Pesquisar este blog

domingo, 8 de julho de 2018

Crisol de Purificação / Gratidão / O Pioneiro

Guillon Ribeiro

Crisol de Purificação
Guillon Ribeiro
Reformador (FEB) Dezembro 1943

O artigo, que ora publicamos em nossas primeiras colunas, é ainda um trabalho do nosso prezado e inesquecível amigo Guillon Ribeiro. Tinha-o ele preparado para o número seguinte desta Revista, quando a morte o colheu. Apresentando-o, além da homenagem ao querido morto, temos, nessas páginas póstumas, um como símbolo, que é a demonstração de que sua grande atividade continua a projetar-se além dos umbrais do outro plano.

Momento outro não há, parece-nos, mais propício ou azado a encarar-se o problema da dor, em face dos sofrimentos humanos, do que o atual, em que quase todas as nações da terra se empenham numa guerra que se entremostra aniquiladora de povos e civilizações. Mais do que nunca, esse problema, na hora atual, avulta aos olhos de todas as criaturas terrenas, mesmo das mais indiferentes e apáticas, sobrepondo-se a quantos outros incessantemente lhes surgem do orgulho e do egoísmo que as alucinam.

Uma vez mais, portanto, lícito nos seja falar da dor, da dor de que desde sempre se há visto presa a humanidade, neste orbe ainda presídio para os que delinquem, contravindo às leis divinas; da dor contra que se erguem os clamores de todos os presidiários e as imprecações do materialismo inconsciente e cego; da dor que, no entanto, é a melhor e mais amiga companheira do homem, na sua trajetória evolutiva pelo planeta, porque, com efeito, unicamente ela conduz a Deus as criaturas falidas, dado que estas, somente graças a ela, cuidam das coisas divinas.

Qual aquele que, constantemente rodeado de gozos, engolfado em prazeres inebriantes, desfrutando de completa felicidade, na acepção terrena deste vocábulo, se lembraria de dirigir as vistas para o Alto, em atitude de súplica? Qual o que cogitaria dos destinos humanos, com o espírito subjugado sempre pela matéria satisfeita?

A fim de que o homem medite e se liberte dos grilhões que o prendem à vida material, a fim de que ame e respeite a essa mesma vida, que lhe é outorgada como meio de progredir intelectual e moralmente, por ser crisol de purificação, necessário se faz que a dor lhe abale a consciência e a desperte, rasgando-lhe horizontes novos, demonstrando-lhe que acima dos efêmeros gozos da existência física, há um dever a ser cumprido para com Aquele que rege os destinos do Universo e tudo ordenou de maneira a ter glória suprema na suprema bem-aventurança de todos os Espíritos que o seu amor lançou à vida.

A dor há encaminhado o homem à arquitetação das mais diversas filosofias. Quer isso dizer que o tem obrigado a pensar. Ora, pelo pensamento, a maior força do Universo, porque força essencialmente divina, é que nos libertamos do escuro cárcere a que nós mesmos nos condenamos, quando cega trazemos a consciência. O mundo físico é patrimônio comum, porquanto as moléculas que hoje nos estruturam os corpos constituirão, amanhã, novos organismos, provando dessa forma a própria matéria, pela incessante circulação de seus átomos, que ela não nos pertence individualmente, visto que é tanto do vegetal como da pedra, do homem como do molusco.

O pensamento, só ele, é exclusivamente nosso, porque cada um de nós é uma mente a atuar no plano de vibrações correspondentes às suas, determinadas estas pelo desenvolvimento que haja conseguido. De certo, foi, portanto, o pensamento que levou o homem primitivo, maravilhado com o espetáculo da natureza, a soltar o seu primeiro grito de assombro, Rodeava-o o mistério e ele, impotente para criar uma que fosse das maravilhas que se lhe ostentavam, assim no azul límpido do firmamento, como no verde tremeluzente das selvas, pensou num ente superior, oculto às suas vistas, e entoou, num arroubo espontâneo de admiração, o seu primeiro hino ao Criador de todas as coisas.

Mais tarde, como o conhecimento da própria natureza lhe fosse desvendando os atributos da Divindade, tornando-a infinitamente maior e, por Isso afastando-lha da retina, acabou confundindo a obra com o artífice e, alheando-se deste, se prostrou diante daquela e entrou a adorá-la, orgulhoso de si mesmo, nisso a que chama a sua ciência, infinitesimal partícula, da ciência universal, ou divina.

A natureza mesma, todavia, lhe mostrou que a dor a todos acompanha, qual sombra, do berço ao túmulo e ele inquiriu: Mas, como! Se Deus é bom, como pode ter-nos condenado à dor? Por outro lado, conceber a onisciência e a onipotência associadas à maldade, à iniquidade, à injustiça fora absurdo. Mais lógico seria negar-lhe a existência. E o homem se fez negativista. A dor, porém, continuou, calma e serenamente, a espiritualizá-lo, como quem cumpre dever estrito e sagrado.

Desviando do mundo físico para o mundo espiritual a atenção dos negadores, forçou-os ela a reconhecer, observando as grandes expiações coletivas que de quando em quando convulsionam o planeta, que forças cegas e desordenadas não se poderiam conjugar em tão perfeito equilíbrio de ação e de ideias, tendentes sempre a encaminhar a humanidade para destinos grandiosos.

Então, falaram e continuam a falar as vozes do céu, testificando que as guerras, as revoluções, as calamidades sociais de toda espécie, com o serem consequência da cegueira moral do homem, são simultaneamente, como processo de cura dessa cegueira, meios de progresso moral, mas de progresso a realizar-se, conforme essa mesma circunstância o mostra, à custa de lágrimas e aflições, de gemidos e sofrimentos acerbos. Assim, a dor é a eterna depuradora das almas pecaminosas, a redentora dos Espíritos que faliram.

Verdade tão profunda e insofismável é esta, que teve a consagrá-la o sacrifício do Justo no cimo do Calvário. Cumpre, pois, que, em penhor da sua felicidade real, deixe o homem de malsiná-la, que a ame, conforme lho ensinou aquele mesmo Justo, dado que somente ela lhe apurará as qualidades afetivas, preparando-o para a fraternidade, sem a qual a paz na terra será sempre uma utopia.

Disponham-se os homens a abrir o entendimento para a compreensão da grandiosa lei das reencarnações, lei de justiça misericordiosa, e, reconhecendo-se, em face dessa lei, Espíritos falidos de pretéritas existências, facilmente apreenderão, em toda a sua magnitude, o verdadeiro significado destas palavras de Jesus a Pedro: "Quem com ferro fere com ferro será ferido. "

Ontem, ferimos o coração dos nossos semelhantes, irmãos nossos, porque filhos, como nós, do mesmo Pai: justo é sejamos agora golpeados no espírito, para que não mais façamos aos outros o que não queremos que nos façam. E nem só justiça aí há, senão também misericórdia, misericórdia sobretudo, por isso que unicamente a dor nos ensinará a amar ao próximo e a bendizer da existência, por mais aflitiva que nos seja, induzindo-nos a buscar, penitentes, o perdão do amor infinito d'Aquele que não quer a morte, o aniquilamento do pecador, mas que este se converta, para viver, não vidas de tribulações e amarguras, porém a vida eterna, que é a integração da criatura no Criador, tornando-se, por assim dizer, partícipe da sua divindade, por lograr conhecê-lo e senti-lo na majestade dos seus atributos de perfeição absoluta.
...................................................................................................................
Gratidão
Pereira Marques
Reformador (FEB) Dezembro 1943

Guillon Ribeiro, saudoso amigo, nunca deixará de existir para mim que tive a felicidade de poder, na casa de Ismael, através de longos anos, apreciar a envergadura moral do amigo querido, cujos exemplos inconfundíveis são um valioso patrimônio, que nem o tempo nem a traça consumirão jamais.

