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domingo, 5 de abril de 2020

Allan Kardec



Allan Kardec
Editorial  
Reformador (FEB) 3 Outubro 1929

            Quando surgiram as primeiras obras de Allan Kardec, foram saudadas com a risota universal.

            Dir-se-ia que o humorismo francês, que pouco depois contagiava todas as outras partes do mundo, afogaria para sempre aqueles trabalhos que o Mestre, apresentava aos pósteros, como provenientes do Além. 

            E toda a gente ria. Nada havia que provocasse melhor o chiste, que desencadeasse o bon mot do que a ideia de que pudéssemos conversar com os mortos. Ora! Allan Kardec tinha a coragem inaudita de apresentar todo um código de moral e afirmava severamente, que os mortos é que lh'o haviam ditado.

            Ninguém podia conter-se, diante de tais afirmativas.

            E o mundo ria.

            Mas os tempos se passavam e as obras de Kardec não ficavam esquecidas nas prateleiras dos editores. Muito pejo contrário, as edições se esgotavam e se multiplicavam.

            E o mundo já não ria. E foram aumentando os que procuravam sofregamente aquelas páginas e nelas encontravam a explicação para os problemas do ser, do destino, da dor; o lenitivo para as mágoas, o esclarecimento das coisas do passado, a fé nas amarguras do presente, a confiança nos dias do futuro.

            A obra de Allan Kardec era traduzida em vários idiomas e se espalhava por toda a parte; cresceu, avolumou, espraiou-se a onda dos crentes e o Espiritismo plantou o seu lábaro sobre todos os cantos da terra.

            Tal o destino das obras que vêm de Deus!

            Hoje, a humanidade já não ri. Poucos são os que, descuidados e inconscientes, gracejam com assuntos de tal magnitude.

            A humanidade hoje chora. Chora as faltas cometidas no transcurso dos tempos; chora pelos dias que perdeu na ingratidão, na maldade, na injustiça, nas iniquidades do mundo; chora por ter desconhecido o Pai na sua misericórdia, por o ter injuriado, conspurcando os ensinamentos que Ele nos vem ditando por seus missionários; chora por não ter ouvido o conselho dos guias; chora por haver desprezado toda a riqueza de que dispusera - a riqueza do Espírito; chora por haver trocado essa riqueza pelos tristes ouropéis dos gozos mundanos.

            No meio, porém, dessas lágrimas de arrependimento, alguma coisa existe capaz de trazer a todos o bálsamo da fé e da esperança: são esses marcos que Allan Kardec plantou nos campos dos nossos destinos.

            Nesses campos intérminos, cujo princípio nossas vistas curtas não podem descortinar e em cujos horizontes se notam os clarões da redenção eterna, há um marco maior que todos e nele se lê o emblema que nos deve guiar sempre, sem nos deixar cair em meio da estrada, ou parar à borda do caminho. Esse emblema é o que se inscreve no pórtico do grande templo de Amor erigido pejo Espiritismo:

            “- Fora da caridade não há salvação.”

            Léon Hypolite Dénisard Rivail, que adotou o nome de Allan Kardec, ouviu pela primeira vez falar em mesas girantes no ano de 1854.

            Como toda gente, ele não acreditava que os Espíritos pudessem comunicar-se conosco.

            Começou, porém, a estudar os fatos, seguindo desta arte os sábios ensinamentos de S. Paulo, que mandava examinar tudo.

            Por algumas vezes, depois de já haver iniciado os seus estudos, tinha ímpetos de abandoná-los,

            Assaltava lhe o desânimo com que muitas vezes são experimentados os homens da melhor têmpera.

            Sustinham-no, porém, os Espíritos; davam-lhe coragem os companheiros da terra, como Carlotti, Taillandier, Manthèse, Sardou, Didier.

            E o Mestre continuava no seu fecundo labor, sem imaginar, mesmo, a grande revolução que aquele trabalho viria produzir nas ideias dos homens.

            E assim, a 18 de Abril de 1857, surgiu o seu primeiro livro, que tantos comentários teria de provocar, que tanta celeuma vinha produzir, que enormes diatribes deveria desencadear.

            Esse livro foi o Livro dos Espíritos.

            Ele vinha perturbar as consciências, destruir os dogmas, abalar os conhecimentos, derruir velhas teorias, reformar a moral, explicar os Evangelhos.

            Era bem uma revolução na filosofia, na religião e na ciência.

            Essa revolução não se poderia fazer sem levantar grandes protestos, ataques, insultos; ela fez erguer-se a maior campanha espiritual que já se tem visto.

            Mas não há reforma sem convulsões profundas. Hoje, todos os que pensam, todos os que sofrem e todos os que amam abençoam aquele que foi escolhido por Deus para trazer à face da Terra a Terceira Revelação.

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