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quinta-feira, 15 de março de 2018

Dai de graça



Dai de Graça
Fred Fígner
Reformador (FEB) Julho de 1946

Jesus, reunindo os doze apóstolos, deu-lhes poder sobre Espíritos impuros, a fim de que os expulsassem e curassem todas as moléstias e enfermidades. Dando-lhes as instruções necessárias, lhes disse: "Ide, e pregai, dizendo: O reino dos céus está próximo; curai os doentes, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expulsai os demônios: dai de graça o que de graça recebestes.” (Mateus, cap. 10).

Como os apóstolos curavam, assim os novos discípulos da nova revelação também receberam a graça de, em nome de Jesus, curar os enfermos, receitando remédios e impondo as mãos, segundo ensinou o Senhor. Se os apóstolos não receitavam homeopatia, é porque naquela época não havia nada daquilo que hoje existe.

Tomando em consideração o ensino do Senhor: "Dai de graça", desde o advento do Espiritismo, os médiuns que surgiram no Brasil têm posto em prática esse ensino, com uma única exceção de que me lembro.

Tornei-me espírita devido a um diagnóstico, um prognóstico e uma receita dada pelo médium Domingos Filgueiras Lima, que morava em Vila Isabel e que era o chefe dos guardas da Alfândega. Este, além de receitar diariamente na Guarda-Moria todas as tardes dava receitas na Federação Espírita, na rua do Rosário, 133. Isto foi em 1900.

Lá também receitavam todos os dias outros médiuns: Manuel José Lacerda, Francisco Marques, Francisco Lima, Manuel Quintão, Nilo Fortes, Antônio de Almeida, Serafim Justino, Capitão Paiva, e outros cujos nomes me escapam. Em Botafogo, o Inácio Bittencourt deu milhões de receitas nos 50 anos de seu serviço ao Senhor. Antes deles, outros médiuns existiam, um dos quais o Dr. F. L. Bittencourt Sampaio, que, abandonando a política, após ter sido presidente da Província do Espírito Santo retomou o seu lápis como médium receitista e publicou a Divina Epopeia, reeditada pela Livraria da Federação, ultimamente.

A exceção a que acima me referi era o médium Nascimento. Foi um bom médium. Serviu-se dele o Dr. Dias da Cruz. Os seus diagnósticos eram todos vazados em linguagem científica da época e as suas receitas eram muito certas. O Nascimento, porém, cobrava, a quem podia pagar, cinco mil réis pela receita e mais cinco se fosse a mesma com diagnóstico. Não era ligado, ao que eu saiba, a nenhum Centro Espírita.

Muitos o criticavam pelo seu modo de proceder. Tinha um tílburi e visitava os doentes como médico. Quando chegou o seu dia de partir para a esfera espiritual, tivemos uma surpresa: o Espírito do Dr. Luiz Antônio Sayão, em sessão semanal do Grupo "Ismael", nos disse que havia alegria no Céu pela volta do trabalhador fiel ao convívio dos companheiros de jornada. A surpresa foi geral, pois o Nascimento cobrava as receitas.

Quando, porém, se foi ver o que o Nascimento havia deixado, o que se viu foi uma pequena farmácia de homeopatia e nas gavetas 78 contos de recibos de alugueis de casas por ele pagas para gente pobre. Recebia com uma das mãos e distribuía com a outra.

Não há dúvida de que há por ai, e sempre houve criaturas que se dizem espíritas e médiuns, e que exploram a credulidade pública e cobram pelos serviços que prestam dando passes, mas, esses não são espíritas, no verdadeiro sentido, não atinaram com a responsabilidade e o dever do verdadeiro espírita.

            No Espiritismo, o receituário e os passes devem ser dados de graça. O médium receitista, sem a assistência do Espírito-médico, nada pode fazer e o médium curador também precisa da assistência do Espírito que dele se serve como instrumento.

Há o magnetizador, mas este não se pode chamar de médium, porque ele está gastando do seu magnetismo animal que, se abusar dele, se esgota, se não for também por sua vez suprido por um Espírito e neste caso deve dar gratuitamente os passes.

Segundo ouvi, por diversas vezes, Espíritos iluminados dizerem, o médium é, em geral, ou com raras exceções, um Espírito falido, culpado de crimes de existências anteriores, que pede a esmola da mediunidade como meio de resgate de suas faltas;
Trabalhando, pois, como médium, cumpre o compromisso solenemente assumido.

Quem assim proceder não faz mais do que cumprir o seu dever e um compromisso assumido antes de baixar à Terra, pois desta maneira resgatará e reparará faltas de existências passadas. Terá ocasião de ser útil e beneficiar muitas criaturas a que em passadas existências tenha prejudicado.

Não devo deixar de me referir aos médiuns de incorporação, que mais trabalham para a demonstração da sobrevivência da personalidade humana ao fenômeno da morte do corpo como também, para os trabalhos de esclarecimento dos Espíritos sobre o seu estado espiritual. Para mim são os mais importantes por servirem para doutrinação dos Espíritos que se comprazem em perseguir os seus desafetos de outras encarnações, que são em grande parte os considerados loucos, ou se encostam em criaturas que gostam de bebidas e as transformam cm bêbados, em aparentes viciados, quando de fato eles apenas servem à satisfação do anseio que os viciados desencarnados sentem pela cachaça.




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