Ele foi, em verdade, na Federação, um dos mais conscientes e dedicados trabalhadores da Seara bendita de Jesus, digno do respeito de todos que, criteriosamente, sabem separar o joio do trigo. Enérgico, mas sereno; sincero, bom, justo, tolerante, soube desempenhar, fielmente, a tarefa difícil, cheia de espinhos, na direção da Casa de Ismael, onde, como sabem os que ali trabalham, fora colocado, como sempre sucede, pela vontade do Alto, acolhida e respeitada por todos os trabalhadores da gloriosa oficina espiritual.

Guillon, dedicado ao extremo, nunca do seu pensamento e do seu coração afastou a Federação, a quem tinha grande amor e dava, ao seu serviço, energias sem conta, além de dignos e edificantes exemplos; foi, por isso mesmo, colhido de surpresa, no seu posto de trabalho, de presidente da casa abençoada de Jesus, - casa que, a despeito das deficiências dos homens, continuará a sua grande obra, amparada pelo glorioso anjo Ismael; não permitirá ele possa ser interrompido o trabalho do devotado companheiro que partiu, depois de ter dedicado, sem medir sacrifícios, uma parte de sua vida, ao serviço da Doutrina, zelando e defendendo
a sua pureza, pregando, com fervor e fé, o Evangelho, que conhecia a fundo, com sua palavra fácil, segura, fluente, serena e vigorosa. Sua linguagem castiça tinha uma ressonância que sentirei sempre, com saudade, no meu coração de crente.

Guillon, finalmente, compreendeu, sem nunca hesitar, as suas responsabilidades na investidura do cargo de presidente da Federação, tendo-o desempenhado, até o último momento de sua vida, com profundo conhecimento de seus deveres de tolerância, amor e caridade, e sem nunca ter esmorecido o seu ardor pela obra que muito dignamente soube orientar. Essa obra ostenta, na sua fachada, o tema: Deus, Cristo é Caridade, apontando aos homens, ainda tão endurecidos, o caminho da salvação.

Que Guillon, o amigo querido me perdoe, porque eu bem sei o quanto ele sempre dispensou, com humildade, os louvores humanos. Mas, graças a Deus, ele sabe que essas palavras exprimem o testemunho de minha gratidão pelo muito que aprendi com ele; são, também, o meu reconhecimento à amizade o confiança que sempre me dispensou.
...................................................................
O Pioneiro
Camilo Silva
Reformador (FEB) Novembro 1943

Movimento, atividade e vida é da Lei suprema que rege o Coamos. Não há ponto algum do Universo, para quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir, onde essa lei não se manifeste. Desde o microcosmo ao macrocosmo, isto é, desde o infinitamente pequeno ao infinitamente grande, tudo é ação permanente e construtora tendendo a um fim, grandioso e sublime, pela força inviolável do equilíbrio e do ritmo, sem destoar uma nota, por mais leve que pareça, nessa maravilhosa orquestração que penetra em todos os seres e envolve todos os mundos, produzindo a sinfonia terna e suave, dirigida pela batuta maravilhosa do Excelso, Maestro e Autor da grande Lei de harmonia universal - Deus.

Entretanto, é para lamentar que entre o homem e a natureza haja um contraste tão visível, em vista dos males que infelicitam, tanto a ele, como a família, atingindo a coletividade.

Sendo a criatura humana dotada de raciocínio e livre arbítrio, quiçá de responsabilidade, ela no entanto, em regra geral, nivela-se muitas vezes - quando não excede -, ao vivente mais ínfimo da criação, pois que este apenas possui uma inteligência relativa, e age pelo instinto, em prol da necessidade, e por isso mesmo desculpável pelos seus gestos ou agressividade. De forma que, assim, invertem-se os papeis; aquilo que no homem devia ser regra, é exceção, aquilo que poderia ser exceção, é regra;. isto é, entre os que procedem com critério, justiça e amor e os que agem com injustiça, desvirtuamento e maldade, é maior o número destes do que daqueles!

Porém, como até no seio da floresta mais espessa, ou da noite mais escura e tempestuosa uma faísca elétrica produz um clarão assim, também, até no próprio seio das multidões heterogêneas, Deus permite que, de vez em quando, surja um vulto que se destaca e se torna admirável pela inteligência ou pela virtude. E, quando parte para o além alguém que possua um desses predicados, a sua partida provoca grandes saudades. Assim, reunindo não apenas um, porém, os demais predicados da
moral e da inteligência, acaba de deixar o plano da Terra, 0límpio Guillon Ribeiro, que ocupava, desde muitos anos, o cargo de Presidente da Federação Espírita Brasileira. Homem de grande cultura e vastos conhecimentos, ele semeou até o fim da terrenal existência as partículas maravilhosas que se desprendem da doutrina espírita, tanto pelo seu verbo convincente, que não se afastava do assunto em apreço, como pela imprensa, onde, quer como escritor, quer como tradutor, deixou vasta profusão de trabalhos preciosos e de grande benefício para a humanidade!

Alma sensível a todas as dores alheias, coração que se compadecia de todos os sofredores, ele deixou um sulco profundo de saudade em toda família espírita e de quantos dele se acercavam. O autor destas linhas jamais esquecerá aquela prece (24 de janeiro de 1935) tão sentida e fervorosa dirigida a Maria, na ocasião em que o corpo hirto de minha muito querida e saudosa companheira estava prestes a ser conduzido à necrópole. Por estes e outros benefícios do saudoso amigo, a minha grandão será eterna!..

No lar, à saída do féretro, onde sua amada esposa e filhos se esforçavam por conter a emoção que a saudade do ser querido lhes deixava, via-se a mágoa resignada do verdadeiro espírita, estampada em todos os semblantes e a religiosidade com que acompanharam a prece sentida e comovente feita por um dos diretores da Federação. Grande número de confrades de ambos os sexos acompanhou o enterro, e, alguns, com os olhos marejados de lágrimas.

Graças a Deus e a Jesus, o elevado espírito de Guillon Ribeiro está, neste momento, sob o manto protetor de Maria de Nazaré, nossa Mãe Santíssima, a quem ele sempre orava, porque muito amava! Que sirva de exemplo e de estimulo para todos os trabalhadores da Seara o esforço e a dedicação do grande pioneiro. 
.......................................................................

Guillon Ribeiro
Editorial
Reformador (FEB) Dezembro 1943

Já estava no prelo o número anterior desta Revista, quando recebemos, inopinadamente, a notícia do decesso de Guillon Ribeiro, diretor do Reformador, presidente da Federação Espírita Brasileira, companheiro de muitos anos, amigo dos mais sinceros.

