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quarta-feira, 21 de março de 2018

Aparições e visão simultânea



Aparições e visão simultânea
Da Redação
Reformador (FEB) Junho 1946

Lang, no seu livro Dreams and Ghosts, relata o seguinte fato que se encontra também na obra de Picone Chiodo - L'Immortalità dell' Anima, págs 62 :

Uma senhora, Mary, mulher de John Goffe, de Rochester, tendo ficado enferma de grave e longa moléstia, foi para a casa dos pais, situada em West Malling, cerca de 9 milhas distante da sua.

Na véspera de sua morte desejou, ardentemente, ver os dois filhos, que tinha deixado em casa, confiados a uma ama de leite. Mas, não se podia mover, doente como estava. Caiu em transe, entre uma e duas da madrugada. A viúva Zurner, que, naquela noite, velava a enferma, disse que ela tinha os olhos abertos e fixos, e as faces cor de cera. A Sra. Zurner colocou-lhe a mão junto à boca e não lhe sentiu a respiração. Acreditou que estivesse tomada de algum acesso e não soube se estava morta ou viva.

Na manhã seguinte, a agonizante contou à genitora que estivera com os filhos em casa, à noite, enquanto eles dormiam.

Por sua vez, a ama, em Rochester, a viúva Alexander, afirmou que vira, pouco antes das duas, a imagem de Mary Goffe, que surgira da porta aberta do quarto vizinho, onde dormia o filho mais velho, e ficara parada perto do leito, cerca de um quarto de hora; nesse leito, junto à nutriz, onde dormia o pequeno mais moço.

Os olhos e a boca do fantasma moveram-se, mas se lhe não ouviu nenhum som. A ama declarou que estava perfeitamente acordada começava já a romper o dia, sendo aquele um dos dias mais compridos do ano. Ela sentou-se na cama e olhava fixamente a aparição, quando o relógio bateu duas horas. Pouco depois, disse: - Em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo, quem és tu?

O fantasma, então, moveu-se, e se foi embora. A nutriz apanhou as vestes e seguiu-a, mas não lhe foi possível dizer o que aconteceu.

Há muitos que contestam os sonhos e aparições de VIVOS, declarando que são unilaterais isto é, que não há concordância nas declarações dos sensitivos e que só um deles é o que vê. Este caso e muitos outros desmentem a afirmativa a que se apegam os opositores, como tábua de salvação.

...E o Messias baixou à Terra



...E o Messias baixou à Terra
por Benildo Leal de Moraes
Reformador (FEB) Junho 1946

PARTE 1

Citação do Evangelho segundo João:

“Cap. I: 
1 - No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
2 - Ele estava no princípio com Deus.
3 - Todas as coisas foram feitas por ele: e nada do que foi feito, foi feito sem ele.
4 - Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens."

Ao contrário dos outros evangelistas, João teve um modo todo especial de relatar a vida do Cristo e os fatos com a mesma relacionados; tudo, em sua descrição, representa partes de um todo, cheio de sublimes revelações, denotando uma forma toda especial de interpretar a vida do Divino Mestre.

O início de seu Evangelho é magnífico, representando uma grandiosa Revelação, por si só; à luz dos ensinamentos espiríticos, a interpretação do primeiro capítulo do referido Evangelho representa verdadeiro deslumbramento espiritual.

Tentaremos demonstrar a nossa afirmativa com um comentário interpretativo simples, que, dada a nossa deficiência, deixará muito a desejar em relação à grandiosidade que o ensino evangélico representa.

Começando sua narrativa, João afirma que "no princípio era o Verbo, e que o Verbo estava com Deus". Que significará isso? a que se referirá esse "princípio"? Procurando penetrar o pensamento profundo e de ampla síntese do evangelista, só podemos chegar à seguinte conclusão lógica: no momento da formação do orbe, na ocasião em que se reuniam os fluidos e as forças que formariam o nosso planeta e condicionariam a vida dos seres no mesmo, nessa ocasião sublime, de um dinâmico trabalho, sobrepairava e dirigia tudo, a figura simbolizada como sendo o "Verbo". E o que, ou quem, seria esse "Verbo"? Era, simplesmente, um glorioso Espírito, nos píncaros do progresso espiritual, com poderes excepcionais, representando a Luz Divina, representando a sublime força espiritual que ficaria encarregada da salvação e orientação de uma comunidade inteira de Espíritos, pois o Verbo significa Luz e Ação Divina. E quem está simbolizado na figura do Verbo, encarregado de presidir à tarefa organizadora do nosso planeta? É a figura inimitável do Cristo, como será comprovado, a seguir, em outras palavras reveladoras do evangelista, e seguindo um critério lógico, sem sombra de dúvidas.

Mas, depois de afirmar que o Verbo estava com Deus, o evangelista logo a seguir esclarece que "o Verbo era Deus", como que obscurecendo o sentido. Desse simples trecho os interpretadores católicos quiseram servir-se - e se servem até hoje - para tentar firmar o edifício, de base falsa, do dogma da S.S. Trindade, querendo fazer crer que o mesmo significa a unidade de natureza, toda misteriosa, na diversidade das pessoas do Pai e do Filho, acrescentando, ainda, a terceira pessoa - o Espírito Santo. (Três pessoas diversas formando, misteriosamente, a unidade de natureza Divina). Porém, a interpretação lógica, concordante com o restante da obra evangélica, não é essa, sob pena de irmos, em outros pontos, a verdadeiros absurdos. Que significará então? simplesmente isto: que Jesus, estando presidindo à formação de um planeta e estando encarregado de velar por uma humanidade inteira, estava identificado com o Pensamento e a Vontade de Deus, que percebia diretamente, dado o seu altíssimo progresso; que Deus lhe dera poderes únicos- e lhe conferira um mandato especial que o identificava com o Plano Divino, de trabalho altamente espiritual, de modo que toda a obra do "Verbo" era como se executada diretamente por Deus. Jesus vinha a ser um "embaixador extraordinário", um ministro com plenos poderes, perfeitamente conhecedor de todas as ideias e planos daquele que lhe conferira o mandato e perfeitamente capacitado para executá-los. Daí não ser de estranhar o fato de que "estivesse com Deus" e "fosse Deus". Até pelo fato de o evangelista afirmar que Jesus estava com Deus já faz sua distinção de pessoas e naturezas. De fato, se Jesus fosse Deus, no sentido real das palavras, o narrador empregaria outra linguagem: para Jesus o termo Filho - para a outra pessoa divina o termo - Pai. Porém, ele já começa falando em Deus e Jesus (Verbo). E tanto é assim, e tão lógica é essa interpretação, que o versículo 2, automaticamente, a corrobora, pois, após afirmar, no versículo 1, que o Verbo estava com Deus e era Deus, vem dizer no seguinte "Ele estava no princípio com Deus", confirmando a distinção e como esclarecendo que não se tratava de união real de natureza, procurando com isso, dissipar quaisquer dúvidas que pudessem surgir do trecho anterior. (Este 2º versículo, porém, já não é comentado pelos sacerdotes, especialmente em confronto com o primeiro). (Parece que o evangelista já deixou aquela segunda passagem como uma luz para os obreiros de boa vontade, um farol para impedir as trevas da mistificação).

