Infante de Sagres, que possibilitou, com seus esforços, a renovação das energias portuguesas, no que culminou com o descobrimento, em 1500, do Brasil.

            Helil, ou Hilel, forma hebraica geralmente usada. Sobre esse grande vulto do Judaísmo, só possuímos, para este artigo, algumas notas que se encontram no livro "Brasil, Mais Além! , de Duilio Lena Bérni, editado pela FEB em 1979, com prefácio de Francisco Thiesen - "Esclarecimentos de Limiar". E ficamos sabendo, graças aos conhecimentos do saudoso Ismael Gomes Braga, que a grafia certa é Hilel e não Helil, mas as trocas de vogais são de todo insignificantes em nomes hebraicos, e que Hilel foi notável pensador contemporâneo e conterrâneo de Jesus-Cristo, e mestre em Israel, que chegou a ser presidente do Sinédrio, desencarnado dez anos depois de Jesus.  Sua doutrina - o Hilelismo - tem pontos de contato com a doutrina do Nazareno.

            Mas houve, duzentos anos antes, outro Hilel, doutor judeu nascido na Babilônia, fundador de uma escola célebre, na seita dos fariseus, nome lembrado por Allan Kardec no seu “O Evangelho segundo o Espiritismo".

            Graças ao prefácio de Francisco Thiesen, sabemos algo daquele Helil, que Humberto de Campos aponta como o encarregado dos problemas sociológicos da Terra ,talvez o mesmo que, séculos antes, já era grande entre os fariseus, Hilel que voltava para reformular o farisaísmo de tão triste memória, ao tempo do Messias, que O perseguiu e matou por não respeitar o dia de sábado.

            Sobre o Hilelismo, veja-se o artigo de lsmael Gomes Braga, publicado no "Reformador", em 1937, nas páginas 532 e 533.  Foi por ocasião da divulgação de um dos capítulos do livro mediúnico de F. C. Xavier.

            A seguir, alguns tópicos da apresentação  de Thiesen ao livro de Duílio ; sobre o Hilenismo, ainda hoje um ensaio do povo judeu, tão bem explicado num livro russo - "Homaranismo" -  surgido em 1906, e traduzido para o vernáculo por Carlos Domingues, autoridade no Esperanto:

            "(...) Apresenta-nos, uma síntese doutrinal do "Homaranismo" (que é o Hilelismo rebatizado), ou seja, as suas “doze regras”: “A Humanidade é uma família. Todos os nossos atos são regidos por este ideal. Não julguemos os homens pela sua raça, mas por suas boas ou más ações.  As nações não pertencem a este ou aquele núcleo humano, mas a todos os seus habitantes. Não procuremos impor aos homens nem a nossa língua nem a nossa crença. O "homem" está antes de tudo e acima de tudo. O patriotismo não deve degenerar em patriotice. A língua não é um fim; só um meio. Com os que desconhecem o nosso idioma usemos uma língua neutra. A religião não deve herdar-se dos pais; deve adotar-se livremente com plena consciência. Sejamos tolerantes e compreensivos para com aqueles que não têm os nossos mesmos ideais. Cultivemos sentimentos fraternais para com os nossos semelhantes."

            Fez-nos ver o autor de "Elos Doutrinários" que, os ensinos de Hilel, demasiado elevados para o seu tempo, ainda o são para os nossos dias.

            Outros informes de Francisco Thiesen, baseados em "A Escolha do Navegador", (“Reformador” nov. de  1957, pág. 263), tão lúcidos:

            "A doutrina de Hilel é uma tentativa - hoje ainda utópica - de universal confraternização humana. Ensina o respeito máximo à verdade e o culto constante do amor entre os homens. Para alcançar essa finalidade, estabelecer-se-iam templos neutros, nos quais todas as formas de culto e adoração seriam igualmente respeitadas, sem sectarismo algum. As falsidades históricas, nacionalistas, racistas, gentílicas, tudo, enfim, que separa os homens, seria pacificamente abolido pelo esclarecimento recíproco, feito com sinceridade, sem embustes nem preconceitos, Abolir-se-iam pela solução mais humanitária todas os problemas sociais, religiosos, de classe," Ainda: "A Regra Áurea, que aparece em Mateus (7:12) e Lucas (6:31), foi sancionada por Jesus e vastamente divulgada com o Cristianismo, mas, segundo os judeus, ela era ensinada por Hilel, contemporâneo do Messias, e até hoje aceita doutrinariamente pelos israelitas. Segundo outras opiniões, a Regra Áurea é muito mais antiga.

            Diante de tudo o que foi exposto, outras não poderiam ser as deduções de Duílio Lena Bérni, em “Brasil, Mais Além!, que estão no capítulo 4  do seu livro, na parte que trata de “O Coração do Mundo”:

            “1º) Os planejamentos da Comunidade de Espíritos Puros, que está na direção de todos os fenômenos do nosso sistema, são feitos com absoluta segurança, com grande antecedência, para execução no curso de séculos e de milênios, objetivando sempre o bem-estar das criaturas.  

            2º) O Infante Dom Henrique, encarnação do espírito Helil, que era o encarregado dos problemas sociológicos da Terra, foi um emissário ele Jesus.

            3º)  Como Espírito de elevada hierarquia, permaneceu adstrito ao cumprimento da tarefa que lhe fora atribuída, infenso aos ouropéis das efêmeras gloríolas terrenas.

            4º) Fica, desse modo, esclarecido o porquê de sua obstinação, a despeito de todos e de todos, inclusive da régia vontade paterna, em não afastar-se, a não ser acidentalmente, de seu posto de observação e trabalho, da Escola Náutica de Sagres.

            5º) Dom Henrique instituiu, indubitavelmente, um roteiro de coragem, elemento basilar para que, ao longo do tempo, fossem transpostas as imensidades desses oceanos perigosos e solitários, que separam o velho do novo mundo.

            6º) Por predestinação de Jesus, nosso Brasil é o Coração do Mundo e a Pátria do Evangelho, com o árduo mas nobilitante encargo de difundir, no tempo e no espaço planetário, pela pregação e, sobretudo, pelo exemp!o, a Mensagem do Cristo, consubstanciada em seu Evangelho de amor e redenção."

            Às deduções desse ilustre militar e advogado, estudioso do Espiritismo, que presidiu Federação Espírita do Rio Grande do Sul a, antes, foi elemento de prol da Federação Espírita Brasileira, no seu Conselho Federativo Nacional, às seis conclusões que nos ofereceu pode ser acrescentado mais uma, com relação aos nossos irmãos portugueses.

            7º) Portugal não podia ficar ‘de fora’ do plano divino de recristianização do mundo, eis que dos seus portos partiram as caravelas de D. Henrique, para encontrarem novas terras e novos mares, no que resultou descobrirem a ilha de Vera Cruz, terra de Santa Cruz, hoje Brasil. Portugal e Brasil, desde então, solidários na tarefa grandiosa que não deve ser executada ,  isoladamente, sem o apoio e a carinho um do outro.

            Hilel, discípulo eterno do Cristo , ou Henrique o que sonhou com um reino cristão paro aliado de Portugal. 

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