Pesquisar este blog

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Seleção cármica do mundo


Neste mundo tumultuado em que vivemos, sacudido, sem nenhuma dúvida, pela necessidade mais acentuada de depuração, somos todos forçados a tomar conhecimento de fatos gravíssimos, porquanto demonstram que a natureza humana, apesar de tantos e tantos séculos de civilização, ainda está contaminada por Espíritos impuros, capazes de provocar o desespero, como, aliás, está acontecendo, em virtude da utilização de até então não conhecidos processos de violência e rebeldia. São, evidentemente, Espíritos ainda cegos pelo ódio, e alucinados pela ânsia de vingança, ainda na suposição de que o melhor remédio para os males humanos é a força, a intolerância e o fanatismo ideológico.

A Terra passa por severo e extenso período de transição, a caminho de uma nova Era. Essa transição é multiforme, e não apenas moral e espiritual. Além do gigantesco desenvolvimento científico, de que os progressos tecnológicos nos dão idéia clara e insofismável, há a tentativa do Materialismo, convencido, por certo, de que estabelecerá definitivamente seu domínio discricionário neste planeta, se, num derradeiro e desesperado esforço, expulsar do seio da humanidade o sentimento religioso que lhe é inato, não obstante tantas teorias confusas e efêmeras pretenderem que tal sentimento não passa de mito criado pelo próprio homem, quando despertava para a vida intelectual e ainda não possuía nenhuma explicação para os fenômenos da Natureza, que tanto o assustavam e preocupavam.

Entretanto, já começou o trabalho de expurgo anunciado pelas profecias. Será cruento e demorado. Todas as imundícies da alma humana não evoluída virão à tona, como estão vindo, para que se alcance a catarse indispensável ao estabelecimento de uma vida simples e pacífica, na qual os homens se compreendam e se respeitem, e se amem, realizando na Terra "o reino dos céus" de que nos falam os Evangelhos. A limpeza começou, pois a roda cármica foi acionada com energia pelos próprios faltosos, e os efeitos aí estão, à vista de todos: grupos que se hostilizam, derramando sangue, semeando a intranqüilidade, conspurcando as mais belas conquistas humanas, até que, esgotados os recursos da violência e da desumanidade, satisfeitas as exigências cármicas criadas e alimentadas por Espíritos divorciados do Bem, possa ir este planeta, a pouco e pouco, curando suas feridas, buscando o reequilíbrio social e compreendendo, depois de tantas dores individuais e coletivas, que sem o Evangelho não há salvação.

Os desatinos têm sido tantos, e tão diversificados, que até os mais delicados animais sofrem a crueza da ação de pessoas gananciosas. Não faz muito tempo, os jornais descreveram o sacrifício de milhares de pintinhos, a pretexto de serem salvaguardados discutíveis interesses econômicos (?). Para maior tristeza nossa, o fato aconteceu no Brasil... Por toda parte da Terra, a ansiedade e o medo acicatam o homem. Em nome da liberdade, matam-se inocentes. Em nome do direito, sacrificam-se pessoas inermes, deixando que o desespero ajude a maldade a dominar a Terra, como se o Anticristo esperado já estivesse com o seu macabro programa em execução.

Aqueles que se afeiçoam ao estudo das profecias, e acompanham com religioso interesse a vida contemporânea hão de ter verificado que os acontecimentos que estão agitando o mundo, a começar pelos desentendimentos no Oriente Médio, foram previstos com absoluta precisão, e com absoluta precisão estão observando que os eventos de cada dia se conjugam para a comprovação real, embora trágica, dos fatos que assinalam a tarefa catártica deste fim de século. 
           
Jeane Dixon, famosa vidente católica norte americana, que predisse o assassínio de John Kennedy, Presidente dos Estados Unidos da América do Norte, além de numerosos outros vaticínios já confirmados, anunciou já haver nascido no Oriente Médio aquele que será reconhecido como AntiCristo, e que a renovação espiritual da Terra tornar-se-á mais evidente depois de 1999, isto é, às vésperas do repontar do ano 2000.

A crosta planetária também está sendo preparada para tão acalentador acontecimento. Inúmeras transformações geológicas, climáticas, etc., têm sido apontadas por cientistas de idoneidade real. O orbe modificar-se-á para dar novo ambiente à humanidade também modificada. É a Lei de evolução que se desenvolve, ressaltando a grandeza da Inteligência Divina, que os cépticos contestam, esquecidos de que ninguém deixará de ter o seu quinhão, quando chegar o momento decisivo, quando a Verdade se mostrar em toda a sua opulência e todo o seu poder incoercível. Não será destruído o planeta, mas os Espíritos rebeldes e reincidentes, que terão, agora, a sua derradeira oportunidade de reabilitação, experimentarão as consequências de suas reiteradas ofensas à Lei divina, sofrendo o exílio corretor em esferas mais inferiores, para que se libertem dos instintos ferozes que tanto têm conturbado a vida humana.

Talvez se julgue que estejamos fantasiando ou que pretendamos fazer ficção com assunto tão importante. Nada disso. Nossas palavras fundamentam-se nas profecias, que começam nas Sagradas Escrituras, transitando pelo Apocalipse de João, e varando os tempos, através de outros intérpretes, nem sempre levados a sério, mas que, em sua humildade, têm trazido à humanidade a previsão do que a espera, em virtude da reincidência no mal, no desdém às advertências do Alto, na teimosia irracional de admitir que o Espírito imortal possa, um dia, ser escravizado pelo ateísmo materialista.

Quando alguém trata destes assuntos, fala no deserto. O menos que dizem é que está com o "miolo mole", tornou-se místico, está "atuado", etc. A roda cármica continua girando incessantemente.

Foi predito que o materialismo e o hedonismo avassalariam o mundo atual, e que a juventude inexperiente seria iludida e levada a movimentos estranhos e bizarros de reivindicações muitas vezes absurdas. Quem quiser ter o trabalho de um exame retrospectivo do que aconteceu numa só década 1960-1970) poderá tirar conclusões seguras de que as previsões não foram exageradas. Disseminaram-se pelo mundo a irresponsabilidade e a violência; a segurança individual e coletiva, principalmente em determinadas regiões da Terra, tornou-se precária; aumentou em toda parte o índice de criminalidade; o monopólio do petróleo está evidenciando a progressiva dificuldade que o Oriente impõe ao Ocidente, sacrificando a economia de numerosas nações e provocando perturbações inúmeras. E essa economia, por força da hegemonia oriental no campo petrolífero, tornou estática a balança econômico-financeira de nações que aspiram ainda a libertar-se do subdesenvolvimento, acarretando inquietações sociais bem visíveis.

Por uma espécie de atavismo, ou que melhor e mais apropriado nome tenha, paira a impressão de que as agruras experimentadas no passado remoto pelo Oriente, ante o avassalamento do Ocidente, inclusive através das Cruzadas, voltam-se  agora contra o mundo ocidental. Isto nada mais é do que o retorno cármico, que nunca falha e não poupa indivíduos, coletividades, nações. Não nos tomem por símile de Cassandra. Não. Consultem-se as profecias, busquem-se as verdades que nelas se encontram, não raro veladas pela letra. Lembremo-nos da advertência de Paulo: "Segui a caridade; contudo, aspirai aos dons espirituais, porém sobre todos ao de profecia. O que fala em língua não fala a homens, senão a Deus; pois ninguém o entende, mas em espírito fala mistérios. Porém, aquele que profetiza, fala a homens para edificação, exortação e consolação. Aquele que fala em língua edifica-se a si mesmo; mas, o que profetiza, edifica a igreja (isto é, a religião). Quero que todos vós faleis em línguas, mas, antes, que profetizeis; maior é aquele que profetiza do que aquele que fala em línguas, a não ser que as interprete, para que a igreja (a religião, esclarecemos) receba a edificação" (I Coríntios, 14-1/5). (Parêntesis nossos.)

Já iniciada a idade apocalíptica em 1914, o período mais trágico e' lúgubre da história da humanidade processou-se com a ascensão de Hitler ao poder, e a consequente conflagração bélica que sacrificou milhões de seres e mudou a face do mundo, desde então perturbada pela Besta, que buscou aprimorar-se no extermínio cruel, frio e satânico de milhões de judeus, conforme se pode ver, recentemente, num programa impressionantemente macabro apresentado na Televisão brasileira.

Todos esses fatos se encadeiam, estão inter relacionados, mostrando a que requintes de maldade pode ser levado o homem divorciado de Deus. Todavia, o poder extraordinário de Hitler chamado então, "a nova encarnação de Átila", superou folgadamente o Rei dos Hunos, que, no século V a.C., varreu o Oriente e o Ocidente, semeando a dor e o luto, o desespero e o terror, até surgir a punição que o aguardava, em 451, quando foi derrotado por Aécío, Meroveu e Teodorico. Morreu na noite de seu casamento com a princesa Hilda, da Borgonha...