A seguir, João mostra, no versículo 3, que todo o plano da Criação - naturalmente se referindo ao nosso planeta -- foi presidido pelo Cristo e, no versículo 4, que ele era o farol que conduziria os homens, isto é, o Espírito puro e sublime encarregado de espalhar a verdade entre os homens e fazer frutificar entre eles o trabalho espiritual. E, tanto é lógico que a referência é ao nosso planeta, somente, que João afirma que o Verbo será a "luz dos homens". (Se fosse referência a outros planetas, que se supusesse habitados, deveria forçosamente empregar outra expressão que pudesse identificar os seus componentes). No versículo 9 ainda vemos esta expressão: "ele era a luz verdadeira que alumia a todo o homem que vem a este mundo", o que prova que era ao nosso planeta que se referia aquele "princípio", mencionado no versículo 1, e mostra mais que a Humanidade aqui encarnada estava inteiramente sob o lúcido amparo espiritual do "Verbo" (Cristo), indicado igualmente no versículo 1. Isso é mais uma prova, também, da distinção real entre - Jesus e Deus -, pois Deus criaria e alumiaria todos os planetas, e não somente o nosso, além de que tal fato seria desnecessário referir, dado a compreensão mínima que se possa fazer de Deus. Quanto a Jesus, como mandatário especial de Deus na organização deste planeta e na orientação e salvação da humanidade que o habitaria, sim: era necessária uma referência e uma distinção especial, tal como fez sabiamente o evangelista.

......................................................................
Continuação

...E o Messias baixou à Terra
por Benildo Leal de Moraes
Reformador (FEB) Julho 1947


Continuando em nosso comentário, muito embora todos os versículos apresentem diversos fatos interessantes, poderemos, para focar os assuntos mais palpitantes, saltear para os belos ensinamentos dos de nºs 14 e 15, que se casam tão bem com a doutrina espirítica, confirmando a lógica da interpretação que anteriormente fizemos: “E o Verbo se fez carne. E habitou entre nós; e nós vimos a sua GLÓRIA COMO DE FILHO UNlGÊNITO DO PAI, cheio de graça e de verdade.
(14) João dá testemunho dele, e clama; dizendo: Este era o de quem eu disse: O que há de vir depois de mim foi preferido a mim, porque era antes de mim.” (15) Por uma forma tão singela o narrador evangélico deixa entrever o que havia de grandioso na descida à Terra do glorioso Mestre, dando a entender que ele veio ao nosso planeta por uma circunstância extraordinária, tendo "habitado" entre os homens, o que revela a sua superioridade sobre estes (sob o ponto de vista do adianto espiritual, como veremos). E o trecho "o Verbo se fez carne" parece indicar que o Cristo, pela sua pureza, pelo seu adiantamento e pelos seus poderes, dirigiu a sua própria encarnação, tomando a forma humana, talvez, por um modo todo especial, dado o domínio que possuía sobre todas as forças cósmicas e espirituais. Aliás, os outros evangelistas relatam fatos excepcionais ligados ao ato do nascimento de Jesus, divergindo do comum dos homens. É um ponto delicado, porém, e que, no final, não afeta a sua doutrina nem modifica o que possamos compreender em relação à sua sublime pessoa (tal fato não altera a sua natureza espiritual, e pouco importa o modo como o Cristo formou e tomou o invólucro material: interessa é compreendermos a sua natureza espiritual, a sua posição e a sua missão, conhecermos e praticarmos sua doutrina e sua moral verdadeiramente excepcionais, pois não tinham mácula de materialidade nem de mesquinharias terrenas, e sim eram verdadeiros diamantes trabalhados por mão Divina). Agora, porém, nos defrontamos com outra expressão que aparenta dificuldades: "nós vimos a sua glória como de filho unigênito do Pai". Os católicos querem que tal expressão valha como outra escora para o dogma da Trindade, pretendendo afirmar: que Ele (Jesus) era o Filho unigênito por ser "pessoa divina", fazendo parte da natureza de Deus como uma de suas três pessoas e procedendo do Pai, por um modo especial e misterioso. (Ver p. ex., a propósito, os ensinos de Mons. Cauly, em sua Apologética "Cristã" (?); chegados a esse ponto nebuloso, dizem que é impossível explicar isso, por constituir um mistério indevassável, que devemos respeitar. Entretanto, bem outra se mostra a explicação lógica, coordenada com o ensino restante, nada tendo de indevassável: o termo "Filho unigênito" significa, tão somente, que, em relação ao comum dos homens que ele justamente viera guiar e salvar, o Cristo era o único que percebia diretamente o Pensamento Divino e que de Deus recebia ordens, poderes e mandatos diretos, sendo que os próprios profetas e missionários recebiam dele as parcelas de verdade necessárias para cada missão e revelação. E isto é tão verdadeiro que logo após é corroborado, com a comparação que João, o Evangelista, coloca na boca de João (o Batista): "o que há de vir depois de mim (Jesus - a respeito do qual o evangelista está circunscrevendo os fatos) foi preferido a mim, porque era antes de mim". O que, em outras palavras, pode ser dito desta forma: "Jesus, que desceu à Terra depois de minha encarnação, embora a minha missão importante, embora tenha vindo depois, embora o meu estado espiritual elevado, foi o escolhido para a grandiosa missão de redimir a Humanidade, porque antes de mim já era, isto é. antes de que eu completasse um determinado ciclo de elevação espiritual e de provas espirituais já atingira o estado espiritual superior que o dispensaria de novas provas planetárias e o colocara em excepcional posição de dirigente mandatário direto do Pai". E com isso, fazendo esse paralelo espiritual com o Cristo, afirma implicitamente outro ponto: que todos os Espíritos devem progredir continuamente e que o Batista já de muito vinha seguindo a carreira espiritual de Jesus; mas, perguntar-se-á: de que forma, se já ficou claro que o Messias era um Espírito elevadíssimo desde a criação do planeta, há milênios foi feita tal carreira espiritual? Como pode João Batista fazer tal comparação, que supõe que Jesus lhe houvesse, de há muito, ultrapassado na carreira espiritual? só será compreensível se aceitarmos o fato através do princípio do progresso contínuo segundo sucessivas encarnações, por numerosos orbes planetários. (Tal como ensina o Espiritismo moderno – 3ª Revelação, o Esoterismo tal como ensinaram antigos missionários e profetas, como Hermes e Pitágoras). E mais se evidencia que é nesse sentido que o evangelista orienta sua dissertação que, logo a seguir ele cita as palavras dos sacerdotes que interrogavam o Batista: "És tu Elias?" (vers. 21). Ora, sabemos que Elias é um dos antigos profetas judeus, e, na ocasião, há muito já deixara o plano terreno. Isso prova mais que o princípio das reencarnações era aceito com naturalidade, na época, e que os discípulos do Mestre não o repeliram. e, ainda pelo contrário, se basearam no mesmo em trechos e afirmativas de magna importância (e, se tal orientação fosse falsa, Jesus, que viera para prepará-los como obreiros da salvação da Humanidade, os teria esclarecido e impediria que eles propagassem ideia tão errônea). E, mais que tudo isso: este luminoso princípio das reencarnações e do progresso sucessivo, que nos abre tão consoladoras esperanças, foi confirmado pelo Mestre na célebre resposta a Nicodemos e na explicação que deu a seus discípulos sobre o "cego de nascença". (Ver os trechos próprios, dos Evangelhos - em todos os quatro evangelistas).

