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quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Reeducação evangélica

 

Reeducação Evangélica

A Redação

Reformador (FEB) Abril 1940

             “É mister reeducar religiosa e espiritualmente a humanidade, segundo os ensinamentos do Evangelho, com o coração voltado para o reino de Deus.”

            Lendo este trecho, talvez se surpreenda ou espante o leitor, ao saber que com ele deparamos na mesma encíclica papal de onde extraímos o que comentamos pelo Reformador de março último, a encíclica “Summi Pontificatus”. Também nós nos surpreendemos, porque logo nos acudiu à mente que, se a humanidade se ressente da falta de educação evangélica, como realmente acontece, a culpa de semelhante falta cabe a quem monopolizou a ministração dos ensinos do Evangelho, subtraindo-os ao conhecimento direto dos homens, para que estes os recebessem exclusivamente sob certos prismas muito especiais e particularistas.

            Mas, dado este fato, que desafia toda e qualquer contestação, e não podendo supor, pelos mesmos motivos que aduzimos em nosso precedente artigo, que estas palavras do atual pontífice queiram traduzir propósitos de salutar mudança de orientação ou de diretriz, por parte da Igreja romana, no desempenho da tarefa em que ela própria se investiu, constituindo-se herdeira única da missão dos apóstolos, outra razão e outro significado tivemos que buscar para o tópico que serve de objeto a estes ligeiros comentários.

            Encontramo-los, considerando aquelas palavras como um dos mais expressivos sinais dos tempos cuja vinda o próprio Evangelho anuncia há perto de 2000 anos, como sendo os do advento do Consolador, para a transformação do mundo, mediante a restauração dos veros ensinos do Novo Testamento e a completação deles por meio de novas revelações, para reconstituição das bases sobre que se erguerá definitivamente a legítima Igreja Cristã, a Igreja Universal do Cristo de Deus.

            É de tal magnitude esse acontecimento, de tão prodigioso alcance e exprime de tal modo o cumprimento inelutável dos sábios e providenciais desígnios do Senhor, que até mesmo pelo órgão dos que mais fortemente se insurgem contra a obra do Consolador e a combatem de todas as maneiras, a imprescinbilidade da sua execução imediata é proclamada. Tão sábio e misercordioso é Deus, que faz proclamem a verdade que corresponda, no momento, ao que se acha prescrito nas suas leis, mesmo os que mais a aborreçam e hostilizem.

            Sim, a verdade, a grande verdade da hora atual. Verdade que nenhuma força humana ou extra humana logrará impedir prevaleça é a de que somente pela cristianização das almas poderá a mísera humanidade transviada salvar-se do funesnto embrutescimento espiritual a que a levaram as miserandas paixões que a dominam.

            Ora, essa cristianização das almas somente poderá operar-se por meio do afeiçoamento delas aos ensinamentos evangélicos, para a formação do sentimento cristão, sem o qual não haverá fraternidade nos corações e não haverá paz no seio da coletividade humana, pois que a fraternidade é o único alicerce capaz de suportar o edifício da verdadeira paz, da paz indesctrutível, da paz universal.

            E outra não é a missão do Consolador, concretizado na Doutrina Espírita e na palavra dos Espíritos de luz e de misericórdia que incessantemente falam aos homens, desde que essa doutrina se constituiu, e que acaba de falar-lhe de maneira vibrante e com profunda sabedoria na Grande Síntese.

            Entretanto, ao mesmo tempo que encarece a necessidade do cumprimento dessa missão grandiosa, que, afinal, outra não é senão a da reeducação da humanidade segundo os ensinamentos do Evangelho, a Igreja se esforça por lhe criar toda sorte de embaraços, por impedi-la em absoluto, colocando-se assim em flagrante contradição consigo mesm, evidenciando a pasmosa incoerência da sua atitude com as palavras do seu chefe supremo.