No século VIII, entretanto, uma vidente conhecida como Santa Odila, teve uma visão profética:

"Ouve, ouve, ó meu irmão, que eu vi o terror das florestas e das montanhas. O espanto gelou os povos. Chegou o tempo em que a Germânia (hoje, Alemanha) será chamada a nação mais belicosa da Terra. Chegou a época em que surgirá do seio do seu povo o guerreiro terrível, que empreenderá a guerra do mundo e a quem os povos armados chamarão o Anticristo, aquele que será amaldiçoado pelas mães, chorando, como Raquel, seus filhos, e não querendo ser consoladas. Vinte povos diversos combaterão nesta guerra. O conquistador sairá das margens do Danúbio. (...) A guerra que empreender será a mais pavorosa que as criaturas humanas jamais terão sofrido. ( ... ) Ele alcançará vitórias em terra, no mar e até nos ares, pois se verão seus guerreiros alados, em cavalgadas inimagináveis, elevarem-se até ao firmamento, para aí se apoderarem das estrelas, a fim de as arremessarem sobre as cidades e nelas atearem grandes incêndios. ( ... ) Entretanto, o conquistador terá atingido o apogeu de seus triunfos cerca do meio do sexto mês do segundo ano das hostilidades: será o fim do primeiro período, dito de vitórias sangrentas ("Cruentarum victoriarum"). Julgará ele, então, poder ditar suas condições."

Aqui, um parêntese: A visão foi de uma clareza impressionante. Aí está retratado Hitler. Os trechos grifados ressaltam a realidade dos fatos previstos. Os "guerreiros alados" são os aviadores da Luftwaffe; as estrelas, os terríveis explosivos usados nos ataques aéreos. O leitor não terá dificuldade de verificar, por si mesmo, o realismo da descrição. Continuemos, porém:

"A segunda parte da guerra será igual, em duração, à metade da primeira e será chamada de "tempus deminutionis" (o período da diminuição). Será fecunda em surpresas (rebus inopinatis), as quais farão tremer os povos. Pelo meio deste tempo, as populações submetidas ao conquistador clamarão: "Paz! Paz! ... " Mas não haverá paz alguma. Não será o fim, mas o começo do fim, quando o combate se travar na cidade das cidades. (O texto em latim diz: "Non finis, sed equidem finis, quando in oppido oppidorum de manu certaverint"). Neste momento, os seus quererão dilapidá-lo, mas, no Oriente, far-se-ão coisas prodigiosas.

"O terceiro período será de curta duração: Chamar-lhe-ão "período de invasão", porque, por uma justa compensação das coisas, o país do conquistador será invadido por todos os lados (ex omnibus partibus). ( ... ) Os povos crerão que seu fim está próximo, o cetro passará a outras mãos e os meus se regozijarão. Todos os povos espoliados recuperarão o que houverem perdido e alguma coisa mais. ( ... ) A região da Lutetia (antigo nome da França) será salva, etc. ("Assim falaram os profetas", de Ernst Izgur, edição em língua portuguesa, 1943, "Livros de Portugal, Ltda." - Rio, páginas 141/143).

Corroborando a espantosa profecia de Santa Odila, surgiu, no século XVII (ano de 1600), a profecia latina de Frei Johannes, da qual reproduzimos somente alguns trechos:

1) "Em 1889, nascerá, nas margens do Danúbio, um homem com o nome de Anticristo. (1)
2) Príncipe da mentira, invocará Deus e dirá, para justificar-se, que vem para castigar povos corrompidos. (2)
3) Durante muito tempo, agirá por traição, e, informado pelos seus espiões, que percorrerão toda a Terra, saberá os segredos dos poderosos. (3)
4) Terá doutos que justificarão a sua missão no mundo.
5) Uma guerra, porém, desmascara-lo-á. Seus exércitos numerosos, semelhantes a legiões infernais, invadirão várias nações, levando tudo de vencida e destruindo tudo à sua passagem", etc. (4)

Neste pequeno trecho de cinco itens (são 25 itens ao todo), podemos notar a segurança da predição completa:

(1) Adolf Hitler, que nasceu no lugar e ano indicados;
(2) os "povos corrompidos" citados são os judeus;
(3) a larga rede de espionagem mantida pelo nazismo;
(4) pessoas de relevo que apoiaram Hitler;
(5) a guerra que ele desencadeou e que terminou em 1945, com a sua derrota total.

Houve tempo em que a perseguição a hereges esvaziava todas as classes da sociedade, das mais humildes às mais elevadas. O concílio de Constança foi convocado, em 1415. Tinha ele um triplo fim:

1º a união da Igreja sob a direção e o domínio de um único Papa;
2º a reforma do clero;
3º a supressão da heresia.

A História conta-nos como a heresia foi erradicada, à custa de crimes inomináveis, inclusive contra inocentes. De conformidade com a orientação política estabelecida, esse concílio foi proclamado "concílio supremo", pretendendo a abdicação do Papa João XXIII, ratificando-se contra ele todas as acusações, algumas delas realmente monstruosas, que justificavam completamente o epíteto de "diabo encarnado", que lhe haviam atribuído. Foi mudado o modo de sufrágio, introduzindo-se o voto por nação, que reduzia os italianos a um único voto. Foi a esse mesmo concílio que João Huss se apresentou sob a proteção dum salvo-conduto do Imperador Segismundo, sendo, desde sua chegada, aprisionado. A 5 de junho desse mesmo ano, Huss foi conduzido, acorrentado à presença do concílio, que declarou que a fé concedida a um herético podia ser legitimamente violada.

A sessão conciliar foi tumultuosa, com protestos contra a traição a Huss. Muitas vozes ergueram-se a seu favor, clamando por sua libertação. Outras, ávidas de sangue, queriam a execução do preso. A reunião foi adiada. No mesmo dia um eclipse do Sol, que parecia total, em Praga, motivou comentários desencontrados. O Imperador estivera presente com todos os seus pares. Feita uma lista dos erros atribuídos a João Huss, redigiram uma fórmula de retratação, que ele recusou com as seguintes palavras: "Entrego-me a Jesus Cristo, o juiz poderoso e justíssimo. É a ele que confio minha causa, ele, que julgará cada homem, não se deixando iludir por falsos testemunhos ou por concílios desvairados, mas segundo a verdade e os méritos de cada um." A 1º de julho, o concílio reuniu-se solenemente. Trinta artigos contra Huss foram lidos, acusado, dentre outras coisas, de crer que o pão não era metamorfoseado depois da consagração. O prisioneiro, em sua angústia, olhou fixamente o traidor Segismundo e exclamou: "É, entretanto, sob a proteção do salvo-conduto do Imperador que vim aqui!" O monarca culpado não pode deixar de corar. João Huss foi forçado a ajoelhar-se para ouvir a sentença. Seus escritos e seu corpo foram consumidos pela fogueira daqueles que se inculcavam seguidores de Jesus!

Desculpe o leitor essa digressão que fizemos com o objetivo de traçar o quadro tétrico e intolerante enfrentado por João Huss, sobre quem escreveu Max (pseudônimo do Dr. Adolfo Bezerra de Menezes) :

"João Huss arranca das trevas da ignorância a idéia da pluralidade de existências e da comunicação dos espíritos, e João Huss é condenado à fogueira. Correm, porém, os tempos, e o hussismo, com o nome mudado em Espiritismo, vai avassalando o mundo, recebendo a sua sagração das mãos dos maiores sábios de nosso tempo." E ainda: "O Espiritismo é o nome próprio da doutrina de que João Huss foi precursor e de que Charcot é inconsciente apóstolo." ("Estudos Filosóficos" - I vol., páginas 240 e 242.)

O segundo ciclo iniciou-se no ano de 1594 e terminou em 1804. 

Acontecimentos históricos, astronômicos e geológicos, verdadeiramente espantosos, marcaram-lhe o período. Nele sobreveio a mais sangrenta e pavorosa de todas as revoluções de caráter social: a Revolução Francesa, que subverteu o regime monárquico-feudal, extinguiu a supremacia da nobreza latifundiária e estabeleceu um sistema social mais favorável ao progresso industrial e ao desenvolvimento econômico e político das camadas populares. A revolução de 1789 abriu novos horizontes para a humanidade, não obstante os clamorosos erros cometidos, as injustiças consumadas e crimes, como o assassínio do grande sábio Lavoisier, que envergonham a espécie humana. A varredura cármica foi terrível, tendo sacudido os alicerces da velha Europa, e repercutindo, com grande força, na vida política e social de todos os povos, através de líderes que, comumente, eram arrebatados pela demagogia e a solércia, na busca do poder.