A nova deixou-nos atônitos, a todos aqueles que estavam habituados à sua convivência, que tinham prazer de suas relações, que privavam de sua intimidade, que gozavam de sua estima. Nesta folha a sensação foi de alarma. Dada a sua capacidade de trabalho, a lucidez de sua orientação, o conhecimento profundo e
lato de tudo que se relacionava com a edição da revista, o grande amor que a ela dedicava; dado, enfim, o empenho que fazia para que nela nada saísse capaz de comprometê-la, ou comprometer a doutrina, ou comprometer a Federação, ou comprometer a Causa por que todos trabalhávamos, tomara a si o exaustivo encargo de dirigir todos os serviços, desde o da revisão até o da paginação, desde o artigo de
fundo, até as pequenas notas, preenchendo os claros, enriquecendo os estudos e colaborando mesmo nos artigos, sempre para aperfeiçoá-los, apresentando-os destarte mais bem limados, mais garridos do que os apresentara os seus autores. Era o burilador obscuro, o obreiro que se escondia voluntária, obstinadamente, deixando quase sempre a outrem as glórias que lhe cabiam.

Pode-se, assim, calcular a soma dos seus serviços e a falta desse amigo, desse verdadeiro irmão em Cristo que não sabia dizer não, malgrado o que dele se pensava e se dizia, e que, por isso mesmo, teve grandes sangrias nos seus recursos materiais e esgotou-se espiritualmente, porque era um trabalhador incansável do espírito, que a tudo provia, tudo previa, e tombou por assim dizer, nos trabalhos da seara.

Seu desencarne foi tanto mais doloroso quanto inesperado. Sabíamo-lo enfermo, mas crentes estavam os que mourejavam a seu lado, tratar-se de moléstia passageira, destas que comumente nos acometem no crepúsculo da vida.
Talvez só o seu dileto filho, por ser médico, com o seu olhar de facultativo e a sua intuição de amigo, sabia de sua doença, e previa o desenlace. Mas escondeu de todos o diagnóstico e as lágrimas, de sorte que o trespasse a todos colheu de surpresa, tornando assim mais cruciante a nossa tristeza, mais viva a nossa
saudade.

*

Foi às pressas que um dos nossos companheiros, velho e operoso amigo, vencendo a comoção que o assediava, redigiu a página que foi apensa ao último número, onde comunicava aos nossos leitores e confrades o infausto acontecimento, e traduzia em singelas palavras o que, no momento, queríamos dizer, mas não o
podíamos, todos os que estávamos acostumados à presença continua do grande amigo e inolvidável companheiro.

Vimos, pois, só agora, dizer quem foi Guillon Ribeiro, e o que foi a sua vida, cheia de bons serviços à pátria, dedicada à família, devotada ao Evangelho, transcorrida num esforço máximo de tornar melhores os nossos semelhantes, mas tudo ocultamente, como que clandestinamente, visto que a sua modéstia, levada
às vezes até ao extremo, não permitia que algo dissessem dele os seus melhores amigos.

Mas dessa sua existência se poderia declarar o que a respeito de Rui Barbosa dissera Alcindo Guanabara - uma linha reta entre o dever e a justiça.

Guillon Ribeiro nasceu de pais pobres, no Estado do Maranhão, a 17 de janeiro de 1875. Desde os verdes anos começou a conhecer as asperezas da existência, e tanto, que foi internado gratuitamente no Seminário de S. Luís do Maranhão, onde cursou as primeiras letras.

Aos 7 anos ficou órfão de pai. Aumentaram as dificuldades na família, com a perda irreparável do chefe, e a sua querida progenitora transferiu-se para o Rio de Janeiro. Porque minguassem os meios de subsistência, teve ela ainda que procurar colocar o filho, gratuitamente, numa escola, e assim conseguiu que ele ingressasse como aluno gratuito da antiga Escola Militar, na Praia Vermelha.

Ótimo estudante, bom discípulo; acatado pelos mestres, querido dos camaradas, parece que o seu gênio, entretanto, não era de feitio com a vida militar, e, desse modo, não levou mais de três anos na carreira das armas.

Pediu e obteve baixa. Aproveitou, então, os conhecimentos do curso que houvera seguido, e já com uma sólida base, matriculou-se diretamente no 2º ano da Escola Politécnica, nesta Capital.

Para poder custear os seus estudos e prover à manutenção da sua extremosa mãe, desde cedo já se entregava a árduos labores. Entre outros, trabalhava à noite como redator do Jornal do Comércio, e estudava até alta madrugada. Quase que esgotava no estudo e no trabalho as 24 horas do dia.

Formou-se em engenharia civil. Mas a necessidade premente de angariar o sustento levou-o a aceitar o cargo de 2º oficial da Secretaria do Senado Federal, para daí transferir-se a outro mais condizente com a sua profissão. Ali, porém, logo se tornou admirado e querido por quantos lidavam com ele, de sorte que o retiveram, que o prenderam, até que se aposentou no mais alto cargo da carreira.

Sua mãe extremosíssima desencarnara. Tinha sido tudo para ele. Era a sua companheira de infortúnio, a sua animadora nas horas amargas, a sua alentadora nos difíceis momentos da experiência. Ficou inconsolável. Entregou-se ao mais avassalador desânimo, senão ao desespero. Ia quotidianamente ao túmulo da sua velha querida, e todas as suas aspirações ficaram como que mortas com aquela que lhe dera o ser. Foi então que lhe principiaram a bruxolear no entendimento vagas ideias espíritas.

A sua ascensão no Senado foi rápida. Talvez não fosse esse o seu maior desejo, mas o seu acendrado amor ao trabalho, de que dão testemunho todos os que o conheceram, em qualquer dos ramos de sua profícua atividade, o seu trato amável e bom, a retidão do seu proceder, a integridade do seu caráter, a sua grande competência, a habilidade e inteligência com que se desincumbia de qualquer mister, por árduo e difícil que fosse, o escrúpulo com que estudava todas as questões, o alto critério que sempre mostrava, levaram-no a galgar rapidamente todos os postos, até que foi nomeado Diretor Gerai da Secretaria do Senado, cargo em que se aposentou em 1921, deixando a todos a quem prestou os mais relevantes serviços, sentimentos de gratidão e de saudade.

Sirva de amostra o discurso pronunciado pelo Senador Rui Barbosa, no Senado Federal, na sessão de 14 de outubro de 1903, e publicado a folhas 717, coluna esquerda, do volume Anais do Senado Federal, vol. II. (Sessões de 1 de agosto a 31 de outubro de 1903).

Dele extraímos o seguinte tópico:

"O respeito que devemos nós - todos aqueles que escrevem ao público e a nós mesmos, esse respeito nos impõe o maior cuidado até os últimos momentos. Nenhum bom escritor pode confiar absolutamente, exclusivamente, nos protos.
Devo, entretanto, Sr. Presidente, desempenhar-me de um dever de consciência registrar e agradecer da tribuna do Senado a colaboração preciosa de um dos auxiliares desta Casa, o Sr. Dr. Guillon Ribeiro, que me acompanhou nesse trabalho com a maior inteligência, não limitando os seus serviços à parte material do comum dos revisores, mas, muitas vezes, suprindo até a desatenções e negligências minhas."

