Pesquisar este blog

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

O Protestantismo e o Espiritismo

 

O Protestantismo e o Espiritismo

 por Romeu do Amaral Camargo

1928 - Estabelecimento Gráphico Irmãos Ferraz – SP

                                               Páginas 95/96/97 - trecho atribuído a Charles Reynolds Brown.

             A Bíblia, ainda que não tecnicamente infalível, é sem contestação o Livro dos livros e é visando os interesses da fé e a maior influência deste livro no seu poder sobre o coração humano que os sábios reverentes estão procurando uma base firme para nossa confiança. Tem aumentado incalculavelmente o interesse humano pelo livro, salientando o fato que a Bíblia não caiu do céu como herança sem preço para toda a raça, mas que, com paciência infinita, foi entrelaçada na vida e na experiência de homens de carne e osso, que encarnavam o dever, que lutaram contra as tentações, que conheceram o mal e que, pelo auxílio divino, alcançaram o gozo da liberdade espiritual. “Não é difícil destruir a crença na absoluta e igual inspiração de todas as partes da Bíblia”. “Tem-se pregado que a Bíblia é em todas as partes a infalível palavra de Deus; que estas palavras são tão verdadeiramente suas, como se Ele as tivesse proferido com sua própria boca, ou como se as tivesse escrito com sua própria mão, e que o fato de tê-las ditado a homens inspirados é o que lhe dá autoridade. Esta posição é insustentável, como verificará qualquer leitor da Bíblia que não fuja dos fatos. É uma teoria que vem de fora. Não é tirada do que a Bíblia diz de si.

            A passagem muitas vezes citada para defender esta ideia (II Timóteo, 3:16) segundo a melhor tradução, quer simplesmente dizer: “Toda a Escritura divinamente inspirada é também útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para instruir na justiça a fim de que o homem de Deus seja perfeito, plenamente preparado para toda a boa obra.” O escritor não está emitindo opinião sobre a infalível inspiração de todos os livros da Bíblia, e de todas as partes de cada um destes – não podia fazer isso porque alguns nem existiam naquele tempo. Nem está declarando a inspiração do Novo Testamento, pois estes escritos ainda não estavam colecionados nem aprovados. Ele está simplesmente dizendo que todos os escritos dados por Deus são úteis. Está indicando que a edificação espiritual que se pode tirar de qualquer escrito “inspirado por Deus”.

            “Às vezes, querem provar a infalibilidade pelos últimos versos do Apocalipse: “Se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus lhe acrescentará as pragas escritas neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus lhe tirará a sua parte da árvore da vida e da cidade santa, que estão escritas neste livro.”

            “Mas, visto que algumas partes do Novo Testamento foram compostas depois de escritas estas palavras, e como não houve durante a vida do autor nenhuma coleção autorizada dos livros do Novo Testamento, o certo é que não estava defendendo a inspiração deste. Claramente só tratava de proteger da multidão e dos acréscimos o Apocalipse, que acabara de escrever.

            Se estudarmos os fatos, veremos quanto é impossível sustentar a velha ideia da inspiração. Mateus, no capítulo 27, cita um versículo do Velho Testamento e diz que é de “Jeremias, o profeta”. “Mas, o dito versículo não se encontra nos escritos de Jeremias, mas está no capítulo II de Zacarias. Mateus, citando de memória, sem o manuscrito do Velho Testamento perante os olhos, enganou-se. Marcos, no cap. 2, faz referência a alguma coisa que Davi fez quando Abiatar era sumo sacerdote. Procurando a história em I Samuel, descobrimos que Abimeleck era o sumo sacerdote. Paulo, no capítulo 10 de I Coríntios, faz referência a uma certa matança de israelitas e diz que caíram naquele dia “vinte e três mil”. Voltando ao cap. 28 de Números, onde o fato está registrado, verificamos que o número dado é de “vinte e quatro mil”. “A inscrição colocada na cruz de Cristo é de muita importância. Bem poderíamos supor que a importância sagrada da ocasião, o número limitado das palavras, a tríplice repetição em Hebraico, Grego e Latim, seriam suficientes para fixa-las na mente daqueles que as viram. Entretanto, Marcos diz que a inscrição era: “O Rei dos Judeus”. Lucas diz que era: “Este é o Rei dos Judeus.” João diz que era: “Jesus, o Nazareno, Rei dos Judeus.” E Mateus diz que era; “Este é Jesus, o Rei dos Judeus.” A ideia geral em todos é a mesma, mas as palavras diferentes em tudo. Ora, na realidade, a inscrição continha certas e determinadas palavras e mais nenhuma. Três dessas inscrições, portanto, não são exatas.” “A infalibilidade exige a ausência de todo erro e contradição e não simplesmente um alto grau de exatidão que se aproxime da perfeição.” “Há frequentes divergências nas narrações paralelas, em Reis, Crônicas e nos quatro Evangelhos. A pretensão de que os homens inspirados chegaram a tal ponto que cada palavra que pronunciaram era escolhida pelo Espírito Santo, está refutada por estas divergências que teriam sido impossíveis se as palavras da mesma fossem divinamente ditadas.” “A resposta tantas vezes ouvida, que temos de aceitar tudo ou de rejeitar tudo, é tola e, além de tola, perversa. “A inspiração resulta da operação do Espírito de Deus, e esta varia segundo a receptividade do homem. Os apóstolos foram homens inspirados, sem dúvida alguma, mas é certo que a sua inspiração não os tornou infalíveis na instrução e administração da Igreja. Eles cometeram erros graves.”








Nenhum comentário:

Postar um comentário