O terceiro ciclo, de 1804 a 2014, ainda em curso, começou, efetivamente com a coroação de Napoleão Bonaparte pelo Papa, no dia 2 de dezembro de 1804. O Imperador corso dominou o mundo de sua época, mas não escapou ao determinismo cármico. Cumpria-lhe realizar uma missão importante, que a ambição desnaturou. Costumava dizer que "o futuro está nas mãos de Deus", sem se lembrar de que Deus nos conferiu o livre-arbítrio e o senso de responsabilidade para não irmos além do permitido por Suas leis. Constituem capítulo interessante da história de Bonaparte as superstições que cultivava, que o Dr. Cabanes relata em "O Consultório Secreto da História". Todavia, nem tudo era superstição. O Imperador era dotado de mediunidade intuitiva e dado a pressentimentos que se confirmavam, na maioria das vezes. Ele mesmo confessou duma feita: "Meus pressentimentos nunca me enganam." Era, igualmente, dado a visões e possuía inelutável aversão à letra M. Cabanes menciona a influência do M em sua vida: "Mortier fora um dos seus melhores generais. Três dos seus ministros haviam-se chamado Maret, Mollieu, Motativet. Seu primeiro camareiro chamava-se Montesquiou. O duque de Bassano, Maret, era o seu conselheiro mais ouvido. Seis marechais traziam nomes começando pela letra M: Masséna, Marmont, Mortier, Moncey e Murat. Marbeuf fora o primeiro a reconhecer sua capacidade na Escola Militar. Mas Mallet conspirou contra ele, Murat abandonou-o, depois de Marmonto Metternich batera-o no terreno da diplomacia. Entregou-se ao capitão Maitland, a bordo do navio Bellérophont. Em 1814, a resistência em Soissons teria salvado o Imperador, assegurando-lhe os resultados de sua marcha de flanco sobre os exércitos de coligação; o general que comandava aquela cidade chamava-se Moreau; ele abriu as portas muito cedo, e Napoleão, vendo falhar seu plano, exclamou: - Esse nome de Moreau sempre me trouxe desgraça!" Marengo fora - é verdade - a primeira vitória que obtivera sobre o general Mélas, um nome predestinado. Depois, ganhou as batalhas de Montemotte, Millesimo, Mondovi, Montmirail, Montereau. No entanto, foi completamente esmagado em Mont-Saint-Jean (Waterloo). Milão foi a primeira capital onde entrou como vencedor: Moskva, a última. Perdeu o Egito com Menou, e foi Miollis quem, por sua ordem, aprisionou o Papa. Em Santa Helena, dois de seus fiéis eram o criado de quarto Marchand e o general Montholou. Enfim, não foi em Malmaison que ele passou as poucas horas de calma e de felicidade que sua existência tão atribulada lhe permitiu?" Podemos apontar, também, como curiosidade (*), que o W (M invertido) também foi fatídico para Napoleão: Waterloo e Wellington. É sobremaneira interessante repetir estas outras palavras do Dr. Cabanes, por profundamente insuspeito, aos pontos de vista do Imperador. Diz ele: " ... Napoleão tinha notável tendência para sobrenatural." - "Napoleão é, ao mesmo tempo, intuitivo e o homem de ação. Admitamos que essa faculdade de intuição seja levada suficientemente longe para fazê-lo adivinhar o desconhecido, para dar-lhe esta visão "à longue portée" que, às vezes, lhe revelará de antemão os acontecimentos, em meio às brumas indecisas de um futuro longínquo, e então nos explicaremos aqueles pressentimentos, aquelas profecias que, num exame superficial, estaríamos inclinados a assemelhar a sonhos ocos." - "Napoleão acreditava na Providência e na alma imortal, e esta mistura de fatalismo e de espiritualismo não é assim tão incoerente, como poderia parecer à primeira vista. Para ele, a alma não era somente separada do corpo; ela poderia viver sua própria vida em atmosfera especial, toda sua, e que é o domínio que os nossos sentidos não nos permitem explorar, o domínio do oculto e do maravilhoso". (Vol. II, páginas 193-194).

(*) Vide, em "Obras Póstumas" -Segunda Parte-, a explicação de Allan Kardec a respeito das previsões da Sra. de Cardone, em 6-5-1857, que vira, na leitura das linhas das mãos do Codificador, a tiara espiritual. (Páginas 287 a 291, 15ª edição, FEB, 1975.)

Os grandes homens sempre deixam, na vida dos povos, na história da humanidade, rastros de sua passagem, marcas de ações que contribuem para precipitar ou para favorecer acontecimentos importantes no destino dos homens e do planeta. O terceiro ciclo tem-nos dado grandes sábios. Mas, também, o progresso intelectual e material, em conseqüência de benefícios que tornaram a existência mais cheia de prazeres e conveniências, o hedonismo e o materialismo cresceram em demasia. Os homens não quiseram compreender o grave erro de desprezarem os deveres espirituais. Aprenderam, em sua luta secular contra a Igreja romana, contra os excessos da intolerância e o desrespeito aos preceitos evangélicos, a supor que Deus é uma fantasia e que o homem se fez deus deste mundo material e intranqüilo em que vivemos. Mas, são falsos deuses, trabalhados pelo orgulho, pela vaidade, pelo egoísmo, pela ambição. Deuses de pés de barro, que não poderão jamais resistir às Leis espirituais a que todos estamos sujeitos. É tempo de se pensar no cultivo da alma. Os bens materiais são permissíveis desde que não proscrevam do pensamento humano os deveres espirituais.

Consultemos a História, da Revolução Francesa para cá. Veremos, como que numa tela cinematográfica, os acontecimentos notáveis que confirmam, uma a uma, todas as profecias da Bíblia, de Nostradamus, etc. Consultemos a obra do famoso Michel e encontraremos nela o relato sintético de todos os acontecimentos históricos que trouxeram a humanidade à situação que hoje defronta. O futuro está fatalmente entrelaçado ao pretérito. Os fatos de hoje foram engendrados ontem. É uma cadeia interminável de acontecimentos faustos e infaustos que impele a humanidade para o expurgo que há de vir. Os acontecimentos políticos e sociais nem sempre são obra do homem de hoje, mas de homens de ontem, que semearam o que hoje colhe a humanidade. Muitos poderão ver na atitude dos monopolizadores do petróleo no Oriente Médio uma consequência remota dos sofrimentos impostos aos orientais, inclusive durante as Cruzadas. Não há acontecimentos estanques. Pelo contrário, todos são solidários entre si, multo embora não tenhamos elementos para positivar essa correlação antiga e permanente da causa com o efeito.

Nas décadas porvindouras, tomem nota disto os jovens de agora, o mundo sofrerá terríveis comoções, e a humanidade será levada a experimentar as durezas da vida que o materialismo lhe tem dado, com o abandono do Evangelho. Aqueles que buscam o aconchego de Deus na Religião, cultivando o Bem e o Amor fraterno, esses serão o trigo que será cuidadosamente separado do joío condenado. As profundas alterações por que vem passando o mundo, aqui e ali, no comportamento humano, na subversão dos bons costumes, no repúdio à Moral cristã, são elementos que servem para configurar as condições novas que estão sendo geradas pelo processo cármico em andamento.

Adverte Emmanuel: "A Terra está povoada, em quase todas as latitudes, de seres que se desenvolveram com ela própria e que se afinam perfeitamente às suas condições fluídicas. Pequena percentagem de homens é constituída de elementos espirituais de outros orbes mais elevados que o vosso; daí, a enorme diferença de avanço moral entre os seres humanos e os abnegados apóstolos da luz que, em todos os tempos, tentam clarear-lhe as estradas do progresso. É comum conhecerem-se pessoas que nutrem perfeita adoração a todos os prazeres que o mundo lhes oferece. Por minuto de voluptuosidade, pela contemplação dos seus haveres efêmeros, por uma hora de contato com as suas ilusões, jamais procurariam o conhecimento das verdades da eterna vida do espírito; procuram toda casta de gozos, evitam qualquer estudo ou meditação e se entregam, freneticamente, ao bem-estar que a carne lhes oferta. Essas criaturas, invariavelmente, são espíritos estritamente terrenos, que não saem dos âmbitos da existência mesquinha do planeta; esta afirmação, porém, não implica, de modo geral, a origem desses seres em vosso próprio orbe, mas, sim, a verdade de que muitos deles, pelas suas condições psíquicas, mereceram viver em sua superfície, como prova, expiação ou meio de progresso. Apegam-se com fervor a tudo quanto seja carnal e experimentam o pavor da morte, inseguros na sua fé e falhos de conhecimentos quanto à sua vida futura.”