E assim. através dos Evangelhos, observando com cuidado, vamos encontrar numerosos trechos, que se ligam maravilhosamente, vindo confirmar a Doutrina Espirítica ou serem logicamente explicados por esta, enquanto, ao reverso, vem mostrar os absurdos das interpretações dogmáticas, baseadas abusivamente em trechos
isolados e desconexos, com o desvio dos trechos claros e positivos e sem ligação com estes.

Ainda resta mais uma conclusão a respeito do paralelo feito peta Batista: é que, se o mesmo não se referisse a duas carreiras espirituais idênticas em natureza, isto é. se o Batista fosse um simples Espírito criado e Jesus fosse verdadeiramente Deus (ou outra entidade especial), ele não ousaria fazer tal comparação, não falsearia a verdade: ainda mais que ele viera, justamente, para preparar a vinda do Mestre e servir-lhe de testemunho, como reiteradamente afirmou e o Messias confirmou, ao procurá-lo, quando devia iniciar, propriamente, sua grande missão na Terra (ver o trecho relativo ao "batismo de Jesus por João Batista).

Depois de chegarmos a este ponto, porém, em que vários princípios foram esclarecidos e positivados, com toda a clareza de argumentos, ainda pode restar objeção, como, p. ex.: a interpretação foi feita com base em poucas e obscuras palavras de um só dos evangelistas, e feita em concordância com modernas explicações espiritualistas, que podem não ser verdadeiras (supondo alguém que queira atacar de modo sistemático, por apego aos dogmas ou aos princípios materialistas). Podemos dizer que esses fatos que positivamos com um evangelista podem ser comprovados através dos Atos dos Apóstolos, que se reveste de precisão por ser feito logo no início da pregação evangélica; pelas epístolas dos Apóstolos, e, entre estes, escolhendo, especialmente, a figura de Paulo de Tarso, que, com profundeza, prestou largos esclarecimentos sobre a pessoa do Cristo, natureza dos anjos, etc. Vamos, assim, formar um segundo trecho, estudando, em especial, o cap. 1º da Epístola de Paulo
aos Hebreus.

(Fim da 1ª parte)


Continuação
...E o Messias baixou à Terra
Benildo Leal de Moraes
Reformador (FEB) Agosto 1946

(2ª Parte)

Citação da Epístola de Paulo Apóstolo aos Hebreus : Cap. 1 - (1) - Deus, tendo falado muitas vezes, e de muitos modos, noutro tempo, a nossos pais, pelos profetas. (2) Ultimamente, nestes dias, nos falou pelo Filho, ao qual constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também os séculos; (3) O qual, sendo o resplendor da glória, e a figura da sua substância, sustentando tudo com a palavra da sua virtude, havendo feito a purificação dos pecados, está assentado à direita da majestade nas alturas; (4) Feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles" (8) Mas acerca do Filho diz: O teu trono, ó Deus, subsistirá no século do século; vara será de equidade e vara do teu reino (9) Tu amaste a justiça, e aborreceste a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria sobre os teus companheiros, (10) E noutro lugar: Tu, Senhor, no princípio fundaste a Terra, e os céus são obras das tuas mãos... (13) Pois a qual dos anjos disse alguma vez: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha teus inimigos por estrado de teus pés "... Capítulo TI - (7) Tu o fizeste por um pouco de tempo menor do que os anjos, tu o coroaste de glória e de honra, e o constituíste sobre as obras das tuas mãos, (8) Tu lhe sujeitaste todas as coisas, metendo-lhas debaixo dos pés.

Os ensinamentos de Paulo, especialmente os da Epístola aos Hebreus, são, como os de João Evangelista, extraordinários e adiantadíssimos. Mas, entremos logo a comentar esses poucos versículos acima citados, mais positivos e que nos dão, desde logo, maiores esclarecimentos e argumentos, bem como provas irretorquíveis.

Inicialmente, o Apóstolo compara os profetas e Jesus (Filho), como enviados de Deus, por intermédio dos quais Ele falará; isso prova, de imediato, sem qualquer dúvida, que esses enviados eram Espíritos puros e elevados, revestidos de um dom especial para receberem e transmitirem a palavra divina: era o que a nossa Doutrina, hoje, poderia chamar - poderosos médiuns. Por aí já se nota a identidade de natureza espiritual, entre Jesus e os seus predecessores - os chamados "profetas". O Apóstolo, porém, vem explicar que esse enviado era revestido, ainda, de honras especiais: ele fizera "os séculos" e "era herdeiro de tudo", isto é, dirigira a criação da Terra, a vinda de vários grupos de Espíritos para o nosso planeta - a fim de povoá-lo e desenvolvê-lo - e estava incumbido de acompanhar-lhe o progresso. É a única interpretação lógica do trecho, concordando com a que fizemos do Cap. 1º do Evangelho de João e confirmando a mesma. Ambas se completam c comprovam. E, se não fora assim, por que Jesus fora "constituído" herdeiro de tudo? Isto é, por que deveria receber a glória de todo o trabalho de criação da Terra, de sua evolução, e do progresso da Humanidade respectiva? 

