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terça-feira, 2 de novembro de 2021

A luta gloriosa

 

A luta Gloriosa

Tasso Porciúncula (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Novembro 1964

             Estudar a Doutrina Espírita não é dedicar-se à sua leitura com o mesmo estado de ânimo com que se lê um jornal ou uma revista mundana. Estudar é reter na memória o que se lê, é identificar-se de tal forma com o objeto do estudo, que se decida respeitar através da exemplificação os ensinamentos ali colhidos.

            É muito fácil dizer-se: “Tenho lido muita coisa sobre o Espiritismo, conheço as obras de Fulano e Sicrano. São maravilhosas, lindas e edificantes.” Na realidade, as obras espíritas são assim, mas de nada adiantarão se não forem assimiladas as suas lições, se os seus ensinamentos não se converterem para todos nós em norma de conduta, em roteiro para a nossa vida cotidiana.

            Ninguém melhor do que nós sabe quanto isso é difícil, porque temos ainda a alma sobrecarregada de compromissos cármicos. Mas as dificuldades podem ser atacadas com persistência. Temos de insistir, dia a dia, na prática da Doutrina. Se não pudermos fazer tanto quanto precisamos, que façamos o que pudermos. O essencial é fazer alguma coisa, é não desanimar, não recuar. Para vinte desvios, trinta tentativas de reabilitação; para vinte quedas, outras tantas lutas pelo reerguimento.

            O fato de reconhecermos a nossa incapacidade para avançar depressa não quer dizer que fiquemos parados. Façamos alguma coisa. Se não nos é possível andar um metro, procuremos avançar um centímetro. Iremos mais devagar, mas iremos. O essencial é não parar, ainda que reconheçamos a nossa fraqueza, a nossa falta de disposição para reagir contra os males que nos assaltam, ainda que não tenhamos energia para exemplificar sempre. Tanto seremos beneficiados pelo progresso que alcançarmos, como responsabilizados pelos erros que praticarmos.

            De nós, exclusivamente, depende vencer ou ser derrotados. Poderemos ir vencendo aos poucos, mas também, se formos invigilantes e fracos, não evitaremos a destruição do resto de ânimo que tivermos para reagir. Por isso, não abandonemos nunca a Doutrina, que será um apoio para nós, um estímulo, um encorajamento, se nos resolvermos a fazer sempre algo para melhorar.

            Entretanto, se nenhuma resistência realmente séria e tenaz opusermos a tudo quanto contribua para o nosso enfraquecimento moral, então nada adiantará nossa aparente determinação.

            Na Epístola aos Filipenses, disse Paulo, ao salientar a necessidade “de algum modo atingir à ressureição dentre os mortos”, pois que “mortos” somos todos quantos continuamos a viver sem a iluminação espiritual, somente possível com o progresso moral. “Não digo que eu já o tenha obtido, ou que seja já perfeito, mas vou prosseguindo para ver se também poderei alcançar aquilo para o que igualmente fui toma por Cristo Jesus. Irmãos, eu não julgo ter ainda alcançado; mas alguma coisa faço, esquecendo-me das coisas que ficam para trás, e, avançando para as que estão adiante, prossigo em direção ao alvo, para obter o prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus.”

            O Carma, que exprime fielmente a Lei de Causa e Efeito, porque é ela mesma, é a cruz que todos carregamos no dia a dia da vida terrena e espiritual. Irá ficando mais leve à medida que formos reduzindo a parte negativa da nossa personalidade moral e aumentando a parte positiva que nos levará à redenção. Irá ficando mais pesada, entretanto, à proporção que a nossa imprevidência, preguiça, displicência ou invigilância se for multiplicando sem que nos apercebamos do mal que a nós mesmos fazemos.

            Persistamos todos na linha reta e íngreme, mais doce de seguir que os caminhos planos, mais tortuosos de molde a podermos alcançar a porta estreita, pela qual muitos pretendem entrar, mas poucos o conseguem, porque a única condição para transpô-la está na exemplificação do bem, na recusa do mal, na construção do “homem novo” que representará a ressureição do nosso espírito e a morte definitiva do “homem velho”.

            A mais gloriosa luta é a que sustentamos contra nós mesmos. A mais gloriosa e a mais difícil de vencer.


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