As profecias são um aviso, uma advertência, secundando a palavra do Cristo, Governador do planeta. Sodoma e Gomorra devem ser consideradas como expressão da materialidade e impiedade humana, como exemplo de que o materialismo e o ateísmo não são mais que forjas do sofrimento. Jamais se viu a Terra tão desorientada e revoltada como nestes tempos tumultuosos. O Evangelho foi esquecido, a Religião foi repudiada, a Fraternidade superior foi trocada pela solidariedade no vício e no mal. Todavia, os que hoje sorriem superiormente, ironizando o chamamento dos crentes em Deus, no Cristo e no poder redentor do Evangelho, esquecem-se de que a dor os acompanha, silenciosa, para acicatá-los na devida oportunidade. Mais tarde, não terão forças para ironizar, porque o sofrimento afugenta os sentimentos inferiores e desperta para a verdade. E, desta vez, tudo será mais sério, porque a humanidade terá pela frente, de novo, o Anticristo, em sua derradeira ofensiva.

"O Evangelho do Divino Mestre ainda encontrará, por algum tempo, a resistência das trevas. A má-fé, a ignorância, o simonismo, o império da força conspirarão contra ele, mas tempo virá em que a sua ascendência será reconhecida. Nos dias de flagelo e de provações coletivas, é para a sua luz eterna que a humanidade se voltará, tomada de esperança. Então, novamente se ouvirão as palavras benditas do Sermão da Montanha e, através das planícies, dos montes e dos vales, o homem conhecerá o caminho, a verdade e a vida" (Emmanuel).

"Que civilização é esta em que tudo o que é construído pelo homem serve para a destruição do próprio homem?" Essa era a pergunta que Leonardo Da Vinci fazia há mais de 450 anos. Dessa época aos nossos dias, o homem progrediu muito na arte de matar e de destruir. Tomemos como imagem simbólica desse sinistro progresso a bomba atômica, que destruiu Hiroxima e Nagasaki. Que civilização será esta nossa, quando a luz da explosão atômica seduz mais que a luz suave do Evangelho?"

Um monge de nome Johannes, há mais de cem anos, profetizou: "Em 1889, nascerá nas margens do Danúbio um homem que merecerá o nome de Anticristo." Nesse ano, nascia em Braunau, na Austria, Adolf Schucklburger, que, aos 21 anos, começaria a chamar-se Adolf Hitler. Segundo os numerologistas, o nome Schucklburger trazia influências maléficas, enquanto Adolf prevê gênio e felicidade. Entretanto, de acordo ainda com esses especialistas, o nome Adolf Hitler era também maléfico. Esse estudo foi feito antes de irromper a II Grande Guerra Mundial. Ver-se-á, pois, que a malignidade de Adolf Hitler foi além das piores expectativas. Mais do que Átila, foi ele considerado também o Anticristo.     

Mas, já foi anunciado que o 3º Anticristo é esperado nos últimos anos do século atual, que desencadeará a 3ª Guerra Mundial. Só a misericórdia divina poderá intervir para poupar a humanidade de tão extrema provação. Mas, que faz a humanidade para ir ao encontro dessa misericórdia? Nada. O panorama político-social do mundo não precisa de comentário.

O Espiritismo Cristão é o fanal da esperança que pode levar a humanidade à compreensão de Deus e à solução do problema da Verdade, através do Evangelho, em espírito e verdade

Obras consultadas: A BibIia, "Histoire du Développement Intellectuel de l"Europe" - J. W. Draper; "As Quatro Babilônías", de Marius Coeli; "Assim falaram os profetas", de Ernst Izgur"; "O Livro das Profecias", de Mozart Monteiro; "Profecias de Nostradamus", Marques da Cruz; "Les Prophéties de Maitre Michel Nostradamus", Dr. de Fontbrune; "Dom de Profecia pela fenomenal Jeane Dixon", de Ruth Montgomery; "The Call to Glory - Speakes of Jesus and Prophecy", de Jeane Dixon; "Profetas e Profecias" - Nostradamus, de João Paulo Frelre (Mário); "Novos Profetas do Médio Oriente", de Isaac Akcelrud; "A Profecia e o Fim dos Tempos", de Leoni Kaseff.

Seleção Cármica do Mundo
Indalício Mendes

Reformador (FEB) Julho 1976

domingo, 24 de janeiro de 2016

Evangelho e pregação




Nada é mais fácil do que a leitura dos Evangelhos, do que dizer-se que todos devemos ser assim e assim, para que a reforma individual contribua, a pouco e pouco, para a melhoria das coletividades. Escrever-se sobre os princípios de ordem moral, subir-se a uma tribuna e exaltar a beleza e a utilidade das lições de Jesus, tudo muito fácil. Aconselhar-se a exemplificação diária desses princípios e dessas lições, muito acertado e conveniente. Todavia, o principal é que aqueles que escrevem bonito ou falam bonito sobre essas coisas tão importantes sejam os primeiros a dar o exemplo em seu comportamento cotidiano; do contrário, é bem de ver, não passarão de infelizes enganadores de si mesmos, como os escribas e fariseus de que nos falam as Escrituras. Não há dúvida de que, mesmo
assim, conseguirão que alguém se resolva a praticar as lições evangélicas, pelo menos enquanto não souber que ele é “guia de cego”, mas cego também, porque não está em condições de demonstrar a sinceridade de suas palavras na prática diária, exemplificando o que aconselha aos outros.

Para cumprir o que determinam os Evangelhos é preciso coragem. Sim, coragem e força de vontade. Nós, que não temos sequer a semelhança das virtudes de Jesus, lutamos com a inferioridade moral que nos impôs as provas da reencarnação, precisamos ter muito ânimo, muita coragem, muita determinação para vencer a barreira que está em nosso íntimo. Não é fácil. Nem é trabalho para poucas horas ou poucos dias, porque muita vez as nossas mazelas surpreendem-nos quando já nos parece que estamos progredindo um pouco...

A responsabilidade dos que escrevem e pregam o Evangelho é gigantesca. Podem comprometer-se seriamente, se não se preocupam em pregar pelo exemplo, renunciando à vaidade que os aplausos estimulam, se não rejeitam de fato a idéia do “prestígio” que pode surgir aqui e ali. Alguns, no entanto, não se preocupam com o dia de amanhã. Fazem questão de figurar entre os maiores oradores ou os melhores articulistas, por vezes usando expressões inadequadas, que o ouvinte comum desconhece.

Alguns, “cegos, guias de cegos”, ainda não tiveram a necessária coragem de respeitar os Evangelhos, de tentar, com disposição, a árdua tarefa da exemplificação. Não souberam ainda aprender com os oradores que realizam com fé e superioridade a sua função na tribuna religiosa, e com o jornalista que, em vez de pensar em si mesmo, analisa com firmeza e devoção os pontos evangélicos que mais necessários se fazem a determinados auditórios.

            É preceito doutrinário: “...não vos isenteis dos deveres que os vossos cultos impõem, porquanto ainda agora, como ao tempo dos Hebreus e até que estejais bastante adiantados moral e intelectualmente, bastante purificados para não mais adorardes o Pai no monte ou em Jerusalém, para serdes adoradores do Pai em espírito e verdade, é necessário que tenhais um freio. Fazei, porém, de modo que o cumprimento de tais deveres seja uma homenagem sincera, sinceramente prestada ao grande Ser que reina sobre o Universo e não a marcha monótona e regular da máquina que funciona porque tem que funcionar. Não vos limiteis às práticas exteriores dos vossos cultos, omitindo, negligenciando a adoração verdadeira e a caridade do coração e dos atos, as quais, quando praticadas, constituem o amor a Deus, a justiça, a misericórdia e a fé” (“Os Quatro Evangelhos”, J.-B. Roustaing).

Há verdades que devem ser veiculadas, menos com o objetivo exclusivo de crítica destrutiva do que com a intenção de viver-lhes a mensagem com os companheiros que nem sempre se lembram de que colheremos amanhã o que semearmos hoje.