Nos versículos 3 e 4 o Apóstolo esclarece que o Filho "herdara" poderes e honras maiores que as dos anjos e que se tornara de qualidades superiores às dessas entidades, colocando-se "à direita de Deus". Isso comprova que Jesus (o Filho) não era Deus (como querem os católicos, através do citado dogma), pois, se assim fosse, teria todas as coisas "de toda a eternidade", e não iria recebê-las do Pai em dado momento nem seria colocado "ao lado direito da Majestade". (Se fosse uma pessoa da Trindade estaria nela integrado, e não "ao lado" de uma das outras pessoas divinas!) Além disso, se assim fosse, o Cristo não necessitaria fazer a "purificação dos pecados" nem seria o "resplendor da glória" e a figura da "substância divina"; seria a própria Glória Divina e a própria Substância Suprema! (e, poderíamos novamente dizer, se assim fosse, porque o Apóstolo não referiu a 3ª pessoa Divina? Por que não aproveitou para explicar onde ela se encontrava?) A palavra desses versículos mostra, ainda mais, que, como as demais criaturas de Deus, Jesus fizera também sua carreira espiritual, em razão da qual atingira categoria superior à dos anjos, e isso antes de haver o nosso planeta, cuja organização veio dirigir, como já vimos! Novamente verificamos a necessidade de aceitar a doutrina da pluralidade de mundos habitados. pois "há muitas moradas na casa do Pai", e a das reencarnações sucessivas para realização do progresso espiritual, pois "não poderá entrar no reino de Deus quem não nascer de novo"; só essa doutrina permitirá compreensão lógica desse trecho, assim como, atualmente, é só ela que permite compreendermos, de modo razoável, o "porquê da vida", o problema "do ser e do destino".

Por tudo isso, pois, é que os versículos 9 e 10 dão a entender, taxativamente, que Jesus, entre outros espíritos de alto progresso ("teus companheiros"), foi o escolhido por Deus para a importante obra de organização do planeta Terra ("no princípio fundaste a Terra") e da orientação e salvação de sua Humanidade. Devido a tal fato é que ele é referido com o título honroso de Filho, Filho de Deus, Filho Unigênito do Pai, isto é, em relação aos homens era o espírito enviado por Deus, de quem recebia a Vontade direta (pois estava "à sua direita") e, em relação a outros espíritos de grande progresso, era o escolhido, recebendo o Pensamento Divino e poderes especiais. Era, enfim, Filho Unigênito porque, em relação ao planeta que dirigia, era o único que recebia poder direto de Deus e não estava sujeito a novas encarnações, dada sua excepcional situação!

Os versículos 7 e 8 do cap. II vêm corroborar as conclusões que fizemos, afirmando que Jesus, por certo tempo, fora "menor do que os anjos", mas que, após, recebera poderes excepcionais, por mérito especial e escolha entre "os companheiros". Muitos outros trechos poderíamos citar, sempre com a mesma lógica e verdade; a concordância seria admirável; mas isso seria extenso e fastidioso (Ver, p. ex., os vers. 1 a 6 do Capítulo III; 14 a 16 do Cap. IV, 5 a 10 do Cap. V, 19 e 20 do Cap. VI, 22 a 28 do vers. 1 e 2 do VIII; fora outras epístolas desse e de outros apóstolos e os Atos dos Apóstolos!). Ficamos aqui, pois.

Temos mais uma vez confirmada a doutrina do progresso espiritual contínuo, a de identidade de natureza espiritual entre Jesus, os anjos, e os homens, como criaturas de um mesmo Deus, em diferentes estados de progresso espiritual; e temos, além de tudo, provada, mais uma vez, insofismavelmente, a falsidade absurda e estupefaciente do dogma católico da Trindade, que, há mais de 16 séculos, procura abroquelar consciências e deturpar os Evangelhos!



terça-feira, 20 de março de 2018

Respostas


20 Março


05 de 07   ‘Respostas”


Excesso de ocupações...
Novo dever a cumprir...
Qual o caminho mais certo?
O melhor: torna a servir.

Casimiro Cunha 

por Chico Xavier 
in ‘Reformador (FEB) Março  1972


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por Marcílio Gonzaga
Reformador (FEB) Junho 1946

Um Espírito de grande elevação moral pode descer de alta esfera, em missão, e encarnar-se na superfície da Terra. Pela sua afinidade com o Mundo Espiritual superior, terá ele, mesmo durante a encarnação, grande poder, mas não saberá explicar aos homens de onde lhe provém essa força invencível que lhe permite realizar coisas impossíveis aos outros homens. Não saberá explicar, porque não tem lembrança analítica de sua ligação com Deus, com os Espíritos superiores que movem as forças cósmicas; em vez de consciência analítica, conserva apenas intuição, que é uma espécie de memória sintética que se manifesta em forma de pendores, confiança em si e em Deus, certeza inexplicável do triunfo final do bem. Por falta de outra palavra que melhor o dissesse, damos a esse poder o nome de Fé.

A Fé perfeita, portanto, só existe nos grandes Missionários e realiza prodígios; na palavra de Jesus, ela transporta montanhas. Para o comum dos homens, a Fé é ilógica, insensata, porque não segue os caminhos tradicionais, não respeita princípios consagrados, realiza ou luta para realizar coisas utópicas, abre caminhos novos que parecem loucuras. Para os contemporâneos do Missionário, sua Fé é cega e por vezes perigosa, pode levar os homens a grandes lutas. Não raro o homem de Fé termina sua encarnação pelo martírio, mas sem fraquejar, sem esmorecer, sem se arrepender de tudo que fez. Para as massas, ele é um louco, um fanático, do qual a Sociedade se deve libertar pelos seus meios normais de repressão: prisão ou morte. Um exemplo: Joana d'Arc, uma jovem analfabeta, da aldeia de Domrémy, nunca tinha visto um exército; tinha certeza de que poderia vencer os exércitos ingleses e expulsá-los da Pátria, sagrar o Rei e assim salvar a França. Tudo isso era uma série de absurdos, pensamentos ilógicos. Então iriam confiar o comando supremo dos exércitos àquela menina ignorante de arte militar, sem força alguma para se fazer obedecer? Seria evidente que cairia em ciladas e pereceria com todas as tropas; seria o suicídio da França em muito boa lógica. Impossível, portanto, obter a posição de Comandante em Chefe dos exércitos franceses. Sua fé em si mesma e em Deus era rematada loucura diante do bom senso. Seria inútil deixar suas ovelhas no campo e partir para Vaucouleurs, porque ninguém lhe daria ouvidos. Era isso que em boa lógica deveria pensar qualquer pessoa sensata. Porém, ela partiu. O governador de Vaucouleurs, Roberto de Baudricourt, achou absurda a sua pretensão e não quis atender-lhe: ela, porém, não desistiu e por fim foi atendida, foi levada à presença de Carlos VII que também se opôs à sua pretensão, mas teve que ceder. Aos 17 anos de idade comandava ela as forças; levantou o cerco de Orléans, bateu os ingleses em Patay, fez sagrar o rei Carlos VII em Reims. Estava terminada sua missão. Foi traída pelos seus, vendida aos ingleses, julgada por um tribunal eclesiástico sob a presidência do Bispo de Beauvais, Pedro Cauchon, condenada como feiticeira e queimada viva, em 1431, aos 19 anos de Idade. Em 1920 foi canonizada e hoje é Santa Joana d'Arc.

A Fé de Joana d'Arc operou milagres.