Para não nos alongarmos muito, damos, apenas, este exemplo, do que era a dedicação, o escrúpulo, a alta capacidade do Dr. Guillon Ribeiro, na sua carreira pública. Como vimos, ela foi ao ponto de merecer especial referência, em discurso, do maior parlamentar brasileiro, do maior vulto das nossas letras. A sua família possui ainda valiosas cartas dos grandes estadista da época, todas cheias de encômios e agradecimentos ao distinto funcionário. 

Desde cedo, dizia ele, sentira inclinação pelo Espiritismo; é que, no seu subconsciente, já estava traçado o plano da missão de que fora incumbido. Só mais tarde, porém, aproximou-se de amigos espíritas, começou a ler e a meditar sobre assuntos espíritas, abraçando definitivamente a doutrina em 1911.

Durante muito tempo, levou palavras de consolo e de fé aos detentos, na Casa de Correção, e muitos dos presidiários que de lá saíram, cumprida a pena, tornaram-se seus verdadeiros amigos.

Fora um trabalhador indefesso. Não tinha horas de lazer. Mesmo quando se ausentava do Rio, nos seus curtos veraneios, levava vários trabalhos, e quando todos o supunham repousando, estava traduzindo, ou corrigindo provas, ou providenciando. Nunca deixara de fazer o Reformador; mesmo quando acamado. À noite, no interior do pais, apesar do repouso que lhe aconselhavam, saía a pregar o Evangelho nos centros espíritas locais.

E assim, tornava aos seus complexos e inúmeros afazeres, na metrópole, trazendo apenas, descansada, a consciência, por não haver perdido um minuto sequer da sua prodigiosa atividade.

O Dr. Guillon Ribeiro casou-se em 11 de abril de 1910 com D. Raimunda Portela e deste consórcio teve 5 filhos, Luiz Antonio, Antonio Luiz, Aloisio, Olímpia Luiza e Mariana.

Se a existência de Guillon transcorreu dificultosa e áspera, se os seus inúmeros trabalhos e preocupações de ordem pública lhe não davam repouso; se na doutrina que abraçou encontrou motivo de grandes contrariedades por ver deturpados os seus melhores sentimentos, mal considerado o seu ingente esforço, desconhecida a sua grande honestidade, sinceridade e boa fé, deu-lhe o Criador a recompensa no santuário do lar, onde todos o estimavam e respeitavam, como o chefe de família exemplar, o esposo amantíssimo, o pai carinhoso, sem já falar nas suas excepcionais qualidades de filho dedicado até o sacrifício.

Luiz Olímpio Guillon Ribeiro fechou os olhos à luz do mundo, quando já ia bem adiantada a sua obra espiritista. Foi o tradutor impecável de vários volumes, conhecedor profundo que era de vários idiomas e cultor, entre os melhores, da língua portuguesa.

Dedicado de corpo e alma ao Evangelho, viu na obra de João Batista Roustaing a chave das dificuldades escriturísticas, a verdadeira exegese, a interpretação simples e fácil de textos até então tornados obscuros sem aquela revelação.

Qualquer que seja a opinião que se forme sobre aquele trabalho, ao qual ele dedicou toda a sua alma, o que não podem olvidar os espíritas de boa fé e sinceros é a lealdade com que pôs mãos à tradução da obra, os propósitos que o animavam de espalhar a boa e verdadeira semente, a convicção que tinha de estar esclarecendo os seus semelhantes e servindo a Jesus, no verter, difundir e propagar os textos que do Espaço os Espíritos trouxeram a Roustaing.

Teve, em paga desse seu empreendimento, acusações de toda a ordem; malferiram-lhe o espírito sensível e bom, desconhecendo-lhe o desiderato. Não lhe deram o direito, sequer, de ter uma opinião, de defender uma ideia.

Mas o seu coração excelso, estamos certo, já esqueceu tudo. Não levou ressentimentos para o outro mundo, e a exemplo do Mestre, cuja doutrina pregava há mais de 30 anos, uma palavra ele terá para os que não o compreendiam - a do perdão.

No alvorecer da nova existência, vemos, sem sombra de dúvida, que desce sobre o nosso amigo a paz que não encontrou na Terra, Começa ele, agora, a colher os louros da sua campanha, o salário do seu imenso esforço na seara do Mestre.

A esse Mestre e a Maria dedicou a sua vida. Foi o mais sincero dos crentes, o mais convicto dos missionários. No seu sublime apostolado, não conhecia o desânimo, a fraqueza, o desalento. As tempestades passavam pela sua fronte trazendo-lhe grandes mágoas, porém não o abatiam nunca, Era o roble (árvore de nome ‘carvalho’) da floresta no que toca às energias do espírito, à firmeza de convicções. A morte o foi buscar em plena atividade. Não sofrerá solução o exercício da sua carreira. O meteoro não se apagou. E as esperanças dos que o acompanharam, como irmãos, na sua santa incumbência terrena, é que continue a projetar sobre a Federação, que tanto amou, o clarão do seu talento, e sobre os corações daqueles que tanto o amaram - o sopro da sua imensa bondade. 

 ..................................................................................




O Momento das Contradições



O Momento das Contradições
por Solimar de Oliveira
Reformador (FEB) Novembro 1942

"Amai-vos uns aos outros", disse o Cristo quando de sua luminosa passagem cheia dos mais dolorosos padecimentos sobre o mundo das provações. "Amai-vos uns aos outros", segundou lhe a primitiva Igreja Cristã; "Amai-vos uns aos outros" confirmou o Protestantismo; "Amai-vos uns aos outros", prosseguiu o Espiritismo hasteando uma nova bandeira de paz e bem-aventurança: "Amai-vos uns aos outros", dizem incessantemente as vozes dos Espíritos verdadeiramente bons, em todos os lugares onde existam agremiações bem intencionadas, e mesmo às consciências e aos corações de todas as criaturas, principalmente daquelas que se interessam pela felicidade, "Amai-vos uns aos outros", repetem os homens de boa vontade.

"Amai-vos uns aos outros", ensinou o Cristo Jesus; repetiram-lhe os ensinamentos e os puseram em prática os seus primeiros discípulos iluminados pela Fé com que foi instituída a primitiva Igreja Cristã; pregaram os sacerdotes nos púlpitos e nos altares dos templos de todos os recantos do mundo; cheios de entusiasmo aceso nas suas almas rebeladas contra alguns ritos tradicionais da Religião de Roma, os corifeus da reforma religiosa do mundo, ao entrarem na fase de equilíbrio de suas atividades, recomendaram o mesmo mandamento cristão; veio o Espiritismo, e, como um dos princípios de doutrina; adotou o sagrado ensinamento: "Amai-vos uns aos outros". E os pregadores de moral social se multiplicaram em toda parte inspirados mesmo em agremiações onde não predomina a rígida disciplina religiosa, no Espírito Divino do mandamento que sacode todos os sentimentos de egoísmo e que desperta nos corações ainda não envenenados nem enfraquecidos pela perfídia, pela maldade e pelos combates contra as trevas, contra as paixões Inferiores, contra os inimigos do Bem, os mais nobres sentimentos de piedade, de devotamento de renúncia, de caridade, que conduzem os homens à verdadeira paz, à verdadeira felicidade terrestre. "Amai-vos uns aos outros" é o grandioso mandamento cristão ainda hoje ensinado por todas as religiões, por todas as criaturas civilizadas que um dia tiveram os corações abertos aos conselhos do Amor puríssimo, enternecidos pelas vibrações da Fé, iluminados pelas sementes miraculosas, de luz e de bondade, dos Evangelhos do Céu.