                         Evangelho e pregação
Tasso Porciúncula / (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Agosto 1976

O calvário e a obsessão




Ele viera para "que os que não criam cressem", e, para tanto, deveria doar a vida num supremo sacrifício.
Sabia que os homens, sanguissedentos, diante do Seu holocausto, passariam a encarar melhor a excelência do amor, entregando-se, posteriormente, em imitação ao seu gesto.
Para uma tão grandiosa oferenda, porém, conjugaram-se as forças díspares em luta no coração das criaturas.
Claro que não se fariam necessárias as acusações indébitas, a fuga dos amigos, a traição. Aos contumazes perseguidores da verdade não faltariam argumentos e manobras hábeis com que colimariam as suas metas nefárias.
Ele sabia que aquela seria a derradeira jornada a Jerusalém...
Ante a algaravia com que O saudaram à entrada, não entremostrou qualquer júbilo. Enquanto os amigos encaravam os aplausos como sinal evidente de triunfo, nEle ressoavam quais prenúncios das grandes dores ...
A ternura e passividade de que dava mostras durante aqueles dias inquietavam os mais afoitos, os discípulos mais invigilantes, os que anelavam pela glória terrena, não obstante as incessantes demonstrações e provas de que não estabeleceria no mundo as balizas do reino de Deus, e tampouco a felicidade real ...
A precipitação armou Judas de ansiedade, interiormente visitado pela indução hipnótica de Entidades perversas que lhe aproveitaram o desalinho da emoção, interessadas em desnaturar a mensagem e anular a força do amor pacificante.
As mesmas mentes desarticuladas pelo ódio, contrapondo-se ao "reino do Cordeiro", ante os receios gerais, perturbaram Pedro logo após a prisão do Amigo, fazendo-o vacilante, em face da negação que se permitiu repetidas vezes...
As mesmas forças da injunção criminosa em aguerrido combate reuniram-se, açodadas pela inveja e despeito, desde o domingo do triunfo aparente, à entrada de Jerusalém, a fim de converterem o Enviado de Deus no Excelso Crucificado...
Os ódios confraternizando com os ciúmes espalharam injúrias que eram glosadas pela ingratidão de muitos que lhe foram comensais da ternura e receberam de Suas mãos o pábulo da vida estuante.
Fervilhando as constrições obsidentes que se impunham, os adversários da liberdade espiritual da Terra, em desgoverno no Mundo Espiritual, dominaram os que se não armaram de vigilância e equilíbrio, tornando-se fáceis presas do Anticristo, a fim de que a tragédia do Gólgota se consumasse ..
Jesus, porém, houvera asseverado: "Quando eu for erguido, atrairei todos a mim."
Nenhuma surpresa, portanto, no Senhor, diante dos contornos volumosos da hecatombe que tomava forma contra Ele.
Em expressiva serenidade, esperou o eclodir apaixonado da força violenta dos fracos.
A noite fria e angustiante antes da prisão não lhe abatera o ânimo. Içara-O a Deus através da oração, e dulcificara-O, fazendo-O atingir a plenitude da auto doação.
*

As hordas desenfreadas da Espiritualidade inferior galvanizam no ódio os que se permitem as licenças das paixões dissolventes.
Sempre se repetirão aquelas cenas nos linchamentos das ruas, nas prisões arbitrárias, nas injustiças tornadas legais, quando as massas afluem aos espetáculos hediondos e se asselvajam, tornando-se homicidas incomparáveis.
Como podiam aquelas gentes desconhecer a brandura do Pastor Divino, esquecer Suas concessões e "prodígios"?
Como puderam selar os lábios aqueles beneficiários da Sua misericórdia e complacência, ante a arbitrariedade dos crimes que presenciavam?
A covardia moral, abrindo as faculdades psíquicas ao intercâmbio com os Espíritos imperfeitos e obsessores, todo o bem recebido negou, a fim de poupar-se. Transformou o inocente em algoz, em revolucionário desnaturado, e elegeu o crime como elemento de justiça.
O grande espetáculo da loucura coletiva se aproxima do Calvário.
A obsessão coletiva, como tóxico morbífico, domina os participantes da inominável atuação infeliz.
Ele não se defende, não reclama, nada pede.
Submete-se e confia em Deus.

*

As aragens da Natureza, de raro em raro, na tarde abafada, saturam-se das vibrações do desespero e do ódio que assomam e dominam os corações, entenebrecendo as mentes e explodindo no ar.
Sempre os homens exigirão uma vítima para a sanha dos seus tormentos.
Jesus é o exemplo máximo, o ideal para a consunção do desar que vencerá os séculos como a mais horrenda explosão coletiva que passará à História.
No bárbaro espetáculo, os pretensos dominadores da Erraticidade inferior crêem-se vitoriosos...
           Supõem estabelecidos os parâmetros dos seus domínios no mundo...
No entanto, quando o clímax da tarde de horror atemoriza as testemunhas da tragédia, Ele relanceia o olhar dorido e lobriga apenas João, Sua mãe e as poucas mulheres abnegadas aos pés da Cruz, fiéis, macerados e intimoratos, confiando...
É o bálsamo da alegria que Iene as imensas exulcerações que o dilaceram.
Nem todos desertaram. A fúria possessiva da treva não alcançara os que tiveram acesa a luz da abnegação e do amor.
Olhou além e mais profundamente os presentes e os que se refugiaram longe deles, os que armaram as cenas, os que se locupletam em gozos mentirosos sobre a fugidiça vitória. Seu olhar penetrou os promotores reais do testemunho, aqueles que transitavam livres das roupagens físicas...
No ápice da dor arquejante, bradou Jesus:
"Perdoa-os, meu Pai! Eles não sabem o que fazem."
A sinfonia patética logrou, então, o máximo. Toda a orquestração de dor converteu-se em musicalidade de esperança e amor.
Ele não perdoava, apenas, os crucificadores, mas, também, os desertores, os negadores, os receosos e pusilânimes, os ingratos e maledicentes, os insensatos e rebeldes... Na imensa gama dos acolhidos pelo Seu perdão alcançava os promotores
desencarnados dos mil males que engendraram nos homens a prova das suas mazelas e o agravamento das suas penas...
Sua voz alcançou os penetrais do Infinito e lucilou nos báratros das consciências inditosas dos anticristos de todos os tempos, abrindo-lhes os braços da oportunidade ao recomeço e à redenção.

*

A conspiração para que se consumasse o holocausto do Calvário, em que o Filho de Deus testemunhou seu amor pelos homens, foi tramada pelos inimigos impenitentes desencarnados, vencidos pelo despeito na luta pela vitória da violência com que sintonizaram os transitórios donatários da posição governamental e religiosa da Terra, como daqueles que se lhe entregaram a soldo.
O perdão doado da culminância da Cruz é a aliança inquebrável da união do Seu amor com todos nós, os caminhantes retardados da via da evolução, convocando-nos à perene vigilância contra a obsessão de qualquer natureza que nos sitia e persegue implacavelmente...
O Calvário e a obsessão
Amélia Rodrigues
por Divaldo Franco
Reformador (FEB) Agosto 1976



Uma história como outras



Aquele velho morava num pequeno cômodo, na falda do morro dos Esquecidos. Chamava-se Pedro. De quê, nunca se soube. Era simpático, embora a fisionomia franca e atraente não deixasse de trazer o aspecto da austeridade. Ignorava-se quase tudo a respeito de Pedro, da sua vida pregressa e atual. Apenas era conhecido como homem bondoso, pronto a servir a quem quer que fosse, incapaz de uma palavra inconveniente ou de um gesto intempestivo.

Vimos a conhecê-lo por intermédio de um morador do morro, quando, numa roda de que fazíamos parte, ele salientava a personalidade do “seu” Pedro.

- Só sei, disse Euzébio, o morador do morro, que eu estava doente, desenganado, e ele me salvou. 

- Salvou? - perguntamos.

- Sim, salvou-me. Ele ia subindo o morro e eu ia descendo. Quando passei por ele, chamou-me:

- Preciso falar-lhe agora. Você está muito doente, mas isso não é razão para pensar em coisas lúgubres...

- Como é que o senhor sabe que estou doente? Quem foi que lhe disse que estou desesperado e com a intenção de me matar?

- Isso não importa. Sei. Mas você pode ficar bom, desde que se disponha a seguir à risca tudo o que eu lhe determinar. Quer ficar bom?

- Querer eu quero, sim, senhor. Mas já fui desenganado duas vezes, e acho que não dá mais jeito ...

- Não custa nada tentar, Euzébio...

- O senhor também sabe o meu nome? Como foi que soube?

- O mundo é muito pequeno. E isso não é assim tão difícil de saber, Euzébio.

E o ex-enfermo descreveu minuciosamente o que lhe sucedera. Durante meses, seguiu rigorosamente o tratamento que o velho indicara. Fisgado pela curiosidade, indaguei:

- Diga-me, Euzébio, que remédios você tomou?