Outro exemplo da vitória da Fé de um grande Espírito: Lázaro Luiz Zamenhof, nascido em 15 de dezembro de 1859, em Bialystok (cidade do oriente da Polônia), cuja população fala quatro línguas diferentes e vive em lutas de raça, de religião, de língua. Aos cinco anos de idade compreendeu ele que todas aquelas divergências partiam da incompreensão recíproca e que sua cidade era apenas a miniatura do mundo; porém, que ele poderia elaborar uma língua artificial, comum de todos, e fazê-la aceitar pelo mundo para compreensão e confraternização dos homens. Fazer o mundo egoísta aceitar uma língua artificial e inútil nos primeiros tempos, quem seria o primeiro a tomar esse trabalho? É evidente que o mundo só aceitaria tal língua quando ela fosse útil, porém, ela só seria útil depois que o mundo a aceitasse. Impossível romper esse círculo vicioso. Sensatamente deveria desistir logo da empresa; mas a Fé lhe dizia que não, que era necessário elaborar a língua artificial e divulgá-la no mundo. Trabalhou com fé dez anos na elaboração e a obra chegou à sua conclusão teórica, mas, para iniciar a divulgação? Não encontrou editor para a primeira brochura de 40 páginas que tinha de publicar de início e essa brochura teria que ser traduzida e publicada em todas as línguas do mundo para começar a divulgação. Dois anos andou o jovem à procura de editor para a primeira das mil brochuras que teria de publicar e não encontrou. Finalmente, revelou toda essa penosa história à sua noiva e esta a expôs ao pai, um negociante de pouca cultura mas foi este que entendeu todo o alcance da iniciativa e promoveu a impressão do primeiro e de outros opúsculos. Depois dessa publicação e de toda a zombaria do mundo e ataques de toda sorte, Zamenhof perseverou trinta anos sem esmorecer um momento, com a mesma Fé inicial. Já são decorridos 61 anos do tempo em que anelava ele pelas ruas de Varsóvia mendigando inutilmente um Editor, e hoje em todos os países há Editores, os esperantistas contam-se por milhões, milhões de cruzeiros gastam-se anualmente com livros em Esperanto. A Fé de Zamenhof venceu o mundo; já não existe uma só pessoa sensata que negue a existência e a utilidade do Esperanto.

Desnecessário multiplicar os exemplos. Cada leitor conhecerá e juntará outros. Um preferirá Colombo, outro se lembrará de Edison, um terceiro conhecerá a vida de Pascal, alguém incluirá Paulo de Tarso sem nos atrevermos a lembrar de pôr na lista o Divino Modelo, Jesus - o Cristo. 

Se a Fé perfeita só pertence aos grandes Missionários e só eles podem operar esses prodígios, é porque não perdem, durante a encarnação, a afinidade que os liga ao Mundo Espiritual superior; e nós, pobres pecadores que nunca fomos a esferas superiores da espiritualidade?! De onde vamos haurir Fé? E como havemos de viver sem a luz da Fé?

            Ficaremos nas trevas da negação e da dúvida? Como havemos de obter a Fé sem a qual nada se faz, nada se move?

Efetivamente não podemos adquirir aquela Fé de Joana d' Arc, de Zamenhof e de outros grandes Missionários, porque não viemos das altas esferas espirituais; mas não necessitamos dela por enquanto, porque não nos foram confiadas as grandes Missões que reclamam aquela força moral. Nossas missões - porque todos nós as temos - são pequenas, são guiadas por Espíritos bons, porém, mais próximos da Terra e com estes nós temos inteira afinidade, conservamo-nos em contato durante toda a nossa encarnação. Tenhamos boa vontade em nossas pequenas tarefas e para elas não nos faltará Fé; teremos todo o auxílio de bondosos Irmãos invisíveis que são igualmente executores dos desígnios de Deus nos trabalhos menores, ao nosso alcance. Não há diferença essencial, mas apenas de grau, entre nós e os grandes Espíritos.

Zamenhof cumpriu, ou está cumprindo ainda Iá do plano espiritual em que se acha, uma missão que tem de vencer séculos e milênios e transformar o mundo. Joana d'Arc teve a missão de libertar a França e elevá-la à nação líder do pensamento humano, ao ponto de onde deveriam partir todas as grandes ideias durante séculos. São missões imensas, para a quais desceram à Terra Espíritos elevadíssimos.

Outro terá a missão de construir ou orientar uma cidade e virá de uma esfera menos elevada, mas ficará em afinidade com essa esfera, dela haurirá a Fé necessária a cumprir sua missão (se não se desviar da tarefa que trouxe).

            Ainda um terceiro terá por missão construir prédios; e tudo ocorre do mesmo modo, em escala menor. Desde que se conserve fiel à sua tarefa, não lhe faltarão Fé, auxílio, perseverança.
Este terá nascido para exercer pequena função pública, ou para agricultor, ou operário, porque todas essas tarefas são necessárias e ajudam o progresso, mas não reclamam o mesmo grau de Fé necessário a um reformador social, a um inventor, a um sacerdote, a um sábio.
O cumprimento fiel de um pequeno dever é ato que conserva a afinidade com os nossos Guias e, portanto, fortalece a Fé. Contrariamente, a desonestidade, a irritação, a impaciência, a rebeldia no cumprimento do mínimo dever, rompe a afinidade com os bons Espíritos e nos projeta nas trevas da dúvida.
O estudo honesto do Espiritismo - não o estudo com finalidades de crítica e polêmica contra as Igrejas (1) - é excelente fonte de Fé. Aprendemos a lei das afinidades que governa o Mundo Espiritual e ficamos certos que estamos sempre atraindo Espíritos para nos ajudar a praticar o bem ou o mal, conforme nossos próprios sentimentos e aspirações; mas que só os bons nos podem dar Fé e conduzir à felicidade real. Ficamos cientes de que cada pensamento nosso encontra sua afinidade no Mundo dos Espíritos e atrai um parcela de força para nos ajudar, ou infelizmente , para nos prejudicar, se o pensamento for egoísta e mau.

Pelo cumprimento honesto dos nossos deveres, vamos recebendo tarefas maiores e com elas o aumento de Fé para executá-las. Por esse crescimento lento através das sucessivas encarnações, um dia chegaremos à Fé que transporta montanhas e desloca mundos.

           (1) É evidente que o estudo de uma doutrina somente com finalidade de combater outras, não é obra de amor, porém, de orgulho, de ódio, e não atrai o auxílio dos Espíritos bons; chama apenas os violentos e combativos, aos quais só a luta interessa. Assim, compreende-se que alguns intelectuais, mesmo com bons conhecimentos da Doutrina, nunca chegam a possuir Fé; permanecem sempre combativos e sem afinidade com ninguém, vendo unicamente a parte má da coisas, dos homens e até de seus companheiros de ideal. A Fé sabe esperar com a certeza de que o bem triunfará do mal tão fatalmente como a criança tem de crescer, tornar-se adulto e abandonar as travessuras infantis: não declara guerra à criança para que se transforme repentinamente em adulto.  