O Verbo Poderoso do Cristo até os dias de hoje remove, expulsa, todos os pecados, todos os vícios, todas as chagas dos corações e das consciências!

Mas os homens quase sempre rebeldes, as criaturas humanas, sujeitas aos poderosos da Terra, e as almas servas de almas que tomaram como fundamento de sua vida o duelo e a vingança, entregando-se aos fazedores de guerras, pelo livre arbítrio que lhes foi concedido por Deus, aceitaram as pequeninas convenções, ou a elas se viram forçadas a curvar, caindo com isto na negação ou na indiferença das mesmas verdades, dos mesmos princípios que formam a base de nossa civilização chamada cristã: os Evangelhos de Jesus.

Alguns por fraqueza, outros por covardia, outros ainda por comodidade ou por conveniência servindo portanto a interesses inconfessáveis, (o que lhes agrava o mal), pois, com prejuízo de seus subalternos, permitem que o Evangelho da Paz, do Amor e do Perdão, seja praticamente banido das sociedades e que a bandeira amarela do Egoísmo e a bandeira cinzenta da Hipocrisia sejam erigidas no frontispício de outro evangelho que se vem escrevendo com "sangue, suor e lágrimas", - o sangue da orfandade atingida pela carnificina, o suor dos combatentes no fragor da luta, as lágrimas das viúvas, das irmãs, das noivas, das mães em desespero, um novo evangelho vêm escrevendo: o Evangelho do ódio, o Evangelho da Guerra!

Substitui-se assim o mandamento: "Amai-vos uns aos outros" pela fórmula: "matai-vos uns aos outros"!

Com vistas ao Catolicismo, ao Protestantismo, ao Espiritismo, as três grandes instituições brasileiras que tomaram a si a tarefa de evangelização, para que a pureza dos ensinamentos evangélicos, para que a bandeira da Paz, do Cristianismo, não seja substituída, não seja manchada pelo fermento dos fariseus nem pelas trevas das discórdias e das competições estéreis. Que o momento das grandes contradições não atinja as instituições cristãs.

sábado, 7 de julho de 2018

Mensagem para o meu Salvador



Mensagem para o meu Salvador
por Luiz de Almeida
Reformador (FEB) Novembro 1948

CRISTO: na antecâmara da Nova Era que se anuncia, eu contemplo, com os olhos da intuição, Tua figura augusta. Eu Te sinto, neste instante, como um farol fulgindo sObre a humanidade oprimida, e de onde jorrassem feixes de luz para aquecer o túmulo vazio das consciências. O momento está prestes a atingir aquele ponto silenciosamente urdido na calada soturna dos séculos.

Este conflito miserável e sublime abalou as velhas muralhas da Europa e, o mundo velho, roído nos alicerces, dança agora a derradeira esperança de sobrevivência. O abutre da discórdia teceu, afinal, o ninho macabro no coração das criaturas e se compraz em agrilhoar os mais nobres sentimentos que dignificam a espécie. Esta sangueira que empapa o solo fraterno, onde nós deveríamos pisar santificados pelos laços de irmandade, bem sei que enche de dor Teu coração aberto à oblata de todos os sacrifícios. Como compreendo, neste instante, que bem outro fora Teu sonho quando, ungido pelo Amor do Pai, aceitaste a missão de compor e fecundar a Terra, para levá-la, afinal, na hierarquia dos mundos, como o ninho de uma multidão ressuscitada para a vida espiritual isenta de mácula.

Tomaste, então, o Teu corpo tangível e vieste a pregar o Teu Evangelho, naquela plácida Judéia de outrora, tão verde e já cativa do jugo romano, imprimindo, com este passo inicial, o prefácio do Teu Apostolado: - o reino de Deus não medra no coração do senhorio.

As piedosas lições de Teu Amor, accessíveis a todas as inteligências dotadas de razão, foi a sementeira que lançaste, no gesto carinhoso do lavrador previdente que cultivou o solo, para as fartas semeaduras. Incompreendido pelos teus contemporâneos, sofreste o suplício moral de Te sentires rejeitado por um bando de mendigos famintos, aos quais estendias o celeiro imenso de Teu alimento, a fonte perene de água viva e o código moral que os confortaria de todas as misérias.

O orgulho, porém, que é a falta fundamental de queda, com toda a sua vassalagem orbitária, fechou o entendimento daquele farisaísmo rude, que se constituiu, então, modelo futuro para todas as latitudes da Terra. Os discípulos generosos colheram, então, as pérolas que trazias em Teu alforje, a fim de que não fossem criminosamente dissipadas. E que pérolas simples e luminosas: - "Ama teu próximo; esquece a ofensa para abraçar, em seguida, o ofensor; faze somente aquilo que desejarias que te fizessem; esquece o gosto da vingança; cultiva a humildade; sê puro de sentimentos; abandona-te ao Criador, que te ama e conhece tudo de que necessitas"!

Não bastou o teu exemplo, nascendo na manjedoura, cobrindo-Te com simplicidade, seres sóbrio e reto nos costumes, submisso à lei humana e ao desígnio de Deus. Não bastou a coorte dos prodígios que Teu magnetismo produziu. Que! mesmo que houveras revogado as leis eternas do Equilíbrio e do Ritmo, ainda assim Tua sinceridade seria estragada pela onda de sarcasmo que se levantava daquele povo.

Cumprida Tua missão, começou a humanidade a engatinhar, tateando no vácuo, obrigada, pela Lei, a sondar os supremos desígnios do espírito. Mas o homem, acordando em si o vagido do animal que foi, olvidou Tua cartilha, submeteu-se às instruções da secura e do desprezo, transvertendo e calcando, assim, os atributos que deveriam florescer em todas as almas, como um canteiro de perenes virtudes.

Acompanhavas, então, fraternalmente, nossa evolução arrastada. Conto graça de Teu Amor fraterno, nos enviaste sempre os mais esclarecidos pregoeiros da ciência, da filosofia e da Fé com o fim de incutir verdadeiros empurrões no espírito humano que teimava permanecer estacionário. E, o que houve, então, Tu bem o sabes, como o supremo historiador do planeta: o cruciante martirológico em torno do Bem e do Mal, o desgaste das civilizações que endeusaram o mundo e suas prerrogativas, os desfalecimentos no gênero humano vendo reduzir-se, a poeira, as mais ousadas aspirações do Homem Velho.

A História, ao invés de atingir o alto conceito de Cícero, de Mestra da Vida, não foi outra senão a mestra da rapinagem, registando os incessantes conflitos entre os povos, salpicados com o sangue dos justos e dos mártires. O aforisma físico da "ação e da reação" aplicou-se também aos postulados da conduta da alma. Represálias sangrentas irromperam como gritos bárbaros, lançando-nos na maré tortuosa da inquietação.