- Remédios? A bem dizer, nenhum. O velho me recebia na casa dele. Orava, orava e dizia umas coisas estranhas, como se estivesse falando com algum companheiro. Mas não era, não. Falava sozinho... Confesso que tive medo, no começo. Depois, acostumei. Ao fazer a prece, pedia que Deus nos abençoasse e Jesus nos permitisse receber a visita dos Seus trabalhadores... É: trabalhadores. " Assim é que ele falava. Nunca vi ninguém. Ele me fazia uns gestos, enquanto falava. Depois, dava-me a beber a água de um jarro. Fazia uma porção de recomendações. Como eu queria ficar bom, aguentei tudo isso. Já estava desanimado e pensando em não voltar mais ali, quando o velho me disse que a minha doença necessitava de tratamento demorado. Era preciso ter paciência e coragem. Eu lhe respondi que paciência eu não tinha muito, mas, coragem, poderia provar a qualquer momento. .. Sabe o que me disse ele? – “Está bem. Dentro em pouco vou apurar se você tem mesmo coragem.”

- Você ainda vai lá? perguntei, interessado.

- Vou. Agora estou aprendendo com ele o Evangelho, que ele lê e comenta, explicando coisas que são realmente interessantes. “Chateado”, quis desistir. Ele, então, sério, me fez uma advertência, mais ou menos assim:

- “Você precisa tanto do Evangelho quanto nós do ar que respiramos. Não está melhor, com o tratamento que vem fazendo? Entretanto, a sua cura será apressada quando você aprender as lições que está recebendo e experimentá-las diariamente. E digo-lhe: o seu mal é de origem espiritual, meu amigo. Cuidando da alma, o seu corpo será beneficiado. Não sou feiticeiro, como você está pensando, mas sei que a maioria das doenças que infestam o mundo têm origem nos desequilíbrios da alma.”

..........................................

Não resisti e pedi que Euzébio me levasse à casa de Pedro. E lá fui.

Conheci o velho e prendi-me também a ele. Sua conversa é simples, porém superiormente orientada. Diante de várias indagações minhas, disse ele:

- “Hoje muita gente acha ridículo crer em Deus, falar em Jesus e Maria Santíssima. Isso tudo “já era”, como se diz. Só duas coisas preocupam: dinheiro e sexo. Para obter dinheiro, muita coisa triste é consumada. Certas pessoas, mal esclarecidas, rebeldes e intransigentes, consideram que a vida se resume em gozar os prazeres materiais. Ouve-se freqüentemente: “O dinheiro faz tudo.”

Fez uma pausa breve, continuando, em seguida:

- Legiões de Espíritos inferiores invadiram a Terra. Muitos são infelizes revoltados, que foram levados às últimas guerras. Voltaram à Terra com o ódio no coração. Desejam destruir tudo, participam de grupos terroristas, perdendo ótimas oportunidades para uma vida útil a si e ao mundo. Desiludidos, cegos pelo ateísmo, sentindo as dores que herdaram de um comportamento irregular, decidiram retomar a ofensiva homicida que a morte interrompera, convencidos de que é preciso destruir para renovar. Mas nada renovam. São o fermento do Anticristo. As entidades de socorro da Espiritualidade envidaram todos os esforços para que entendessem a força e a realidade do bem, e reconhecessem ser Deus o poder que governa a vida cósmica, e, ainda, que Jesus, tolerante e justo, está sempre disposto a ajudar os que de boa-vontade se dispuserem a uma caminhada de recuperação. Essas enormes falanges de Espíritos revoltados aí estão, no mundo atual, estimulando os maus à prática de atos de violência, influenciando os Espíritos fracos ao materialismo ateu. Dessa forma, a Terra, convulsionada, provocará, por ação da lei cármica, medidas muito enérgicas para livrar-se da maldade que se multiplica e se torna mais fria e cruel do que seria admissível em nosso século.”

- E Euzébio, ficará bom? - arrisquei a pergunta.

- “Possivelmente, porque tudo depende dele. Será submetido por mim a novas experiências. Já lhe disse que a violência só gera violência e a maldade é uma epidemia que só pode ser combatida com a prece e a prática do Evangelho. Se todos os que crêem se unirem mentalmente para formar uma barreira espiritual, tal estado de coisas declinará. Devemos compreender que nada sucede por acaso e que os acontecimentos que estão envergonhando a espécie humana têm uma causa, pois são efeitos de erros e maldades de outros tempos..”

Os olhos de Pedro cintilavam de maneira estranha. Tive a impressão de que fulgores de várias tonalidades saíam de suas pupilas. Sua face estava pálida e as lágrimas por ela desciam, atestando a pureza dos sentimentos que o dominavam.

Esperei que ele concluísse uma prece e despedi-me. Nunca mais o vi. Mas o Euzébio me apareceu, certa noite, quando dobrávamos uma esquina... Abraçamo-nos. Perguntei por Pedro e ele me informou que não andava mais por aqui...

Despedimo-nos, e, nesse instante, reparei que o livro que ele sobraçava era “O Evangelho segundo o Espiritismo”...

Pedro não perdera o tempo. Nem Euzébio...

Louvado seja Deus!
Uma história como outras
José Brígido / (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Agosto 1976

O Convertido de Damasco



No altar do infinito, ergue-se o quadro estupendo, eloquente, vívido, que mostra à Humanidade o convertido de Damasco!

Saulo transitava pelo mundo, condecorando-se com os títulos que a Terra lhe ofertava, amparado pelo orgulho paterno, crescendo no conceito de sua época.

Todavia, bastou-lhe apenas um segundo, na estrada de Damasco, para, numa explosão de luz, erguer-se na consciência de sua obrigação maior, face às necessidades do Cristianismo nascente.

Após entrevista com o Mestre e Senhor, na cintilação da luz, transformar-se-ia no grande Apóstolo Paulo, levando aos povos a palavra estudada, inspirada, daquele a quem perseguira inexoravelmente!

Ofertou à Humanidade mais do que vibrantes palavras de estudo e roteiro para a viagem terrestre. Iluminou-se com os clarões da eterna Verdade, através do estudo metódica e amorosamente feito; e, convicto do grande ideal de Jesus, filia-se ao
Cristianismo, expondo-se ao provável martírio.

Entretanto, examinando-o, no perpassar dos séculos, reflitamos na responsabilidade que assumimos ao encontrar, centenas de vezes, o Mestre amado nas trilhas de nossos desvarios, nas repetidas promessas de regeneração e nas quedas sucessivas ao longo do tempo.

Diante do esplendor com que o Espiritismo se revela ao mundo, na feição de Cristianismo redivivo, de Consolador prometido - mensagem do Pai misericordioso que não esquece os filhos, atados, por vontade própria, às pesadas cadeias da escravidão -, coloquemo-nos, em definitivo, na posição de candidatos ao serviço redentor, olvidando caprichos e orgulhos, erros e presunções, preconceitos e dúvidas, e avancemos realizando no silêncio dos nossos corações o estudo sublime, base sólida da nossa libertação.

Ergamos a nossa tenda de trabalho junto aos áridos desertos em que humanos corações transitam como caravaneiros, na busca das ilusões que os perderão fatalmente.

Levantemos a voz na manifestação das excelsas verdades, votando-nos às tarefas grandiosas da transformação do planeta.

A Seara continua sempre mais necessitada de nossa cooperação, e Jesus, o Mestre e Senhor, em nossa estrada de Damasco, ainda nos indaga, como ontem:

- Por que me persegues?
- Por que duvidas?
- Por que não vens?

Conduzamo-nos como discípulos ciosos de nossas obrigações, plenos da fé cristã, da esperança radiosa na Verdade inconteste, e sigamos para 'diante, obedientes à Vontade de nosso Mestre e Senhor...

Que Ele nos abençoe.

 O Convertido de Damasco
Bezerra de Menezes
por Mª Cecília Paiva

Reformador (FEB) Agosto 1976

Sigamos Vigiando



Compreendemos a expectativa angustiosa dos companheiros sinceros, à face das imposições da lei humana e esperamos unicamente do Cristo a inspiração e a providência necessárias à execução dos nossos deveres evangélicos, nos círculos da carne, ou fora de suas expressões, mas em serviço, nas atividades terrestres.

O esforço sacrificial é crescente e seria desnecessário acentuar que os amigos desencarnados não podem indicar o caminho a seguir (1). Nossas estradas se identificam e entrelaçam, em quase todas as características, e, se os campos de ação diferem na estrutura essencial, nós, os trabalhadores, somos os mesmos.

Semelhantes afirmativas não constituem linguagem sibilina, ou propósito de escapar ao exame direto do assunto. É, sim, respeito à lei universal da responsabilidade e do testemunho consciencial do discípulo, no trabalho que foi chamado a cumprir. Estamos em luta e podemos esperar o assédio do mal e aquele "escândalo necessário". Entre o "fermento dos fariseus" e o "pretório", onde os Pilatos se multiplicam, o discípulo segue, negando-se a si mesmo e carregando a cruz redentora. Este é ainda o caminho.