A Árvore do Evangelho



A Árvore do Evangelho
por Luiz Gomes da Silva
Reformador (FEB) Junho 1946

Jesus, em seus ensinos, deixou-nos lições imorredouras, que hão de atravessar séculos e mais séculos sem que percam o brilho significativo do seu esplendor. Uma das parábolas que muito nos tem dado que meditar, por nos dizer respeito, é a da figueira condenada pelo Mestre por não dar frutos e que possuía uma ramagem frondosa à cuja sombra procuravam abrigar-se do sol escaldante os pássaros do céu, Estes, porém, vasculhando as folhas em procura de figos para se alimentarem, e não os encontrando, eram forçados a abandoná-la, indo em busca de outra que além de folhas tivesse figos. É o que está acontecendo em nossos dias com as velhas Igrejas, ao serem abandonadas por seus adeptos, por não produzirem elas frutos que satisfaçam os que pensam e raciocinam.
Essas religiões dominam e imperam em algumas nações, às quais chamamos civilizadas. Prova de sua influência, tivemo-la há pouco, quando os representantes das nações unidas proclamaram, alto e bom som, que eram cristãos, e por essa razão não se reuniriam no dia de Sexta-feira Santa. Se assim procedessem, tão religiosamente, na prática dos evangelhos de Jesus, jamais provocariam guerras: suas consciências viveriam constantemente vibrando emocionadas pelo amor fraterno que deve unir todos os filhos de Deus. Mostram essas criaturas serem rígidas na observância dos dias santificados pelas igrejas ricas em bens terrestres e tão pobres em atos fraternais, benzendo canhões e espadas que hão de ferir e matar os seus semelhantes. Esquecidos do "Não matarás", os povos que se dizem cristãos, dominados pelo egoísmo, desencadeiam guerras devastadoras, que causam mais dano do que todos os terremotos e vulcões provocados pelas leis da Natureza. Ao contemplarmos os quadros de miséria que a guerra produziu, chegamos à conclusão de que os povos não terão mais fé nas igrejas, que, após séculos de domínio moral e religioso sobre a Humanidade, não foram capazes de impedir as guerras que têm ensanguentado os campos da Europa. Voltam-se então eles para o Espiritismo, em busca do conforto moral e espiritual que nas suas religiões não encontram. Não se conformam de modo algum com a maneira dolorosa, bárbara e selvagem, pela qual perderam os seus entes queridos.
O Espiritismo científico, filosófico e religioso, lhes diz que seus pais, seus irmãos e amigos não morreram; vivem eternamente, podendo com eles comunicarem-se, mantendo, no mesmo grau de elevação espiritual, o amor que os ligou na Terra. Aos espíritas do Brasil, como vanguardeiros da Boa-Nova que há de trazer a paz ao mundo, é-lhes confiada uma das mais grandiosas missões qual seja a de cuidar com afeto e carinho das milhares de figueiras, que são os centros espíritas espalhados por todo o País.
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E assim a ideia vai caminhando c vencendo os obstáculos da rotina.

domingo, 18 de março de 2018

Lembra-te, auxiliando



Lembra-te, auxiliando
Emmanuel  por Chico Xavier 
CEC, Uberaba, em 2-11-1962

            Lembra-te dos mortos, auxiliando...
            Indiscutivelmente, todos eles agradecem a flor de saudade que lhe atiras, mas, redivivos qual se encontram, se pudessem te rogariam diretamente mais decisiva cooperação, além do preito de superfície.
            Supõe-te no lugar deles, de quando em quando, notadamente daqueles que se ausentaram da Terra carregando dívidas e aflições.
            Imagina-te largando a convivência dos filhos recém-chegados ao berço crivado de privações e pensa na gratidão que te faria beijar os próprios pés dos amigos que se dispusessem a socorrer-lhes o estômago torturado e a pele desprotegida.
            Prefigura-te na condição dos que se despediram de pais desvalidos e enfermos, por decreto de inapelável separação, e pondera a felicidade que te tangeria todas as cordas do sentimento, diante dos irmãos que te substituíssem o carinho, ungindo-lhes a existência de esperança e consolo.
            Julga-te no agoniado conflito dos que partiram violentamente, sob mágoas ferozes, legando à família atiçados braseiros de aversão, e reflete no alívio que te sossegaria a mente fatigada, perante os corações generosos que te ajudassem a perdoar e servir, apagando o fogo do sofrimento.
            Considera-te na posição dos que se afastaram à força, deixando ao lar aflitivos problemas e medita no agradecimento que sentirias ante os companheiros abnegados que lhes patrocinassem a solução.
            Presume-te no círculo obscuro dos que passaram na Terra, dementados por terríveis enganos, a suspirarem no Além por renovação e progresso, e mentaliza o teu débito de amor para com todos os irmãos que te desculpassem os erros, propiciando-te vida nova, em bases de esquecimento.
            Podes, sim, trabalhar em favor dos supostos extintos, lenindo-lhes o espírito com a frase benevolente e com o bálsamo da prece, ou removendo as dificuldades e empeços que lhes marcam a retaguarda.
            Lembra-te dos mortos, auxiliando...
            Não apenas os vivos precisam de caridade, mas os mortos também.


Finados



Finados
Isolino Leal
por Chico Xavier

Finados!... Feliz do morto
Que encontra, pensando em casa,
Uma oração de esperança,
À beira da cova rasa.

O mais belo culto aos mortos,
No pesar que te alanceia,
Será fazer da saudade
Lenitivo à dor alheia.

Dois de Novembro!... Finados!...
Convenção em romaria...
Para quem ama a saudade
É pena de todo dia.

Num sepulcro visto ao longe,
A chama de vela acesa
Parece um lenço acenando
De um cais de cinza e tristeza.

Não sei porque tanto choro
Quando a morte altera a vida...
Todo momento na Terra
Tem gosto de despedida.

sexta-feira, 16 de março de 2018

Simplicidade



Simplicidade
por José Brígido (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Dezembro de 1946

"Quando temos consciência de nosso papel: mesmo o mais obscuro, só então somos felizes. Só então podemos viver em paz e morrer em paz, pois o que dá um sentido à vida, dá um sentido à morte" - escreveu o malogrado Antoine Saint-Exupery. O mal do homem é que nem sempre resolve com acerto os seus problemas. Esquecido de que a vida não é mero acidente biológico, tenta forçar as realidades que o cercam e vai, assim, muitas vezes erradamente, forjando o seu próprio destino. Ilude-se com as conquistas da vanglória e se supõe um vitorioso quando acumula riquezas ou quando retém nas mãos a força e o arbítrio. Não se lembra que, acima de sua vontade, paira uma Vontade maior, uma Vontade soberana, que todos sentimos, mas que nenhum de nós sabe definir...