A Terra, em Teu tempo, habitada com uma densidade precaríssima de incarnados, tornou-se, aos poucos, um formigueiro humano, acolhendo as levas de Espíritos que a sabedoria de Deus ia retirando das estufas primitivas, por onde as centelhas do princípio espiritual angariavam o patrimônio eterno da sensibilidade, do instinto e do raciocínio.

Espíritos eleitos desceram até nós, como archotes crepitantes, mas sua luz foi tragada pelos montões de areia, que os ventos da inquietação humana levantavam com o propósito de entulhar a graça divina. O homem, como larva eternamente móvel, enveredou pelo terreno agnóstico. Negou a fé, atiçando as labaredas da dialética, e construiu, no altar da consciência, um trono para a razão fria. Isto atingiu sua cumiada o século passado, onde o materialismo e a ciência esposaram-se numa núpcia deplorável. O primeiro chumbou o homem ao lodo da terra, endeusando uma palavra oca e vazia: o nada. A segunda, afastando-se da caridade genuína, tornou-se uma ratazana voraz em torno do plano físico, tropeçando, aos trambolhões, e ferindo-se na própria arma que tentava golpear o ignoto: a investigação experimental.

Até que chegamos à curva do século XX. Lembro-me da palavra da Escritura: - "A mil chegarás, mas de dois mil não passarás". Avizinha-se o estrondo formidável que deitará, por terra, a ossatura da instituição milenária. É o Homem Velho que se despojará de suas raízes malditas e lançará fora o estrume do Demônio que recolheu no coração, como cinza de todos os seus pecados.

A árvore do Teu Evangelho, regada com o sangue dos inocentes, tomará o impulso que tanto almejavas, estendendo, por sobre a face do orbe, sua sombra doce e acolhedora!

CRISTO, meu Irmão misericordioso e Imaculado: eu Te contemplo, ao tocar os pés no primeiro degrau do limiar da Era Nova.

Eu, que fui daqueles que Te esqueceram no primeiro instante, que escarneceram de tua doutrina e que tripudiaram sobre os anseios da caridade divina, sinto-me agora tocado pela tua Voz que me chama, e o esplendor do mundo que me seduziu não me passa agora de uma linda miragem repleta de areias ardentes...

Ceifaste algumas das minhas mais caras aspirações, mas no gosto da renúncia deste-me a provar uma pequenina gota do Teu cálice. Hoje, então, compreendo que para a alma atolada na miséria, só há dois caminhos: a ressurreição ou a dor.

Serei o menor daqueles que irão endireitar as veredas do Senhor, preparando Tua volta, em todo seu esplendor, como complemento e sanção da eterna Verdade.

Fortifica, porém, o coração daqueles que Te compreenderam, revigora a Fé nos teus discípulos espíritas, para a derradeira arrancada do último quartel deste século. E que a luz de Teu reino acenda, desde já, sua primeira centelha na consciência de todas as criaturas!

Olá meu Irmão!


Olá meu Irmão!
Humberto de Campos por Chico Xavier
Reformador (FEB) Novembro 1943

- A disposição amiga, acentuava Cipriano Neto - é verdadeiro tônico espiritual. Não raro, envenenamos o coração, à força de insistir na máscara sombria. Má catadura é moléstia perigosa, porquanto as enfermidades não se circunscrevem ao corpo físico. Quantos negócios de muletas, quantas atividades nobres interrompidas, em virtude do mau humor dos responsáveis? Claro que ninguém se deixe absorver por malandros de esquina, mas o respeito e a afabilidade para com as criaturas honestas, seja onde for, constituem alguma coisa de sagrado que não esqueceremos sem ferir a nós mesmos,

E, frente à pequena assembleia, toda ouvidos, Cipriano, com a graça de sua privilegiada inteligência, continuou, após longa pausa: - Na Terra, o preconceito fala muito alto, abafando vozes sublimes da verdade superior. Nesse capitulo, tenho minha experiência pessoal, bastante significativa.

Meu amigo vagueou o olhar muito lúcido, através do horizonte longínquo, como a vasculhar o passado, calou-se por alguns momentos e prosseguiu:

É quase inacreditável, mas o meu fracasso em Espiritismo não teve outra causa. Não ignoram vocês que meu coração de pai, dilacerado pela morte do filho querido, fora convocado à doutrina dos Espíritos, ansioso de esclarecimento e consolação. Banhado de conforto sublime, senti que minhas lágrimas de desesperação se transformaram em orvalho de agradecimento à bondade de Deus. Meu filho não morrera. Mais vivo que nunca, endereçava-me carinhosas palavras de amor. Identificara-se de mil modos, Não havia lugar à dúvida. Inclinei-me, então, à doutrina renovadora. Saciado pela água de santas consolações, não sabia como agradecer à Fonte. Foi aí que recordei minhas possibilidades intelectuais. Não seria justo servir ao Espiritismo, através da palavra? Poderia escrever para os jornais ou falar em público. Fundamente reconhecido à nova fé, atendi à primeira sugestão que um amigo me ofereceu e dispus-me a fazer uma conferência. Anunciou-se o feito e, no dia aprazado, compacta assistência esperou-me a confissão. Seduzido pela beleza do Espiritismo cristão, falei longamente sobre a caridade. Aplausos, abraços, sorrisos, felicitações. No círculo de meus companheiros de literatura, porém, o assunto fizera-se obrigatório. Voltando à Avenida, no dia imediato ao acontecimento, meu esforço foi árduo por convencer aos confrades de letras que não me achava louco. Infelizmente, contudo, minha decisão não se filiava senão à vaidade. Pronunciara a conferência como se o Espiritismo necessitasse de mim. Admitia, no fundo, que minha presença honrara, sobremaneira, o auditório, que a codificação kardeciana encontrara em mim prestigioso protetor. Desse modo, alardeava suma importância em minhas novas palestras, Citava a antiguidade clássica, recorria aos grandes filósofos, mencionava cientistas modernos. Quando nos encontrávamos, meus colegas e eu, no ápice das discussões afetuosas, eis que surge o Elpídio, velho conhecido meu e antigo tintureiro em Jacarepaguá. Sapatos rotos, calças remendadas, cabelos despenteados, rosto suarento, aproximou-se de mim e estendeu-me a destra, exclamando alegre:

- Olá meu irmão! Meus parabéns. Fiquei muito satisfeito com a sua conferência!

