Pesquisar este blog

quinta-feira, 16 de abril de 2020

O reino de Deus


O reino de Deus
A Redação 
Reformador (FEB) 16 de Dezembro de 1929

            E dizendo: o tempo é cumprido e o reino de Deus está perto; arrependei-vos e crede no Evangelho.
                                                       Marcos C-IV 15.

            Cumprido, agora, é o tempo para todos quantos, trabalhados pelas reencarnações sucessivas, despertaram dentro de si mesmos para o arrependimento definitivo, o arrependimento propiciatório da salvação pelas obras.

            A graça, no sentido teológico não corresponde a privilégios e favores graciosos, ao demais infirmativos da perfeita sabedoria divina; a graça está no cumprimento da lei, a integrar-se incoercível e uniformemente em todas as consciências, as quais se não pudera exigir mais do que o correspondente ao seu grau de evolução.

            De barato damos, pois, que as fórmulas religiosas, por absurdas e incôngruas que se nos prefigurem, não constituem, essencialmente, o grande mal contemporâneo da humanidade. O mal está, evidentemente, no artifício, na hipocrisia com que operam os detentores e sustentadores dessas fórmulas em detrimento da lei natural, marchando de
encontro, antes que ao encontro da consciência coletiva do seu tempo, desprezando o "sinal dos tempos”. O mal está nesses imperativos de canonicidade absoluta e temporal que extremam paixões e geram dúvidas, quando não geram - o que é pior – ódios e revoltas. Os espíritas evangélicos, a buscarmos agora nos ensinamentos do Divino Mestre, não a letra que mata mas aquele espírito que vivifica, já devêramos ter compreendido que o reino de Deus está sempre perto de nós, mas, que o precisamos ter antes dentro de nós, realizando-o por obras, que não são, precisamente, as de palavras e argumentos conducentes àquela mesma desoladora finalidade negativa e ilustrativa de todos os credos religiosos. Não são, tão pouco, as empreitadas de cara caráter coletivo e beneficente, desde que não sobreponham a tais desígnios, indubitavelmente nobres e, como tais louváveis, o desígnio maior do aprimoramento das almas para as grandes realizações da Fé, da Esperança e da Caridade, independente de todos os cânones e convenções catalogados.

            Esse arrependimento prescrito com a aproximação do reino, deve ser para cada um de nós, a abjuração definitiva e definida daquela maldade toda que a experiência do passado e a noção do presente nos vão a cada passo revelando; ele não se traduz na grita tumultuária das nossas convicções, nem se pode limitar a preceito de atitudes estudadas e preconcebidas, condicional e oportunista, a resvalar sutil, insensivelmente, para um egotismo disfarçado. Ele tem de ser simples, naturalmente vivido, a repercutir como exemplo, pois só assim se nos antolha reparador e salvador.

            Amiúde dizemos, porque sabemos, que a nossa doutrina é aquele Consolador prometido que viria a seu tempo para explicar todas as coisas e ficar eternamente conosco.
Ora, se as que baixam em nome d'O Cristo- e ele também disse que muitos viriam em seu nome, mas, que nem todos poderiam falar em seu nome - não nos consolam, de fato, porque se contradizem e por contradizerem-se nos dividem, a ilação é que havendo-o, porventura, mais perto de nós, ainda não assimilamos nem realizamos, dentro de nós - o reino de Deus.

            A esse reino de paz, de luz, de bem aventurança que se traduzem por serenidade de ânimo, por simplicidade de costumes, por benignidade de gestos e atitudes, por integridade moral, em suma, opondo, como opomos a intransigência das ideias pessoais, das atitudes inflexíveis, das tarefas condicionais e condicionadas aos nossos gostos e interesses, estamos dando prova mais cabal e mais contristadora de que não só nos não arrependemos no sentido em que preceituava O Cristo, como também de que não cremos no seu Evangelho.

            Mas, porque não dize-lo aqui, com toda a franqueza e hombridade, que o tempo para nós é cumprido, na acepção de não nos ser mais possível iludir o mundo, como porventura temos feito de pristinos evos (desde tempos passados)? Por que não dizer e redizer que todos os males desta impenitência assinalada a dentro das nossas fileiras, está na falta de estudo e compreensão desse mesmo Evangelho? Certo, não nos decorre aqui autoridade para pontificar, mas dever de aconselhar, e quando o fazemos, não nos amparamos em nós, porém naqueles que de mais alto nos corrigem a inópia (miséria) e suprem as deficiências, tal como fizeram aos que aqui nos precederam cheios de boa fé e portadores de maiores merecimentos.

            É' em nome de uns e de outros, pois, que nos julgamos autorizados a deplorar essa displicência com que se vão trocando as disciplinas morais do Evangelho, o culto espiritual das virtudes cristãs ao contato tão delicado dos desencarnados, por um doutrinarismo arbitrário, individualista, pontifical e retórico, cujos frutos se aferem pela desordem e separatividade que acarretam nas fileiras espíritas.

            Crede no Evangelho, disse Jesus. Espíritas, com Jesus, não percebemos como se possam trocar os seus ensinos e exemplos, tão simples e tão claros, no afã de o servirmos, por teorias e especulações práticas, no mínimo capazes de originar dúvidas e prevenções, dissídios e controvérsias.

            Nem lícito fora argumentar em contrário, com o falho critério de nomes ou de maiorias, porque uns e outras, seja no plano espiritual, não fixam, jamais, verdades absolutas, mas verdades relativas e contingentes de tempo, de meios e de fins.

            E o tempo é sempre cumprido para os que o queiram aproveitar, no espírito da lei de amor e caridade. Os meios também remanescem, de todos os tempos, com a mediunidade inestanque, a partir das profecias clássicas, porque nunca, jamais, se interrompeu a obra de emancipação das almas, do ciclo das encarnações terrenas, justificativa de que essa emancipação independe de conhecimentos mundos, filosóficos ou científicos.

            Os fins, também eles, ou antes, principalmente eles, depõem a prol do ascendente moral, que abrange todas as almas independente de circunstâncias ocasionais e efêmeras, contributárias do plano físico, a permanecerem nele como meros recursos de transição.

            Basta considerar a discrição com que as altas entidades do além se referem aos problemas mundanos, de ordem científica, para concluir que se não modificaram as diretrizes da lei que à Terra trouxe, entre humildes e pequeninos, o Cristo de Deus – o que tira os pecados do mundo. É que os tira antes pelo saber da virtude, que pela virtude do saber. Que sábios e sabedores, filósofos e pedagogos, nem todos o poderiam ser; mas simples e bons todos o podem ser, a exemplo mesmo daqueles humildes legatários da sua doutrina, salvos, também eles, por suas obras de amor e caridade. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário