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segunda-feira, 29 de novembro de 2021

A razoura da fé


 A razoura (*) da fé

A Redação

Reformador (FEB) 16 de Fevereiro de 1937

 (*) Razoura: Por metonímia: medida de madeira para cereais e legumes.

Metonínia: figura de retórica que consiste no uso de uma palavra fora do seu contexto semântico normal.

 

            Não pode o crente espírita, por servir à causa da humanidade, que é de Jesus, eximir-se a contingências de tempo e meio, jamais adequadas ao seu testemunho.

            Dessarte, por mais ásperas que se antolhem as provas, individuais ou coletivas, não haverá como iludi-las para conceitua-las oriundas de um cego arbítrio humano.

            Os males que afligem a alma contemporânea, negrejando-lhe todas as clareiras de esperança, representam simplemente o patrimônio de erros acumilados por sucessiva gerações e que precisam, podem e devem ser retificados e resgatados.

            E para que o sejam, de direito e de fato, não valem idealismos de pura ficção, incapazes de abranger a vida no sentido de uma realidade imanente, por elevar o homem acima do mundo e de si mesmo.

            Porque, prefixar valores de harmonia e felicidade temporais, na só concepção mecânica-biológica da criatura racional, é desconhecer-lhe a natureza íntima e negar a própria história de su evolução planetária.

            De parte o ascendente de uma origem extra-terrena, que nos não propomos aqui alegar em abono de tese, mesmo considerando instrumento automático de forças cegas e fatalistas, ainda assim, não pode relegar-se o ser pensante à condição de elemento plástico, suscetível de padronizações sistemadas.

            Ainda que conceituada a alma epifenômeno (produto acidental, acessório, de um processo, de um fenômeno essencial, sobre o qual não tem efeitos próprios) de funções orgânicas, tão rica, fecunda e multifária (que se diz ou se exprime de muitos modos) se nos apresenta ela em seu complexo de atividades e imperativos morais, que impossível, senão intulto, fora o pretender imprimir-lhe rumos lineares definitivos e definidos.

            A história da humanidade em flutuação permanente de idéias e conquistas, a repelir hoje o que afagou ontem, para desprezar amanhã o que hoje consagra por melhor, é de modo a convencer os ideólogos e teóricos de uma sociologia premonitória que a criatura de Deus não é pão de fornada por dosar-se, conformar-se e cozer-se por termometrias (ciência e tecnologia da medição de temperaturas e do estabelecimento de padrões para essa medição) mais ou menos abstrusas e fantasistas.

            Vem daí, em grande parte, o maior mal que nos assoberba, partindo não tanto de materialistas agnósticos (ateus), quanto de espiritualistas gnósticos (teístas), que, estimando na criatura humana um princípio abmaterial, lhe negam, contudo, todo um patrimônio psíquico de preformação orgânica, ou seja anterior e transcendente ao corpo.

            Segundo a doutrina da Igeja, a alma é criada com o corpo, destinados uma e outro a uma existência única, quanto efêmera e decisiva, na Terra.

            Lógico, então, se lhes figura facetar almas a seu nuto (consentimento), porque em todas estima um cabedal primário original e substamncialmente idêntico, tal como veem os mecanicistas fatlists, para os quais o cosmos não passa de grande usina de energias cegas, despercebidos, todos, de que não concorrem na natureza dois seres específica e absolutamente iguais, na essência como na forma.

            Uma diferença, contudo, é de justiça assinalar a prol dos fatalistas, qual a de pretenderem violentr a consciência alheia, reconhecendo-lhe prerrogtivas de liberdade natural.

            O grande caso, porém, é que uns e outros não se forram de ilusionismo, supondo-se agentes quando, na verdade, não passam de pacientes, incapazes de abranger as consequências, não diremos remotas, mas até imediatas de seus planos e convenções.

            Admitamos, também nós, o fator educativo, a infância mesológica (mesologia - estudo das relações entre os seres e o meio ou ambiente.), tudo enfim que possa contribuir para dignificar a espéie e felicitar a existência material; mas, tenhamos em vista e de perto que os meios não podem, jamais, superar os finsde ordem divina, providenciais.  

            A felicidade humana não é progrm de um escola, de uma seita, para ser fixado e resolvido em uma nem em dez gerações. Essa felicidade, fruto da evolução do Espírito, antes que se possa definir-se em graus coletivos, tem que ser individual e parcial ou relativamente realizada, pois ninguém concebe uma sociedade sã, composta de indivíduos doentes.

            Orientar, esclarecer, sintonizar as criaturas de Deus em função de seus destinos é dever que incumbe, não apenas aos genitores e pedagogos, mas a todo homem de ação e consciência, no sentido de que o mundo é uma escola ativa e permanente, na qual todos vivemos e morremos aprendendo, não para morrer, mas para viver eternamente.

            Cada época acarreta os seus fatores seriais e providenciais.

            Compreender a sua época, pismatizar esses fatores contando com o só arbítrio humano, é o que nos parece estultícia (estupidez) só justificável pela imprecisa noção de nossos destinos.

            Abstrair (não levar em conta) esse objetivo congenial (conforme o gênio, a natureza, a essência da) da vida é iludir o conceito de felicidade humana, que se não prende à conquista de efêmeros tesouros, de instintivos e precários, quão frequentes regalos, tão certo é que presto degeneram se suicidam as civilizações mais refinadas.

            Outra não é a milenar lição da História.

            Hoje, entretanto, novas clareiras se rasgam à marcha dos povos, à proporçãao que se generaliza um novo sentido de vida eterna, consciente, solidária e responsável.

            A Providência divina já nãp é uma simples expressão anfigurista (desordenada) ao serviço de doutrinas mais ou menos metafísicas e oportunistas, de vez que se impõe como fato palpável e tangível, inconteste, nas mínimas como nas máximas soluções e diretivas mundanas.

            Dir-se-ia que a razoura da fé vai nivelando as consciências. O Cristo de Deus reivindica o sei cetro, e não há escolas filosóficas, nem parlamentos, nem ágoras, nem exércitos que possam abalar as vozes do Além, modificando de uma linha, para retardar de um minuto, o rítmo dos seus desígnios.

            Deixemos, pois, aos cegos a presunção de senhorear o mundo, e não queiramos revidar no tumulto das paixões que se entrechocam, nelas intermitindo-nos quando, em boa espécie, só podemos considerá-las aquele levedo que fermenta toda a massa.

            Aos mortos é que importa o cuidado de enterrar seus mortos.

            Nosso combate, nossa atitude, nosso papel à face do mundo em derrocada só pode ser reparador e construtivo.

            Tem de circunscrever-se e aferir-se na lei do amor, única força ativa no plano das realidades eternas.

            Haverá quem nos julgue anódina e até ridícula a nossa tática...

            Mas, que nos importa o juízo apaixonado do mundo em convulsões, quando temos por nós a voz da consciência, a voz dos nossos Guias e o juízo de Deus?


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