Entreolharam-se meus amigos, admirados. E confesso que respondi à saudação efusiva, secamente, movimentando levemente a cabeça e sentindo-me profundamente humilhado. Face ao meu silêncio o tintureiro, despediu-se, mostrando enorme desapontamento. "É de sua família?" - indagou um companheiro mais irônico. "Estes senhores espiritistas são os campeões da ingenuidade!", exclamou outro circunstante. Enraiveci-me. Não era desaforo de semelhante homem do povo chamar-me irmão, ali, em plena Avenida, frente aos colegas de tertúlias literárias? Estaria, então, obrigado a relacionar-me com toda espécie de vagabundos? Não seria aquilo irmanar-me a rebutalhos de gente, na via pública? O incidente criou em mim vasto complexo de inferioridade. Cegavam-me, ainda, velhos preconceitos sociais, e a ironia dos companheiros calou-me, fundo, no espírito. A ausência de afabilidade, a incompreensão grosseira dominaram-me por completo, O fermento da negação trabalhou-me o íntimo, levedando a massa de minhas disposições mentais. Resultado? Voltei à aspereza antiga e, se cuidava de doutrina, confinava-me a reduzido círculo doméstico. Não estimava a companhia ou a intimidade daqueles que considerava inferiores. Os anos, todavia, correm metodicamente, alheios a nossa vaidade e Ignorância e impuseram-me a restituição do organismo cansado ao seio acolhedor da terra. Sabem vocês por experiência própria, o que nos acontece a essa altura da existência humana. Gritos estentóricos de familiares, pavor de afeiçoados, ataúde rescendendo aromas de flores das convenções sociais. Em meio da perturbação geral, senti que um sono brando apoderava-se de mim. Nunca pude saber quantos dias gastei nesse repouso compulsório. Despertando, porém, debalde clamei por meu filho bem amado. Sabia perfeitamente que abandonara a esfera carnal e ansiava por encontrar-lhe o carinho. Deixei a residência antiga, ferido de amargurosas preocupações. Atravessei ruas e praças, de alma opressa. Atingi a Avenida, onde me dava ao luxo de palestrar sobre ciência e literatura. E ali mesmo, junto ao café aristocrático, divisei alguém que não me era estranho às relações individuais. Não tive dificuldades no reconhecimento. Era o Elpídio, integralmente transformado, evidenciando nobre posição espiritual, trocando ideias com outras entidades da vida superior. Não mais os sapatos velhos, nem o rosto suarento, mas singular aprumo, aliado à expressão simpática e bela, cheia de bondade e compreensão. Aproximei-me, envergonhado. Quis dizer qualquer coisa que revelasse minha angústia, mas obedecendo a impulso que jamais soube explicar, apenas pude repetir as antigas palavras dele: "Olá meu irmão! meus parabéns!"

Longe, todavia, de imitar-me o gesto grosseiro e tolo de outro tempo, o generoso tintureiro de Jacarepaguá abriu-me os braços, contente, e exclamou com sincera alegria:

Ó meu amigo! que satisfação! Venha daí, vou conduzi-lo ao seu filho!

Aquela bondade espontânea, aquele fraternal esquecimento de minha falta eram, por demais eloquentes e não pude evitar as lágrimas copiosas!...

Nossa pequena assembleia de desencarnados estava igualmente comovida. Cipriano calou-se, enxugou os olhos úmidos e terminou:

A experiência parece demasiadamente humilde, entretanto, para mim, representou lição das mais expressivas. Através dela, fiquei sabendo que a afabilidade é mais que um dever social, é alguma coisa de Deus que não subtrairemos ao próximo, sem prejudicar a nós mesmos.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Desencarnação



Desencarnação
Joanna de Ângelis
por Divaldo Franco
em 02/03/74, C E Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.

            Resultando da orientação religiosa deficiente que situou a morte como ponte entre a vida física e a sobrenatural, onde a Divina Justiça aguarda o Espírito para brindar-lhe a paz ou a desdita, o conceito errôneo ensejou aos céticos anotações devastadoras, tornando-a simples retorno ao pó donde se teria originado, portanto, ao aniquilamento.
            Não obstante sua remota antiguidade, o culto dos mortos recebeu do hedonismo grego terrível reação, quando os usufrutuários do prazer situaram os impositivos do existir simplesmente no ideal físico e estético da beleza e do gozo com as decorrências imediatas da dissolução dos tecidos e das expressões do pensamento.
            Os estóicos, que se lhe opunham, esforçavam-se por colocar resistências ao pavor da morte, numa tentativa de se evitarem a tristeza e a dor, mediante um fatalismo racionalista com que se deve superá-las, através do esforço sobre-humano para enfocar as realidades do dia-a-dia, vivendo-se com valor cada hora no mundo material.
            O Cristianismo foi, na História, a mais eloquente mensagem de louvou à vida e à morte, considerando-se que a ética vivida e ensinada por Jesus é toda vazada na ‘negação do mundo material’ para a afirmação de Deus e da vida espiritual. A sua mensagem impele o homem ao entesouramento dos valores morais que não transitam nem se perdem quando se decompõe as aparências orgânicas, permanecendo além-túmulo como superiores recursos para a sobrevivência feliz. Além disso, o seu contato com os chamados mortos, em contínua convivência, suas horas de solidão com Deus atestam a grandeza do princípio espiritual sobrepujando as limitações do veículo carnal.
            Como se não bastassem as eloquentes comprovações de que se fez ímpar agente, retornou, ele próprio, do além-túmulo, à presença de um sem-número de testemunhas, com elas confabulando e convivendo com expressões de vitalidade incontestável...
            Em todos os tempos ressumam os atestados imortalistas, no incessante intercâmbio entre as duas esferas: a orgânica e a espiritual.
            Mentes áridas e atormentadas, no entanto, hão procurado sepultar no ‘nada’ a glória imortal. Não obstante o atavismo dessa negação, no inconsciente humano mantido pela sistemática da descrença, jamais foi utilizada a expressão niilista sobre a vida imortal nos incontáveis conúbios de que foram instrumento médiuns, santos e apóstolos, afirmando sempre a sobrevivência... Em todos esses fenômenos paranormais, o verbete Imortalidade superou o aniquilamento do ser, reafirmando a indestrutibilidade do Espírito à decomposição dos tecidos carnais...

                                   ***

            Não há morte, ninguém se equivoque.
            Só há vida, onde quer que se detenha o pensamento.
            Da decomposição pestilencial da matéria surgem multiplicadas, complexas formas de vida.
            Morre a lagarta em histólise de desagregação para surgir a borboleta em histogênese admirável...     
            Morre a semente para libertar a planta...
            Morre o sêmen para formar o corpo...       
            Morre o corpo para que se liberte o Espírito que dele se utiliza como de um veículo em romagem purificadora.
            Sem dúvida, a morte constitui dor inominável quando arrebata o ser querido, retirando-o da convivência e da ternura dos que a amam... Possivelmente, é a dor moto contínuo de maior duração, graças ao apego e valor que se atribuem aos grilhões carnais.
            A ausência do corpo não impede, porém, a presença do ser, desagregado na forma, não todavia, aniquilado na essência. Ninguém sobreviverá sine die enquanto no ergástulo fisiológico.
            Indispensável considerar que a vida orgânica, iniciada no ovo, se dilui quando cessa a circulação sanguínea por falta de oxigenação; todavia, a causa que aglutinou as moléculas e as transformou prossegue, agora livre, continuando os rumos que deve vencer.
            Ninguém é genitor ou filho, esposo ou amigo afeiçoados por caprichos do acaso. Quando se rompem as argamassas não se dessorem os vínculos superiores que os precederam ao berço e os sucederão ao túmulo.
            Imperioso considerar, mediante reflexão continuada, a problemática da morte, a fim de que a surpresa, decorrente da imantação ao corpo físico, não se transforme em rebeldia inútil ou exacerbação dissolvente.