            Semelhante incoerência, todavia, não existe para ela, bem o sabemos, porque, ao ver de uma e outro, a reeducação evangélica que o último preconiza é segundo o Evangelho sotoposto (substituído) a seus dogmas intencionalmente abstrusos, o Evangelho interpretado à sua maneira, acordemente com a sua teologia e com os volumes, ricos de teorias tão engenhosas e eruditas quão vazias de sentido cristão, escritos pelos seus geniais doutores.

            Dar-se-á porém, que o Evangelho, para ser assimilado e praticado, necessite de interpretações difíceis, só ao alcance de inteligências agudíssimas, de espíritos de excepcional penetração, capazes de escrever volumosos tratados sobre cada um de seus pontos? Se assim fora o divino Mestre não houvera escolhido ignorantes e incultos pescadores para disseminá-lo pelas nações do globo e não houver rendido graças ao Pai, por ter dado a conhecer aos pequeninos e humildes aquelas coisas que Ele ensinava e por ter ocultado aos doutos e poderosos.

            É que o Evangelho, o Evangelho de Jesus, não é obra para ser entendida e assimilada pela inteligência, mas pelo coração, pois que é obra toda de sentimento, para ser sentid, que não apenas compreendida. Efetivamente, depois dos apóstolos, só foram até agora verdadeiros cristãos os que o sentiram, porque só esses o praticaram; só o foram os que hão tido para entende-lo o dom precioso e ainda raro da humildade, que gera a lídima sabedoria.

            Aliás, que é em síntese e substãncia o Evangelho? Ele, em verdade, se resume num único mandamento, conforme o declarou o próprio Jesus, naquele que reza: amar a Deus acima de todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo, mandamento para cuja observância nada mais é necessário do que “não fazer ninguém ao próximo o que não queira que lhe façam e fazer-lhe tudo quano desejaria que lhe fosse feito”. Somente aquele que assim procede é humildemente cristão ou cristãmente humilde, é cristão verdadeiro.

            Fora, pois, da exemplificação desse mandamento, que é o eixo principal do Espiritismo, pela  razão mesma de ser ele o próprio Cristianismo redivivo, não haverá nenhuma reeducação evangélica do homem, que, então, continuará a afastar-se do reino de Deus, com o praticar às avessas o aludido mandamento, sob o influxo do egoísmo e do orgulho que lhe devastam a alma, isto é, fazendo cada um aos outros o que não admite que estes lhe façam e não lhes fazendo nada do que exige lhe seja feito.

            Sem, portanto, se despojar das suas grandezas, do seu fausto, das suntuosidades e riquezas com que se ostenta perante o mundo, sem se desfazer da sua ambição de poderio material e de predomínio sobre as consciências, sem se desprender dos interesses que lhe não consentem perceber onde está ou onde pode encontrar o reino de Deus, baldado verá a Igreja todo o esforço que envide por atender à necessidade, que o seu pontífice proclama, de ser a humanidade, religiosa e espiritualmente, reeducada segundo os ensinamentos do Evangelho. Este permanecerá letra morta, como há sido até agora em suas mãos.

            Ninguém pode dar o que não tem. Espiritualize-se a Igreja, para fazer-se verdadeiramente religiosa e poder espiritualizar as crenças dos seus fiéis. Faça-o e, penetrada então do Espírito do Cristo, fácil se lhe tornará a tarefa reeducativa e tanto mais fácil quanto já encontrará o caminho grandemente desbravado pelo Consolador prometido, o Espiritismo, onde tudo é luz e sabedoria, porque tudo é humildade, caridade e amor, sentimentos e virtudes sem os quais nenhum coração se achará efetivamente voltado para o reino de Deus, visto que nenhum o encontrará, sem que o haja realizado em si mesmo.

            O reino de Deus não está aqui, ou ali, porquanto o reino de Deus está dentro de vós”, disse-o Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme se lê no Evangelho de Mateus (cap. 17, v.21).


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