Nas emergências em curso (2), queremos lembrar que não existem dispositivos humanos que coíbam o ato de dar, no instituto comum de fraternidade humana, ou que impeçam a oração sincera, na manifestação universal dos melhores sentimentos das criaturas.

Recordando esse imperativo da vida, somos de parecer, igualmente, que, se nunca deveremos negar a Deus o que é de Deus, sempre haverá um meio de atender a César, no capítulo de suas exigências mutáveis, em cada fase das grandes experiências coletivas.

Eis a razão pela qual consideramos que, se for necessário, devem os cristãos voltar às portas fechadas das catacumbas, mas que não apaguem a luz confiada às suas mãos.

Entendemos a complexidade das obrigações cometidas aos discípulos novos, em vista da leviandade com que se vão rotulando com o nome de Espiritismo imensas absurdidades e extravagâncias. É nesse acervo de incompreensões e intoxicações psíquicas que os discípulos fiéis encontrarão o seu testemunho, porque, na Terra, o justo suportará o peso das injustiças, qual aconteceu ao Mestre Divino em sua passagem pelo mundo.

Nessa movimentação, porém, a liberdade entre os aprendizes é apanágio de cada um e cada qual deve ponderar quanto às suas possibilidades de testemunhar, como e quando, razão por que não podemos dizer: "marchemos cantando", mas "sigamos vigiando".

A hora não é de entusiasmos e sim de prudência; não é de inquietação, mas, sim, de oração ativa.

De nós, nada temos; no entanto, estou certo de que Jesus não nos faltará com o necessário ao cumprimento do nosso dever.

Esperamos que a sua misericórdia nos conceda a nós, os companheiros desencarnados, a iluminação precisa, para que possamos cooperar com o teu (3) esforço e dos demais partícipes das grandes responsabilidades da Casa de Ismael. É a súplica do menor dos teus irmãos.
Sigamos Vigiando
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Agosto 1976

Esta mensagem permaneceu inédita por cerca de 40 anos
vindo a ser publicada pela primeira vez, em 1976.
 (1) e (2) Referências às perseguições sofridas pela FEB.
"Reformador" - edições de outubro de 1974, pág. 308, e
março de 1976, págs. 67/8 - alude ao assunto.

(3) Do Presidente Gulllon Ribeiro, em 1937. 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Espiritismo e passividade


A Interpretação da palavra de Jesus entre os espíritas precisa ser cuidadosa, a fim de que não surjam dúvidas capazes de torcer-lhe o verdadeiro sentido. Em "O Evangelho segundo o Espiritismo" está tudo muito claro, muito compreensível, de fácil assimilação. Mas, há sempre aqueles que passam muito rapidamente sobre os textos, relendo-os como quem se inteira das corriqueiras notícias do dia, em vez de permanecerem atentos ao espírito das sentenças.

Não raro, encontramos pessoas desafeiçoadas ou indiferentes ao Espiritismo que, pelas opiniões que emitem em determinadas circunstâncias, supõem que a verdadeira atitude do espírita deve ser passiva, para não desagradar a ninguém, para evitar julgar e não incorrer no risco de vir a ser julgado. Então, se o espírita profliga um ato mau, um comportamento censurável ou um gesto digno de reprovação enérgica, simulam surpresa e perguntam, com um certo ar de ironia:

- Você, um espírita, agir assim? Esqueceu-se da tolerância? Não se lembra do que diz o Evangelho - "não julgueis para não serdes julgados"?

Trata-se de um recurso um tanto solerte, sem dúvida, porque o espírita não está desligado da humanidade. É um ser humano, sujeito, como todos, às influências do meio em que vive e subordinado às mesmas leis que regem a vida comum de outras pessoas. Não pode, nem deve, figurar como uma múmia, incapaz de usar do seu direito de opinar, de criticar, embora conscienciosamente, o que não puder deixar de ser criticado, de punir o que for necessário punir. Isso é claro como água. Entretanto, a sua opinião, a sua crítica e o exercício da punição, quando for imprescindível exercê-lo, terá de pautar-se pelo espírito do Evangelho. A opinião,  a crítica ou censura e a punição devem conter, sempre e sempre, primordialmente, uma finalidade educativa, corretiva, saneadora, nunca ferina, implacável ou odiosa.

O espírita não pode ser um "maria-vai-com-as-outras", nem um piegas. É um ser integrado numa realidade. Não é possível desvincular-se dessa condição, porque integra a humanidade.

O Evangelho ensina-nos a todos que "a misericórdia é o complemento da brandura, porquanto aquele que não for misericordioso não poderá ser brando e pacífico". Se alguém persiste na prática de uma ação má, recalcitrante, portanto, o espírita deve aplicar a energia compatível com a gravidade do ato consumado. Mas essa energia não significa violência verbal ou física, mas uma sanção moral. E disso Jesus nos deu exemplos expressivos, ele, a encarnação da bondade e da doçura. Era preciso, porém, que o fizesse, quer ao defrontar os vendilhões que ultrajavam o templo, quer ao  proferir frases enérgicas, como "raça de víboras", "hipócritas", etc. Mas Jesus tinha e tem autoridade para isso. O essencial é que, ao adotarmos uma atitude que implique censura ou advertência, tenhamos, mutatis mutandis, dentro da relatividade necessária, autoridade moral para fazê-lo, sem desbordamento, sem excesso. A repressão do mal não invalida a oportunidade do perdão, embora ,"o homem seja sempre punido por aquilo em que pecou".

Não fora assim, o mundo se transformaria num caos, num pandemônio, sem ordem, sem disciplina, sem respeito, por não haver lugar para a autoridade, para a obediência, para a repressão do mal e o incentivo do bem. A chamada "psicologia moderna", baseada na liberdade total do indivíduo, deu "nisso" que se vê, hoje, na Terra: desordem generalizada, deseducação de homens, mulheres, jovens e crianças. Criaram-se pseudo teorias de educação. Todos estão sujeitos a adquirir "complexos", "recalques" etc., segundo algumas teorias, de modo que cada qual deve fazer o que entende, para poder ser uma criatura integral, com liberdade ilimitada, etc., etc.

Não é condenável a censura que colima coibir o mal e salvar o pecador, que deve ser esclarecido, orientado, educado, para que reconheça a inconveniência do que disse ou fez, arrependendo-se e mostrando-se disposto a não reincidir no erro cometido. "O reproche lançado à conduta de outrem pode obedecer a dois móveis: reprimir o mal, ou desacreditar a pessoa cujos atos se criticam. Não tem escusa nunca este último propósito, porquanto, no caso, então, só há maledicência e maldade. O primeiro pode ser louvável e constitui mesmo, em certas ocasiões, um dever, porque um bem deverá daí resultar, e porque, a não ser assim, jamais, na sociedade, se reprimiria o mal. Não cumpre, aliás, ao homem auxiliar o progresso do seu semelhante? Importa, pois, não se tome em sentido absoluto este princípio: "Não julgueis se não quiserdes ser julgado", porquanto a letra mata e o espírito vivifica."

Ratificando essas palavras, assim termina o comentário: "A consciência íntima, ao demais, nega respeito e submissão voluntária àquele que, investido de um poder qualquer, viola as leis e os princípios de cuja aplicação lhe cabe o encargo. Aos olhos de Deus, uma única autoridade legítima existe: a que se apóia no exemplo que dá do bem. É o que, igualmente, ressalta das palavras de Jesus" ("O Evangelho segundo o Espiritismo", cap. X, item 13, páginas 180/1, 64.a ed., FEB, 1976).

Não deve, pois, o espírita ser um excêntrico, um exótico na sociedade humana, à qual pertence e da qual não pode marginalizar-se. Sempre que a indulgência não seja prejudicial ao faltoso nem a terceiros, deve ser exercida, pois, adequadamente utilizada, será uma prova de amor, e é de amor que o mundo precisa, é de amor que todos nós precisamos, a fim de que se cumpra o mandamento do Mestre amado: "Amai-vos uns aos outros!" E não sete vezes apenas, "mas até setenta vezes sete vezes".