                                                ***

            Os seres amados recebem, onde se encontram vivos após a morte, os dardos da revolta negativa para eles como as lembranças afáveis do amor.
            O pensamento é força vital gravitando no Universo.
            Imã poderoso mantém sua própria força e atrai as ondas semelhantes que nele se fixam ou às quais se liga.
            Assim, recorda os teus mortos com alegria e ternura, mesmo que isto te pareça paradoxal.
            A morte não visita apenas o teu lar. Passa por todas as portas, invariavelmente. Se amas, conforme dizes, atesta-o com nobreza e não por meio da insensatez.
            Uma memória que inspira desesperação, realmente não foi útil nem nobre.
            Somente o amor verdadeiro inspira ânimo e confiança, alegria e esperança.
            Coloca-te no lugar de quem partiu e considera a forma como te sentirias se foras a causa do infortúnio da pessoa que, dizendo amar-te, pensa em fugir, em vingar-se, em abandonar a vida...
            Refletirás melhor e transformarás a dor em flores de alegria, guardando a certeza de que o amanhã fará o teu reencontro com quem amas.
            A vida sempre devolve conforme recebe. Irisa o céu da tua saudade com a luz da oração pelos teus amados imortais. E começa a preparar-te para a vilegiatura que te alcançará logo mais... Rompe as algemas da paixão, quebra as peias do egoísmo, organiza o programa de liberação das mágoas, reflete nas dores e, quando chegar o teu momento, que nenhuma retentiva te prenda na retaguarda...
            Vivendo, está-se desencarnando a pouco e pouco. O golpe final resulta de todos esses pequenos morreres, que lançam a alma na realidade da consciência livre e indestrutível.
            Desencarnar é desembaraçar-se da carne.
            Morrer, literalmente, significa cessar de viver.
            Do ponto de vista espiritual, porém, morte é vida e vida no corpo pode afigurar-se como morte transitória da liberdade e da plenitude da lucidez.
            Vive, pois, de tal forma que, advindo a morte ou desencarnação, estejas livre e prossigas feliz.

Oh! Quando?!


Oh! Quando?!
Stanislav Schulhof
Reformador (FEB) Dezembro 1951

             
Oh! quando virá o dia feliz em que sobre toda a Terra brilhará a luz do Sol do saber, do Bem e da Verdade, e desaparecerá todo flagelo do sofrimento?

Só depois do pleno resgate de todas as dívidas, só quando a última centelha da maldade for extinta pelo amor e pelo sacrifício na vontade e na imaginação de cada homem.

Assim como já morreu a mente canibalesca, seja a atual, a mente canibalesca, seja a atual, a mente combativa, substituída pelo Amor fraterno.

Que assim façam todas as almas e a Humanidade proclame a Paz. Cada um o faça desde já em seu próprio coração.

Hospitalização Carcerária



Hospitalização Carcerária
Emmanuel  por Chico Xavier
Reformador (FEB)  Fevereiro 1977

            Quando tiveres de anotar o comportamento dos irmãos reeducandos, em retiros carcerários, deixa que a compaixão se te instale no espírito, antes que a palavra te configure as considerações.
            Presídios são escolas-hospitais, dignas de apreço.
            Irmãos internados nesses educandários se erigem à posição de enfermos em tratamento espiritual.
            Magistrados desempenham a função de especialistas, cominando preceitos penalógicos, à feição de recursos curativos para a supressão de desequilíbrios determinados.
            E, de nossa parte, devemos ser os irmãos compreensivos de quantos se vejam na condição de doentes da alma, integrando com eles a grande família humana.
            Somos todos Espíritos imortais, companheiros da mesma caminhada evolutiva.
            De que maneira condenar os semelhantes, se não dispomos de meios para analisar-lhes o sofrimento, quando o sofrimento lhes extravasa do ser, em forma de ignorância e doença, obsessão e criminalidade?
            Que espécie de dor terá erguido o braço daqueles que promoveram a destruição do próprio corpo?
            Quem terá impulsionado a mão do homicida contra aqueles que lhe experimentaram os golpes?
            Quantos dias de resistência gastaram os corações queridos, mas ainda inseguros, até que se emaranhassem nas trevas da tentação?
            Que forças invisíveis na Terra induziram ao enfraquecimento e ao desânimo almas belas e cultas, quando desertaram dos compromissos que elas próprias criaram na Causa do Bem?
            E qual teria sido o nosso comportamento se houvéssemos faceado as inquietações e os problemas em que os nossos semelhantes, considerados em erro, se matricularam em rudes provas?
            Meditemos nessas indagações, já que não nos é dado conhecer os dramas da sombra, desde o princípio, a fim de que não venhamos a intensificar os obstáculos de quantos se reajustam, muitas vezes, à custa de tribulações e de lágrimas.
            Entendemos a legitimidade dos tribunais humanos e todos somos chamados a respeitar-lhes as determinações.
            Entretanto, nas trilhas do relacionamento mútuo, situemo-nos todos - todos nós, os Espíritos ainda vinculados à evolução terrestre - ao esquema das consciências endividadas, ante os foros da Divina Justiça. E, longe de agravar as aflições dos nossos irmãos, sob assistência carcerária, auxiliemo-nos na reabilitação das próprias forças, rogando à Misericórdia Divina para que se compadeça de todos nós.


Missaria Espírita



Missaria espírita
João Fernandes
Reformador (FEB) Dezembro 1951

Quando ouço o anúncio pelo rádio ou leio o convite, pela imprensa, para uma prece por seu Fulano, desencarnado em tantos do mês tal, percebo logo que os promotores da homenagem vieram do Catolicismo e, misseiros que eram, ainda se acham saudosos de suas antigas cerimônias litúrgicas: o defunto precisa de missas.

E assim vemos, por ar, dentro do Espiritismo, "missas" de 7º e de 30º dia, além das anuais, e, ao lado disso, os batizados (sem cuspe, felizmente) e até os casamentos - proh pudor! vão conseguindo o seu lugarzinho, à imitação da Roma eterna, eternamente pagã.

E a coisa se vai ampliando, numa adaptação perfeita à orientação católica: reuniões públicas de preces pelo restabelecimento da saúde do Sr. Pafúncio, ou pela formatura do filho do Doutor Pulquério, ou, mesmo, pela passagem do dia do aniversário do Sr. Anastácio Polimério.

Isso tudo, com os meses marianos disfarçadamente restabelecidos, mês de Kardec, semana disso, dia daquilo, muitas vezes com festanças e homenagens estilo profano, tudo servindo de pretexto para as tais supostas comemorações, isso tudo, com ou sem bandas de música, com ou sem foguetes, com ou sem barraquinhas de mafuá, com ou sem vesperais dançantes, isso tudo, dizemos, é a prova provada, documentada, estereotipada, indelevelmente gravada, de que muita gente ainda não assimilou sequer os ensinamentos contidos em "O Livro dos Espíritos", livro sobre o qual repousa toda a estrutura da Terceira Revelação.

Da ingratidão



....A ingratidão do mundo é a mais comum das recompensas que podemos esperar do bem que fizermos. Isto quer dizer que não se deve fazer o bem senão por amor ao bem, ainda que nos façam mal; nunca, porém, para recebermos qualquer paga ou agradecimento." 
                                                      Indalício Mendes in Reformador (FEB) Outubro 1947 (trecho)