Se todos tivessem consciência de seu verdadeiro papel na vida, o mundo não estaria encharcado de sangue, dividido pelo ódio, enceguecido pela ambição criminosa. Às vezes queremos ser mais do que podemos e para conseguir os nossos objetivos acumulamos responsabilidades progressivamente maiores e mais pesadas. Depois, revoltamo-nos contra o sofrimento que nos bate à porta. Mas a dor que invade os lares é a mesma que não recua ante o poder dos déspotas nem vacila ante a riqueza dos argentários. Ela cumpre, inexoravelmente, democraticamente, a sua função saneadora. Os que a compreendem, aproveitam-na em benefício próprio, atenuando seus efeitos peja compreensão dos deveres que devem aceitar e cumprir. Ela retifica rumos. As mais das vezes, representa um brado de alerta, um toque de sentido, uma advertência que os imprevidentes costumam desprezar. "Toda vida presente nada é em si - disse-o Constâncio Vigil. Mas constitui uma oportunidade para que a alma se purifique e engrandeça". A bondade e a tolerância encerram elementos capazes de tornar o homem feliz. Se cada qual adquirir plena consciência de sua posição em face da vida, estará mais perto da felicidade do que imagina. Só não somos felizes quando nos deixamos obumbrar pelas nuvens espessas da ambição egoística. A alegria pura está na vida simples e isenta de preconceitos. Se a Natureza é simples, se tudo nela é simplicidade, porque nós, que dela fazemos parte, não decidimos também ser simples? Preferimos embrenhar-nos em ínvios atalhos, onde nos esperam os espinhos das desilusões. Sentimos a volúpia da complexidade, amamos a confusão, abominamos a luz, porque o nosso íntimo abriga uma ânsia que se alimenta de nossa falta de espiritualidade. Buscamos com insensata persistência o lusco-fusco que precede a treva: abeiramo-nos do abismo por livre vontade, malgrado os sinais de perigo que a nossa intuição nos dá.

Procuramos sempre a felicidade onde ela não se encontra. Um século de saturação materialista foi suficiente para desgraçar o homem. Hoje, sentimo-nos até envergonhados quando nos convidam a olhar o Sol que desponta, lindo, soberbo, vivificante, espargindo luz e calor sobre todos os homens, sobre todas as nações, indiferente ao credo político e religioso de cada um, às raças que se agridem, aos povos que se hostilizam. O homem, dotado de inteligência e livre-arbítrio, persiste em quebrar a harmonia universal. Afasta-se do ritmo normal que a Natureza dá a tudo que é seu e se afoga no sangue de inocentes, reclama cabeças em nome de estranha justiça, destrói lares, calcina cidades inteiras, levando a morte, o luto, a dor e a miséria a todos os recantos do planeta! No entanto, "são as mesmas as qualidades que fazem o bom senhor e o bom servo, o bom chefe e o bom soldado. Um como outro é, antes de mais nada, um homem, e sabe o que esta palavra implica. Quem não sabe isso não sabe coisa alguma em parte alguma, e quem o sente é em toda parte o igual de todos. Eis o que chamo a simplicidade do coração, donde nasce a simplicidade da vida, dos gostos, dos costumes. Esta, simplicidade é ao mesmo tempo a mais alta dignidade, a mais autêntica nobreza, a maior das forças. O homem simples não procura elevar-se com se arrancar da sua camada, com singularizar-se, escapando à lei comum. Ele bem sabe que a força nos vem pelas raízes. Conserva-se sempre em contato com o robusto sulco popular de que saímos, com a vida normal e estreme de complicações." (C. Wagner.)

Tudo seria mais simples se o homem quisesse retomar à simplicidade. Vamos encontrar nesse livro suave e confortador, que é "Imitação de Cristo", estas palavras edificantes: ''0 homem tem duas asas, por meio das quais ele se eleva acima das coisas da Terra: são a pureza e a simplicidade". Não é a ambição que perde o homem, quando é honesta e razoável. A desgraça dele está no egoísmo, que polui a ambição, tornando-a execrável. Dizer-se que a bondade desviriliza o caráter humano é uma
injúria, porquanto o que ela produz é o fortalecimento moral, o revigoramento do espírito. O homem deve e precisa ter ambições, para corresponder aos objetivos superiores da vida. Desde, porém, que essas ambições sejam desvirtuadas pelo egoísmo e passem a constituir meio de coação e sofrimento para os seus semelhantes, tornam-se nocivas. Ser simples não é cair no abandono, na indiferença pelas coisas boas e belas que a vida tem: é justamente lutar pelo embelezamento e engrandecimento da vida, pelo aproveitamento honesto de tudo quanto ela nos pode oferecer. Ser simples é integrar-se na harmonia universal, pelo pensamento e pelos atos, O homem que não sabe odiar e que olha para os outros homens com o coração brando e amoroso, é um simples. A felicidade mora dentro de si, tanto que seus sofrimentos são atenuados pela resignação que a compreensão da vida oferece. Cantemos, com Exupery, este hino de fraternidade: “A experiência mostra que amar não é olhar um para o outro, mas olhar juntos, na mesma direção. Cada um se exalta por religiões que lhe prometem essa plenitude. Todos, sob palavras contraditórias, exprimem os mesmos impulsos. Dividimo-nos por causa de métodos que são frutos de nosso raciocínio, e não por causa de fins; estes são os mesmos. De nada vale discutir ideologias. Se todas se demonstram todas também se opõem, e tais discussões fazem desesperar da salvação do homem. Quando o homem em toda parte, ao redor de nós, expõe as mesmas necessidades, queremos ser libertados. O que dá uma enxadada no chão quer saber o sentido dessa enxadada. E a enxada do forçado, que humilha o forçado, não é a mesma enxada do lavrador, que exalta o lavrador. A prisão não está ali onde se trabalha com a enxada. Não há o horror material. A prisão está ali, onde o trabalho da enxada não tem sentido, não liga quem o faz à comunidade dos homens. E nós queremos fugir da prisão".