A atitude normal do espírita-cristão tem de ser a de uma criatura sintonizada com Jesus. Aprendamos a não ser desagradáveis, a não vermos somente o lado escuro da vida. Pelo contrário, busquemos dentro de nós a paz que precisamos transmitir aos nossos semelhantes. Para isso, procuremos criá-la através da exemplificação da Doutrina e do Evangelho. Só com os exemplos é que poderemos construir uma personalidade espírita-cristã. Palavras, faladas ou escritas, são de valor relativo. O que vale, realmente, é o exemplo. Não seremos nunca espíritas, e muito menos cristãos, se adotarmos uma atitude hipócrita, aparentando virtudes que não cultivamos. Poderemos enganar as outras pessoas, podemos enganar-nos a nós mesmos, mas não enganaremos a Deus, a Jesus e aos Espíritos devotados que cumprem mandatos do Alto. Dizer-se alguém espírita é fácil. Ser espírita, porém, espírita de verdade, depende de sacrifícios a que teremos de submeter a nossa alma, para livrá-la do orgulho, do egoísmo e de outros defeitos graves.

No Evangelho citado, cap. V, página 121, há uma comunicação espiritual de Fénelon, cujo final, por expressivo, reproduzimos a seguir: "Habituai-vos a não censurar o que não podeis compreender e crede que Deus é justo em todas as coisas. Muitas vezes, o que vos parece um mal é um bem. Tão limitadas, no entanto, são as vossas faculdades, que o conjunto do grande todo não o apreendem os vossos sentidos obtusos. Esforçai-vos por sair, pelo pensamento, da vossa acanhada esfera e, à medida que vos elevardes, diminuirá para vós a importância da vida material que, nesse caso, se vos apresentará como simples incidente, no curso infinito da vossa existência espiritual, única existência verdadeira."

Está claro que a tolerância mal compreendida e pior aplicada pode servir de incentivo ao mal e, assim, em vez de contribuir para a reparação de um erro e a regeneração de um faltoso, terá efeito contrário. Demais, "não é possível que Jesus haja proibido se profligue o mal, uma vez que ele próprio nos deu o exemplo, tendo-o feito, até, em termos enérgicos. O que quis significar é que a autoridade para censurar está na razão direta da autoridade moral daquele que censura. Tornar-se alguém culpado daquilo que condena noutrem é abdicar dessa autoridade, é privar-se do direito de repressão. A consciência íntima, ao demais, nega respeito e submissão voluntária àquele que, investido de um poder qualquer, viola as leis e os princípios de cuja aplicação lhe cabe o encargo. Aos olhos de Deus, uma única autoridade legítima existe: a que se apóia no exemplo que dá do bem. É o que, igualmente, ressalta das palavras de Jesus."

Há mais: quando nos referimos a energia, não sugerimos a atitude grosseira, violenta, desmedida. Não. Nada disso. Queremos reportar-nos à necessidade da ação calma, serena, branda, a par de argumentos firmes, que demonstrem, de maneira irrefutável, os inconvenientes do mal, suas consequências imediatas ou remotas contra o autor da ação censurada. Não há necessidade de gritos, de frases contundentes, de gestos agressivos, de censura ostensiva diante de outras pessoas, mas de persuasão. Energia não significa brutalidade, mas serena e firme força moral, notadamente nos casos de reincidência. O único sentimento capaz de vencer o mal é o sentimento do amor, não do amor piegas, mas do amor fraterno de quem ajuda, até de quem pretenda salvar. Há ainda muita pieguice em alguns setores do Espiritismo, porque se entende mal o que seja amor, o que seja humildade, o que seja respeito à Doutrina.

Na repressão a um ato mau, é bom repetir, não se estará apenas buscando recuperar o faltoso, mas também impedir que a sua ação seja danosa a outrem. Portanto, não se pense que, por não sermos perfeitos, devamos omitir-nos diante de erros e faltas passíveis de advertência e retificação, pois, segundo São Luiz, na obra citada, p. 187, cada um de nós "deve trabalhar pelo progresso de todos e, sobretudo, daqueles cuja tutela nos foi confiada.” Mas, por isso mesmo, devemos fazê-lo com moderação, para um fim útil, e não, como as mais das vezes, pelo prazer de denegrir. Neste último caso, a repreensão é uma maldade; no primeiro, é um dever que a caridade manda seja cumprido com todo o cuidado possível. Ao demais, a censura que alguém faça a outrem deve ao mesmo tempo dirigi-la a si próprio, procurando saber se não a terá merecido" .

A indulgência sistemática, indiscriminada, pode estimular a maldade, gerando abusos e encorajando a dissimulação. Nenhum de nós deve alimentar a preocupação de parecer bom, fazendo-se notar por manifestações aparentes de tolerância e paciência. Nosso dever perante a Doutrina é procurar ser bom, conscientemente tolerante e paciente em todos os momentos, o que não é nada fácil, mas tem de ser conseguido à custa de quaisquer sacrifícios de nossa parte, através de, um esforço auto-educativo.

O falso bom é nocivo a si próprio e ao meio em que vive. Jesus censurou a hipocrisia e ensinou que devemos lutar contra o mal, sem praticá-lo, porque o bem é o instrumento de trabalho social do espírita-cristão, de todo aquele que pretende ser reconhecido como cristão. O farisaísmo, entretanto, não morreu. Continua vivo. É perigoso, porque enganador. Insinuante, malicioso, escorregadio, pode ele destruir lares, organizações humanas de qualquer natureza, porque possui artimanhas que o homem verdadeiramente honesto não pode imaginar.

Não há livro mais recomendável, num mundo atribulado como o de hoje, do que o Evangelho, por ser o melhor tratado de relações humanas de todos os tempos. Constitui roteiro infalível para quem deseja encontrar a paz no caminho e a luz no coração. Jesus frisou o respeito que devemos nutrir pelos direitos alheios, assim como desejamos que os nossos sejam também respeitados. "Estende-se mesmo aos deveres contraídos para com a família, a sociedade, a autoridade, tanto quanto para com os indivíduos em geral" (ob. cit., p. 192).

Portanto, não devemos apenas ler o Evangelho, mas estudá-lo, meditar sobre os ensinamentos de Jesus; que são insuperáveis e eternos. Se o mundo se dispusesse a segui-los, a Terra, dentro de algum tempo, transformar-se-ia num paraíso, porque os homens compreenderiam a grandeza e a importância da recomendação de Jesus:, "Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam, pois é nisto que consistem a lei e os profetas" (Mateus - VII, v. 12), e "tratai os homens como quereríeis que eles vos tratassem" (Lucas - VI, v. 31).

Nada mais pernicioso ao Espiritismo do que a passividade. O verdadeiro espírita não deve nem pode ser passivo. A Doutrina exige ação, clara e definida. Aquele que se mantém neutro, quando uma definição de sua parte se torna imprescindível, não é prudente, mas omisso. A franqueza rude, nem sempre é bem recebida entre os homens, que a tomam, geralmente, por hostilidade, má-vontade ou impertinência. Todavia, ponderada, dita com suavidade e manifesto desejo de colaboração, deve sempre ser bem-vinda, porque é sincera e permite a revelação de perigos ou inconveniências que não podemos ver, mas que outros, de fora, podem perceber e compreender devidamente.

Em qualquer setor da vida humana, a lealdade e a sinceridade devem imperar, em benefício da ordem e da disciplina, do respeito mútuo e da consagração da verdade. A passividade será sempre sério entrave ao progresso, quer dos indivíduos, da sociedade e do mundo. É, pois, importante a educação moral no inter relacionamento humano. O homem educado sabe escolher os caminhos que deve seguir na vida de relação, sem melindrar ou ofender seus semelhantes, ainda quando se torne necessário divergir e dar vigor ao seu procedimento, porque a energia não prescinde do tato nem das boas maneiras. É justo e compreensível que haja discordância de opiniões sobre um mesmo assunto, que surjam soluções diferentes para um mesmo problema. Tudo, porém, pode ser alcançado sem choques ou atritos graves, através da compreensão e da lealdade. Aquele que erra e, movido pelo orgulho, não deseja dar-se por vencido, ainda que tenha intimamente a presunção de não haver sido feliz, e insincero, consigo e com os companheiros. O que descobre o erro e não adota uma posição fraterna para corrigi-lo, em face do irmão que desacertou, também é infrator da lei da fraternidade.

Assim, todos os atos e sentimentos humanos encontram orientação e solução dentro do Evangelho. Se não acertamos é porque não queremos mudar de rumo, e, como não mudamos de rumo, continuamos incompreendidos e sem compreender que as leis da vida são morais e não comportam definições outras que não as que se acham nos ensinamentos do Nazareno.

Nem foi por outro motivo que Pedro Richard, um dos homens mais fiéis à Doutrina que Espíritos superiores, por vontade de Jesus, fizeram chegar a Allan Kardec, costumava dizer que o Evangelho é o Livro que melhor convém ao homem desejoso de ser feliz e de fazer felizes seus semelhantes.
Espiritismo e Passividade
Túlio Tupinambá \ (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Junho 1976