Que somos todos nós, senão prisioneiros? Por nossa própria vontade enfiamos a cabeça na golilha dos desvios morais. Depois, gritamos por liberdade, protestamos contra as ordens a que nós mesmos nos prendemos... Não encontraremos a liberdade cá fora, mas dentro de nós. De lá é que ela terá de partir... Sem vencermos as paixões que nos envenenam e enegrecem a alma, jamais seremos livres. E somente seremos livres quando formos simples.

quinta-feira, 15 de março de 2018

O Avarento



O Avarento
por Abel Gomes
 Reformador (FEB) Setembro 1946

Passeando pela região do Crepúsculo, aqui no mundo astral, encontrei alguns Espíritos humanos chegados da minha Pátria.
Entre eles havia um comerciante, desencarnado já há anos, mas que ainda só pensava em dinheiro, lucros e mercadorias.
Quando o avistei, estava ele assentado a uma secretária, contando dinheiro; peças de ouro, papel—moeda, lá se achavam em sua frente, e sorridente ele as contava. Cumprimentei-o. Ele logo estremeceu e cobriu com um pano o seu tesouro e exclamou: "Retira-te! ou eu chamo o meu cão!" Estava pálido. "Não tenhas medo de mim", disse-lhe eu; "meu amigo, não me reconheces? eu sou o Abel".
Respondeu-me: "Queres comprar alguma coisa? à vista? Emprestar eu não empresto."
Não vi mercadorias nem armazém: só na imaginação ele as tinha.
Perguntou-me ele: "Mas porque vieste aqui? Hoje não é dia de visitas."
Soprou um vento, levantou-se o pano; e nem dinheiro nem ouro reapareceram, só havia areia e folhas secas.
O Espírito avarento se enraiveceu: "Restitui-me o meu dinheiro, já!" - exclamou ele ameaçando-me com uma arma.
Eu sorri: "Teu dinheiro, meu amigo, era simples aparência inútil. Não vives na Terra; por isso o ouro e o cobre não te podem aqui valer pois que aqui só valem boas ações, boa mente e bom coração".
Mas o avarento não me entendeu, porque de repente pôs-se a correr para um lugar onde uma coisa parecia brilhar; e eu o ouvi murmurando: "Lá está o meu ouro!" Mas chegando ao lugar brilhante só viu um pirilampo e ficou triste, porque não era o brilho vão do ouro.
Desejei esclarecer-lhe seu estado, porém ele fugiu de mim e não quis ouvir-me. Voltei ao meu caminho, fazendo por ele uma prece a Deus.

Dai de graça



Dai de Graça
Fred Fígner
Reformador (FEB) Julho de 1946

Jesus, reunindo os doze apóstolos, deu-lhes poder sobre Espíritos impuros, a fim de que os expulsassem e curassem todas as moléstias e enfermidades. Dando-lhes as instruções necessárias, lhes disse: "Ide, e pregai, dizendo: O reino dos céus está próximo; curai os doentes, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expulsai os demônios: dai de graça o que de graça recebestes.” (Mateus, cap. 10).

Como os apóstolos curavam, assim os novos discípulos da nova revelação também receberam a graça de, em nome de Jesus, curar os enfermos, receitando remédios e impondo as mãos, segundo ensinou o Senhor. Se os apóstolos não receitavam homeopatia, é porque naquela época não havia nada daquilo que hoje existe.

Tomando em consideração o ensino do Senhor: "Dai de graça", desde o advento do Espiritismo, os médiuns que surgiram no Brasil têm posto em prática esse ensino, com uma única exceção de que me lembro.

Tornei-me espírita devido a um diagnóstico, um prognóstico e uma receita dada pelo médium Domingos Filgueiras Lima, que morava em Vila Isabel e que era o chefe dos guardas da Alfândega. Este, além de receitar diariamente na Guarda-Moria todas as tardes dava receitas na Federação Espírita, na rua do Rosário, 133. Isto foi em 1900.

Lá também receitavam todos os dias outros médiuns: Manuel José Lacerda, Francisco Marques, Francisco Lima, Manuel Quintão, Nilo Fortes, Antônio de Almeida, Serafim Justino, Capitão Paiva, e outros cujos nomes me escapam. Em Botafogo, o Inácio Bittencourt deu milhões de receitas nos 50 anos de seu serviço ao Senhor. Antes deles, outros médiuns existiam, um dos quais o Dr. F. L. Bittencourt Sampaio, que, abandonando a política, após ter sido presidente da Província do Espírito Santo retomou o seu lápis como médium receitista e publicou a Divina Epopeia, reeditada pela Livraria da Federação, ultimamente.

A exceção a que acima me referi era o médium Nascimento. Foi um bom médium. Serviu-se dele o Dr. Dias da Cruz. Os seus diagnósticos eram todos vazados em linguagem científica da época e as suas receitas eram muito certas. O Nascimento, porém, cobrava, a quem podia pagar, cinco mil réis pela receita e mais cinco se fosse a mesma com diagnóstico. Não era ligado, ao que eu saiba, a nenhum Centro Espírita.

Muitos o criticavam pelo seu modo de proceder. Tinha um tílburi e visitava os doentes como médico. Quando chegou o seu dia de partir para a esfera espiritual, tivemos uma surpresa: o Espírito do Dr. Luiz Antônio Sayão, em sessão semanal do Grupo "Ismael", nos disse que havia alegria no Céu pela volta do trabalhador fiel ao convívio dos companheiros de jornada. A surpresa foi geral, pois o Nascimento cobrava as receitas.

Quando, porém, se foi ver o que o Nascimento havia deixado, o que se viu foi uma pequena farmácia de homeopatia e nas gavetas 78 contos de recibos de alugueis de casas por ele pagas para gente pobre. Recebia com uma das mãos e distribuía com a outra.

Não há dúvida de que há por ai, e sempre houve criaturas que se dizem espíritas e médiuns, e que exploram a credulidade pública e cobram pelos serviços que prestam dando passes, mas, esses não são espíritas, no verdadeiro sentido, não atinaram com a responsabilidade e o dever do verdadeiro espírita.

            No Espiritismo, o receituário e os passes devem ser dados de graça. O médium receitista, sem a assistência do Espírito-médico, nada pode fazer e o médium curador também precisa da assistência do Espírito que dele se serve como instrumento.

Há o magnetizador, mas este não se pode chamar de médium, porque ele está gastando do seu magnetismo animal que, se abusar dele, se esgota, se não for também por sua vez suprido por um Espírito e neste caso deve dar gratuitamente os passes.

Segundo ouvi, por diversas vezes, Espíritos iluminados dizerem, o médium é, em geral, ou com raras exceções, um Espírito falido, culpado de crimes de existências anteriores, que pede a esmola da mediunidade como meio de resgate de suas faltas;
Trabalhando, pois, como médium, cumpre o compromisso solenemente assumido.

Quem assim proceder não faz mais do que cumprir o seu dever e um compromisso assumido antes de baixar à Terra, pois desta maneira resgatará e reparará faltas de existências passadas. Terá ocasião de ser útil e beneficiar muitas criaturas a que em passadas existências tenha prejudicado.

Não devo deixar de me referir aos médiuns de incorporação, que mais trabalham para a demonstração da sobrevivência da personalidade humana ao fenômeno da morte do corpo como também, para os trabalhos de esclarecimento dos Espíritos sobre o seu estado espiritual. Para mim são os mais importantes por servirem para doutrinação dos Espíritos que se comprazem em perseguir os seus desafetos de outras encarnações, que são em grande parte os considerados loucos, ou se encostam em criaturas que gostam de bebidas e as transformam cm bêbados, em aparentes viciados, quando de fato eles apenas servem à satisfação do anseio que os viciados desencarnados sentem pela cachaça.